domingo, 11 de abril de 2010

Os dias de Nova Lisboa e as preocupantes notícias de Carmona...

Viegas de férias em Nova Lisboa, Abril de 1975. Com a madrinha Isolina (em cima) e
na estátua de Norton de Matos, perto da estação dos CTT (em baixo)


Há 35 anos, não havia telemóveis. Oi, telemóveis!!! E telefonar dos fixos que havia não era coisa de todos os dias. No Quitexe, por exemplo, nem sei se havia telefones.
Havia em Carmona e na messe de sargentos - que fôra de oficiais, no bairro Montanha Pinto.
Por esta altura de 1975, estava eu por Nova Lisboa a ser mimado no Hotel Bimbe, que era da prima Cecília e marido Rafael - filha de meu padrinho de baptismo, Arménio (que tinha falecido na Gabela). Com eles,vivia a viúva Isolina, assim minha madrinha por afinidade. E os quatro filhos do casal. Telefonei de lá para Carmona e falei com o Neto. «Como é que vão as coisas ?!!!...».
Não iam muito bem, com algumas escaramuças na cidade e muita turbulência nas relações entre os militares dos movimentos. Havia nervosismo e expectativa, algumas ansiedades, alguns perigos, nervos à flor da pele. E as notícias que chegavam de outras cidades eram preocupantes. «Lembras-te do que nos disse o Garcia?!...», perguntou-me o Neto.
Eu lembrava-me bem e, por isso mesmo, conversei com o Cruz (que me acompanhava) sobre o que deveríamos dizer aos meus familiares. Acabei por os alertar para os perigos iminentes, para as escaramuças que se viviam no norte e às quais a população do sul não dava crédito. Por lá, andava tudo pacífico, era tudo rosas e cravos num mar de tranquilidade. Quais guerras, quais quês?!
«Acho que devem preparar-se para ir embora...», disse eu a Cecília e Rafael, numa viagem à Caala, em momento que achei oportuno. E insisti.
Não concordaram e até se admiraram com a sugestão! Nem quando, na noite da minha saída de Nova Lisboa, os voltei a tentar sensibilizar - dando-lhes o exemplo da greve do pessoal do hotel, de uns dias antes! Greve que foi em toda a cidade e gerou alguns conflitos - embora resolvidos pela polícia.
A saída deles para Portugal viria a ser bem difícil - numa «fuga» de avião que os trouxe pelo Gabão, já os filhos e a mãe (sogra) tinha, sido «evacuados». Foi em Agosto de 1975 e, sem disso saber - já não havia ligações telefónicas!!!... - andei eu alguns dias peoo aeroporto de Luanda, tentando localizá-los, entre os milhares de «retornados» que esperavam viagem para Lisboa - por não ter notícias deles. Cheguei a ir à Emissora Oficial de Angola, que para o efeito tinha um programa - no sentido de os localizar. Sem conseguir.
- CECÍLIA. Cecília Tavares das Neves, minha familiar e filha de meu padrinho de baptismo. Casada com Rafael Polido, tinham uma fazenda na Gabela e adquiriram o Hotel Bimbe, em Nova Lisboa. Vivem em Ois da Ribeira, Águeda.
- CAALA. Cidade também conhecida por Roberto Williams.
- GREVE. Trabalhadores negros da região de Nova Lisboa fizeram greve geral. Eu e o Cruz, sem grande habilidade minha, substituímos os do hotel, servindo os almoços e os jantares no restaurante. Ninguem ficou com fome!

2 comentários:

J. Silva disse...

Lembro-me dessa, já pensavam que tinhas sido caçado pelos turras e ninguém te queria ouvir na rádio; desculpa lá corrigir-te mas tu dizias bem a senha, só que quem te ouvia fazia de conta que não entendia até que chamaram o capitão falcão, pois todos estavam com medo ainda estavamos à pouco tempo lá e ouvia-se a tal maria turra da rádio da fnla, tu até contaste uma cena passada em Santa Margarida para te identificar e só a partir daí foi feito de conta que estava a rádio a receber bem...
Um grande abraço para todos os cavaleiros do norte

Casal disse...

A ESTÁTUA E A CIDADE

A cidade de Nova Lisboa tinha uma dívida de gratidão para com o seu fundador, o General Norton de Matos: exigir-lhe uma estátua condigna, homenageando assim quem fizera nascer do mato (portannto do nada) uma cidade que se tornaria em breve a segunda mais importante da Colónia.
Tinha essa dívida e saldou-a por subscrição pública cujos donativos "A Voz do Planalto" foi anunciando ao longo dos anos. Na Praça Manuel Arriaga, levantou um monumento imponente ao homenageado, que o Governador-Geral da altura, o General da Força Aérea Venâncio Deslandes, inaugurou com solenidade e foguetório.
Convém lembrar, para que conste...

Texto de Francisco Bernardo
"Fotos Recolhidas e Legendadas de uma Angola de Antigamente"