quinta-feira, 30 de junho de 2011

O paludismo que derrota e rouba 9 quilos a um homem...


O paludismo era doença que não me assustava e até me fazia muita impressão como é que um indivíduo jovem e cheio de saúde se deixava cair numa cama! E ali ficava quase irreconhecível, sem forças para agarrar uma gata pelo rabo! Até que no dia 20 de Novembro de 1972, quando eu preparava o meu desenfianço de três dias para Carmona, onde com um amigo de escola iria dar umas voltas, fui surpreendido com algum mal-estar físico e uma falta de apetite que não era normal.
Aliás, muito anormal mesmo!
De imediato, fui falar com o amigo Alves, enfermeiro, que, sem papas na língua, logo me disse: «Ó pá, de certeza que isso é paludismo!..., é melhor não te desenfiares se não queres meter-te em chatices! Vai por mim Casal, ouve o que te digo!...».
Não lhe dei ouvidos e lá preparei a minha roupa para três dias, que não passava de meia dúzia de peças. Mas a noite foi penosa e começaram as voltas na cama, num desatino desgraçado!
Lá fui de novo à enfermaria à procura de qualquer coisa que me pusesse novo e me desse asas para voar até Carmona.
“Estás cheio de febre. pá..., onde é que pensas que vais?!», gritava-me o furriel enfermeiro Batalha e advertindo-me para as consequências.
Pronto, estava feito! Lá se ia a visita a um museu ou a uma exposição de pintura! Digo eu, já que não havia nada programado! “Meu furriel, se não for contra as normas deixe-me seguir o tratamento no meu quarto”!..., pedi-lhe, para me ver livre da enfermaria. E assim aconteceu durante dez penosos dias, só a medicamentos e água e sem forças para me colocar em pé. Como não baixei à enfermaria, entrei na escala de serviço como se estivesse são.
«Não te preocupes com os serviços que eu faço-os todos», aliviou-me o colega de quarto Aguiar, que viria a ser amigo para toda a vida!
Como se não bastasse, trazia-me todas as refeições à cama e até me mudava os lençóis ensopados em suor. Refeições que eu não conseguia comer e nem sequer cheirar! Ao fim de oito dias, finalmente, comecei a sentir fome e logo pensei que havia homem. A muito custo, levantei-me e saí para ir ao Topete, mas não andei mais de cem metros. A cambalear e a trocar as pernas, caí logo ali no carreiro que servia de atalho em frente à enfermaria!
Estou f… lixado, querem ver que me vou desta para outra…assim sem mais nem menos!?”, disse eu, com voz sumida e sem perceber para onde fugira toda a minha força!
Fui socorrido pelo enfermeiro “Pilório” que com a ajuda do maqueiro “Estarreja”, me estendeu na cama. “Tás quase bom pá, para te levantares e teres fome é porque é coisa para só mais dois ou três dias!...», animava-me ele, já com alguma experiência mas a gozar o espectáculo, enquanto me limpava o suor da cara. O pior era o cigarro que ele tinha a dançar na boca e me atirava a cinza para cima!
E não se enganou, porque dois dias depois já estava pronto para outra, fresco que nem uma alface. A “exploração” de Carmona ficou para semanas depois, mas não correu nada bem! Foi de má memória!
A foto foi tirada no dia da minha “alta”, 30/11/72, por sugestão do Mário (rádio montador), que fez questão que a minha desgraça ficasse para a posteridade. Nove quilos tinham ido à vida! Obrigado Mário, podias era ter-me emprestado uns suspensórios!!!
ANTÓNIO CASAL FONSECA

quarta-feira, 29 de junho de 2011

A morte do furriel miliciano Melo


Raramente aqui temos falado da 2ª. CCAV. 8423, que jornadeou por Aldeia Viçosa, sob comando do capitão miliciano José Manuel Cruz. Não porque não tenhamos tentado, e das mais diversas formas e feitios, ter colaboração dos nossos companheiros que por lá cumpriram missão igual à nossa do Quitexe. Ou de Zalala e Santa Isabel, Vista Alegre, Songo, Ponte do Dange, Luísa Maria e Carmona, antes de Luanda e do nosso regresso a Portugal.  
As nossas diligências não têm sido felizes - salvo as excepções, honrosas!!!, que confirmam a regra. Hoje, vimos falar da 2ª. CCAV. e não pelas melhores razões: a da morte do furriel Melo. Em data que não consegui precisar.
O Melo era atirador de cavalaria e, depois de Angola, fez a vida como militar da GNR, na Brigada de Trânsito. A vida fez-nos encontrar meia dúzia de vezes, depois de 1975 - a última delas, nos anos 90, quando me procurou em Águeda, por razões que agora não vem ao caso.
Soube agora que a morte resultou de doença. Aqui fica o registo da nossa saudade. Até breve, amigo melo!
- MELO. José Fernando Nôro Dias de Melo, era da Granja do Ulmeiro (Soure) e residia em Leiria - onde trabalhava na Brigada de Trânsito da GNR.

terça-feira, 28 de junho de 2011

8 furriéis de Zalala em passeio pela mata


 Furriéis de Zalala: Rodrigues, Barata, Louro, Nascimento, Eusébio, Dias, Velez e Victor Costa

De Zalala, se tem dito por aqui (e por muita gente!) que era «um buraco». Por lá se enviuvaram muitas emoções e se «multiplicaram» alguns degredos. Era a uns 40 quilómetros do Quitexe, para lá de uma picada de muitos perigos.E nela se sentiram sustos vários.
Eu mesmo, com a brava rapaziada do PELREC e no regresso de uma operação, fomos «vítimas» de uma emboscada, que não foi: eram tiros de gente civil que caçava, mas que nos castigaram a alma e semearam o corpo de medos.
O Rodrigues, que por lá foi furriel e agora goza os prazeres da reforma, por Vila Nova de Famalicão, vem aqui ao blogue (com a foto lá de cima), dar conta de «um dia de maluquice...».
Foi, diz ele, «um daqueles  domingos de nada fazer em que, não me recordo se com autorização do comando ou não, resolvemos fazer uma investida de" turismo", tirar as roupas civis da mala, só para alguns, e levar os restantes camaradas a conhecer locais ja conhecidos dos atiradores, por razões óbvias».
Quase todos eles são atiradores, na verdade. E «já lá tinham estado variadas vezes«, mas os outros, os "especialistas", iam estrear-se na novidade «turística».
Os atiradores os tratavam os sobreditos como "aramistas", porque não saíam do arame farpado e, embora estivessem em Zalala, «não conheciam a área geográfica que envolvia o aquartelamento». Não saíam à volta do buraco. Assim era Zalala, em 1974.
- RODRIGUES. Américo Joaquim da Silva Rodrigues, furriel miliciano atirador de cavalaria. Aposentado e residente em Vila Nova de Famalicão.
- BARATA. Jorge António Eanes Barata, furriel  miliciano atirador de cavalaria. De Alcains.
- LOURO. José dos Santos Louro, furriel miliciano atirador de cavalaria. Funcionário da Universidade de Évora.
- NASCIMENTO. José António Moreira do Nascimento. Furriel miliciano de alimentação.
- EUSÉBIO. Eusébio Manuel Martins. Furriel miliciano atirador de cavalaria. De Belmonte, aposentado.
- DIAS. Manuel Dinis Dias. Furriel miliciano mecânico. De Lisboa.
- VELEZ. Vitor Manuel da Conceição Gregório Velez, furriel miliciano. Residente na Amadora.
- COSTA. Victor Moreira Gomes da Costa. Furriel miliciano atirador de cavalaria.

segunda-feira, 27 de junho de 2011

Um frango e meio, antes de rastejar na mata...


