quarta-feira, 3 de novembro de 2010

A véspera do dia 4 de Novembro de 1974

Mapa de Angola, com as acções da UPA (FNLA) em 1961. Imagem do livro «Guerra Colonial), de Aniceto Afonso e Carlos de Matos Gomes. Destacadas as principais localidades por onde jornadeou o BCAV. 8423. Clicar, para a ampliar


O dia 3 de Novembro de 1974 tem registo muito especial na história do PELREC, quando recebeu a talvez mais delicada ordem de operações de toda a comissão: sair na madrugada do dia seguinte, para a sanzala do Dambi Angola, onde nos encontraríamos (e encontrámos) com elementos da FNLA.
Também já aqui contei do desejo do Pires, o furriel de transmissões, que a todo custo querer participar numa operação. AQUI. Não falei o meu recolhimento pessoal, nessa noite quitexana, depois de horas de conversa com o Neto - deitados no nosso quarto da Casa dos Furriéis.
Falámos das nossas coisas, dos nossos cheiros e das nossas gentes de Águeda. Lembrámos fases da nossa preparação operacional em Lamego!! Li correio do dia e das vésperas, sentindo-me desassossegado, e, por volta da meia noite, saí já fardado, como por volta das cinco horas da manhã iria sair. Sair, armado dos pés à cabeça-
O quarto do Pires (e do Rocha) era ao lado, virado para a avenida, e espiei-lhe o silêncio. Saí, dei volta pelo bar, desci e achei-me junto à igreja da Mãe de Deus do Quitexe. Por ali, pensei alguns momentos. Nostálgicos! A olhar o céu vermelho de Angola, a espreitar o luar que se escondia por detrás da mata do Quipimba!!! Voltei e passei na caserna do PELREC, onde alguns homens já dormiam e outros jogavam cartas e escreviam. «Pessoal, tudo na choça!!...», gritei-lhes eu, para irem dormir. Daí a ora, sabe-se lá o que ia acontecer!!! Tinham todos de estar bem preparados. E descansados.

Não era vulgar por aquela hora eu passar na caserna, a não ser que estivesse de serviço, e isso me notou o Botelho (foto), um dos mais irreverentes pelrec´s, mas um bom soldado. «Vamos sair?!...», perguntou-me ele. Voltei a passar no bar, onde o Lajes arrumava o balcão. «Quer alguma coisa, furriel?!...». «Sorte!!! Sooooorte!!!...», disse-lhe eu. Passei na porta da messe de oficiais e lembrei ao oficial de dia que nos acordassem. E fui deitar-me, a três metros do sono dos justos em que já se descansava o Neto. Às 5 da manhã, esfregáms a cara na água e lá fomos nós acordar o «pelrec". 
"Tudo a pé, malta!!! Tudo a pééééééé´!!!!...Três minutos para estarem na parada, com equipamento de combate!!!...", gritei eu, e gritou o Neto, aos pontapés nas camas, a soltar os lençóis  e a acordar os homens. 
Bebemos leite com cacau no refeitório, comemos pão, queijo e fiambre. Afivelámos a ração de combate e aí fomos nós, estrada fora, até à picada do Dambi, ainda não se tinha aberto o céu madrugador do Uíge angolano.
- BOTELHO. Jorge António Pinto Botelho, soldado atirador de cavalaria. Natural e residente em Vila Nova de Gaia.
- LAJES. Carlos Alberto Aguiar Lajes, soldado atirador de cavalaria, destacado no bar dos sargentos. Natural e residente em Lisboa. 

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