quarta-feira, 30 de novembro de 2011

1 083 - Adeus, Novembro de 1974, ao meio ano de Angola...

Ponte do Dange vista do aquartelamento do mesmo nome (1974)


A 13 e 19 de Novembro de 1974 reuniu, no Quitexe, a Comissão Local de Contra-Subversão (CLCS) - que a 2 de Dezembro mudaria de nome, com efeitos práticos da data de 11 seguinte. 
AS CLCS agiam directamente junto das populações, através de meios de acção psicológica e com o objectivo de influenciar o seu comportamento, no sentido de uma maior fixação no território e negar o apoio a elementos infiltrados - aos chamados terroristas. Era uma espécie de braço civil não armado (com militares) de apoio às Forças Armadas. Não creio, agora vista à distância de 37 anos, que tivesse um efeito muito prático.
Tal comissão, de resto, passava praticamente despercebida da guarnição e não creio, também, que a comunidade civil lhe desse importância por aí além. Alguns civis, aliás - e como já por várias vezes foi dito por este blogue - tinham muitas vezes comportamentos duplos. Quem sabe - e nunca saberemos... - quantas informações dessas reuñiões não terão sido passadas para o inimigo. Deus lhes perdõe!!!
Operacionalmenmte pouco ocupada, para além da garantia de segurança nos principais itinerários (de resto, bastante cansativa...), a guarnição ocupou-se, também, neste mês de Novembro de 1974, da protecção às brigadas da JAEA nos trabalhos de requalificação da estrada do café - de Aldeia Viçosa a Ponte do Dange - e de um troço da estrada (picada) do Quitexe para Camabatela.
E já lá iam seis meses da comissão em Angola. Hoje se fazem precisamente 37,5 anos da chegada da CCS a Luanda, por via aérea.
- JAEA: Junta Autónoma de Estradas de Angola.


terça-feira, 29 de novembro de 2011

1 082 - O GE que ameaçava disparar de rajada...

O bar do Rocha, na estrada principal do Quitexe (a do café) à entrada da vila, do lado de Luanda

O que é que o 29 de Novembro tem a ver com os Cavaleiros do Norte? Foi um dia como muitos outros. mas foi também véspera do início do processo de desactivação dos GE, no Quitexe.
A história já aqui foi falada. Vem hoje ao blogue para falar de um momento de elevada perigosidade, vivido no bar do Rocha, onde, bem entrado no álcool, um GE almeaçou disparar sobre tudo o que bulisse. E, muito especialmente, sobre um jovem oficial miliciano português. 
Não recordo o dia - aliás, a noite... -, mas lembro-me que não desarmava o GE, cambaleante e notoriamente embriagado, de G3 na mão e sabe-se lá se com bala na câmara. Veio a apurar-se que não. Não desarmava e mantinha a bravata insolente e leviana, ameaçando disparar, de rajada - o que deixou toda a gente que enchia o bar do Rocha com os cabelos em pé. De medo, a suar em bica, em suores frios, a adivinhar uma tragédia.
Serenaram-se os medos quando o GE, continuando embriagado e muito cambaleante (mal se aguentava de pé...), aceitou «negociar» e foi sugerido para a disciplina militar a que estava obrigado.
«Eu não dás os arma..», disse ele, tropeçando nas sílabas e nas pernas. Mas deu e foi um grande alívio.
Sem ela ficou, dormiu no posto 5 e foi entregue à justiça militar. Meses depois, creio bem dizer que sem o processo concluído, foram desactivados os GE e nunca mais se soube dele. Provavelmente, foi mais um militar do ELNA. Ou das FAPLA. Quem sabe?!
- GE. GRUPO ESPECIAIS (GE). Unidades auxiliares formadas em 1968, constituídas por voluntários africanos de etnia local, que operavam adidas às unidades do Exército Português. No seu auge, em Angola existiam, 99 grupos GE de 31 homens, cada. O BCAV. 8423 tinha adidos os GE 217 e 223 (à CCS, no Quitexe), o 222 (à 2ª. CCAV., emAldeia Viçosa) e o 208 (à CCAÇ. 4145/72 em Vista Alegre).

- ELNA. Exécicto Nacional de Libertação de Angola, braço armado da Frente Nacional de Libertação de Angola (FNLA), antiga União dos Povos de Angola (UPA).
- FAPLA. Forças Armadas de Libertação de Angola, braço armado do MPLA - Movimento Popular de Libertação de Angola.
- POSTO 5. Posto de vigilância e defesa do Quitexe. Funcionava como prisão militar, no rés-do-chão.

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

1 081 - O princípio do adeus a Santa Isabel...


Novembro, finais do mês de 1974. É grande a azáfama por Santa Isabel - onde jornadeia a 3ª. CCAV. 8423, comandada pelo capitão miliciano Paulo Fernandes. Está por um dia, a partida definitiva.  
«Foi mantida a actividade desenvolvida do antecedente, excepção feita à 3ª. CCAV., na qual de iniciaram os preparativos para o seu movimento para o Quitexe», lê-se no Livro da Unidade, referindo-se a toda a guarnição do BCAV. 8423.
A Santa Isabel chegaram os Cavaleiros do Norte a 11 de Junho de 1975, assumindo a responsabilidade operacional da zona de acção. Não era o degredo, Santa Isabel!!! Mas não era, também a praia do Mussulo, ou a restinga e ilha de Luanda, por onde se passeavam corpos de ébano (e outros), de fazer lamber o queixo de desejo.
A picada, até à estrada do café, era uma dor de cabeça e de alma para quem, fazendo pela vida ou cumprindo missão militar, por lá tinha de galgar quilómetros de pó e de curvas, aqui e ali fechadas de mata densa, por onde espreitavam perigos para quem por ela tinha de passar. Por lá passei algumas vezes, sempre de olho aberto e sentidos  bem apurados. Mas mais, muitas mais vezes, por ela se empoeiraram os companheiros de Santa Isabel.
Há 37 anos, faziam malas e arrumavam as pequenas coisas pessoais, para o adeus a um sítio marcado pela guerra, desde 1961.
Sábado passado, dia 26 de Novembro, outros 37 anos se passara sobre um comício em Vista Alegre. A FNLA procurava mentalizar a população local para as suas ideias, «procurando anular a influência local e de área» que por aquelas bandas, diz o Livro da Unidade, «o MPLA possui».

domingo, 27 de novembro de 2011

1 078 - O Zé de Murça!!!


Aquartelamento do Quitexe, na zona assinalada a roxo.
A castanho, o espaço das casernas, em 1974/75. A verde, a capela


ANTÓNIO C. FONSECA
Texto

Volto à revista às tropas, para dar conta do incidente com o amigo Zé. Nascido e criado em Murça, era talvez o militar mais discreto da CCS. Discreto até demais, mas com muito pouco, ou mesmo nenhum, sentido de humor! Teve sempre muita dificuldade em relacionar-se com pessoal de outras especialidades, não tendo conseguido mais de dois ou três amigos - os colegas de quarto! Era preciso estudar o homem, antes de se lhe dirigir a palavra, porque nunca se sabia o que dali sairia! Ora sorria de orelha a orelha, ora despejava um chorrilho de palavrões, assim…do nada!