A foto é de 23 de Maio de 1972 e foi tirada no Restaurante do Topete, ao fundo da rua de baixo, no Quitexe. Na manhã deste dia, foi feita uma escolta a algumas viaturas civis, com cuidados redobrados, face a receios que se prendiam, e muito bem, com o nosso estatuto de “maçaricos”.
Os apontamentos de que disponho, «dizem-me» que a escolta partiu cerca das 8 horas e regressou pelas 13. Foram 5 horas a percorrer dois ou três destinos, que já não consigo precisar, em manhã que começou bem molhada mas que acabou sob sol abrasador.
Era suposto que o resto do dia fosse de descanso e o certo é que até já tinha tomado o meu duche, preparando-me para uma tarde bem descontraída. Mas, afinal, não iria ser assim, já que se teria passado qualquer coisa lá para os lados da fazenda do José Bastos, o que nos obrigaria a mais uma deslocação bem mais arriscada e sem hora de regresso marcado. Como marcado, ou assegurado, nunca esteve, o nosso regresso, em qualquer circunstância!
Assim sendo, nada melhor que preparar os estômagos para uma tarde que se adivinhava «desportiva», ali mesmo no Topete. Foram pedidos dois bons frangos com batatas fritas, desta vez acompanhados de missions, porque aquilo de ir sentado no banco de um unimog tinhas as suas coisas! Mas tive um contratempo com o meu colega de mesa, que não foi além de metade de um frango, obrigando-me a atirar-me (que chatice!!!...) ao restante frango e meio que olhava para mim! A verdade se diga, nunca sofri de falta de apetite, e até havia quem dissesse que entre mim e o Canidelo, em termos do dito apetite, viesse o diabo e escolhesse! Como hoje… ambos, valha a verdade!
Retomado o serviço, rumámos à zona da fazenda de José Bastos, onde tinha sido avistado o IN e por onde percorremos trilhos que nos ensopou o camuflado - ainda cheio de goma e que nos assava o pescoço. Escondemos os “burros de mato” atrás de um tronco de uma árvore, com alguns metros de diâmetro, e rastejámos mata acima com a cabeça colada ao chão, tal como nos tinham ensinado. Direi até… melhor, dadas as circunstâncias!
As horas passaram, não vimos ninguém e organizámo-nos para o regresso em segurança. Terminámos já com a noite a ameaçar a luz do dia, mas aliviados por todos estarmos sãos e salvos. Vendo bem, ainda só tínhamos cerca de um mês de Quitexe e ainda não conhecíamos bem os perigos que nos espreitavam em cada picada e por trás das densas matas que nos cercavam. Mas viríamos a conhecer ao longo de um tempo que em determinadas alturas nos foi muito adverso, mas em que soubemos ser grandes!
ANTÓNIO FONSECA

domingo, 26 de junho de 2011

Cavaleiros reunidos com população e autoridades do Quitexe

Clube do Quitexe (em cima) e Administração Civil (em baixo)



A vila do Quitexe tinha vida própria, muito para além da tropa. Tinha administração civil (a Câmara Municipal daqui e aqui se vê o edifício, na foto, com a bandeira portuguesa hasteada), hospital, clube (com cinema), escola, estação dos CTT, vários restaurantes, cafés, bares e lojas. E um jardim, por onde se passearam muitas ideias e sonhos.
Havia também a missão católica e a igreja, onde paroquiava o padre Albino Capela.
O BCAV. 8423, ali chegado a 6 de Junho de 1974 (e entrando em gestão operacional a partir de 14), procurou, entre outras actividades e no campo da actividade psicológica, «preparar e mentalizar as populações para o Programa do MFA», tendo, por isso, o comandante Almeida e Brito (e oficiais) realizado «variadíssimas reuniões de trabalho».
Assim aconteceu no dia 19 e a 26, hoje se fazem 37 anos!
A 17, no Clube do Quitexe, encontrou-se com os comerciantes e autoridades da vila. E a 22 e 9, com as autoridades tradicionais.
Os Cavaleiros do Norte, pela mão sábia e experiente do comandante Almeida e Brito, semeavam o relacionamento miliar com a população civil.

sábado, 25 de junho de 2011

As relações entre as autoridades militares e civis



A chegada do BVAV. 8423 - e em particular da CCS - ao Quitexe, em Junho de 1974, levaram à procura do estreitamemto de relações com a comunidade civil, no caso algo facilitadas pelo facto do comandante Almeida e Brito já lá ter sido oficial de operações do BCAV. 1917 (em 1968) e conhecer as autoridades locais.
Essencial era - e hoje melhor percebemos isso - a relação entre as autoridades militares e civis (porventura, mais que com a própria população civil). Por alguma razão, a  26 de Junho de 1974, o então brigadeiroo Altino de Magalhães (comandante da Zona Militar Norte, na foto) e o coronel tirocinado Bastos Carreiras (comandante do Sector do Uíge), estiveram em todas as reuniões da Comissão Local de Contra Subversão), assim como trabalharam com o Administrador do Concelho do Dange, no Quitexe - o equivalente ao presidente da Câmara Municipal do Portugal metropolitano.
O comandante Altino de Magalhães acumulava com as funções de Governador do Distrito do Uíge e nessa condição e no mesmo dia, como lemos no Livro da Unidade, visitou também o Destacameno de Luísa Maria.
A 26 de Junho, amanhã se completarão 37 anos, visitaram também  a 2ª. CCAV. (Aldeia Viçosa) e a 3ª. CCAV. (Santa Isabel), para além da CCAÇ. 4145 (estacionada em Vista Alegre).
Assim se ia fazendo a «instalação» dos Cavaleiros do Norte, por terras do Uíge.

sexta-feira, 24 de junho de 2011

A primeira ida a Zalala e visita de médico a sanzala...


