sexta-feira, 30 de abril de 2010

A atribulada viagem aérea de Luanda para Carmona

Aeroporto de Carmona (Uíge), visto do lado da pista (1974)
Há 35 anos, de véspera e como manda(va) a minha lei, aí estava eu em Carmona, por via aérea, voando de Luanda. Numa viagem nada pacífica, que começara no dia anterior. O avião levantou voo, mas teve de voltar para trás, devido a intenso tiroteio e ao sesgado e estridente rebentamento de morteiros nos céus da capital - onde a FNLA e o MPLA se batiam de armas.
Ficámos (eu e o Cruz) num hotel da rua de acesso ao aeroporto, umas centenas de metros acima do Largo da Maianga, seria umas 10,30 da noite. Sem comer!!! A ideia era irmos jantar a Carmona, assim lá chegasse o avião à hora prevista - ao fim da tarde. Mas assim não foi. Com o estômago a dar horas e recolher obrigatório na cidade, saímos mesmo assim à procura de comida. Conhecíamos por ali perto uma esplanada, no largo da Maianga, e para lá nos dirigíamos quando ouvimos mais rajadas a silvar na noite. Entrámos apressados num bar que não conhecíamos, cheio de gente, e por lá acabámos a comer, não sei já o quê! O medo era geral e nós também não eramos heróis. Passavam, rápidas e fortemente armadas, viaturas militares portuguesas, num frenesim enorme! E ficámos a saber que rajadas tinham silvado na cobertura da esplanada da Maianga!
Já só por perto da meia noite, arranjámos «vaga» e coragem para sair. Estávamos a uns 200 metros do hotel e aconselhava a prudência que os fizessemos «tranquilamente», sem pressas, para não suscitar suspeitas. Lá saímos... Colado a nós, seguia um homem, já grisallho e na casa dos 50 anos..., sempre chegado na nossa «sombra», sem trocar uma palavra mas cumpliciando-se com a nossa aventura que desafiava o recolher obrigatório. Como que fazendo-nos «guarda-costas». Chegámos a desconfiar dele!
Já no hotel, vim a saber quem era: Custódio Pereira Gomes, advogado em Carmona. «Espere lá, você é o viúvo da D. Augusta, pai do Alvarinho?».



Era! Viajámos para Carmona na manhã seguinte, faz hoje 35 anos. Chegados ao aeroporto, combinámos encontrar-nos no Escape, uns dias depois.- CUSTÓDIO P. GOMES. Advogado em Carmona, já falecido e ao tempo viúvo de Maria Augusta Tavares - filha de Laura e Manuel Tavares, que foram daqui, de Ois da Ribeira, minha terra natal e de residência. Os sogros tinham sido patrões de minha irmã Maria Dulce. Tem família a residir em Coimbra.

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