terça-feira, 30 de novembro de 2010

A primeira operação militar em Angola...


Alferes Garcia e furriel Viegas, no Quitexe, momentos antes da partida para mais uma operação
militar (em cima). Em baixo, o crachat dos Grupos Especiais (GE)

Os Grupos Especiais (GE) eram pequenas unidades especiais de assalto, constituídas em Angola por despacho do Comando-Chefe, de 25 de Agosto de 1971. No caso do Quitexe, eram dois: o nº. 217 e o nº. 223 - que alternavam quinzenalmente a sua prestação do serviço do BCAV. 8423. O GE 222 estava adido à 2ª. Companhia, em Aldeia Viçosa; o 208, à CCAÇ. 4145/72, de Vista Alegre.
Se querem saber, a minha primeira grande operação militar, nas matas da serra da Quimbinda - em data próxima dos finais de Junho de 1974 - foi exactamente com 62 elementos GE´s, os dos Grupos 217 e 223.
Os sustos e as aflições daquelas duas noites e três dias, davam para  um livro. À memória, vem-me os momentos de terror - os da primeira!!!... -, os murmúrios e os silêncios da noite branca de Angola, que senti em terreno inóspito e desconhecido, rodeado de árvores gigantes a mexerem vento quente e de selva quase impenetrável. Por lá fui conduzido pelos dois Grupos, após uma safra de mais de 16 horas de caminhada por trilhos semeados de perigos, apenas interrompida pela rápida hora da ração de combate que eu próprio não comi.
Não comi e não dormi, nessa primeira noite. Não preguei olho!
Não mo deixaram os urros de feras que se ouviam de longe, algo sinistros; as gargalhadas da macacada que se divertia em serão, ou o barulho assustador que me contaram ser de pacaças em movimento apressado. E as sombras que se desenhavam na minha frente, como se fossem lobisomens na noite. 
E eu,hirto e medroso, a limpar a cara do cacimbo que caía, por ali me deixei ficar a  noite inteira, em alerta e ansioso, de olho vivo naquela selva que era imensa e a que não via o fim. Eu, com o corpo a pedir descanso, pois tinha sido um esgalgar doido de quilómetros naquele dia todo, que me maçaram os pés e a alma!!
E a sei lá a que horas, deu-me para estender o corpo no chão. Corpo moído e com fome de bons tratos! Ao olhar o céu azul e brilhante de Angola, imaginei os anjos do céu e transportei-me para a minha aldeia, correndo casa a casa, todas ruas e portas e nomes da gente que me fazia saudades.
Alvoreceu, num instante. «Daqui fala o 14 do 217, escuto!!!...». Escutou-me, noutra ponta da serra da Quimbinda, o soldado de transmissões do PELREC, comandado pelo alferes Garcia. Estava tudo a correr bem. Mataram-se-me alguns medos e lá se foi para o segundo e o terceiro dias de operação, a palmilhar trilhos e mata, mas ficando nós sem comunicações - que só conseguimos já passava do meio da manhã do último.
«Pensámos o pior!!!...», disse-me o Garcia, entre duas garfadas de bife com batatas fritas e ovo a cavalo, no refeitório dos praças, já a noite se cerrava sobre o Quitexe. Consolava-me das minhas angústias daqueles três dias de selva.
Os GE´s do Quitexe foram desactivados a 30 de Novembro de 1974. Faz hoje 36 anos! Sem quaisquer problemas!
- VER AQUI.

1 comentário:

Anónimo disse...

Estas coisas não esquecem e fizeram-nos mais fortes.
J. Santos