Aquartelamento de Zalala, onde se instalou a 1ª. CCAV, do BCAV. 8423


Zalala era para lá dos mistérios e medos de uma picada que pregava sustos e na qual muito sangue correu e almas se gelaram. Além de uns desses sustos, maiores ou menores, para uns ou para outros - era assim, sempre, na guerra ou outro qualquer lado... -  não teve a guarnição do BCAV. 8423 coisa de monda para se queixar. Não teve, sequer e felizmente, nenhum acidente grave em combate. Ou mortos, nestas circunstâncias.
Mas Zalala, era mais que mistério ou lenda! Era uma incógnita enorme, para nós - que aquartelávamos em sítio mais urbano, como era a «cosmopolita» vila do Quitexe.
Vários nomes lhe chamavam: a mais dura escola de guerra, um buraco..., era dois deles!
A 24 de Junho de 1974 conheci Zalala, escoltando o comandante Almeida e Brito, que lá foi em visita «oficial» à 1ª. CCAV. 8423, comandada pelo capitão Castro Dias.
A viagem incluiu pernoita e, fatalmente, farto convívio no bar dos sargentos - onde o Pinto & Companhia fizeram das suas (brincadeiras) e regámos a sede com cucas atrás de cucas.
Isto foi há 37 anos, passa o tempo depressa e só o Livro da Unidade nos aguça a memória para estes pormenores! E ateou-se-me, agora, um outro: parámos numa aldeia da borda da picada para deixar remédios ao soba, levados pelo capitão médico. Foi na Bumbe ou na Mungage, agora não sei dizer, mas lembro-me que foi mesmo visita de médico: parar, recomendar, entregar os medicamentos e seguir para Zalala. Parámos, no regresso, com palmas e vivas dos nativos, coisa que me espantou! 

quinta-feira, 23 de junho de 2011

As famílias civis do Quitexe e o Padre Capela

Albino Capela e senhora, no Encontro de Águeda (2009)



A  foto é de 1969, da família Rei do Quitexe. O padre Capela está com Elizabete ao colo, no dia do seu baptizado (foto DAQUI).


Os primeiros dias do Quitexe foram de natural expectativa da nova guarnição militar sobre a comunidade civil. Tarde soubemos, fosse lá pelo que fosse - eu e o Neto - que a Família Morais era de Águeda, de Valongo do Vouga, nossos vizinhos. Eu até tinha jogado futebol no Valonguense, o clube da terra dos Morais, durante três anos, e conhecia familiares deles. O Toninho, tinha sido companheiro da velha EICA. O Fernando, mais velho, era titular da equipa sénior que, ao tempo, brilhava nos distritais de futebol de Aveiro.
Talvez não tenhamos desejado "incomodar" e raramente coloquiámos com eles, embora soubéssemos da popularidade local do patriarca José Morais.
As nossas relações com a comunidade quitexana (pelo menos as minhas) começaram por ser mais com a comunidade católica, nas idas à missa e na frequência da missão dirigida pelo padre Capela. Que fazia da sua missão um espaço de convívio e grandes debates - sobre religião (é certo) e também sobre política e coisas e causas da juventude. Lá se juntavam, aos sábados à noite, os poucos jovens brancos que durante a semana estudavam em Carmona - quase todos raparigas! Em quem, de malícia, pousávamos os olhos, de ver e de desejar!
O padre Capela era um homem bom, aberto, disponível, que por lá sacerdotava em missão que, imagino, não seria fácil. Confraternizava com os militares e foi ombro amigo para muitos de nós - os emocionalmente mais frágeis e que, na igreja, achavam refúgio para as dores da saudade, o ganho da fé e o sustento da alma.

- CAPELA. António Albino Vieira Martins Capela, sacerdote católico e padre do Quitexe. Reside em Barcelos, onde é professor. É conviva activo dos Encontros da CCS dos Cavaleiros do Norte.
- MORAIS. Família quitexana de Valongo do Vouga (Águeda). José, o patriarca, já faleceu. A esposa reside com a filha São, proprietária de um bar em Arrancada do Vouga (Valongo, Águeda). A outra filha, Lurdes, é enfermeira em Almada.
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quarta-feira, 22 de junho de 2011

A população civil e a tropa do Quitexe



A rua que aqui se vê é a principal do Quitexe, conhecida por Estrada do Café, ligando, sempre em asfalto, a capital Luanda a Carmona - capital do Uíge. Quantas vezes por ali passámos, em longas conversas apeadas, ou em idas aos Correios ou ao bar do Rocha, à Geladinha do Quitexe, ou de passagem para o cinema, ou para o jardim da administração! À casa dos rádio-montadores, ou (para os operacionais) em longos serviços nocturnos, de piquete ou de reforço. Ou de  sargento de dia, passando rondas aos postos de vigia da vila.
António Casal, que pelo Quitexe jornadeou como 1º. cabo de transmissões, da BCAÇ. 3879, vem lembrar que, pouco à frente e à direita do que aqui se vê, moravam as famílias Morais e Portela.
O Portela era Sub-Chefe dos Voluntários e inquilino de Morais - que era aguedense, meu conterrâneo de Valongo do Vouga.
O Casal vem agora lembrar a honra tida (ele) em ser convidado para o baptizado do filho do Portela, na igreja do Quitexe. 
"Não me lembro do nome do padrinho, mas a madrinha foi a Sãozita Morais. Foi uma festa e tanto e teve como grande animador a alegria e boa disposição contagiante do sr. Morais", recorda o Casal, citando o tempo da sua chegada ao Quitexe, em Abril de 1972, quando tinha à espera a família Portela - que logo fez questão de o apresentar à família Morais.
O "maçarico" Casal foi recebido de braços abertos e, durante o ano em que lá permaneceu, sempre foi tratado com o maior dos respeitos e amizade. "É por estas e outras razões - diz dele - que o Quitexe está e estará sempre comigo e há coisas que não se esquecem".
Infelizmente, o quitexano Morais já não se encontra entre nós, já faleceu, mas, sublinha o Casal,"permanecerá sempre no nosso espírito pelas melhores razões". 
Assim se fazia a relação da comunidade civil com a tropa. Nem sempre pacifica, é verdade, mas, no Quitexe, quase sempre civilizada, embora aqui e ali "temperada" com algumas diferenças. Era (é) a vida!!!

terça-feira, 21 de junho de 2011

O soldado amputado por mina anti-pessoal


Mina anti-pessoal (foto da net)

A operação Castiço DIH, começada a 20 de Junho de 1974, apenas terminaria em Julho seguinte, «sem grande compensação do esforço desenvolvido pelas NT», segundo se lê no Livro da Unidades. Que faz memória de «uma emboscada sem consequências no Tabi», materializada em «tiros de aviso por parte do IN». 
Lamentável foi, da parte da 41ª. Companhia de Comandos, a amputação de uma perna a um soldado, vítima de uma mina anti-pessoal, na central do Negage.
O PELREC, que eu integrava, já tinha acabado a sua parte operacional da Castiço DIH e foi chamado, a meio de uma noite - por estar de piquete no Quitexe - a ir à mata, justamente para evacuar o soldado. 
Assim fomos, lá chegando de madrugada, recolhendo o soldado e transportado-o até ao Quitexe - de onde, se bem me lembro, seguiu de ambulância para o Negage.
A CC 41, face aos acontecimentos, decidiu retirar-se da zona, apenas 18 horas depois de ter iniciado a operação - que, da sua parte, envolvia 8 dia de actividade.   
Foi lá que conheci o Dias, furriel miliciano «comando», que é de Águeda e agora cozinheiro em restaurante da zona. E Valongo, ao vivo, também furriel e que conhecia dos jornais por ter sido futebolista internacional júnior, enquanto atleta do FC do Porto.  

segunda-feira, 20 de junho de 2011

A operação militar Castiço DIH, há 37 anos!!!!

