sábado, 1 de maio de 2010

Os escolhos dos últimos militares portugueses em Carmona

Viegas, Mosteias e Neto na messe de Carmona. Em baixo, o bar da messe
O dia 1 de Maio de 1975, comigo já apresentado de férias e com serviço marcado para o outro dia, foi conversado sobre as semanas anteriores, na comodidade do bar da que tinha sido messe de oficiais e agora era de sargentos, no bairro Montanha Pinto.
Vim a saber o que se desconfiava: instabilidade permanente, desconfianças a levedarem cada vez mais entre MPLA e FNLA - com esta a «jogar» no seu terreno e não querer (assim julgávamos) intromissões do movimento de Agostinho Neto. Quando se suporia que, dando mãos, os movimentos apeariam armas e fariam por «impôr» as suas idelologias junto da população, nada disso acontecia.
«Isto está uma m...», disse o Neto, numa larga conversa no bar, narrando algumas escaramuças das semanas anteriores: «Temos de andar de olho aberto e com muita calma, há quezílias permanentes, não sei o que é que isto pode dar...».
O Mosteias, furriel sapador, era da mesma opinião e contou um incidente num dos cafés da cidade, quando ele e outros militares foram provocados por civis. «Não sei como me segurei...», disse ele, algo colérico - ele que era dos mais impulsivos do BCAV. 8423 e, seguramente, um dos técnica e fisicamente mais bem preparados... - lembrando as instruções do comando, no sentido de não reagir a provocações, de mantermos coesão e disciplina, para «impôrmos» a segurança pública e a defesa de vidas e de bens!
A histórica missão de sermos os últimos militares portugueses de Carmona e do Uíge tinha muitos escolhos. E era permanentemente ameaçada.

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