sábado, 31 de dezembro de 2011

1 114 - A corrida de S. Silvestre no Quitexe de 1974



Avenida do Quitexe. A meta da S. Silvestre de 1974 foi por aqui


A noite de passagem de ano de 1974 para 1975 teve corrida de S. Silvestre, no Quitexe, ganha por um militar da 3ª. CCAV., o Jorge Grácio, o Spínola - depois de ter sido detectada uma «habilidade» do Buraquinho, que se meteu dento de uma ambulância e foi o primeiro a chegar à meta.
Deu-se pela marosca e foi Spínola o 1º. classificado e vencedor da corrida.
Esta militar viria a falecer, em Julho de 1975, vítima de um acidente de viação, na curva a seguir à fazenda Pumbaloge, quando regressava de Carmona ao Quitexe, à boleia de um empreiteiro de obras (Sidónio), numa 4L - que embateu na ambulância da Delegacia do Quitexe.  Também morreu um militante da FNLA e o Sidónio ficou gravemente ferido.
A noite de passagem de ano foi de chuva torrencial e, de minha parte, recordo ter passado pelo Topete e, no passeio de terra, olhar de longe e espantado para a tempestade e relâmpagos que durante alguns minutos se espalhavam na floresta, para lá do cemitério - julgo bem dizer que para os lados da serra do Canacajungue, por onde se ia para Camabatela. 
Era chuva a potes e a partida da corrida para dar na estrada para Carmona, ali na zona da OPVDCA, perto da picada para Zalala. A iluminação era garantida pelos faróis das viaturas militares e o percurso, sempre na estrada do café, seguia até ao Bar do Rocha, onde os atletas desciam para a avenida de baixo, onde estava a meta.
- SPÍNOLA.Jorge Custódio Grácio, soldado atirador da 3ª. CCAV. 8423, a de Santa Isabel, mas na altura já colocada no Quitexe. Era do Casal das Raposas, em Vieira de Leiria (Marinha Grande), e faleceu a 2 de Julho de 1975, na sequência de acidente de viação em viatura civil.

sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

1 113 - Macacadas de Zalala e por aí fora...


Macacos e macacadas era o que não faltava por Angola e nas guarnições dos Cavaleiros do Norte. Como o (dito animal) que o Rodrigues, em Zalala, tem pendurado no braço direito, como que a fazer-lhe tratamento aos «chatos». 
Vários foram herdados em Zalala, acompanhando a 1ª. CCAV. 8423 por Vista Alegre, Songo e Carmona, chegando  até ao Grafanil.  
Qualquer um deles tem histórias e fez histórias, primeiro porque em Zalala nunca saíam fora do arame farpado, coisa que fazia alguma confusão - porque tinham liberdade absoluta e mata à volta que se fartava, para se pendurarem nas árvores e verdejando-se no seu habitat natural. 
Foi explicado mais tarde que quando um o macaco era apanhado, a sua «família» o rejeitava, podendo até matá-lo. Por isso, a «família» deles era, afinal, a tropa. 
Quando a malta de Zalala mudou para Vista Alegre, um deles, pouco habituado à área urbana, descobriu o  galinheiro de um civil e como nunca tinha visto galinhas, deu cabo delas todas. Também havia um macaco ladrão, que gamava tudo o que fosse objectos soltos, isqueiros, tabaco, esferográficas, chaves, escova de dentes, etc. Colocava tudo num local qualquer, que escolhia. Quando nos faltava alguma coisa, lá tínhamos nós que descobrir o esconderijo e procurar. Estava, por certo, no "depósito"  dele. Macacadas!

quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

1 112 - Assim se fez Natal nos 8423 de Aldeia Viçosa, há 37 anos!


O Natal de 1974 teve mesa de luxo em Aldeia Viçosa, por onde jornadeav a 2ª. CCAV. do BCAV. 8423, comandada pelo capitão miliciano Cruz. Abacalhoou-se a mesa e não faltou bolaria de época. E nem, vejam só, nem vinto tinto faltou. Unguento raro, muito raro..., em qualquer guarnição africana, em zona de combate. Um luxo!
A ementa, pois, não teve falta do tradicional bacalhau cozido, com batatas e couves, que para isso se aprimorou o Mourato, que por lá vagomestrou. Ele está ali na foto, escondido atrás do Letras - o do bigodinho aqui da frente. Entre o Matos (à esquerda, também ele de bigode) e o 1º. sargento Norte, outro bigodaças, mas este também com óculos.
«A coisa foi bem regada com vinho tinto, tu sabes lá?...», lembra-se agora o Letras, fazendo memória do que ele - e todos os Cavaleiros do Norte de Aldeia Viçosa - viveram e sentiram na noite mágica do Natal de 1974, nas quentes terras africanas do Uíje angolano.
O capitão miliciano Cruz, o mais velho de todos, na altura já com 27 anos e líder dos valentes aldeão-viçosos do 8423, achou-se pai de todos aqueles meninos, falou com eles, abriu-lhes a alma e tocou-lhes ao coração. Estavam ali, todos..., a milhares de quilómetros das suas casas, das suas famílias, mulheres e namoradas (quem as tinha), mas estavam numa outra família, que ali era o Portugal europeu vestido de camuflado e a cumprir uma missão.
«A palestra foi breve, mas  pôs todos a chorar, por estarmos longe do nossos familiares», agora se recorda o Letras.
Assim se fez natal em Aldeia Viçosa, na noite de 24 de Dezembro de 1974!! Eh pá, ó Letras, já lá vão 37 anos!!!

quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

1 111 - A consoada de Natal dos Cavaleiros de Vista Alegre

Noite de consoada de Natal em Vista Alegre, a da 1ª. CCAV. 8423 (1974)


A Noite de Natal de 1974, a da 1ª. CCAV. 8423, foi vivida em Vista Alegre. Era a primeira vez que a maioria da guarnição ia passar a consoada fora da família. 
O bacalhau era produto de luxo para as ementas diárias mas tinha de ser incluído nesse dia, por tradição. Assim como o vinho (outro  produto de luxo) e restantes alimentos da época, para que não faltasse nada nessa noite. 
Estava tudo ok para fazer uma ceia de Natal. 
Faltava o bolo-rei. Que não existia por aquelas bandas, mas havia em Luanda, na Intendência. Toca, então, a pedir autorização ao capitão Castro Dias para ceder uma viatura. 
Resposta: "Nem pensar...»
Matutou o Rodrigues - que fazia de vago-mestre - e, teimoso, insistiu com o capitão para ir a Luanda, por sua conta e risco. Foram autorizados os malucos do costume e lá foram o Rodrigues e o Queirós, à boleia, para a estrada do café. 
A primeira viatura que parou só tinha um lugar, foi o Queirós, depois de combinado o ponto de encontro. Ficou o Rodrigues à espera de outra boleia, só apanhada ao fim de algumas horas.
«Nunca mais me esqueço porque fiz a viagem durante a noite e o condutor tirou os sapatos, o que estranhei. Perguntei-lhe  e ele disse-me que conduzir descalço durante a noite não traz tanto sono, porque magoa os pés e isso afasta o sono», explicou o Rodrigues. 
Lá se encontrou com o Queirós em Luanda, onde arranjaram o bolo-rei que puderam transportar em cada uma das mãos.
O desafio seguinte era maior, era regressar. «Conseguimos uma boleia sobre a carga de um camião que ia para Carmona, e assim fizemos a viagem de Luanda a Vista Alegre, com mais de 400 kms. no pêlo pela ida e volta», recorda o Rodrigues. 
A dupla do bolo-rei chegou mesmo à queima da consoada, já era noite. O bacalhau, as batatas e as hortaliças já estavam prontas na cozinha e o pessoal preparado para a noite de consoada, mas toda a gente aguardou confiante  que ia aparecer com o bolo-rei para celebrar a consoada. Felizmente assim aconteceu. 