Alferes Garcia e furriel Viegas, de partida para uma operação, mas matas uijenses (1974)


A 20 de Junho de 1974, hoje se completam 37 anos, iniciou-se a Operação Castiço DIH, dividida por quatro fases e na qual participaram todas a subunidades orgânicas do Batalhão de Cavalaria 8423. E ainda a 41ª. Companhia de Comandos e os Flechas de Carmona.  
Fazendo a memória do dia, lembro a véspera e o chamamento do alferes Garcia ao Gabinete de Operações. «Vamos ter uma operação, saímos às 5 horas da manhã...», disse ele, com ar sério, compenetrado e sem dúvidas, «despachando o serviço», com o juvenil sorriso que quase o envergonhava.
Eu e o Neto engolimos em seco, mas tinha de ser. Para isso lá estávamos nós.  E iríamos, obviamente. Jantámos tranquilamente, não comentámos o assunto - assim exigiam as elementares regras de segurança! -, mas passámos discretamente pela caserna do PELREC, para avaliar a disposição do pessoal, que por lá se ocupava em leituras e escritas de aerogramas, a jogar as cartas e a beber umas cervejas. Era de estilo!
O alferes Garcia se encarregeou, seguramente com a mesma discrição, de sondar os alferes Cruz (mecânico, por causa do transporte) e Hermida (responsável pelas transmissões). O furriel Lopes não foi abordado, pois sabia-se que havia enfermeiro «mobilizado» e era fácil acordá-lo a qualquer hora. E lá fomos!
A nossa jornada foi de três dias, com duas noites sem sono na mata, e recordo os sons estranahos desses crespúculos angolanos, os urros ou grunhidos animais, os guinchos dos macacos e nós sempre de olho aberto e alma a cuidar de nós, em alerta permanente! Nada nos aconteceu.
O mesmo não pôde dizer a 41ª. Companhia de Comandos, pois um dos seus homens accionou uma mina anti-pessoal e sofreu amputação de um pé. 

domingo, 19 de junho de 2011

Os primeiros sons e cheiros das matas e de Angola...

Uma picada de Angola. Mau piso e perigos escondidos atrás das matas. Um militar português, momentos antes da saída para uam operação militar. Lenço para evitar a entrada de pó na boca e nariz, armado de G3, granadas defensivas e ofensivas, na foto de baixo - clicar na imagem, para a ampliar




A primeira saída formal do PELREC terá sido um patrulhamento apeado,a partir da sanzala do Quitoque (ou da do Quimassabi), já sem companhia dos «caçadores» da 4211, na altura já a veranear por Ambrizete. Tínhamos feito, antes, uma pequena operação, para os lados de Camabatela, com eles, mais - julgo eu, hoje, e acreditando que a memória não me falha - para nos habituarmos aos sons da mata, aos cheiros das picadas e das fazendas e sanzalas.
Angola, a terra vermelha que aos nossos olhos se abria, era uma mistério enorme e não será surpresa dizer que as primeira vezes que saímos para além das fronteiras do Quitexe, se nos engravidavam o peito e alma de medos e constrangimentos. Não temíamos os leões que nos contavam ser donos da selva (nem nunca vimos algum!...), mas mais os ruídos novos que se descobriam quando palmilhávamos trilhos, entre a florestaa densa ou em descampados de sol que nos esmagava.
A uma madrugada, numa dessas primeiras saídas, chegámos a uma fazenda - creio que à Businaria, ou àJosé Guerra) e gelou-se-me a alma quando, parando no terreiro da dita e para o pequeno almoço de ração de combate, um dos «putos» que nos pediam de comer - «Dá os lata, esfurrié!!!. Dá os laaaata!...», rogavam eles - se me dirigiu palavra, tratando-me pelo nome.
«Esfurrié esVeiga, dá os lata...». Veiga era como ela conseguia dizer Viegas e assustou-me o pedido do puto de carapinha rapada, a estender-me a mão.
Assim, entre sustos e curiosidades que se matavam, fomos conhecendo as gentes e o chão de Angola.
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sábado, 18 de junho de 2011

Localidades, rios e fazendas à volta do Quitexe

Rio Loge, nos arredores do Quitexe (foto da net)
Clicar nas imagens, para ampliar



A chegada ao Quitexe encheu-nos de curiosidades. Onde estávamos nós, onde iríamos agir operacionalmente e inter-agir socialmente, quem nos rodearia no dia-a-dia? Levou algum tempo a ter resposta a estas e outras perguntas, como é natural.
Agora, ano de 2011 e socorrendo-me do livro «Quitexe - Uma Tragédia Anunciada / O velho Cazenza e outras histórias», de João Nogueira Garcia, tento lembrar o «mapa» social e territorial da área quitexana. Outras povoações (sanzalas) existiriam, mas o próprio autor sublinha o facto de a reconstituição ser feita de memória.

 
POVOAÇÕES:
- Estrada Quitexe/Carmona (Uíge): Terra Nova, Talabanza, Cuale, Quimassabi e Quitoque.
- Estrada Quitexe/Luanda: Aldeia, Luege, Aldeia Viçosa, Vista Alegre e Ponte do Dange.
- Estrada Quitexe/Camabatela: Canzenza, Catenda, Tabi (ui, o Tabi...), Caunda, Camuto, Aldeia, Quinzage, Quimucanda e Catulo.
- Picada Quitexe/Zalala: Ambuíla, Cacuaco, Bumbe e Mungage.


FAZENDAS:
- A sul: Esmeralda, Vamba (perto da de Santa Isabel, a da 3ª. CCAV. 8423) e Pacheco.
- A norte: Pumbaloge, Marcelina, Borja Santos e Quimaçabe.
- A nascente: Ligares, Vouga, Matos Vaz, Guerra, Buzinaria, Quinta das Arcas  e, junto ao Dange, Santos e Américo.
- A poente: Alegria, V. Matos, Ambuíla e Zalala (onde esteve a 1ª. CCAV. 8423).
Poderá haver, neste rol, alguma incorrecção.


SERRAS:
- Quibianga, Canacajungue e Quibinda


RIOS:
- LUQICHE, com as afluentes Cassamba, Quimuna, Luele e Cancangola.
- UAMBA (que, reunido com o Luquiche, forma o Loge), com os afluentes Quebore, Baruga, Bimba, Tebe, Cacunga, Quinduri e Luína.
- LUMANHA (também afluente do Uamba), com os afluentes Giu (o rio mais próximo do Quitexe), Cassanga, Samba, Caxinge, Catari, Tabe, Cacule e Calucala.
- DANGE, com os afluentes Cária, Cuito, Cananga, Caluequelo e Quixica.
Alguma vez, ao menos uma vez, por certo o PELREC calcorreou cada um destes sítios. E dá para olhar para estes nomes e sentir alguma emoção, 37 anos depois!!!

sexta-feira, 17 de junho de 2011

Os dois irmãos negros da sanzala do Talabanza

António Casal Fonseca com os dois irmãos do Talabanza (Quitexe)



ANTÓNIO CASAL FONSECA
Texto

Algumas vezes, passados que são 38 anos, os dois miúdos da foto ainda percorrem os labirintos da minha memória. Moravam na sanzala Talabanza, à entrada para o Quitexe, por onde eu dava os meus passeios matinais de domingo, quase sempre de máquina fotográfica em punho.