No dia da revista às tropas, entendeu o capitão passar o Zé, em revista minuciosa e prolongada! Talvez pretendendo fazer dele o “bobo da corte”, exagerou nas considerações demasiado inconvenientes e piadas de mau gosto, a que ele apenas “respondeu” com um rubor das faces! Melhor, das faces, do pescoço e se calhar até do couro cabeludo, se tal fosse possível! Mas manteve-se imóvel, aguentando tudo, sabia-se lá como! Até que, depois de despejada a gaveta dos seus objectos pessoais para cima da cama, vê o capitão usar a «varinha» para atirar para o chão as fotos da família! Delas, em tamanho grande, fazia parte uma dos pais, tirada em estúdio, como em tempos se usava. Talvez ainda use!
«Não meu capitão…, isso não!...», disse-lhe o Zé, energicamente e ao mesmo tempo que segurava a varinha do capitão com mão de aço! Tinha deixado de estar em sentido e virara-se para o capitão, o que nos deixou perplexos e aflitos! Rangeu os dentes e sem pestanejar avisou (sem aspas) o capitão: «Os meus pais não!!!...».
Não lhe deu resposta o capitão, olhou-o de alto a baixo e em silêncio deu meia volta, acompanhado da “comitiva”, guiado, pareceu, por sussurros do alferes!
Claro que ficámos em pânico, preocupados com o que iria acontecer ao Zé!

Estranhamente, ou nem tanto, o incidente não constou de qualquer relatório! Talvez não tenha sido fruto de um apelo à consciência, mas de conversa ao ouvido por parte de alguém mais ponderado! E que era, sem dúvida alguma, o Sargento-Ajudante, por quem toda a Companhia nutria uma grande admiração. Ali houve puxão de orelhas, isso houve!
Poderá pensar-se que se safara o Zé duma grande embrulhada, mas quem o conheceu bem tem a noção de que se safaram os dois! Assim dito, poderá parecer um pouco estranho, mas não o é! Nada mesmo! “Cuidado porque na tropa há filhos de muitas mães”, era das frases mais ouvidas, quando se assentava praça, e que serviu que nem uma luva no caso em questão! Não no sentido pejorativo, mas no desconhecimento da sua personalidade.
Sei que o assunto morreu ali, e nem o próprio Zé alguma vez dele voltou a falar! Meia hora depois do incidente, parecia-nos que nada se tinha passado com ele, não indiciando nervosismo! À parte, perguntámos ao Pinto, ainda de camisa ensopada do nervoso miudinho, como estava o seu colega de quarto, mas a resposta foi apenas: «O Zé?!, o Zé ia-me matando do coração e está ali como se nada fosse e a falar de outras coisas! Vê-se que não o conheces, “aquilo” é bem de Murça, parece um penedo!!!».

sábado, 26 de novembro de 2011

1 077 - Zalala, a mais rude escola de guerra

Zalala ficou sem tropa portuguesa a 25 de Novembro de 1974, mas ficou na lenda da jornada militar angolana. O blogue de José César mostra-nos um recorte do Jornal A Província de Angola, de data indeterminada (infelizmente), que titula «Quitexe - Posto de Honra  /// Zalala - a mais rude escola de guerra».
Ampliando a imagem (basta clicar sobre ela) e com um bocadinho de paciência, consegue-se ler.

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

1 076 - De Zalala para Vista Alegre e Ponte do Dange


A 25 de Novembro de 1974, completou-se a rotação da 1ª. CCAV. 8423, da mítica Zalala para Vista Alegre, terra aberta e rasgada sobre a estrada do café, no itinerário que ligava Carmona a Luanda. De lá saía, em fim de comissão, a CCAç. 4145/72 - regressada ao Grafanil e à espreita do voo para Lisboa.
Não é difícil imaginar a alegria dos companheiros de Zalala, que saíam de uma fazenda imortal (e perigosa!!!) da guerra angolana e não mais tinham de fazer os infernais quilómetros (mais de 40!!!...) de picadas, até ao Quitexe - onde já se sentia o cheiro de alguma «civilização» e a vida era, quiçá, mais fácil para a guarnição.
A memória recua-me 37 anos, fugazmente, a lembrar-me da passagem das últimas viaturas - as berliets e unimogs carregados de material e militares de Zalala... -, pelo Quitexe e a caminho de Vista Alegre e Ponte do Dange, buzinando e com os últimos homens a gritarem de alegria, erguendo a G3 no ar, como se festejassem um título desportivo, ou uma qualquer outra vitória! 
Aqueles homens, aqueles rapazes da nossa idade, nossos irmãos e filhos de muita mãe e de muitos sítios, eram companheiros com o mesmo síndrome de saudade, o mesmo desejo de fim de comissão. E sentiam, e sabiam, como nós, que a rotação era mais uma etapa do nosso regresso, mais um passo para a frente de uma comissão que nos honrou e orgulha.
Eram, afinal, muitos e bons tempos! Hoje aqui recordados com nostalgia!

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

1 075 - O último adeus a Zalala, há 37 anos !...

Fazenda de Zalala, a mais rude escola de guerra (1974)


A esta hora, no ido dia 24 de Novembro de 1974, os últimos Cavaleiros do Norte de Zalala fechavam as malas para a despedida final da fazenda-mártir do norte angolano. Por lá, desde 1961, se semeou morte e regou o chão uíjano de sangue. Era o chão da «mais rude escola de guerra», como por lá se escrevia, em mural que assustava o mais herói. À entrada.
Há mil histórias de lágrimas e de dores, por lá sofridas, naquele assustador sertão onde se chegava por picada poeirenta e minada de perigos. Também por lá as senti, nas vezes que missões levaram o PELREC ao chão de Zalala. Mas, poucas vezes!
Heróis, heróis de verdade, foram todos os companheiros que, desde 1961, por lá jornadearam e sentiram o cheiro da pólvora e da morte, o medo da trovoada de bombas, das minas, armadilhas e emboscadas que espalharam sangue e lutos entre muita gente! Por lá viveram o drama de sentir, no corpo e na alma, a agressão de guerra - a guerra que não perdoa erros nem desculpa fracassos.
A 24 de Novembro de 1974, os últimos bravos e garbosos Cavaleiros do Norte de Zalala aprontaram os seus lenços de adeus àquele chão onde se entrincheiram tantos companheiros, tantas vezes, tão sofridas.
Ao outro dia, 25 de Novembro de 1974, completou-se a rotação zalaliana e fixaram-se os comandados do capitão Castro Dias em Vista Alegre, com destacamento em Ponte do Dange.

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

1 074 - A nomeação para servir em Angola...