terça-feira, 27 de dezembro de 2011

1 110 - A formação do Batalhão de Cavalaria 8423


A formação do Batalhão de Cavalaria 8423 começou operacionalmente a 7 de Janeiro de 1974, mas por estes dias de Dezembro de 1973 já eu, o Neto e o Monteiro estávamos em Santa Margarida, no Regimento de Cavalaria 4 (RC4). Lá nos apresentamos em véspera de Natal e lá quiseram que fizéssemos serviço - ao que nos opusemos veementemente, com tomada de posição drástica. Ir embora.
«Ficar aqui na noite de Natal? Isso é que não... O pior castigo já o temos, que é ir para Angola», argumentou o Neto, pondo-se ao volante do SIMCA 1100, a caminho de Águeda. E eu e o Monteiro à boleia.
Íamos de Lamego, do Centro de Instrução de Operações Especiais (CIOE), onde concluíramos os nossos cursos (de Rangers) e por onde ficámos em novo ciclo de instrução, como monitores.
O BCAV. 8423, funcionalmente, começou a existir em finais de Outubro, para Novembro, com a mobilização da maioria dos quadros. Sem que tal soubessem. E nem se realizou a Escola Prática de Quadros (EPQ) - que seria a nossa, no âmbito do 4º. Turno de 1973 de Instrução Especial (IE)
«Por condicionalismo diversos», lê-se no Livro da Unidade. Foi essa a razão que adiou «o encontro da maioria do pessoal do futuro batalhão» - os oficiais, os sargentos e os praças -, o que viria a acontecer no Destacamento do RC4, em Santa Margarida, mas só a 7 de Janeiro de 1974.
Num destes dias de Dezembro (acredito que a 27 e, a ser assim, hoje se completarão 38 anos) mandaram-nos de férias, por uns dias. Até ao tal 7 de Janeiro de 1974, uma 2ª.-feira.

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

1 109 - Natal de 1974, hostilidades e insultos...

Almeida e Brito, ao centro, ladeado pelo capitão Fernandes e furriel Reino (à esquerda), o soldado corneteiro e capitão Falcão e Oliveira. Aqui à frente, o alferes Hermida e esposa, a esposa do alferes Cruz e este



A 26 de Dezembro de 1974, o comandante Almeida e Brito foi a Carmona retribuir a mensagem de Natal do comandante do Sector do Uíge. Esta, com votos para que «juntemos os nossos esforços para que, em Angola, se consiga a paz».
O comandante do Sector era o general Altino de Magalhães, que, na mensagem, apelava aos militares para serem «indiferentes às ofensas e calúnias», para «com a consciência tranquila, prosseguirmos confiantes a nossa missão e, serenos até ao fim, para que possamos dizer, com satisfação e orgulho, missão cumprida».
Seriam muito avisadas, as palavras do general - que saberia, seguramente, muitas coisas e disporia informações que nos escapavam. Mas já era evidente, ao tempo, a hostilidade de parte da população civil europeia aos militares. E não eram raros os insultos e agressões verbais dos civis, muitas vezes chamados de traidores e filhos desta e daquela, com a maior das facilidades - o que gerou fortes constrangimentos, bem difíceis, aliás, de engolir e digerir.
Mesmo no Quitexe, nos restaurantes e bares da vila, ou na rua, com ou sem propósito, tornou-se vulgaríssima a hostilidade e o insulto gratuito, até de alguns cidadãos que muito beneficiavam da presença e acção da tropa portuguesa. Uma vez, no restaurante do Rocha, ia-se chegando a vias de facto, já com alguns empurrões pelo meio, valendo, na altura, a preciosa intervenção do alferes Garcia, de oficial de dia.

domingo, 25 de dezembro de 2011

1 108 - Um outro Natal do Quitexe!...


O Natal de 1974, no Quitexe, foram... vários Natais - para além do que foi festejado na consoada que juntou a guarnição no refeitório dos praças. Este da foto, logo se vê que foi muito especial, mais íntimo e bem regado. Olhem só para a mão-cheia de cucas e pratinhos de camarão, aposto... E a garrafa de wiskye.
Aqui o da esquerda, vejam só, é o Carpinteiro - a boa disposição em pessoa, gingão no andar e no tamarelar, companheiro de boas paródias e piadas. O desmaio do retrato não dá conta da sua jovialidade.O segundo, quem é? Cozinheiro, acho. O terceiro é o Rebelo, este, sim, auxiliar de cozinha. E o Barbas? O Barbas, faz lembrar-me quem é, mas não chego lá.
Temos, depois, o (alferes) Ribeiro, aqui à civil e a brindar de Natal africano! Era o comandante do pelotão de sapadores. E sapador é o barbichas a seguir - sem que eu me lembre do nome. À distância de 37 anos, não é fácil. Muito menos sei quem é o civil de cor.
O trio seguinte, conheço bem: o Messejana, o Florêncio e o Garcia, três companheiros do pelotão, atiradores do PELREC - dois soldados e um alferes miliciano, por esta ordem. Todos eles eram gente do alto, solidários e bravos em todas as horas, sem distinção de patentes. 
A mesa está cheia e, à esquerda e escondido em sombras, ainda se vislumbra um outro militar, irreconhecível! Aqui fica, em retrato, um outro Natal do Quitexe de 1974!

sábado, 24 de dezembro de 2011

1 107 - Consoada de Natal de 1974 no Quitexe


Rocha e Fonseca, Viegas, Belo, Ribeiro e José Pires (de frente), Monteiro, Cândido Pires, Machado e Dias (de costas) na consoada de Natal de 1974, no Quitexe


Natal de 1974, no Quitexe! 
Um Natal de calor, a milhares de quilómetros de casa e das famílias naturais. Mas de ementa europeia, em cozinha com a mão feminina das mulheres de militares da guarnição dos Cavaleiros do Norte! Há 37 anos!
O comandante Almeida e Brito chegou de férias, nesse dia. E consoou-se no refeitório dos praças, juntando a CCS e a 3ª. Companhia – que deste o dia 10 estava no Quitexe.
Esmeraram-se as amazonas quitexanas: as esposas do capitão Oliveira (e filha), do tenente Mora, dos alferes Hermida e Cruz e do sargento-ajudante Machado.
E faltou bacalhau? Não, não faltou. Assim como o polvo e outros pratos de época, à moda da Europa e nas terras quentes do norte de Angola, por lá «representando» cheiros e sabores de Trás-os-Montes ao Algarve.
     Até rabanadas (que eu pessoalmente não aprecio, mas fizeram as delícias de muitas bocas). E doces, muito doces (comigo na lambarice dos pudins), a aletria e para além da aletria, rabanadas, mexidos, leite-creme e sopas secas, queijo, arroz-doce, eu já nem sei.
E uma enorme travessa de saudades e de nostalgia. Muita conversa, algumas emoções, alguns recados, algumas (re)leituras de aerogramas e cartas do dia e das vésperas. Assim se fez o Natal de 1974!