Não raras vezes, apareciam junto à vivenda do pessoal das transmissões e ali permaneciam sentados nos degraus da entrada principal, abrigados do sol e em alegre cavaqueira num qualquer dialecto misturado com a língua de Camões. O mais pequeno, o Domingos, por ser mais decidido, era quem se encarregava de perguntar por mim ao Nunes, um dos poucos dotados de paciência para os ouvir e lhe dirigir algumas palavras amáveis, talvez pelo facto de já ser pai.
À minha chegada torcia-se de vergonha e quase de cara voltada lá me ia dizendo ao que ia: «Era as lata senhô, era as lata!....».
Eu bem lhe perguntava para que eram “as lata”, mas quanto mais eu apertava com ele mais escondia os olhos, ao mesmo tempo que fazia riscos na terra com o dedo grande do pé! Curiosamente, o mais velho não falava com a tropa! Nunca lhe consegui arrancar uma palavra nem um sorriso, nem mesmo quando o “provoquei” ao andar com o irmão às cavalitas, em dia de limpeza e revista ao pessoal. Andou às cavalitas e logo de seguida foi direitinho ao chuveiro, de onde saiu “como novo” e de nariz sem o ranho que tanto o caracterizava!
Mas eles não queriam saber de cavalitas, nem de banhos e muito menos de conversa! O que eles queriam mesmo era latas de rojões que eu guardava num saco, a que se juntava, algumas vezes, uma ou outra lata de atum e um pacote de leite achocolatado que eu costumava ter ali para o que desse e viesse, no frigorífico – o tanque de água do quintal! Como nunca gostei de rojões, e não era o único, fazia celeiro na certeza de que mais dia menos dia se comeriam. O que sempre aconteceu!
Mas a manhã viria a terminar com algum azedume entre mim e o Mário, por causa do pequeno Domingos, cuja presença ele não tolerava!
«Não quero o miúdo por perto pá…, o gajo é ranhoso»!, gritava e esbracejava, vermelho de raiva, naquele corpo grande e desajeitado!
“Ranhoso?!...,mas tu és tão ranhoso quanto ele!..., a única diferença está em quem tem, ou não tem, o lenço”!...,respondi ao meu bom amigo, provocando de propósito e enfurecendo-o até à medula! Não entendeu, ali, a minha resposta e, talvez também por isso, como habitualmente rangeu os dentes e levou a porta do quarto à frente. Mas tinha um coração de manteiga, e alguma horas depois já estava como se nada fosse! E não foi!
O miúdo, indiferente ao incidente “doméstico”, lá bebeu o achocolatado a seguir ao duche e foi embora com o irmão, ambos felizes da vida com as latas guardadas dentro da camisa de muitos dias. Talvez de todos os dias! Guardadas por precaução, porque os mais corpulentos não tinham pejo em roubar-lhas, até usando a violência se necessário fosse. Era assim a vida dos meninos mais desprotegidos do Quitexe, sempre comandados pelo instinto de sobrevivência!

quinta-feira, 16 de junho de 2011

O primeiro dia de responsabilidade operacional dos Cavaleiros do Norte


O Batalhão de Cavalaria 8423 assumiu a responsabilidade da sua zona de acção a 14 de Junho de 1974 e logo no dia seguinte (ontem se passaram 37 anos!...) se realizou a primeira reunião de comandos de todas as companhias do Subsector - as do BCAV. e as de Caçadores.
O Batalhão de Cavaleiros do Norte tinha a CCS instalada na vila do Quitexe (comandada pelo capitão SGE António Martins de Oliveira), a  1ª. CCAV. 8423 na Fazenda de Zalala (capitão miliciano Castro Dias, a 2ª. CCAV. em Aldeia Viçosa (capitão milicianoJosé Manuel Cruz), a 3ª. CCAV. na fazenda Santa Isabel (capitão milicianoJosé Paulo Fernandes).
Outras unidades orgânicas associadas eram a CCAÇ. 209/RI 21 (na Fazenda do Liberato), a CCAÇ. 4145 (em Vista Alegre) e o Pelotão de Morteiros 4181 (no Quitexe). E de igual modo estavam atribuídos ao Subsector os Grupos Especiais (GE) 217 e 223 (no Quitexe), o 222 (Aldeia Viçosa) e o 208 (Vista Alegre). 
Recolho do Livro da Unidade os nomes de código de cada uma:
- CCS do BCAV. 8423: Casco.
- 1ª. CCAV. 8423: Crina.
- 2ª. CCAV. 8423: Carga.
- 3ª. CCAV. 8423: Cavalo.
- CCAÇ. 209: Canivete.
- CCAÇ. 4145: Cela.
- GE 208: Cauda.
- GE 217: Coelho.
- GE 222: Cabra.
- GE 223: Cabrito.
O BCAV. 8423 tinha ainda dois Destacamentos:
- Luísa Maria (2ª. CCAV.): Cacto.
- Ponte do Dange: Coice. 

quarta-feira, 15 de junho de 2011

A «Operação Torres Vedras» da 3ª. Companhia - 2 (fim)



JOSÉ PAULO FERNANDES
Texto

(continuação)

A música do Encontro dos Cavaleiros de Santa Isabel foi «interrompida» pelas 17 horas, tempo para apagar as velas do bolo de aniversário da partida, em 1974, acompanhado por uma taça de champanhe.
A música voltou mais um pouco, já que há sempre a precaução de fazer partir com algumas horas de dia, principalmente quem faz viagens mais longas. O restaurante teria encerrado portas cerca das 18,30 horas, mas com toda a gente com ar de satisfação por ter partilhado este dia com aqueles que fizeram parte de uns meses das nossas vidas em Angola, entre 1974 e 1975.
Os meus agradecimentos vão para a EPIN (que fez o oleado e gravou vários formatos do ficheiro para o desenho do bolo), o Restaurante Valoásis (que fez um serviço impecável, à altura do que eu esperava), a Fotoexpresso (que disponibilizou as fotografias da reunião a tempo de se fazerem as encomendas pessoais) e à Câmara Municipal de Torres Vedras que fez oferta do bolo mais tradicional desta zona - o pastel de feijão, em embalagem específica.
Para o ano mais haverá!
JOSÉ PAULO FERNANDES

terça-feira, 14 de junho de 2011

A «Operação Torres Vedras» da 3ª. Companhia - 1



JOSÉ PAULO FERNANDES
Texto

Sábado, dia 4 de Junho de 2011, em Torres Vedras e cerca das 12,30 horas, havia uma certa ansiedade de minha parte, pois só tinha chegado metade do grupo previsto. Não chegavam, mas as novas tecnologias vieram em auxílio e, por telemóvel, o Manuel Deus contactava-me pois eu, o organizador, ainda não tinha chegado.
A verdade é que eu já estava no local marcado há cerca de uma hora  - junto à entrada da Expotorres, pela radial oeste da cidade e que metade tinha encontrado. A outra metade, estava do outro lado dos pavilhões da Expotorres, já que tem entrada também pela zona histórica da cidade, passando perto do castelo. Ou seja, estávamos a 200 metros uns dos outros.