O que terá a ver 17 de Novembro de 1973 com os Cavaleiros do Norte? Muita coisa, ou nada - depende da forma como vejamos a situação. Por mim, pelo Neto e pelo Monteiro, é dia memorável, embora, na altura, nem tenhamos dado por tanto. Foi o da nossa mobilização, da qual apenas viemos a saber a 7 de Dezembro, quando tal foi publicada «à ordem», em Lamego. 
A Direcção do Serviço de Pessoal (DSP) da Repartição de Serviço de Pessoal (DSP) do Ministério do Exército, publicou nesse dia a Nota nº. 47 000 - Processo 33 007, nomeando «para servir no ultramar, nos termos da alínea c) do artigo 20º., do decreto-lei nº. 49 107, de 7 de Julho de 1969» um alargado grupo de militares do 2º. Curso de Operações Especiais de 1973 e, entre eles, nós os três nós.
Oa aí está de como esse dia foi tão relevante nas nossas vidas, «empurrando-nos» para uma comissão de serviço que, 38 anos depois, nos traz por aqui amarrados a este blogue.
Afortunados, em termos de mobilização, eu, o Neto e o Monteiro lá fomos parar a Angola. Tal como o Grilo, o Matos, o Rui Lucas e o Salgueiro, todos de Operações Especiais. Também para Angola e para o BCAV. 8423, o Rebelo (transmissões) - que foi da 2ª. CCAV., a de Aldeia Viçosa. Prestava serviço no CIOE, no aquartelamento da cidade de Lamego.
Companheiros desse dia que marcou destinos, e assinalados na mesma ordem de serviço, foram os «rangers» Manuel Ferreira, Américo Ferreira, Praxedes, Ribeiro, Pedro e Gama (todos mobilizados para Moçambique) e Rodrigues, Caldeira, Cristóvão, Couto, Alves, Zacarias, Sousa, Amaral e Santos (que foram para a Guiné). 
Agora, uma curiosidade: os três primeiros classificados do nosso curso foram mobilizados para a Guiné, a mais «detestada» por todos: o Cristovão (1º. lugar, com média final de 16,58), o Caldeira (2º., com 16,33) e o Fernando Rodrigues (3º., com 16,22). O quarto mais pontuado, o Gama, foi para Moçambique.


terça-feira, 22 de novembro de 2011

1 073 - O princípio do adeus a Zalala para Vista Alegre...


Vista parcial de Vista Alegre, na estrada de Carmona para Luanda.
Crachá da CCAÇ. 4145/72 (em baixo)

A 22 de Novembro de 1974, reuniu o capitão Falcão, no Comando do Sector do Uíge, em Carmona, com comandantes das outras unidades do dito CSU, naturalmente para preparar o movimento de rotação que se adibinhava antecipar a retirada da tropa portuguesa. Estávamos em Novembro e muito pó ainda haveríamos de «comer», até que tal acontecesse. 
Estou certo, todavia, que por esta altura já era conhecida saída para Carmona - o que, todavia, só viria a acontecer a 2 de Março de 1975. Embora, para nós, todas as semanas fossem vésperas.
O capitão Falcão era o oficial adjunto do BCAV, também o oficial de operações, e, na circunstância, o comandante do Batalhão de Cavalaria 8423, interinamente substituindo o tenente-coronel Almeida e Brito - de férias em Portugal. Nessa qualidade, reuniu com os comandantes do Sector do Uíge nos dias 8, 13, 18, 22 e 27 de Novembro.
A 21 de Novembro, foi a Vista Alegre, reunindo com o comando da CCAÇ.4145/72, que por ali jornadeava, até à Ponte do Dange, na fronteira com os Dembos. E, por essa data, preparava o seu arranque para Luanda.
Zalala, por estes dias, fazia as malas e preparava a viagem para Vista Alegre e Ponte do Dange. Assim determinava o plano de rotação da tropa portuguesa.
Vista Alegre e Ponte do Dange não poderiam ficar sem guarnição, essencialmente para assegurar a segurança na importantíssima estrada do café - que ligava Carmona a Luanda, passando por Quitexe e Aldeia, onde se aquartelavam a CCS e a 2ª. CCAV. do BCAV. 8423.

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

1 072 - 22 anos!


Há 37, eu fiz 22 anos!!! E foi um «festão» (digo eu...), roubado à minha missão de sargento de dia, com jantar no Rocha, que meteu camarão (um luxo!!!), boas cervejas e muito cuidado nos excessos, pois estava de serviço e eu sabia que alguns «alguéns» espreitavam uma escorregadela minha, para me «premiarem».
Eu nunca tinha festejado anos, não era granda hábito da casa familiar, para além de no dia, se melhorar a refeição da noite, porventura com uns rojões, ou uma galinha no forno! Era frugal a vida desses tempos! E prendas? Ai, quais prendas!!!
Angola e o Quitexe deram-me a graça de sentir o «fazer anos»! E dá-me agora a nostalgia desse dia - em que me fiz «mecenas» da furrielada, pagando porto´s e brandys macieira (ou vital, ou aliança velha), ou uns bons tragos de wiskye, bebidas que por lá eram relativamente vulgares, a preços que se colhiam bem dos nossos bolsos. 
Hoje, 37 anos depois, surpreendeu-me o número de pessoas que me telefonaram, emailaram e facebookaram, fazendo-me lembrar - caso eu não soubesse, valha-me Deus!!!... - que estou imediatamente pré-sexagenário! Toma lá 59, CV!!! Toma e embrulha!!
Uma mensagem me emocionou, desculpem todos os outros correspondentes: a de um dos muitos angolanos (milhares!) do Uíge que, nos trágicos primeiros dias de Junho de 1975, a tropa recolheu na parada do BC12!!!
Dispenso-me da riqueza de pormenores com que este angolano veio narrar-me o que pensa, agora, daqueles que aos 22 para 23 anos, participaram no processo de independência de Angola! E lhes deram guarida, pão e vida! É emocionante!
Foi bom fazer 22 anos, envolvido num processo da grandeza histórica que foi o do nascimento de um novo país e dele, e nele, ter colo de amigos que nos mandam recados em dias como este.
Abraço para todos!
E para todos os Cavaleiros do Norte - e respectivas amazonas - que, neste 21 de Novembro de 2011, me encheram de mimos!
Ver AQUI
E AQUI

domingo, 20 de novembro de 2011

1 071 - Revista às tropas...

Casal e Mário no Quitexe, antes de uma revista às tropas


A revista às tropas, na CCS, era sempre motivo de preocupação. Não havia alferes, furriel ou praça que não fosse passado a pente fino! Farda, barba, cabelos, patilhas, etc., tudo teria de estar um brinco, não havendo margem para qualquer descuido.
Assim foi feito!