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

1 106 - Mensagem de Natal do Tenente Luz


Alferes Ribeiro e Garcia, tenentes Luz e Mora, na avenida do Quitexe. Atrás, o edifício da secretaria do Comando do BCAV. 8423.

O tenente Luz vai nos 80 e tais anos e não esquece os Cavaleiros do Norte, seu último batalhão das comissões que fez. «Marcou-me muito», disse ele, sempre jovial e bem disposto, em Ferreira do Zêzere, onde se juntou aos mais jovens, que foram também a sua família quitexana, no encontro de 2010.
É o «nosso mais velho» e não se julgue que o epíteto seja outra coisa - da parte dos mais novos... - que não seja respeito e companheirismo por quem, amadurecido na vida, era sábio no que nós - meninos de 21 para 22 anos -  ao tempo tínhamos para aprender. Mandou email para o blogue, com votos para os Cavaleiros do Norte:
«Eu e minha mulher cá vamos indo, com a saúde compatível com a idade», escreveu o agora capitão Luz, com o guião da sua mensagem:

Natal de 2011
  
A todos os Cavaleiros do Norte, desejo um Santo Natal e um Ano Novo de 2012, com a melhor saúde e as maiores felicidades, extensivo a suas famílias e amigos.
 Com um abraço do
 Ex-Tenente Luz

- LUZ. Acácio Carreira da Luz, tenente do SGE, chefe 
da secretaria do Comando do BCAV. 8423. É capitão, 
aposentado, e reside na Marinha Grande.

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

1 105 - O Couto que gaguejava e amava A-a-a-mé-mé-mélia!!!



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A. CASAL DA FONSECA
Texto


A foto faz-me sentir saudades das longas conversas na pequena esplanada quitexana do Topete! Conversas sobre tudo e sobre nada, temas muitas vezes sem sentido, mas que nos ajudavam a passar o tempo. 
O retrato desta memória, neste caso concreto, foi tirado a 19 de Dezembro de 1972 e até sei do que se falava à mesa! Não, não era das filhós, mas dos amores do Couto (o primeiro da esquerda), que era operador-cripto e foi parar à CCS, em rendição individual - penso não estar enganado!
O Couto foi sempre um companheiro d’armas, cinco estrelas! Trabalhador, educado, muito modesto e com um sentido de humor refinado. Mas havia uma coisa nele que o incomodava: corava intensamente com uma conversa mais brejeira e principalmente quando se falava na sua Amélia! Aí é que o homem ficava atrapalhado e até, imagine-se, ficava gago! Ele mesmo, bem- humorado dizia: pronto, já… já… já estou à Benfica e … e… a voz já… já se me foi! Deixem a A… mé… mémélia em paz!
Por onde andará o amigo Couto, de quem se perdeu o rasto há 38 anos?
O segundo é o Amorim, escriturário, que faz das tripas coração para não perder um convívio anual, escriturava mesmo ao lado do capitão Coelho, e com ele tinha uma infinita paciência! Que remédio tinha ele!
O terceiro é o Carvalho, também escriturário, que tem andado desaparecido, tal como o Silva, o quarto. Devem estar à espera dos oitenta para irem aos convívios comer mexudas com sardinha assada, regadas com azeite barrufado! Não se ponham a pau, não!!!...
Todos eles bons companheiros, bons amigos e também bons conversadores. Parece que ainda lhes estou a ouvir a voz e os sotaques! E até as gargalhadas! Que saudades, malta!
Claro que o primeiro da direita sou eu, cinco estrelas e de luxo, do melhor, cheio de virtudes e sem defeitos! É o que se me oferece dizer e era o que diria qualquer um (amigo do peito, claro!...) que de mim aqui viesse falar! Ou escrever!
Como ninguém o escreve, escrevo eu!
Hoje estive a ver umas fotos que o jornalista Luis Fernando postou, e fiquei assim… nostálgico! A pensar no Quitexe e nos amigos de então, que continuam amigos, ainda hoje! É reconfortante!

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

1 104 - A saída do Pelotão de Morteiros 4281

Alferes Garcia, Ribeiro e Leite, na messe do Quitexe


A 20 de Dezembro de 1974, iniciou-se, no Quitexe, a operação de saída do Pelotão de Morteiros 4281, que era comandado pelo alferes miliciano Leite. O pelotão integrava a guarnição do BCAV. 8423 e já jornadeava pela vila uíjana quando, a 6 de Junho do mesmo ano, lá chegámos nós.
Foram bons companheiros, já com experiência de guerra que nos foi útil para a missão que lá nos levou. Uma das mais delicadas operações militares que integrei, por três dias em alerta pela Baixa do Mungage adentro, culminou numa recolha do Pelotão de Morteiros. 
A vida civil fez-me reeencontrar várias vezes um dos «morteiros» do Quitexe, o Pagaimo - que fez carreira nas Brigadas de Trânsito da GNR e, nesta qualidade, me reconheceu poucos anos depois, na estrada de Águeda para Aveiro, a pouco mais de 2 quilómetros de minha casa. Fazia ele o seu serviço, mandou-me parar e resolveu implicar comigo, fazendo criar suspeitas para achar razões de multa. Afinal, estava a deliciar-se com a encenação que preparou ao reconhecer-me, sem que eu desconfiasse dele.  Eu conhecera-o de camuflado e ele apareceu-me de farda da GNR, com chapéu em vez de quico. Não era o Pagaimo do Quitexe.
Ainda falamos de quando em vez, ele agora já reformado - em Arazede, de Montemor-o-Velho. O alferes Leite, natural dos Açores, reside actualmente em S. Francisco, na Califórnia (Estados Unidos).

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

1 103 - Os brindes do Natal da sanzala Aldeia do Quitexe



Aqui falámos há dias da festa de Natal na escola de Aldeia, sanzala que fica na saída do Quitexe para Camabatela e onde professoravam a Irmão Augusta (religiosa e irmã de sangue do padre Albino Capela) e  a  quintanista de medicina Margarida Sousa Cruz, a «mais que tudo» do alferes Cruz. Hoje, enviada já não sei por quem (quem foi?), aqui posto o momento dos brindes na sala da escola, notando-se o quadro negro e a saudação de boas festas.
A menina aqui da esquerda, francamente não me lembro quem é? Quem será? E quem é o militar logo a seguir? Talvez o alferes Rodrigues, não tenho a certeza. Depois, uma ala de alferes milicianos. De farta bigodaça e ar de irreverência bem notória e com as mãos no cinto, o Hermida. Depois, de copo a aviar, está o Pedrosa que viera de Santa Isabel. O seguinte, também, Barros Simões de nome e autor do emblema/crachat do BCAV. 8423. Outro bigodaças, é o mecânico Cruz - que já goza a aposentação e por lá tinha unimogs e berliets sempre em forma. A oficina era aquela máquina!