A situação foi resolvida com fartas gargalhadas e seguimos para o restaurante mas com a divisão inicial. Repetiu-se a dose e metade foi por um caminho e outra metade foi por outro. Chegámos todos, claro, e, entretanto, o fotógrafo contactado tirou umas fotos na escadaria da entrada lateral do restaurante, com um cartaz feito de propósito para a ocasião - e que ajudava a combinar as identificações. E também das mesas na sua disposição inicial.
No restaurante, todos tomaram os seus lugares e começaram as «hostilidades», com as entradas servidas em pé. Depois, e já na mesa, foi a sopa de agrião, o bacalhau com broa e a fritada de carnes com castanhas, terminando com um buffet de frutas e doces - que cada um procurou a gosto. Fechámos com cafés e digestivos. ~
A partir do serviço de carne, passámos a ter acompanhamento musical mas claro que o (nosso) Armando Silva do acordeão, logo que terminou o seu almoço, achou por bem complementar. E lá tocaram os dois, como se tivessem ensaiado bastante, que foi um gosto ouvi-los. E deu tempo para uns quantos que dançaram, mostrarem as suas artes. (continua amanhã)
JOSÉ PAULO FERNANDES

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Os ensaios para a festa que não chegou a ser...


Rádio Clube do Uíge (em cima) e 1º. cabo Mendes (em baixo)


O tempo voa e já passaram 36 anos desde que, no edifício do Rádio Clube de Uíge alguns elementos da CCS e da 2ª. companhia começaram a ensaiar para fazer e apresentar um espectáculo de variedades.
O grupo era alargado e dele faziam parte o 1º. cabo Mendes (bate-chapas, na foto ao lado), que era um bom baterista. Havia também um viola baixo, um viola solo e um organista. Ali cheguei a passar algumas noites, tentando dar assistência técnica onde faltava só... tudo, tentando disfarçar falhas e ruídos e combatendo alguma ferrugem nas fichas de ligações.
Tudo não passou de um sonho, pois no dia 1 de Junho acordámos por volta das cinco da manhã, ao som dos rebentamentos de morteiros na cidade de Carmona (Uige). Quem também fazia parte do elenco era o 1º. cabo operador-cripto Medeiros. Muitos coisas aconteceram por estes dias e nestes ensaios, mas, ao recordar esse tempo, fui até onde a minha memória se apaga.
Em frente ao Rádio Clube do Uíge, ficava o Cine Moreno, que ficou tambem danificado com as balas perdidas dos tiroteiros entre os partidos em conflito.
RODOLFO TOMÁS 
- MENDES. Carlos Alberto Serra Mendes, 1º. cabo bate-chapas.
- MEDEIROS. António Carlos Fernandes Medeiros, 1º.- cabo operador-cripto, falecido a 10 de Abril de 2003.

domingo, 12 de junho de 2011

Artilheiros do Quitexe no encontro de 2011

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A CCS do Batalhão de Artilharia 786 antecedeu-nos no Quitexe, na comissão que a teve por Angola deJunho de 1965 a Junho de 1967. Esteve reunida a 4 de Junho de 2011, em Pedras Rubras, no Porto
Aqui estão eles, os Artilheiros do Quitexe, em pé, da esquerda para a direita: Raúl (1º. cabo correeiro), Óscar  (soldado clarim), NN, Gouveia (furriel miliciano de operações especiais), Ribeiro (soldado condutor), António (soldado condutor), Quim (soldado condutor), Leite (furriel miliciano IOR), João Lopes (soldado condutor), José Lapa, José Henrique (1º. cabo escriturário), Ribeiro da Cunha (alferes miliciano IOR), Gasolinas (1º. cabo de reabastecimemtos), Miranda (1º, cabo IOR), NN, Domingos Costa (furriel miliciano vagomestre) e Figueiredo(soldado IOR).
Em baixo: Rodrigues Pereira (alferes miliciano sapador), Jacinto (furriel miliaciano sapador), Meireles (1º. cabo de armamento), Alcino (1º. cabo mecânico), Santos (soldado condutor), Jacinto (1º. cabo transmissões) e Silva (soldado maqueiro).

sábado, 11 de junho de 2011

A família dos Cavaleiros do Norte de Santa Isabel


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A 3ª. CCAV. do BCAV. 8423 chegou a Santa Isabel no dia 11 de Junho de 1974 - há precisamente 37 anos. Ida de Luanda, do Grafanil. Era comandada pelo capitão miliciano José Paulo Fernandes - o organizador do encontro desde ano, em Torres Vedras.
A foto mostra a «família» que comemorou o evento, juntando antigos militares, mulheres e até netos - na hora da chegada ao restaurante Sol Oásis. Ali se vêem  o capitão Fernandes, os alferes Carlos Silva e Simões, o 1º. sargento Marchã, os furriéis Belo, Carvalho, Fernandes, Flora, Querido e Ribeiro e os praças Caixaria (da CCS), Carrilho, Coelho, Cunha, Deus, Eusébio, Feliciano, Ferreira, Francisco, Friezas, Gonçalves, Moço, Arlindo Novo, José Novo, Pavanito, Ramos, Santos, Silva, Soares e Teixeira.
Pavanito (na foto, à frente, com uma bengala) será o organizador do encontro de 2012, com uma ajuda do Moço. São amigos e vizinhos de há imensos anos, lá pelas bandas de Azeitão. O convívio será, por certo, lá por perto, por Palmela ou Setúbal.
Ver AQUI