A foto foi tirada quando se fazia um compasso de espera pelo capitão, que viria acompanhado do oficial, sargento e cabo dia. Talvez viesse também o comandante, que era de poucas falas e deixava alguns a suar, só de os olhar! Nunca percebi bem porquê, mas era assim mesmo!
Satisfeito e convencido estava eu, a conversar com o Mário, o voluntário, fazendo fé na minha apresentação - bem escanhoado, roupa engomadíssima e sapatos a brilhar de graxa!
«Com tantos cuidados ainda levas um louvor…ou então ainda te f…., que é o mais certo!», gracejava o Mário, que se achava desobrigado da revista por estar de baixa!
Por volta das 11 horas, finalmente a revista! Sem o comandante, mas com o capitão bem áspero e a remexer tudo o que havia nos quartos, na esperança de pegar fosse pelo que fosse! E pegou mesmo! Começou logo pelo Nunes, alegando que não tinha feito a barba! Mas o Nunes tinha lá alguma barba?! Tinha apenas meia dúzia de pêlos no queixo e outros tantos no lugar de bigode, a que no dia-a-dia não dava valor! Pois é, mas eles realmente estavam lá a “rir-se” para o capitão!
O Mário, contente por estar isentado, levou uma ripada por três razões: por usar bigode sem autorização, andar de calções armado em havaiano e não estar fardado como se impunha! Estava de baixa, mas continuava militar!
Mas eu estava confiante, parecia o espelho da nação! Enganei-me, fui traído pelas mangas demasiado arregaçadas!´
«Você pensa que está na praia?!», questionava-me o capitão!
Até o Pinto, tão certinho, viria a ouvir uma piada por causa da foto da namorada!
«Ouça cá, o que é que ela está aqui a fazer ao pé da cama? Tem medo de dormir sozinho, tem?!, também a leva p’rá mata?!».
 Fez-se o Pinto vermelho e gago, sem saber onde havia de se meter, e a engolir a saliva que já não tinha!
O Zé foi o último a ser confrontado com a revista minuciosa. Uma revista que, por razões várias, ultrapassou alguns limites e originou uma situação grave, das que nos deixam as pernas a tremer, de tão insólita, brusca e desconcertante! Dela falarei oportunamente.
Passada a revista, foi chamado o furriel de transmissões afim de mostrar a escala de serviço do seu pessoal, não tivesse algum trocado o serviço para dar corda às botas para Carmona, logo que terminasse a revista, o que não aconteceu!
O que encolerizou ainda mais o capitão!
Soube-se que a revista daquele dia tinha sido arrasadora, o que causou até algum mal-estar entre os oficiais e sargentos, “punidos”, veio a saber-se, com aparadelas de patilhas e cortes de cabelo. Para não dar nas vistas, soube-se também, foi-lhes concedida uma semana para regularizarem a sua apresentação! Os praças, como sempre, fizeram fila à porta da barbearia, para que todos vissem quem eram os incumpridores! Assim o disse o capitão, no seu tom pausado mas implacável, como era seu apanágio sempre que a vida lhe era madrasta! E como lhe estava a ser madrasta! Por sua exclusiva culpa…ou dos seus ímpetos!..., e mais não digo!!!
O comandante não terá ficado nada agradado com os resultados da revista, tendo estes sido amaciados e contornados com alguma frases e gargalhadas de ironia num seio restrito de oficiais! Soube eu, por acaso e recentemente, em amena conversa que lembrou factos de há 37/38/39 anos! Apesar de tudo, bons tempos, num tempo em que o cabedal aguentava tudo! Ou quase!
ANTÓNIO CASAL FONSECA

sábado, 19 de novembro de 2011

1 070 - Aerograma de Portugal, para os 22 anos...



«Meu filho,
desejo que ao receberes estas minhas linhas te encontres bem, nós por cá vamos na forma do costume e com as dores que não me deixam, mas será como Deus quiser. O que eu queria mais era ver-te por cá, embora me digas que tudo corre bem e que estás bem, o meu coração de mãe atravessa-se de um negrume muito triste e diz-me que as coisas por aí não devem ser bem assim como dizes.   
Chegou cá a mulher do José Bernardino, com uma encomenda tua, que arrumei ali na sala, à tua espera.
(...)".
A 19 de Novembro de 1974, uma quarta-feira, recebi correio de minha mãe, antecipando os meus 22 anos (que seriam a 21) - dia de sexta-feira que ela iria passar na solidão da sua viuvez recente, com problemas de saúde e com o filho mais novo na guerra. E guerra, por muito que eu lhe dissesse que era assim ou assado, nada do que por cá se pintava, guerra era... guerra, coisa de muito sofrimento, de sangue e de mortes. ~
O pai dela, meu avô, fora combatente da 1ª. grande guerra e faleceu (como civil) quando ela tinha 8 anos, filha mais velha de quatro irmãos, dele lhe ouvira, em criança, narrativas de muitas tragédias.
Agora, em 1974, era o filho dela mesma quem, servindo Portugal, galgara milhares de quilómetros, abandonara o seu ninho de mãe e, como muitos  milhares de outros jovens, participava na guerra que iria emancipar Angola.
Hoje, ali desfrutando o calor da lareira, fui ler-lhe o aerograma.
«Hei, mãe... quem diria que hoje lhe iria ler o que escreveu há 37 anos», brincalhei eu, com ela.
«Escrevi-a a um domingo para a receberes antes do dia 21», respondeu-me, a puxar o xaile para os ombros e com as costas da mão virada para mim- como quem me dar com ela na cara. E sorriu-se, a gozar o momento e não sem uma alfinetada de humor: «Nesse tempo, tinhas muito mais cabelo e menos barriga que agora!».
- FOTO. Casal Fátima e José Bernardino Resende (com
a filha Alexandra à frente), Albano Resende e sobrinha, Viegas (à civil) e
capitão Domingues (primo de Fátima),
em Luanda. Dias antes dos seus 22 anos de Viegas. Há 37!

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

1 069 - As traições e a presença portuguesa...


Hoje, dia 18 de Novembro de 2011, foi feriado nacional dos Cavaleiros do Norte. Isto, porque o Neto (à direita na voto) e o Viegas (à esquerda) estiveram num almoço das 12,20 às 17,50 horas da tarde. Perdão, da noite.
Não há forma de dizer a coisa de outra forma. 
Isto até pode parecer presunção!!! Feriado nacional dos Cavaleiros do Norte, mas o que é isso, ó pá?!!!!! Pois que seja, mas foi uma tarde inteirinha a falar da tropa, do Quitexe, de Carmona, de Aldeia Viçosa, de Santa Isabel, de Zalala, de Luanda, de Angola.
O Chico Neto, bom de palavra e de memória afinada, veio lembrar a pouca vergonha de um fazendeiro cabo-verdeano que nos traiu (traiu a tropa portuguesa...) e foi duplo (ou triplo) agente no tempo em que fomos garantes da presença portuguesa em Angola.
Sobre este matéria, aliás, não há grandes dúvidas - de então e de agora! Havia gente que lidava com a tropa portuguesa com a mesma facilidade com que, nos seus domínios territoriais (as fazendas, as vilas, as aldeias...)  facilitava a entrada de militantes e combatentes da FNLA. Ou do MPLA, para o caso é o mesmo. Por lá, a presença da UNITA era pouco visível.
Destacou-se a estas memórias a assumpção que todos assumíamos da soberania portuguesa: tínhamos o controlo do território, o domínio militar e a hospitalidade dos nativos. A que podemos associar, sem exagero, a capacidade de miscegenação da raça lusitana.
Por alguma razão ouvíamos todos nós, ontem e hoje, o presidente José Eduardo dos Santos a dizer da sua afinidade e cumplicidade com  os problemas que hoje fragilizam a sociedade portuguesa. É isto que sabe bem dizer, 34 anos depois do tempo em que muitos de nós eram actores da transição.