O discreto e eficiente Ribeiro está a seguir, de cuca na mão, para desencervejar a sede. Depois, apontando para o além, o «ranger» Garcia, que comandava os valentes atiradores do PELREC. Aqui à frente, de óculos e camisa branca, o padre Albino Capela - que era o responsável pela Missão Católica do Quitexe.

Assim era esta boa malta dos Cavaleiros do Norte. Há 37 anos, precisamente! 
- RODRIGUES. Augusto Rodrigues, alferes miliciano de Operações Especiais (Rangers). Funcionário do Serviço Metereológico no aeroporto de Lisboa.
- HERMIDA. José Leonel Pinto de Aragão Hermida, alferes miliciano de transmissões. Aposentado, reside na Figueira da Foz.
- PEDROSA. Luís António Pedrosa de Oliveira, alferes miliciano atirador de cavalaria. Empresário, em Marrazes (Leiria).
- SIMÕES. Mário José Barros Simões, alferes miliciano atirador de cavalaria. Aposentado, morador nas Caldas da Raínha.
- CRUZ. António Albano Araújo de Sousa Cruz, alferes miliciano mecânico. Aposentado, residente em Santo Tirso.
- RIBEIRO. Jaime Rodrigues Picão Ribeiro, alferes miliciano sapador. Engenheiro, residente no Tramagal.
- GARCIA. António Manuel Garcia, alferes miliciano de Operações Especiais (Rangers). Natural de Pombal de Ansiães (Carrazeda de Ansiães). faleceu a 2 de Novembro de 1979, era agente da Polícia Judiciária.
- CAPELA. António Albino Vieira Martins Capela, sacerdote católico e padre do Quitexe. Reside em Barcelos, onde é professor.



segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

1 102 - Os tempos do Quitexe, Santa Isabel, Quiximba e Zalala...



O restaurante Topete (amarelo) e a casa do sr. Guedes (verde)
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A. CASAL DA FONSECA
CCS da BCAÇ. 3879


Ontem tive a agradável surpresa de rever o meu amigo Ferreira! Não nos víamos desde o fatídico 30 de Maio de 1974, data que recordo com grande mágoa – perdemos dois amigos, então no MVL, em circunstâncias que aqui não quero e nem devo pormenorizar! 
Por ironia do destino, reencontrámo-nos num hospital, ambos de visita a amigos. Éramos (e somos) amigos desde os tempos da recruta e pelo Quitexe nos encontrámos algumas vezes, pousando quase sempre no Topete ou no Pacheco.

Fazia-lhe uma grande confusão a forma descontraída como conseguíamos viver em paz no meio de tanta “chicalhada”, já que, segundo constava, nas Companhias operacionais, os nossos passos eram todos vigiados! 
Puro exagero! 
Por esse motivo, muitos afirmavam preferir Santa Isabel ou Zalala, onde existiria um espírito de maior camaradagem e sã convivência, até mesmo com os Comandantes de Companhia, que eram milicianos! Não sei se seria exactamente assim, e até nem era o que constava na CCS, onde chegava todo o tipo de informação – no caso vinda de Santa Isabel e depois Quiximba! Direi até, seguramente, que as coisas não corriam assim tão bem e até houve lugar a abusos por parte de quem comandava! Abusos que foram muito comentados e condenados, e que na altura terá sido necessária a intervenção do Comandante de Batalhão! Falava-se em prepotência, intolerância e falta de formação! Cada um opinava a seu jeito! Por outro lado, falava-se também em indisciplina grosseira de um ou outro elemento que, em vez de dar entrada na secretaria, era resolvida de forma arcaica!

O que eu sei, seguramente, é que certo dia o capitão terá acorrentado um militar a uma palmeira, o que originou a sua presença no Comando, a fim de se justificar! O boato que corria dava conta de uma atitude ainda mais brutal, mas foi imediatamente desmentido. Foi um acto considerado, e bem, inqualificável que passou impune à vertente disciplinar, mas que causou muito embaraço ao Comandante de Batalhão, que nutria por ele uma grande admiração! Dizia-se à boca cheia que apadrinhava o novato capitão, o que não era mentira nenhuma! Talvez por isso mesmo tenha um dia, na rua de baixo, no Quitexe, tentado desrespeitar o “velhinho” capitão da CCS! Saiu-se mal…, muito mal mesmo! O nosso “velhinho” capitão mostrou-lhe com quantos paus se fazia uma canoa e tê-lo-á deixado sem reacção! Afinal, a velhice era um posto!...

E de tudo isto não se esqueceram alguns que, passados 37 anos, não só não digeriram algumas atitudes de quem os comandava, como o fizeram sentir, ao próprio, num almoço/convívio! E, brade-se aos Céus e a todos os santos que por lá estarão a olhar por nós, as coisas só não chegaram a vias de facto porque…, porque não calhou!...

Afinal, o que se terá passado de tão grave que ainda não acalmou uma exaltação de 37 anos?!

Vamos lá com calma, rapaziada, recordem o que de bom tivemos por terras angolanas e que a sexagenaridade seja uma arma para esquecer (ou perdoar) as coisas más e ainda não digeridas! Já é tempo!!!
ACF

domingo, 18 de dezembro de 2011

1 101 - Os Barbas!!!


Camaradagem foi sentimento que não faltou na guarnição dos Cavaleiros do Norte. Nunca! Em todas as companhias e entre todas as patentes, numa relação de respeito e de afectos que se desdobrava e multiplicava todos e por todos os dias.
Era uma grande família, com um «chefe» (o comandante Almeida e Brito) por vezes austero, mesmo rigoroso (até com alguns excessos...), mas simultâneamente generoso e tolerante.
Civil e sereno, ali temos o (alferes miliciano) engº. Jaime Ribeiro, à esquerda. Mas quem raio será o Barbas? E o companheiro de óculos, julgo que um 2º. sargento? Depois, com cara de menino, está o Ferreira (à direita), atirador e, simultaneamente, responsável pelo depósito de géneros. Um tipo porreiraço, humilde, cumpridor, sempre participativo. E quem será o Barbas ali do meio? Um sapador? Tenho essa ideia, mas já lá vão 37 anos.
Outra carinha de menino (nós eramos todos uns meninos!!!...) é o Francisco (à esquerda, em baixo), também atirador e, digo eu, a discrição em pessoa, mas sem recuar a qualquer tarefa. Nunca!
A rir e de boa disposição bem à vista, o (alferes miliciano) Garcia - de quem já tanto por aqui falámos, da sua coragem, generosidade e companherismo. Olha, mas o Garcia fumava? Não me lembro!! Se calhar, foi só para a fotografia.
E o outro Barbas, quem é?
E aquele ali da direita? Recordo-lhe a cara, mas não lembro o nome. Quem sabe? Digam para cá.

sábado, 17 de dezembro de 2011

1 100 - O futebol e as tardes quitexanas dos domingos...