sexta-feira, 10 de junho de 2011

O 1º. Sargento Francisco Marchã


Marchã. 1º. sargento Marchã, do secretariado da 3ª. CCAV. 8423, a de Santa Isabel. Dele, recordo o porte sereno, a afabilidade e a discrição, a imponência física, o ar tranquilo e sorridente com se «passeava» na nossa frente, nas ruas do Quitexe - primeiro esporadicamente (quando ainda jornadeava na fazenda), depois no dia a dia da guarnição - quando a sua Companhia comungou  espaço e tempo com a CCS.
Esteve no encontro de Torres Vedras, em ano particular da sua vida pessoal - o das bodas de ouro matrimoniais.«Contou-me do agrado da cerimónia, da missa e dos cânticos. Deveria ter sido bonito, de facto!...», narrou o (capitão) engº. José Paulo Fernandes, seu comandante e confidente em muitas horas amargas de Santa Isabel e Quitexe, nos idos anos de 1974 e 1975.
O 1º. Marchã era o antípoda da maioria dos sargentos, que com os furriéis milicianos cultivavam uma relação sempre irascível, autoritária e até prepotente, nalguns casos. «Sempre esteve pronto a servir, em benefíco dos seus subordinados, sem que se contrariassem as determinações recebidas», sublinha o louvor que lhe foi atribuído pelo Comando Territorial de Carmona, em Julho de 1975.
O louvor frisa o «empenho, zelo e lealdade nas situações de serviço a que foi chamado» e também «o elevado espírito de sacrifício e de missão» com que «dedicado ao máximo, atravessou difíceis períodos da vida da subunidade, em condições particularmente melindrosas».
Não privei muito com o 1º. sargento Marchã, muito pouco mesmo, mas, em ano das suas bodas de ouro matrimoniais, aqui  lhe deixo a minha continência de respeito e cortesia pelo porte que lhe admirei nos tempos em que, em funções e responsabilidades diferentes, ambos servimos os Cavaleiros do Norte.
- MARCHÃ. Francisco António Gouveia Marchã, 1º. sargento de Cavalaria, chefe da secretaria da 3ª. CCAV. 8423. Reside em Campo Maior - onde vai agrcultando em tempos livres, quando lhe apetece (e a expressão é dele).

quinta-feira, 9 de junho de 2011

O encontro dos Cavaleiros do Norte de Santa Isabel

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A 3ª. CCAV. 8423 desembarcou em Luanda da 5 de Junho de 1974, há dias se completaram 37anos, e festejou a data com o encontro de 2011, em Torres Vedras, no Sol Oásis - organizado pelo (capitão) engº. Paulo Fernandes, no dia 4 (sábado passado).
Não custa adivinhar: foi um encontro de grandes saudades e fartas emoções, como só poderia ser, entre companheiros de jornada.
Os Cavaleiros de Santa Isabel comungaram espaço e tempo com a CCS, no Quitexe - entre 10 de Dezembro de 1974 e 2 de Março de 1975. Há por isso - e não só por isso!... - enormes afinidades entre a malta das duas companhias. Na foto, sem dificuldade, reconheço facilmente o capitão Fernandes (fila de trás, de amarelo), os alferes Silva (camiseta azul, às riscas, círculo roxo) e Simões (de óculos, à direita, amarelo), o 1º. sargento Marchã (rodeado a verde) e os furriéis Ribeiro (entre o 1º. Marchã e o engº. Fernandes) e, em baixo, da esquerda para a direita, Fernandes (roxo), Belo (amarelo, com a criança), Flora (azul) e Carvalho (no quadrado, a roxo). E o Querido, ó pá, onde está tu que te não reconheço?
Quem ali vejo, também, é o Caxarias (o primeiro, à direita, de camiseta avermelhada), que é dali das bandas de Torres Vedras e foi brioso soldado do PELREC - o meu glorioso pelotão de atiradores da CCS. O Buraquinho, vejam lá... o Buraquinho (à direita do alferes Simões, de bigode, encostado à criança) Quem me vai identificar todos os outros Cavaleiros de Santa Isabel?

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Primeiros dias do Quitexe e a Maria Turra...

Aquartelamento do Quitexe: Comando e secretaria do BCAV. 8423 (amarelo), porta de armas (rôxo), casernas dos sapadores (verde) e dos atiradores (vermelho). Foto tirada do lado da capela. Na foto de cima, a porta de armas (para a avenida) e o interior da parada

Os primeiros dias do Quitexe foram de acomodação do pessoal,  distribuição de equipamentos e serviços. A principal preocupação era fazer uma instalação tranquila e o mais possível ao encontro dos interesses da guarnição - na medida do que era possível, até porque o comodato era (ainda) com os homens do BCCÇ. 4211, que nós rendíamos.
Logo ouvimos histórias deles: os terrores das picadas, os perigos dos trilhos, os sustos das noites de cacimbo, a rádio do IN - na qual se ouviriam ameaças sanguinárias de uma tal Maria Turra, que seria a voz da FNLA, a partir de um qualquer sítio do vizinho Zaire e a falar pela noite dentro. Era tanta  convicção com que nos falavam de Maria Turra, que chegámos a pensar tudo ser verdade.
Gente houve que a terá ouvido, a vaticinar desgraças para ao nosso destino e «convidando» a tropa a desertar. Nunca ouvi!
A passagem de missões foi-se fazendo gradualmente. Almeida e Brito, o tenente-coronel que era o nosso comandante, já por lá jornadeara, conhecia a zona e o que nos dizia inspirava-nos confiança. Fomos conhecendo a comunidade civil, os bares, os restaurantes, a administração civil, o hospital.
A adaptação foi serena e fácil. Afinal, nem estávamos na mata! O Quitexe era uma vila, pequena mas atraente! Rodeada de sanzalas e atravessada por uam estrada de asfalto, que nos levava à civilização - a Carmona, a Luanda! 

terça-feira, 7 de junho de 2011

O segundo dia da CCS na vila do Quitexe

Vista aérea do Quitexe, nos anos 70. A capela, em primeiro plano, a rua de baixo (avenida) e a de cima (estrada do café, de Carmona a Luanda)

A 7 de Junho de 1974 já a CCS era «veterana» de guerra no Quitexe, depois de uma chegada (na véspera) cheia de curiosidade e de uma  primeira noite com mosquiteiro na janela do quarto de cimento que ia ser meu pouso (e do Neto) pelos meses seguintes.
A noite foi dormida em sono tranquilo, depois de já ter dado a volta à vila - o que não era difícil: duas ruas principais, a de cima (a estrada do café) e a avenida de baixo, por onde se instalavam os serviços militares. Passei pela capela e lá vi as placas de mármore com nomes de mortos da carnificina de 1961.
A primeira manhã foi de conversa com a rapaziada do BCAÇ. 4211, que nós íamos render e se preparava para viajar para Ambrizete, no litoral angolano. Eles, a quererem saber novidades do novo Portugal europeu; nós, mortinhos por saber como lidar com o nosso novo chão militar. Avisou-me o Casares: «Quando ouvires linguagem que não entendas, age logo!...». Agir contra os nativos.
Foi dia, o 7 de Junho de 1974, de passagem da 1ª. CCAV. 8423, do comando do capitão Castro Dias, para Zalala - outro sítio mítico da guerrilha do norte de Angola.
Lá passaram eles, menos afortunados que a CCS - que estava numa vila e iam eles para o mato. Nós, ainda a instalar as malas e a acomodar toda a companhia, em comunhão de espaço com os «caçadores» da 4211. 
- CASARES. Furriel miliciano do BCAÇ. 4211. Natural de Chaves, onde foi guarda-redes da equupa de futebol, nos anos 70.

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Há 37 anos, eis o Quitexe...