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

1 068 - A formação política dos militares do Quitexe

A 15 de Novembro de 1974, foi publicado um suplemento que incluía o decreto-lei que estabelecia quem não poderia ser elegível ou eleitor nas Eleições Constituintes que se viriam a relizar a 25 de Abril de 1975, um ano depois da revolução.
A lista era longa, enchendo meia página do jornal que lá me chegou, e foi tema de acaloradas discussões no bar e messe de sargentos. Abrangia uma imensidão de cargos públicos exercidos entre 28 de Maio de 1926 e 25 de Abril de 1974
A nossa politização era curta (nenhuma!!!) e o pouco que sabíamos era nascido das ideias que, quem de férias tinha vindo a Portugal, para lá nos levava, muitas vezes embrulhadas em confusões - até pelo uso do novos termos do léxico político. 
Tudo sabia a novidade, para nós, enquanto por cá já se desembuxavam teorias por tudo quanto era partido: os hoje convencionais PS, PSD (então PPD), CDS/PP, PCP e PCPT/MRPP, o MPD/CDE (entretanto extinto) e até o PPM, ou os meteóricos PCSD, PTDP, PSDI, o PUP, o MES, a UDP, o MES, a UDP, FSP, LCI, FEC-ML,  alguns dos quais nem chegaram às urnas das primeiras eleições pós-25 de Abril.
Eu tinha pedido ao Neto para me mandar o que pudesse de papelada política, mas só em meados de Novembro lá me chegou a "encomenda" - que me deu horas de muita leitura e pouco entendimento. Mas foi motivo de muitas e acaloradas discussões entre a «furrielada» do Quitexe - às vezes até com muito exagero!
Nem quero lembrar a argumentação que se trocava entre Machados, Mosteias, Cruz(es), Pires e quantos outros, com as minhas colheradas pelo meio. Afinal, eu é que tinha a bola (a papelada), era eu, pois, que mandava no jogo (na conversa...). À distância de 37 anos, dá vontade de rir, se nos lembrarmos da ingenuidade dos nossos argumentos... políticos.
- PCDS. Partido Cristão Social-Democrata.
- PTDP. Partido Trabalhista Democrático Português.
- PSDI. Partido Social-Democrata Independente.
- PUP. Partido de Unidade Popular.
- UDP. União Democrática Popular.
- MES. Movimento de Esquerda Socialista.
- LCI. Liga Comunista Internacionalista.
- FSP. Frente Socialista Popular.
- FEC/ML. Frente Eleitoral de Comunistas / Marxistas-Leninistas.
- CARTAZ. Cartaz das Eleições Constituintes de 1975

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

1 067 - Encontros futebolísticos e com combatentes

Campo de futebol do Quitexe (anos 70 do século XX)


A 16 de Novembro de 1974, o Quitexe foi cenário de um encontro de dirigentes e combatentes da FNLA e as lideranças militares portuguesas. Tais encontros vinham a acontecer já desde o princípio do mês - nomeadamente desde o dia 4, em Santa Isabel, naquele que o Livro da Unidade cita como «sendo este o primeiro contacto desde 1961».
A declaração de cessar fogo, por parte do movimento independentista liderado por Holden Roberto, vinha já desde 15 de Outubro, embora encarada com naturais reservas.
Tais contactos, como se calcula, passavam despercebidos à guarnição, mais voltada, ao tempo, para renhidos despiques futebolísticos no campo da vila, envolvendo pelotões e, até, grupos de civis. E como animados eram estes!

Por mim, que nada era parecido com o Cristiano Ronaldo que ainda estava para nascer - e muito menos com o fabuloso Eusébio, então já na fase final da sua extraordinária!!! -, algumas vezes me armei em futebolista, defesa central e a marcar à zona, distribuindo pantufadas pelo que me aparecia pela frente com botas emprestadas pelo Canhoto, que, por sua vez, as usava cedidas pelo irmão José, que estava em Santa Isabel.
- CANHOTO 1. Alípio Canhoto Pereira, soldado condutor-auto da CCS, funcionário de bombas de gasolina, em Belmonte, de onde é e onde reside.
- CANHOTO 2. José Canhoto Pereira, irmão de Alípio, soldado atirador da 3ª. CCAV. 8423, a de Santa Isabel.

terça-feira, 15 de novembro de 2011

1 066 - O dr. Leal e a coisa que mingava ao Neto

Capitão miliciano médico Leal (em baixo) e furriel Neto (em cima)

O dr. Leal disse-nos adeus em Novembro de 1974, finda a sua comissão de serviço e com um capital de prestígio popularidade notáveis, entre a guarnição militar e a comunidade civil. 
Era um profissional excelente e um companheiro inesquecível, muitíssimo competente, extremamente dedicado, um verdadeiro sacerdote da medicina.
O que recordo dele, hoje, é uma situação algo caricata, que envolveu o Neto, em  banho de fim de tarde, nas casa dos furriéis.
Tinha o Neto (como todos nós) de tomar algumas precauções sanitárias e o banho era ocasião preciosa para algumas de carácter físico externo. E assim fez ele, naquela tarde de um dia de muito calor quitexano, esfregando um líquido por partes íntimas, prevenindo-se de eventuais doenças. Mas trocou o receituado.
E afligiu-se, com a coisa a mingar-lhe da vista e ele a gritar, a gritar!! E nós, ali a meia dúzia de metros, a fazer de conta. Deixa lá gritar o homem! Só que aquilo passou das normas e lá fomos nós, afogueados e a saber de que mágoas se qeixava o Neto.
Ao que vimos e não vimos, fomos em passo de corrida reclamar a presença do dr. Leal. Que rogado não se fez, deixando o seu jogo de damas (ou de xadrez, na messe) para, em passo acelerado, acudir aos males do Neto. O que foi e não foi? Pois, resumamos: o Neto tinha trocado a receita e a reacção física deu para a coisa lhe decrescer, lhe mingar, se apequenar, desaparecer da vista! Estão a ver o susto!
E quanto se riu o dr. Leal, há algumas semanas, quando, pelo telefone, nos lembrámos dessa «aventura»! E quanto nos divertimos, eu e o Neto, quando, a beber um café ou a saborear um tracanaz de leitão, nos lembramos da coisa que se lhe mingava!
- LEAL. Manuel Soares Cipriano Leal, capitão miliciano médico. Natural de Santarém, reside em Fafe - onde, aposentado, ainda exerce, já com  mais de 80 anos e principalmente servindo gente humilde e não endinheirada.
- NETO. José Francisco Rodrigues Neto, furriel miliciano de Operações Especiais (Rangers). Empresário, natural e residente em Águeda.

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

1 065 - O carpinteiro, carpinteirava...


O carpinteiro, carpinteirava, pois então? E o Manuel Augusto era carpinteiro, logo carpinteirava, E, por carpinteirar, apodado foi de Carpinteiro!
O Carpinteiro, assim lhe vamos chamar, cá entre nós, era rapaz de graça fácil, com a piada na ponta da língua, às vezes até brejeira. Dele já falámos AQUI.
Hoje aqui voltamos a falar do Carpinteiro, por lhe termos achado louvor do comando da Companhia. Reza então o «despacho» que o então jovem militar manifestou, no desempenho das suas funções, «ser muito trabalhador, sempre pronto a atender os serviços que lhe eram determinados, ou pedidos, procurando cumpri-los o mais rapidamente possível e demostrando a maior vontade». Lá isso era.
O Carpinteiro notabilizou-se, segundo o louvor, pela sua "colaboração nos serviços de cozinha, aquando do apoio aos refugiados dos incidentes de Carmona, em que, de dia e de noite, ali permaneceu, ajudando os cozinheiros a orientar e atender grande número de crianças e senhoras à hora das refeições que lhe eram servidas no quartel». Tambem é verdade.
O capitão Oliveira, comandante da CCS, sublinha depois, no louvor, que «não deixou tambem de emprestar o seu esforço a quaisquer outras missões que lhe fossem  solicitadas, pelo que se torna merecdor de público reconhecimento».
Cá para nós, que ninguém nos ouve (ou lê...), o Carpinteiro notabilizou-se especialmente foi a fazer caixotes para o capitão encher de todas as bugigangas possíveis e imaginárias. Até uma urna! Era exímio e rápido. E cumpridor, tal qual do capitão Oliveira gostava. Grande abraço, ó Carpinteiro! O que é feito de ti?!
- MARQUES. Manuel Augusto da Silva Marques, 1º. cabo carpinteiro, natural de Esmoriz (Ovar).

domingo, 13 de novembro de 2011

1 064 - As cartas, os aerogramas...