Lopes, Gomes, Grácio, Mosteias, NN e NN (em cima), Monteiro, NN, Teixeira (estofador), Miguel e Botelho. Alguns deles com sapatos, em vez de chuteiras. Quem se lembra dos nomes dos não identificados?

O futebol matou muitas saudades do então Portugal europeu. Ora pelos memoráveis relatos da Emissora Nacional, que nos chegavam através da onda curta, quer, localmente, pelos rijos e disputadíssimos prélios que opunham companhias a companhias, pelotões a pelotões, ou até com a comunidade civil - estes bem mais rasgadinhos e embandeirados de emoção.
Os relatos da rádio, para os militares, era um lenitivo e  um consolo, embora se ouvissem relativamente mal as empolgantes narrações de Amadeu José de Freitas, Vitor Sérgio, Nuno Braz, não estou certo se Lança Moreira, talvez Fernando Correia e Artur Agostinho (este, mais tarde preso e exilado no Brasil), e outros (que a memória já apagou).
Era sempre com indisfarçada emoção, e ansiedade, que, pelo Quitexe, esperávamos pelas tardes de domingo - no tempo em que o futebol começava a à mesma hora do mesmo dia - e pegávamos nos resultados como tema para fartas e apaixonadas discussões, noite fora. 
A 16 de Dezembro de 1974 (ontem se fizeram 37 anos) fomos (eu e o Cruz, comissários do batalhão, eu suplente) a Sanza Pombo, onde reuniu a Comissão do MFA. Aproveiteu eu para, lá, visitar um dos muitos conterrâneos que em Angola faziam pela vida: o Higino (já falecido), que era técnico do Ministério da Agricultura e lá vivia com  mulher e três filhos. Foi o Cruz para a reunião e eu para casa deles.
 

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

1 099 - Quitexe, posto de honra; Zalala, a mais dura escola de guerra

A inscrição «Zalala - a mais dura escola de guerra» estava neste muro do aquartelamento. Em baixo, o recorte do jornal



O Casal, da CCS do BCA. 3879, mandou a «tradução» do recorte do jornal (clicar na imagem, à esquerda) sobre «Zalala - a mais dura escola de guerra».
Diz ele, lá do seu Marrazes de Leiria, que «é para que não nos fiquemos pela vontade de ler». O texto jornalístico é de autor desconhecido e fala de Zalala e também Quitexe:
«De Carmona, abalámos para o Quitexe, um lugar que também já conhecíamos. Ao tempo contava com duas figuras centrais, que arrojadamente quiseram dar forma ao sopé da serra do Quitexe. Mal assomámos a esta vitória, onde as nossas tropas montaram quartel e fazem dela posto de honra da Integridade Nacional, os nomes de José Bastos e de Romão acodem-nos à memória e até parece que os estamos a ver montados em tractores a desbravarem a terra e fazerem os primeiros arruamentos, plantando árvores que ainda hoje existem para testemunhar.
Nessa sublime jornada de esperança a que se entregaram muitos dos que por lá mourejam, o Romão morreu sob a máquina possante que traiçoeiramente o esmagou de encontro à terra, pagando, assim, com a vida o seu incontido interesse de penetração na selva, para que depois se instalassem nela a escola e a oficina que iriam servir as populações e fazer delas elementos válidos das sociedades comuns.
Parece que o destino reservou, na realidade, uma função especial no Quitexe, rodeada como esta de matagais, autêntico oásis de toda aquela seda exuberante de floresta virgem, com a bandeira nacional a desfraldar garbosa no mastro alto, o Quitexe.
O Quitexe tem a função especial de ser posto de honra a integridade Nacional. Pouco tempo em Quitexe. Quinze horas e quarenta minutos. Uma refeição frugal, atenciosamente servida peloJosé Morais, um dos que não arreda do Quitexe, as diligências cumpridas e o retorno, agora mais lento, que nos possibilitou a leitura da seguinte inscrição: «ZALALA».
 Zalala é a mais rude escola de guerra de Portugal em todos os tempos, superior a Marrocos, onde Afonso V instituiu a Torre e Espada, símbolo de sacrifício e heroicidade.
Na Zalala, os primeiros heróis a pagar com o sangue a terra pátria foram as crianças inocentes, as mulheres indefesas e a argamassa desse sangue e dessas vidas fizeram da terra a mais rude escola de guerra, em que a luta quando enobrece faz dos soldados mártires e heróis, pela bravura ímpar com defendem a terra de Portugal».

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

1 098 - A Igreja da Mãe de Deus do Quitexe

Igreja da Mãe de Deus do Quitexe, em 2011 (foto de Luís Fernando). Placas com nomes dos mortos na fachada principal (1974)




A imagem mostra a Igreja da Mãe de Deus do Quitexe, vista do lado de onde foi a parada e as oficinas do BCAV. 8423, em 1974 e 1975. Mais metro menos metro, o telhado que se vê aqui à esquerda é de casa construída mais ou menos onde era a caserna do PELREC.
A foto é do jornalista e escritor Luis Fernando, uígense da antiga Carmona - nascido na aldeia do Tomessa e adolescente do tempo em que nós por lá jornadeámos e ele estudava no Liceu Nacional.
Duas razões pessoais para esta mostra de foto que me alegra e emociona: um primeiro, por ser lá, na nave do pequeno templo, o momento do meu primeiro recolhimento quitexano, a 6 de Junho de 1974. Chegado da longa viagem de Luanda, pelo asfalto da estrada do café, e acomodados os pequenos bens que transportava, dei uma pequena volta pela vila e parei na igreja. Chamavamos-lhe nós capela e por lá sacerdotava o padre Albino Capela, titular da Missão Católica.
Um segundo, o meu pasmo nascido da leitura dos nomes dos muitos mortos dos incidentes de 1961, lá afixados em placas de mármore (clicar na foto, onde aparecço sentado). Foi um momento constrangedor, é verdade, mas também regenerador.
Constava da lenda local que o pequeno templo terá sido castelo de defesa da população civil, nos sangrentos dias de Março de 1961 - 15 e seguintes. Regista-se, da imagem de hoje, a evolução da sua área envolvente. Sinal de progresso, que saudamos!