Quitexe, entrada do lado de Luanda (em cima). Localidades da Estrada do Café, por onde passou a CCS a 6 de Junho de 1974, desde o Grafanil (quadrado a vermelho, ao lado de Luanda) 

Faz hoje 37 anos que chegámos ao Quitexe, terra do nosso destino da jornada de África que nos fez irmãos dos angolanos. Saímos do Grafanil, ainda de madrugada, vimos a Luanda imensa fugir aos nossos olhos e lá fomos, em estrada de asfalto, galgando quilómetros atrás de quilómetros. Logo à frente, o Cacuaco, depois o Caxito (com breve stop, sem sair das viaturas) e depois novo paragem em Úcua - onde o destino me fez encontrar com um conterrâneo, o Neca Taipeiro.
E lá continuámos nós, em marcha incómoda de camião, a espreitar a paisagem quente que nos enchia os olhos, a descobrir a terra vermelha que iria ser chão dos nossos passos no norte angolano. A ver a espuma dos nossos dias militares a fazer-se e desfazer-se na alma.
Quitexe? Como seria, nestes dias portugueses do pós-25 de Abril, a vila-mártir de 1961 e anos seguintes? Quem lá encontraríamos, como nos receberiam, como os adapataríamos? Eram perguntas a que a nossa marcha de camião não respondia, por mais quilómetros de asfalto que galgássemos. Sempre asfalto. O que era uma surpresa. Não se via as picadas que tanto ouvíramos falar e que tanto nos levedavam os medos. Teríamos de chegar lá!
Úcua, terra dos Dembos, Ponte do Dange, aí estávamos nós em terra do Uíge! Depois, Vista Alegre, Aldeia Viçosa e... Quitexe!
Faz hoje 37 anos! E chegámos!
A foto de cima mostra a nossa primeira imagem do Quitexe!
Aí estávamos nós, recebidos pelo Batalhão de Caçadores 4211, que íamos render.
Bem recebidos! Muito bem recebidos!
- TAIPEIRO. Manuel Ferreira dos Reis, um dos dois primeros mlitares da mimha aldeia combater em Angola. Passou pelo Quitexe em 1961 e, em Junho de 1974, como civil, trabalhava num bar de Úcua, onde o encontrei. Faleceu em Março deste ano de 2011, vítima de doença.  
 Ver AQUI

domingo, 5 de junho de 2011

As horas de véspera da partida de Luanda para o Quitexe

Campo Militar do Grafanil (em cima) e baía de Luanda (foto de Jorge Oliveira)

A 5 de Junho de 1974, uma 4ª.-feira, estava a CCS de viagem marcada para o Quitexe. Seria na madrugada seguinte, em viaturas militares e civis.
Tínhamos já recebido o armamento que nos calhava (a indispensável G3!!!), as malas estavam preparadas e a meio da manhã foi dada dispensa ao pessoal. Desde que estivessemos no Grafanil às duas da manhã. O resto do dia foi, então, de borga e já com almoço na cidade!
A cidade enchia-nos os olhos, era moderna, arejada, limpa, bonita! Era metrópole evoluída, socialmente avançada - relativamente ao Portugal europeu! E, como aqui já foi dito, não se notava ar algum de guerra! Nós é que iríamos para as zonas operacionais. Horas depois!!
O Albano Resende, civil que era (e é) conterrâneo e governava a vida por Luanda, ciceroneou as nossas últimas horas. Recordo-me ir à fortaleza e desfrutar da imensa beleza da cidade, que se espraiava pela baía dentro, até ao mar! Ele teve de ir à vida dele e almoçava eu com o Neto e o Pires de Bragança - creio que também com o Rocha - na esplanada do Amazonas, quando nos apareceu o Garcia, com um conterrâneo de Pombal de Ansiães, que vim a saber estar casado com uma senhora de Águeda. Andavam a passeio, a conhecer a cidade! Como nós!
«Logo, às 2!!!....», recordou-nos o Garcia. Claro, lá estivemos, para seguir para o enigmático e lendário Quitexe.
Jantámos na Portugália e, lá para a meia noite, voltámos ao Grafanil!
- GARCIA. António Manuel Garcia, alferes miliciano de Operações Especiais (Rangers), comandante do PELREC (atiradores). Natural de Pombal de Ansiães, Carrazeda de Ansiães. Faleceu a 2 de Novembro de 1979, de acidente de viação, quando era agente da Polícia Judiciária.
- NETO. José Francisco Rodrigues Neto, furriel miliciano de Operações Especiais, do PELREC. Empresário industrial, natural e residente em Águeda.
- PIRES. José dos Santos Pires, furriel miliciano de transmissões. Aposentado da GNR, residente em Bragança.
- ROCHA. Nelson dos Remédios da Silva Rocha, furriel miliciano de transmissões. Técnico comercial, residente em Vila Nova de Gaia.
- ALBANO. Albano Ferreira dos Santos Resende, civil, conterrâneo e (ex)vizinho meu, ao tempo residente em Luanda. Empresário comercial em Lisboa.

sábado, 4 de junho de 2011

O Batalhão de Cavalaria 8423 em voos seguidos para Luanda

Aldeia Viçosa, no Uíge. Onde estacionou a 2ª. CCAV. 8423

A 4 de Junho de 1974, chegou a 2ª. CCAV. 8423 (a de Aldeia Viçosa) a Luanda, logo seguindo para o Grafanil - onde já estavam a CCS (Quitexe) e a 1ª. CCAV. (Zalala). Dia 5, amanhã se fazem 37 anos, chegou a 3ª. CCAV. (Santa Isabel), que hoje se encontra na zona de Torres Vedras.
Companhia a companhia, o Batalhão de Cavalaria 8423 rodava (em voos de Lisboa, nos TAM) e instalava-se em Angola, antes de jornadear para o Uíge-mártir de 1961 e anos seguintes.
As companhias operacionais eram completadas no Grafanil com os chamados Grupos de Mesclagem - militares angolanos, formados e instruídos em Angola, no Regimento de Infantaria 20, em Luanda. Cada grupo, tinha 36/37 homens - que se integravam na guarnição europeia. Eram soldados, na esmagadora maioria, e alguns deles 1º.s cabos. Todos atiradores.
Os CCS´s já iam na «veterania» de seis dias em Angola e, tanto quanto podiam, espraiavam sonhos e apetites pela cidade de Luanda, conhecendo-a nos pontos mais turísticos.
Por mim, com a mobilidade de transporte facilitada pelo Albano Resende, não perdi pitada do (que se dizia ser) melhor da cidade, das praias aos templos do prazer, dos cinemas aos belíssimos restaurantes e esplanadas da capital angolana.
As (poucas ou nenhumas) obrigações militares davam tempo para tudo, com a (minha) sorte de, pela maioridade militar (devida ao curso de OE) nem sequer ter chegado a fazer serviços no Grafanil.
A única impertinência destes seis dias de Luanda foi criada pelo tenente Mora, num dos seus habituais excessos de zelo, numa história algo puéril e até anedótica, que talvez um dia aqui contemos. O que interessava, nestes dias, era viver... Luanda!!!
- MORA. João Elói Borges da Cunha e Mora, tenente do SGE, adjunto do comandante da CCS. Faleceu a 21 de Abril de 1993, com 67 anos.
- OE. Operações Especiais (Rangers).