Letras, Costa, Guedes e Gomes, a lerem correio pessoal, em Aldeia Viçosa

O correio! Fosse aerograma, ou carta! Quantos suspiros se tiveram pela hora da chegada, com notícias da terra, da família, da namorada, da mulher, dos amigos!!!
Quantas frustações não se sentiram quando, nessa hora, não era reclamado o nosso nome! E logo nesse dia, sabe-se lá porquê... - quando uma carta, um aerograma, meia dúzia de linhas, uma notícia do mais banal que fosse, retemperaria forças e ânimos aos bravos soldados que, a milhares de quilómetros, tinham saudades dos seus, dos seus cheiros e dos seus sons da terra, dos abraços amigos e dos colos que os faziam homens.
A carta levava-nos a voz amiga, a mensagem sábia, falava-nos de notícias que a gente já sabia, mas da quais queríamos saber mais, e das quais tinha saudades.
A carta era o mistério e a atracção, benzia-nos a alma e descomplexava-nos o corpo das dores que se sentiam pela terra quente de Angola fora, entre a saudade e a escolta, a operação militar, a patrulha, ou o simples e demorado passar dos dias de um calendário cujo fim era outro mistério.
A carta era lida e relida, dobrada em quatro e arrumada na mala, para ler ao outro dia, dias depois, ou daí um bocadinho! A carta era o bálsamo tranquilizador, o anestesiante que matava todas as dores e absolvia todos os pecados.
Não escrevia a namorada há três dias, há quatro?"..., Filha da mãe, não me liga nenhuma, será que já  tem outro? Mas chegava a carta, ou o aerograma - todo cheiinho, escrito por todos os lados, até nas dobras!!!..., a dizer pouco, ou nada, ou tudo - e renascia a ventura, morriam as dúvidas e as angústias. Desaparecia o peso da saudade e da nostalgia, traziam verdades.
Era a carta! Ou o aerograma!!


sábado, 12 de novembro de 2011

1 063 - A extinção de aquartelamentos


A extinção de aquartelamentos, na sequência da rotação dos dispositivo do BCAV. 8423, suscitou reacções diferentes - ora se tratando dos povos naturais, ora dos europeus, ora da comunidade militar.
Entre esta, cada extinção era um momemto de alívio para a guarnição, que abandonava locais do meio das matas (normalmente em fazendas de café) e chegava ao meio urbano, em espaço e tempo que iam fazendo vésperas para o regresso a Portugal.
A comunidade europeia, muitas vezes hostil aos militares, creio que se dividia. Mais tarde, muitos sentiram na pele e na alma as consequências do processo de descolonização. E era este que, já pelos dias de Novembro de 1974, avançava para o futuro. Disso era sintoma, e bem real, a extinção de aquartelamentos - que tantas vezes lhe guardavam as costas, a vida e a fortuna.
Dividido seria, também, o sentimento da população autóctone - que se relacionava bem (no geral) com a  tropa e poderia vir a ser vítima de represálias da parte do novo poder. E algumas vezes foi, mesmo ainda no tempo da presença militar portuguesa.
O mês de Novembro de 1974 foi tempo para a extinção de Zalala (onde jornadeou a 1ª. CCAV. 8423) e Liberato (CCAÇ. 209). E preparava-se a de Santa Isabel e Luisa Maria

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

1 062 - Equipa de futebol da CCS do BCAC. 3879

Equipa de futebol da CCS do BCAÇ. 3879.
Quem é capaz de identificar a malta toda?


ANTÓNIO CASAL DA FONSECA
Texto

Olhem só se a CCS do 3879 não havia, também, de ter o seu jogo de futebol! Teve, e muitos, apesar de eu só assistir a um. Assistir e jogar! Jogar, é como quem diz…, dar uns pontapés na bola e alguns nas canelas dos adversários! Principalmente nas do 1º. Valente, que só tinha mais três anos que nós (era velho!...) e ainda se aguentava muito bem com a pancada! Foi a oportunidade dourada de arrear num sargento e pagou um 5 estrelas! Ninguém o mandou passar-se, na 2ª parte, para o «inimigo»! É logo o primeiro dos agachados, sempre muito penteadinho, como hoje! Ó “meu” 1º., estava a brincar…, sei que anda “por aqui”!

O árbitro, completamente desastrado e que me deu a impressão de nunca ter visto uma bola, foi o furriel Rafael, o incansável do parque-auto. E muito se riu ele (e nós!...) com a sua falta de jeito e desconhecimento de todas as regras! Então o homem queria marcar uma grande penalidade quase no meio campo?! E não sabia que existiam fora de jogo?! Escusado será dizer que jogo, jogo não houve! Mas houve, à fartazana, joelhos, costas e cotovelos esfacelados, o que deu muito trabalho à equipa de enfermagem! Principalmente ao enfermeiro Pilório, que dava assistência de cerveja na mão e cigarro na boca - «Tá tudo bom, pá!!!… Deixem-se lá de mariquices!...", gracejava ele ao entornar álcool puro para a ferida do Teixeira! 
«F…., se te apanho mato-te, c…»!, gritava este de ardor!
Como não havia equipamentos, o adversário jogou de camisola interior, e nós em tronco nu! Ora, num campo pelado e rijo, dá para perceber em que resultaram as quedas!
Esquecia-me de acrescentar que o nosso guarda-redes, que jogou de camuflado, era um grande frangueiro! Passavam todas, ó Pardalhoco!..., quem é que te disse que eras guarda-redes?! - provoco-o eu, agora, bem longe da vista (que ele não é certo) mas na esperança de que me leia por aqui!
De tal maneira foi assobiado que esteve quase a abandonar o campo, com uma grande birra! Valeu o “nosso” 1º, que lhe apontou o Comandante!
Mas que foi um dia bonito, foi! Recordo-me que a festa foi animada, com um bom almoço, bem regado e estendido por toda a tarde.
Francamente, não me lembro do resultado! E ainda bem, porque levámos uma goleada de se lhe tirar o chapéu e falar aqui de números até me ficaria mal! Não fora o nosso mau ataque, a má defesa, o péssimo guarda redes e o árbitro tendencioso, podíamos muito bem ter ganho o jogo! Digo eu!!!
Jogo à parte, e tanto quanto sei, 48 anos depois todo o grupo está em grande forma física! Quer dizer…não exactamente… mas quase!...
Agora estou aqui a fazer contas e… tá tudo sexagenário!!! Tudo não, que o Mário ainda vai nos 58! Não fora a grande ideia de ir como voluntário, não teria a felicidade de conhecer o Quitexe! Ideias felizes!
Espera lá…sexagenários?!…sexagenários?!…, os jovens aqui em cima já são sexagenários?!..., como é que pode ser?! C’um caraças, foi um instante…, está tudo muito rápido! Tá bem, tá!...
Tão rápido como os golos do jogo de futebol! Retenho na memória que, em cinco minutos, levámos com outros tantos golos! Que grande cabazada!!!
ANTÓNIO CASAL DA FONSECA




quinta-feira, 10 de novembro de 2011

1 061 - A parada militar do Quitexe...