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

1 097 - O adeus à Fazenda Luísa Maria

Furriéis Letas e Melo, rodeando o alferes Machado. Cavaleiros de Aldeia Viçosa que passaram por Luísa  Maria (1974)


A 14 de Dezembro de 1974, foi o adeus à Fazenda Luísa Maria, por onde jornadearam Cavaleiros do Norte de Aldeia Viçosa, da 2ª. CCAV. do BCAV. 8423. Foi a última guarnição portuguesa naquela fazenda uíjana. Há 37 anos!
O PELREC por lá passou algumas vezes, em escoltas, ou passagem de operações militares. Delas, sem data, recordo uma, por ter a curiosidade de ser a que fez cenário às primeiras fotografias a cores que vi e de que sou figura. Estas coisas, hoje tão vulgares, parecem quase uma inegenuidade, uma infantilidade ou um bacoquismo.  Mas pode-se imaginar o deslumbramento ao tempo sentido, vendo-nos retratados a cores.
A extinção do Destacamento de Luísa Maria coincidiu com a conclusão da primeira parte do do programa de retracção da forças militares portuguesas na província do Uíge. No que diz respeito à zona de acção do BCAV. 8423, recordemos, a 1ª. CCAV. ja abandonara Zalala (estava agora em Vista Alegre e Ponte do Dange) e a 3ª. CCAV. saíra de Santa Isabel, para o Quitexe. A Fazenda do Liberato também já fora abandonada.
A Fazenda Luísa Maria faz-nos recordar o seu último gestor, Eduardo Bento da Silva (foto em cima), que por lá recebeu (e bem) muitos Cavaleiros do Norte. Faleceu a 11 de Setembro e faria 81 anos a 10 de Outubro de 2011. Ao tempo, pois, passava pelos seus pujantes 44 anos. Tinha um mini-mercado em Taveiro e morava em Condeixa-a-Nova.

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

1 096 - A carta do adjunto do comando à professora primária

A então futura médica Margarida Sousa Cruz professorou no Quitexe, ao serviço da Missão Católica dirigida pelo padre Albino Capela. Na escola de Aldeia, no arredor próximo do Quitexe, no caminho para o lado do cenitério, que nos levava a Camabatela. Já aqui falámos disso.
A certa altura do ano escolar, por Fevereiro de 1975 e em função das faltas de alguns alunos - provavelmente mais adeptos da festança independentiva que se aproximava, que saber o bê-à-bá da escola -, deram em faltar, faltar, faltar... - E tal não podia ser. Não só não aprendiam (o que era obviamente relevante), como chumbavam o ano e lá ia por água abaixo o sacerdotal trabalho das professoras.
Aqui, um parêntisis: além da Irmã Maria Augusta e da futura médica Margarida Sosua Cruz, outra professora ligada aos Cavaleiros do Norte por lá ensinava, levando conhecimentos às crianças angolanas. Era a filha do capitão Oliveira, cujo nome me escapa por completo, embora lhe esteja a ver a cara. Tinha um filho, um pequenote bem irrequieto, de 4 ou 5 anos.
A professora Margarida Sousa Cruz achou por bem alertar os futuros donos do poder e do Secretário da Delegação da FNLA recebeu a resposta que se vê na imagem. O que admira, e aqui dou a palavra ao então alferes miliciano Cruz (o mais que tudo da professora Margarida), é, desde ,logo, «a qualidade da escrita». Sinal de que o Português por lá era bem ensinado.
O Secretário do Comandante Adjunto dava pelo nome de Evaristo Barros (bem nos lembramos dele), era pessoa de bom trato (julgo poder dizer, sem excesso) e, reportando o alferes Cruz, «é de admirar a preocupação pela aprendizagem dos alunos, numa altura em que a guerra entre os movimentos era iminente».
Bem iminente, como todos sabemos. Por Luanda e outras cidades de Angola, regava-se o chão de sangue e de morte e muitas barbaridades eram cometidas nas suas ruas.

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

1 095 - O pão com manteiga e as guitarradas do Quitexe

A padaria (primeira casa à esquerda). Foto By Bembe, de Julho de 2010

As noites quitexanas de sábado eram quase sempre mais esticadas, muitas vezes até por volta das três, quatros horas da madrugada. Eram as noites dos ensaios para as cantarolices, algumas (algumas, é favor!...) vezes desordenadamente e até com direito a amuos por parte do Marinhas, o único que tratava por tu as notas musicais. Quais notas qual carapuça, aquilo era tudo de ouvido!

«Vocês abrasam as notas todas pá…, misturam tudo…cambada de cepos! Ó Matos, isso aí é em “ré” e tu insistes no “mi”, porquê?! Qualquer dia mando isto tudo à m…. e a vocês também!», espingardava o futuro professor de música com os nervos em franja! E revoltado por não sabermos uma nota musical!
Certo é que nesta mesma noite, já passado dos carretos, nos mandou mesmo para o tal sítio e desandou para a padaria civil, logo em frente. Parece que o estou a ver, com a guitarra às costas!
«Espera aí Marinhas, que a gente vai contigo…», gritava o Oliveira, em correria atrás do chefe da banda…, que debandara! E lá fomos todos, em busca do pão quente barrado com manteiga e alguns chouriços que o Neves, auxiliar na messe de oficiais, nos trouxe. Não sei onde os conseguiu, mas deduzo que os terá comprado numa loja do Quitexe! Ou não?!...
A ceia, quase pequeno-almoço, passou a ser mais animada com a chegada do pessoal da ronda, que passara pelo posto de vigia situado atrás da casa do cantoneiro. Entraram, para chamar a atenção pelo ruído, mas acabaram por ficar até cerca das cinco da madrugada! Todos de papinho cheio e bem regados, principalmente o furriel, que já apresentava faces rosadas. Talvez fosse do calor do forno da padaria, ou então do sumo de uva! Não aguentava bebidas alcoólicas, e mais de um copo já o baralhava!
«Não sei como é que vocês bebem e não ficam assim…, meio esquisitos como eu!?», lamentava-se ele, por não poder acompanhar com vinho o resto do chouriço! A conversa não era comigo, tendo em conta que ainda aguentava menos que ele! Eu era mais para o lado das “missions”.
Verdade seja dita, já não me lembrava de tal episódio! Mas o Marinhas, que eu já não via há algum tempo, decidiu arejar e passear a sua aposentação pela cidade do Lis, e ali demos de caras. E lá me recordou este episódio, quando lhe falei em música, o seu ponto forte, mas fraco. Diz ter sido (e foi) tão trucidado e enxovalhado por um sargento de má memória que, tirando as guitarradas e amigos do peito, nada o motiva para falar de Angola!
E as queixas que ele me fez, ali na rua, todo impetuoso e de dedo apontado para o Quitexe!? Quitexe que, deduzo, estaria atrás de mim, já que quase me arrancava os óculos com o dedo!
Calma Marinhas, embora não pareça, isso foi há 38 anos!!!...
ANTÓNIO CASAL FONSECA
CCS do BACÇ. 3879



domingo, 11 de dezembro de 2011

1 094 - O Natal na sanzala quitexana de Aldeia


Margarida Sousa Cruz, finalista de medicina a dar aulas no Quitexe (1974). Atrás, reconhecem-se o capitão Oliveira (verde) e o alferes Ribeiro (branco)

As vésperas de Natal de 1974 foram vividas, pelos lados quitexanos, com as emoções e nostalgia de quem, pela primeira vez, se sentia fora de casa e longe, em terras de farto e incómodo calor, terras que não cheiravam a consoada, nem puxavam ao lume das lareiras, para comer rabanadas e filhós, ou bilharacos, ou umas malgas de papas de abóbora ou o prato mais trabalhado de bacalhau do alto, ou de lombo fresco do porco morto, mais um tracanaz de pão fresco, cozido do dia, e sobremesa de pão de ló.
Não é que por minha casa d´aldeia se farturassem mesas de iguarias muito especiais. Nunca lhe faltou pão, é verdade, mas eram modestas. Era isso que eu lembrava - e os cozinhados da noite de natal na minha casa (onde ficara  viúva minha mãe) -, à janela da casa dos furriéis e a espreitar o tempo de um destes dias de Dezembro de 1974, quando alguém me chamou, e a  outros, para irmos à sanzala Aldeia, no caminho que ia para Camabatela, a segunda povoação depois do Quitexe, passado o Cazenza, e onde ia haver festa de Natal, na escola.
Por lá professoravam a Irmã Augusta, que era irmã de sangue do padre Albino Capela, e uma jovem finalista de medicina, de sorriso juvenil e trato fácil  e próximo - arrastada para o Quitexe pelas graças de um seu amor já celebrado no altar. A dra. Margarida Sousa Cruz.
Margarida era jovem e já mãe, mulher d´amor a um jovem alferes miliciano que jornadeava pelo Quitexe e terras uíjanas, alferes e engenheiro por quem interrompeu o curso e com paixão talmente vivida que já dera fruto - o bebé Ricardo. 
Por lá professorou ela, também, e combinaram fazer Natal na sanzala. E fomos ver, com autoridades locais, civis e militares, que a festa não foi coisa pouca. E foi muito partilhada. 
À distância de 37 anos, ainda me sabe a estranho aquele Natal angolano, vivido entre gente de muitas cores e sentires, que se deram de mãos e festejaram. Mas guardo, especialmente (vá lá saber-se porquê!!!), o rosto feliz, de olhos grandes e a cobiçarem o mundo, de umas jovens negras, não sei se alunas da escola da dra. Margarida e da Irmã Augusta, que por ali se bombaleavam, fazendo do corpo uma harmonia de curvas que se lhe rebentavam nos seios, e sobre eles se pendurando missangas vermelhas caídas do pescoço, pelo vestido abaixo, enfeitando o pano garrido que lhe tapava os corpos negros de ébano.
A festa atraiu o povo da sanzala, para ver as suas crianças e pré-adolescentes, os alunos de Augusta e Margarida a encenarem e viverem o seu natal  - que foi, para muitos de nós, uma coisa surpreendente e emotiva. De puxar a lágrima ao olho! Foi um dia muito especial!
- MARGARIDA. Margarida Queirós Mota de Sousa Cruz, então finalista de medicina, esposa do alferes miliciano António Albano Araújo de Sousa Cruz. Médica de ginecologia e obstetrícia, residente em Santo Tirso. Ver AQUI

sábado, 10 de dezembro de 2011

1 093 - Cavaleiros de SantaI Isabel instalados no Quitexe

Fazenda Santa Isabel (em cima), capitão Fernandes e 1º. sargento Marchã (em baixo)



A 10 de Dezembro de 1974, hoje se completam 37 anos, ficou completa a instalação da 3ª. CCAV. 8423, a de Santa Isabel, na vila do Quitexe. Soube a mel, para a guarnição quietexana, pois as escalas de serviço iam ser mais folgadas.
A verdade é que, por escassez de pessoal, os operacionais da CCS - mesmo reforçados, todos os meses, com um grupo de combate de Zalala ou de Santa Isabel, e mesmo com o apoio do pelotão de Morteiros 4281 -, eram extremamente sacrificado - ora com escoltas, ora com patrulhamentos ou segurança (piquete e guarda, os reforços). E já lá iam as operações militares na mata.
A 3ª. CCAV. era comandada pelo capitão Fernandes (na foto) e por lá, em Santa Isabel (e a partir deste dia pelo Quitexe) acamaradava muito boa gente, amigos do alto, do mais graduado (o comandante) ao militar de menos patente.
A Fazenda Santa Isabel assentava a sua economia na colheita do café e tinha guarnição militar desde 1961. Por lá passaram milhares de soldados, de várias companhias e batalhões, sendo últimos os Cavaleiros do Norte da 3ª. CCAV. 8423. Assim ficam na história deste pedaço de Angola, onde se lutou por causas e por bandeiras.

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

1 092 - As futeboladas do Quitexe...


Grácio, Gomes, Miguel Soares, Botelho, Miguel Peres, Gaiteiro (??) e Soares (em cima), Miguel (?, condutor), Mosteias, Lopes, Esmoriz (?, enfermeiro), Monteiro e Teixeira, futebolistas do Quitexe, em Dezembro de 1974. Alguém mpode conformar estas identidades?  
 
 
O mês de Dezembro de 1974 foi de missão militar (continuada), de cinema e futebol, no Quitexe.  Jogos entre sub-unidades (companhias), entre pelotões e até com formações civis - estas com pequenos conflitos pelo meio e muita canelada no empoeirado pelado do estádio municipal do Quitexe.
As actividades eram dinamizadas pelo oficial de acção psicológica, o alferes Hermida, e motivavam vivas e entusiasmadas refregas.
Ao dia 8, disputou-se em Portugal a 12ª. jornada do nacional da 1ª. divisão e o FC do Porto comandava a prova, com 20 pontos, seguido do Benfica (19), Guimarães (18), Sporting (16), Farense (14), Setúbal e Boavista (13), Leixões e Belenenses (11), Cuf e Olhanense (10), Atlético, Espinho e União de Tomar (9), Oriental (6) e Académico de Coimbra (4). 
Os relatos dos jogos eram avidamente ouvidos no Quitexe, através da onda curta da Emissora Nacional (actual RDP) e o futebol era sobremesa farta, em eternas e apaixonadas discussões.
Passados 37 anos, Porto e Benfica lá estão na frente e na agora Liga continuam Sporting, Guimarães, Setúbal, Olhanense e Académica (o então Académico de Coimbra). Oriental, Cuf (agora, Fabril do Barreiro) e União de Tomar, andam pelos distritais. É a vida!

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

1 091 - O fim dos Grupos de Mesclagem...

Alguns elementos do Grupo de Mesclagem de Zalala, com militares europeus


As tropas angolanas que serviam as forças armadas portuguesas, com o desenvolvimento do processo de descolonização, começaram a ser um grande problema para os seus comandos - criando repetidos conflitos e actos de indisciplina. Recordemos-nos, embora seja um caso muito especial, da revolta da guarnição do Liberato, que tantos amargos e medos nos causou.
Eram os chamados grupos de mesclagem.
A situação tornou «necessário remover as dificuldades» e, assim, na continuação da desactivação dos vários destacamentos do BVAV. 8423 e na sequência da cada vez mais imperativa retracção do dispositivo militar, foi deliberado «dispensar a prestação do serviço militar dos grupos de mesclagem».
O BCAV. tinha um na 1ª. CCAV,. a de Zalala; outro na 2ª. CCAV., em Aldeia Viçosa; e outro na 3ª. CCAV., a de Santa Isabel. Integravam os respectivos grupos de combate.
A 1 de Dezembro de 1974, foi deliberado que os grupos de mesclagem entrassem de licença registada, o que rapidamente se concretizou, ao longo do mês. Na prática, era a mesma coisa que passarem à disponibilidade e muitos deles, provavelmente, terão ingressado nas fileiras armadas da FNLA, MPLA e UNITA - tal qual, de resto, aconteceu com muitos GE.