O espaço que aqui se vê é o da parada do Batalhão de Cavalaria 8423, no Quitexe. Mesmo na frente, o espaço ajardinado onde, no mastro, diariamente se içava e descerrava a bandeira nacional.
Ao fundo, eram os balneários colectivos. Ao centro, o espaço das oficinas, sendo bem visível as duas bombas de combustível. Mais para o lado, sem se verem na foto, ficavam as casernas e, para o outro, a cozinha e o refeitório dos praças.
A parada era onde, também diariamente, se formava a guarnição, para o controlo de pessoal e entrada em escalas de serviço.
O grupo de militares que se vê, de calções e camisolas camisolas brancas, era (e não erro, por certo), algum dos que, por este tempo de 1974, participava em diversos jogos de futebol - ora entre pelotões e especialidades da guarnição, ora desta com equipas civis, em disputadíssimos despiques no campo da vila.  
O jogo da bola (ou das cartas, ou das damas e do dominó) eram algumas das actividades com que os  militares ocupavam o seu tempo, destressando emoções e fazendo a leitura (ou a redacção) de um ou muitos aerogramas, para a família que ficava em Portugal e se roía de saudades, ou para as namoradas e mulheres a quem faltava o colo das suas paixões.

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

1 060 - O adeus à Fazenda do Liberato

Monumento aos mortos, na Fazenda do Liberato


A Fazenda do Liberato foi militarmente abandonada a 8 de Novembro de 1974, quando de lá saiu a Companhia de Caçadores 209, do RI 21.
A CCAÇ. 209 era maioritariamente formada por militares da incorporação local e era uma das subunidades que integavam o Batalhão de Cavalaria 8423 - com as quatro companhias próprias, a CCS (no Quitexe), a 1ª. CCAV. (Zalala), a 2ª. CCAV. (Aldeia Viçosa) e a 3ª. CCAV. (Santa Isabel). A guarnição de Vista Alegre era formada pela CCAÇ. 4145. Associadas ao BCAV. 8424 estavam também o Pelotão de Morteiros 4281 (no Quitexe) e os GE 217 e 223 (Quitexe), 222 (Aldeia Viçosa) e 208 (Vista Alegre). Assim era constituído o elenco militar do Subsector do Quitexe.
Por esta altura de Novembro de 1974, preparava-se a grande rotação do dispositivo militar do batalhão.
Zalala e Santa Isabel seriam as próximas guarnições a «desaparecer do mapa» - abandonando posições estratégicas da zona de acção e que estavam ocupadas pelas formas armadas portuguesas desde 1961.
- LIBERATO. Ver AQUI
- RI 21. Regimento de Infantaria 21, de Nova Lisboa.


terça-feira, 8 de novembro de 2011

1 059 - O furriel mecânico-auto Martins...


O Martins era mecânico-auto e jornadeou por Aldeia Viçosa, como glorioso militar da 2ª. CCAV. 8423. Logo pela cara se vê que era boa gente. E era! Olhem-se só para a bogodaça! E nunca lhe falhou a mão para não gripar o motor, ou rebentar a junta da colaça. Nunca um «burro de mato» arreou na picada, se fosse pela mecânica.
Agora, 36 anos depois do adeus a Angola, leio um louvor ao Martins, atribuído «pela maneira eficiente e cuidada como desempenhou as duas funções». Nem mais nem menos.
O Martins, que era dado a bons folguedos e se afirmou como um bom companheiro de jornada, garantiu com o seu «exempo de militar» e com o seu «esforço e firmeza» - e as palavras são do louvor! -, garantiu «o melhor aproveitamento do pessoal técnico, sob as suas ordens», com o que «obteve excecpcional operacionalidade das viaturas da subunidade» - a 2ª. CCAV. 8423.
Gajo bom, portanto!
O Martins continuou, pela vida fora, a arte da mecânica automóvel e não pensa reformar-se tão cedo. «Se um homem pára, morre... Vou trabalhar sempre», disse ele, há poucos minutos, quando telefonicamente foi roubado à sua hora da janta, para falar da tropa.
O louvor foi proposto pelo capitão  miliciano José Manuel  Cruz, comandante da 2ª. CCA. 8423, e cita, expressamente, que «aliando estes factores a uma impecável conduta cívica e militar, tornou-se merecedor  de se ver distinguido com este justo prémio» - o louvor militar.
Um abraço, ganda Martins de Pegões!
- MARTINS. Amorim António Barrela Martins, furriel miliciano mecânico-auto. Natural e residente em Pagões-Gare, continuou mecânico-auto pela vida fora. Erradamente, o Livro da Unidade atribui-lhe a especialidade de atirador de cavalaria.
- BURRO DE MATO. Unimog, viatura de transporte militar.

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

1 058 - O Letras, das Operações Especiais...

O Letras numa aldeia dos arredores de Aldeia Viçosa


O Letras é de Palmela, mas no ido ano de 1973 e pelo 2º. curso de Operações Especiais fora, em Lamego, fez-se Ranger como sendo de Setúbal. Para nós, instruendos que pelas serras e aquartelamentos de Lamego demos o corpo por instrução dura, às vezes violenta, o Letras era de Setúbal. Ponto final.
De Setubal e boa gente. Dele me lembro de ser dos poucos instruendos que, no dia do final de curso, tinha a famíla em Penude. Julgo até que a namorada. O Letras foi classificado com 13,25 de média final e ficou de divisas de cabo miliciano nos ombros - fazendo vésperas para a mobilização e a promoção a furriel miliciano.
Seguiu ele a vida dele e fiquei eu por Lamego, até à mobilização para Angola e a formação de batalhão no RC4, em Santa Margarida. Por aqui nos reencontrámos, nos primeiros dias de Janeiro de 1974.
«Olhó Letras!!...», observei-lhe eu no bar dos cabos milicianos,  quando m´apareceu pela frente, de saco na mão, a apresentar-se no que viria a ser o Batalhão de Cavalaria 8423. Já eu (e o Neto e o Monteiro) por lá éramos veteranos. Tínhamos chegado na véspera de Natal anterior.
Achamo-nos na vida, por duas mãos cheias de vezes, delas recordando uma célebre caldeirada em Setúbal, com o Brejo - que ele foi pescar para o reencontro de «heróis do Uíge», para aí há uns 15 anos.
E o Letras vem aqui hoje, porquê?
Porque a 31 de Outubro de 1974, há dias se passaram 37 anos, passou ele pelo Quitexe,a  caminho de Luanda, para vir de férias. Ele  e o Mourato, dois «cavaleiros» de Aldeia Viçosa.
- LETRAS. António Carlos Dias Letras, furriel miliciano de Operações Especiais (Rangers), da 2ª. CCAV. 8413. Empresário do sector do imobiliário, em Palmela.
- MOURATO. Abel Maria Ribeiro Mourato, furriel miliciano vagomestre, da 2ª. CCAV. 8423, de Aldeia Viçosa. Técnico administrativo tributário adjunto, aposentado. Residente em Vila Viçosa. 
- BREJO. João António Piteira Brejo, furriel miliciano atirador de cavalaria, da 2ª. CCAV. 8423. Trabalha na área da segurança, é natural de Montemor-o-Novo e reside em Vale de Milhaços (Seixal).

domingo, 6 de novembro de 2011

1 057 - O soldado Gonçalves

Posto de vigilância na estrada para Aldeia Viçosa
(foto By Bende, Julho de 2010)

ANTÓNIO CASAL FONSECA
Texto

Hoje dei comigo a pensar no Gonçalves! Melhor, nas travessuras e actos indisciplinados que o acompanharam ao longo de toda a comissão. Foi, seguramente, o militar mais incorrecto da CCS. Mas, a par disso, foi também o que mais sofreu no corpo a justiça militar, aplicada por oficiais e sargentos. Era um “Cristo”, mas nem isso o impedia de transgredir quase diariamente, tanto na recusa de cumprir as escalas de serviço como, até, no desrespeito pelos seus superiores!