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

1 090 - A mobilização, a 7 de Dezembro de 1973

Neto, Viegas e Monteiro, três furriéis da CCS do BCAV. 8423, no Quitexe.
Em baixo, a ordem de serviço com a mobilização



A 7 de Dezembro de 1973, hoje se completam 38 anos, a Ordem de Serviço nº. 286 do Centro de Instrução de Operações Especiais (CIOE), em Lamego, dava conta do que há muito se esperava: a nossa mobilização.
Bingo, para mim, Neto e Monteiro: mobilização para Angola. O melhor que se poderia desejar, sendo certo que era certa a nossa ida para a guerra do ultramar. Eramos de tropa especial, não fugíriamos.
A mobilização propriamente dita já fôra publicada na Nota 47000 - Pº. 33.007, de 17 de Novembro de 1973, da RSP/DSP/ME, e dela havia «fugas» de informação. Mas, preto no banco, como os nossos olhos a ler, foi a 7 de Dezemnro de 1973, na ordem de serviço do aquartelamento do CIOE no centro da cidade. Aqui deixo reposta a cópia da dita OS, na parte que nos diz respeito.
Um ano depois, no Quitexe, faziam-se vésperas para a chegada definitiva da 3ª. CCAV. 8423, a de Santa Isabel - nomeadamente procurando-se forma de alojar mais de 150 homens, era este, mais ou menos, o número de militares da guarnição que chegava. O que não era, convenhamos, tarefa nada fácil.
Fácil viria a ser a sua integração. Parte dos quadros já tinha passado pelo Quitexe: os alferes Pedrosa, Simões e Carlos Silva. E o Rodrigues era nosso bem conhecido da Lamego - também ele de Operações Especiais. Mais os furriéis Flora, Fernandes, Carvalho, Ricardo, Graciano, Lopes, Capitão, Querido, o Reino (outro OE), o Guedes, o Ribeiro, todos operacionais.
Deles, aqui guardo, hoje, memória de dois que já partiram: o Capitão e o Guedes.
A vida tem destas coisas!
- CAPITÃO. Luís Ribeiro Capitão, furriel miliciano atirador de cavalaria. De Ourém e falecido a 5 de Janeiro de 2010.
- GUEDES. Vitor Mateus Ribeiro Guedes, furriel miliciano atirador de cavalaria. De Lisboa e falecido a 16 de Abril de 1998.
- ORDEM DE SERVIÇO. Clicar na imagem,. para a ampliar.

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

1 089 - Negócios de combustíveis que chegaram aos tribunais...

Martins e Casal, da CCS do BCAÇ. 3879, no Quitexe


O dia que antecedeu a nossa partida do Quitexe, foi para despedidas e fotos, ora com amigos civis, ora com companheiros, no jardim da vila.
Sentado ao meu lado direito, está o Martins, operador de mensagens, que esteve sempre envolto em polémicas, desde o dia em que assentou arraiais no Quitexe, até ao dia da partida. Não era, nem é, mau rapaz, não senhor, mas a sua infância e juventude foram demasiado madrastas, com tudo o que isso viria a acarretar, até na vida militar! No entanto, era exímio na sua especialidade e extremamente educado no trato com todos. Leal, mesmo, e com grande sentido de companheirismo.
O problema dele era, também, o problema de outros…de muitos – um praça ganhava pouco e não dava para loucuras! Pois é, mas o Martins trazia hábitos faustosos lá do Cais do Sodré! Noitadas, boa vida e alguns etcs. que me escuso de aqui referir, ao tempo tão ousados e até chocantes para um provinciano, como era o meu caso! Enganou-se quem pensou que a sua vida, no Quitexe, iria ser monótona, sem mordomias e longe do que estava habituado! O Martins engendrou esquemas que não passariam pela cabeça do mais imaginativo, obtendo conhecimentos e assim alargando o seu leque de negócios, principalmente na área dos combustíveis! Mas o que é que um operador de mensagens tinha a ver com combustíveis?!, será legítimo perguntar! Nada, mas o certo é que, quase num toque de mágica, o Martins auto-promoveu-se a empresário de sucesso! Quem diria?! Ele que nunca trabalhara, realmente, na vida civil, mostrava finalmente o que valia!
Mas os últimos negócios não correram da melhor forma e ficou a ver os pagamentos por um canudo! E quem estava a vê-los, os pagamentos, também por um canudo, eram os proprietários dos bares Topete e Pacheco, que foram dar com a língua nos dentes para o Comando! Ai, ai..., se eles abdicavam das contas dos bifinhos com batas fritas e ovo a cavalo, dos frangos devorados com cerveja e dos camarões acompanhados com vinho verde, em grandes noitadas! O Martins, que sempre pagara as suas contas, desta feita viu alguns “amigos” virarem-lhe as costas! E agora?!...
Mas lá houve uma alminha caridosa que lhe adiantou o dinheiro, tipo troika mas sem juros, para que o Martins pudesse respirar fundo e levar a vida para a frente, noutras paragens. E levou, mas exactamente igual à do Quitexe, direi até mais atribulada, mas com outros “sócios”, alguns, fazendeiros ambrizetanos!
No final da comissão, a cena viria a repetir-se, mas com contornos ainda mais complicados! Que se resolveram, com toque daqui, toque dali, também com uma cunha pelo meio, para não perder o voo que o levaria ao aconchego dos amigos – a sua única família! Chorou baba e ranho, desesperou mas conseguiu enfiar-se no avião!
Agora, o que me causa estranheza, e até me dá vontade de rir, é o facto de os ditos negócios, quitexanos e ambrizetanos, por falta de equidade na distribuição dos lucros (refere o queixoso), terem sido entregues a um advogado, quase dois anos depois da passagem à disponibilidade! Então o 1º. cabo «gasolinas» foi meter o sócio e amigo 1º. cabo Martins nas barras dos tribunais por causa dos “negócios” de combustíveis, e outros?! Dos tempos da tropa?! C’um raio, só podiam ser grandes negócios! Parece de doidos! Dá para embasbacar!
E 37 anos depois continuam de costas voltadas por causa das contas da gasolineira! Isto não faz sentido! Ou eu estou a ver mal a coisa?!
Agora, interrogo-me eu do alto da minha ingenuidade e ignorância! Mas então, o Martins e o “gasolinas” tinham alguma empresa de distribuição de combustíveis, e outros, enquanto militares?! As coisas que eu desconhecia!
Talvez mo esclareçam quando, e se, eu conseguir a proeza de os juntar à mesa, com os filhos e netos de ambos! Nunca se sabe!!!
ANTÓNIO CASAL DA FONSECA
CCS da BCAÇ. 3879