Foi dos que esteve quase com um pé em Zalala e também com uma guia de marcha para uma Companhia algures no Leste. Só não foi porque, dizem, o Sargento-Ajudante quase implorou o seu perdão ao Comandante do Batalhão! Este era austero e duro, sim senhor, mas a verdade é que o Sargento em questão era o militar do Batalhão com quem tinha mais intimidade e também o único que entrava no gabinete sem bater! A sua avançada idade e o seu fino trato eram bem compatíveis com a personalidade e educação do Comandante. A amizade já vinha de trás, de uma outra comissão de serviço.
Certo é que o Gonçalves lá se viu livre de alguma zona de fim de mundo, prometendo e jurando a todos os santos que mudaria o seu comportamento! Mas não mudou nada! Dois dias depois já estava de castigo no posto de vigia à saída para Aldeia Viçosa, posto a que já estava habituado! E não queria outro, já quase o considerava seu, de tantos castigos ali ter cumprido!
O posto até não era mau, segundo dizia, porque dali se avistava tudo! Quem saía e quem entrava na casa de quem, o que lhe permitia devassar um pouco a vida de quem à noite se movimentava em pés de lã! Isto dizia ele, cujas conversas teriam de ser bem filtradas para que uma palavra ficasse no filtro! Nesta matéria foi sempre compulsivo, valha a verdade!
A última noite que aqui esteve de castigo, levou consigo uma garrafa de Sbell, e encharcou-se! Misturado com cerveja, não deu bom resultado e parece que começou a “ver coisas”! Ou melhor, passou-se e começou aos tiros em tudo o que mexia!
Ora, apenas se mexia o Alferes Ruivo, que se dirigia para o quarto alugado ali para aqueles lados! Vinha, tranquilamente, de uma “confraternização” com o então tenente Marques Júnior, que viria a ser Capitão de Abril. Valeu ao alferes a tremideira do Gonçalves, já que nenhuma das três balas foi certeira!
Acordou a vila de arma em punho, a confusão instalou-se e foi o colega do Gonçalves que desceu para acalmar os ânimos e esclarecer o que se tinha passado no posto! Lá em cima, chorava convulsivamente o atirador que “vira movimentações estranhas”. “Movimentações” que manteve nos interrogatórios e que, mesmo sabendo-se serem falsas, o livraram novamente de mudar de ares! Creio, até, que nunca o transfeririam! Não seria a solução para ninguém e muito menos para ele!
ACF

sábado, 5 de novembro de 2011

1 056 - Apresentação de FNLA´s em Santa Isabel


Capitão José Paulo Fernandes, comandante da 3ª. CCAV. 8423


O cessar-fogo declarado pela FNLA, a 15 de Outubro, fez o mês de Novembro de 1974 «caracterizar-se por uma  acalmia não encontrada há longos anos», como sublinha o Livro da Unidade.
Os contactos directos de elementos da FNLA com as autoridades militares e da administração civil portuguesas, «agora já nas categorias elevadas da sua chefatura», continuaram por estas semans - «como já vinha sucedendo em Vista Alegre».
A 4 de Novembro de 1974, ontem se fizeram 37 anos, por exemplo, realizou-se um encontro na fazenda de Santa Isabel, onde jornadeava a 3ª. CCAV. 8423, comandada pelo capitão miliciano José Paulo Fernandes.
O dia 4, a nível de Batalhão, aliás, ficou marcado pela partida do comandante Almeida e Brito, de férias e para Portugal. O comando efectivo (embora interino) ficou assegurado pelo capitão Falcão, oficial de operações e adjunto do BCAV. 8423 - que nesse mesmo dia se reuniu com outros comandantes das unidades do Comando do Sector do Uíge, no BC12, em Carmona.
Dois dias antes (a 2 de Novembro), tinham estado no Quitexe o brigadeiro Altino de Magalhães, comandante da ZMN, assim como (a título particular) o comandante do BCAV. 8324 (de Sanza Pombo) e diversos oficiais da guarnição de Carmona.
- BRITO. Carlos José Saraiva de Lima Almeida e Brito, tenente-coronel e comandante do BCAV. 8423. Faleceu a 20 de Junho de 2003, vítima de doença súbica. Tinha a patente de general.
- FALCAO. José Paulo Mendnonça Montenegro Falcão, capitão de cavalaria. Actualmente, coronel aposentado e residente em Coimbra.
- FERNANDES. José Paulo de Oliveira Fernandes, capitão miliciano de infantaria e comanmdante da 3ª. CCAV. 8423. Engenheiro, residente em Torres Vedras.
- FNLA. Frente Nacional de Libertação de Angola.
- ZMN. Zona Militar Norte.

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

1 055 - Uma guarnição de serviço no Quitexe

Aquartelamento do Quitexe, visto da capela.
Casernas do PELREC e dos sapadores em primeiro plano

Quantas pessoas estavam de serviço, num aqurtelamento como o do Quitexe? Muita gente! Excluindo as tarefas convencionais - secretarias, enfermarias, oficinas, transmissões, faxinas, cozinhas e bares de praças, sargentos e oficiais, padaria e depósitos de material de guerra e géneros, eram nada mais nada menos que 45 militares «à ordem»! E mais um pelotão de piquete (mais ou menos 30 homens).
O exemplo de 4 de Novembro de 1974 era este:
- Oficial de dia: Alferes miliciano Carlos Silva.
- Sargento de dia: Furriel miliciano Morais.
- Sargento de ronda: Furriel Miliciano Gordo.
- Piquete: Pelotão de Morteiros 4281, comandado pelo alferes miliciano Leite.

Praças nomeados pela CCS:

- Reforço ao quartel: 18.
- Serviço à pista: 6.
- Guarda de polícia: 6.
- Ronda: 3.
- Escolta ao Correio: 2.
- Condutores de ronda: 2.
- Cabo de Guarda de Polícia: 1.
- Enfermeiro d dia: 1.
- Clarim de dia: 1.
- Electricista de dia: 1.
- Ordenança à secretaria: 1.
Agora, duas curiosidades:
1 - A 3 de Novembro, vieram de férias os 1º.s cabos Luciano Borges e Joaquim Breda, ambos de Leiria. 
2 - A 4 de Novembro, foi «solto das prisões do quartel, por terminar o cumprimento da pena que lhe foi imposta», o 1º. cabo Alfredo Coelho (Buraquinho) - 10  dias de prisão discipinar, dois agravada pelo Comando de Sector (20 dias) e Comando da Zona Militar Norte (30). Falamos do inimitável e sempre muito-falante Buraquinho, para quem fica um abraço.
- SILVA. Carlos Almeida da Silva, alferes miliciano atirador de cavalaria, da 3ª. CCAV. 8423. Funcionário bancário aposentado, residente em Ferreira do Zêzere.
- MORAIS. Norberto António Ribeirinho Carita de Morais, furriel miliciano mecânico-auto, da CCS do BCAV. 8423. Natural de Niza, é quadro superior da Estação Nacional de Plantas, em Elvas, onde reside.
- GORDO. António Luís Barradas Mendes Gordo, furriel miliciano atirador de cavalaria, da 3ª. CCAV. 8423. Funcionário camarário em Alter do Chão, onde reside.