quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

1 189 - «Portugal e o Futuro», em tempo de férias



A escola de recrutas do BCAV. 8423 terminou a 22 de Fevereiro de 1974 e a rapaziada, já mobilizada para Angola, entrou de férias. Voltei a Águeda e à minha aldeia, fazendo tempo para a segunda fase de instrução.
A política, ao tempo e como hoje, pouco me interessava e a minha atracção pela leitura foi essencialmente justificada na admiração pelo desafio que o general, então Vice-chefe do Estado Maior General das Forças Armadas (era Costa Gomes o Chefe) lançava ao governo de Marcelo Caetano.O que fazia o livro tão polémico (e disputado nas livrarias) era o repto que o general lançava ao regime - que até autorizou a publicação. E por, com desassombro que me surpreendia, afirmar que as guerras coloniais não tinham solução militar. Ele que era o Vice-Chefe do Estado Maior das FA e ex-governador da Guiné. Isto é, um dos falcões maiores do tempo. E também por afirmar que era necessário que o país debatesse o problema da guerra colonial, que se arrastava desde 1961 e em três frentes: Angola, Moçambique e Guiné.O livro foi lido nos dias de férias e levado para Santa Margarida, por onde foi emprestado a amigos - o que justificou um alerta da hierarquia, quando disso soube. Um alerta para ter cuidado com a sua exibição.


terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

1 188 - A hora do banho em Zalala...

Rodrigues e Queiroz na hora do banho, em Zalala (1974)

Os aquartelamentos tinham as melhores condições possíveis. Uns melhores, quantas vezes pela obra e engenho dos residentes, que inventavam meios para ter mais qualidade de vida. Em terra de calor, muito calor, e os banhos diários eram imprescindíveis. Às vezes, dois e três!
A imagem mostra o Rodrigues e o Queirós, em Zalala, preparando-se para um banho. O Rodrigues, está com um  recipiente de lona impermeável adaptado, cheio de água. Depois, vejam lá a imaginação, era pendurado numa árvore e a engenhoca, diz ele, «fazia um chuveiro porreiro!».
O banho, como é bom de adivinhar, estava limitado à quantidade de água do balde, para que, diz o Rodrigues, com ironia, “a factura do fim do mês não fosse elevada”. Eram bons tempos e bons hábitos, os da poupança - a que muitos de nós não se habituou, como o próprio Rodrigues nos conta: «Nos dias de hoje, vou para o chuveiro e gasto água por vezes em demasia e a factura lá me faz lembrar esses tempos...».
Pudera!
Outras águas, e sem chuveiro mas com queda, estava o Queiroz na mão: para um banho por dentro! É uma garrafa do Black & White e o respectivo copo. O Queiroz  estava de folga e considerava-se «um civil nesse dia». Por isso, lembra o Rodrigues, «não alinhava com esses pobretões da tropa, que tomavam banho com um tipo de regadores»
O método era vulgar, por Zalala e sabe-se lá por quantas outras guarnições. «Não se abatia o inimigo, mas matava-se o tempo que por lá passamos», lembra-se o Rodrigues.
- RODRIGUES. Américo Joaquim da Silva Rodrigues, furriel miliciano atirador de Cavalaria, da 1ª. CCAV., a de Zalala. Aposentado e residente em Vila Nova de Famalicão.
- QUEIRoz. Plácido Jorge de Oliveira Guimarães Queiroz, furriel miliciano atirador de cavalaria, da 1ª. CCAV. 8423, de Zalala,. Aposentado e residente em Braga.

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

1 187 - Dia dos anos do (furriel) Francisco Neto

A foto não é do dia, mas faz de conta que era: foi tirada na messe dos 1ºs. cabos milicianos do RC4, em Santa Margarida, e anda na roda do dia dos 22 anos do Neto - que ali está engravatado, à minha direita. 
Dir-se-ia, em boa gíria militar, que ali estavam dois lateiros, prontos a devorar a terrina da sopa, com o que quer que fosse que viesse lá dentro.
Tem o retrato mais ou menos 38 anos - um dia para cá, outro para lá -, mas centra-se a conversa de hoje no dia 28 de Fevereiro, que é o de amanhã. O dia dos anos do Neto. Estou em crer que nessa quinta-feira de 1974, teremos ido a Abrantes, «desenfiados» no SIMCA 1100 branco dele, para cear frango de churrasco, com umas jarras de vinho que por lá nos sabiam ao melhor néctar do mundo. Afinal, 22 anos não se fazem mais de uma vez e, para mais, na flor da idade em que se desafiam e correm todos os riscos.
Tenhamos ido, ou não, a Abrantes no 28 de Fevereiro de 1974 (estou certo que sim!!!), seguro é que em 1975, fomos jantar ao Pacheco, no Quitexe: uns camarõezinhos regados a Cuca ou Nocal, o convencional bife com ovo a cavalo e um pudim, admito que dos muito bem feitos por Maria Lázaro, do Pacheco - que tinha mãos de fada para a cozinha e fazia milagres aos sabores. 
Hoje, estive com o Neto e falámos disso. E lembrou-me ele que amanhã, dia dos seus anos natais (e lá vão 60!!!), também comemora os do casamento, em 1976. Já lá vão 36! Ei, Xico Neto, como a vida voa, rapaz!!!
- NETO. José Francisco Rodrigues Neto, furriel miliciano de Operações Especiais (Rangers). Empresário, aposentado, natural e residente em Águeda.

domingo, 26 de fevereiro de 2012

1 186 - A rotação do BCAV. 8423 para Carmona


O BC12 visto do lado do Songo, nos anos 70


A 26 de Fevereiro de 1975 soube-se pelo Quitexe que os Cavaleiros do Norte iam rodar para Carmona, onde iriam ocupar o BC12, que estava em extinção. A curiosidade de muitos de nós já lá nos levara a espreitar o aquartelamento - que nada tinha a  ver com as modestas instalações do Quitexe. Ou de Aldeia e Viçosa, já não falando de Zalala e Santa Isabel.
Gradualmente, as guarnições militares portuguesas iam abandonando as posições ocupadas desde 1961 e anos seguintes e os Cavaleiros do Norte, pretendidos pela RMA e solicitados pela ZMN, acabaram por ficar em Carmona, a capital da província do Uíge, a terra do café. Nesse sentido e para «a rendição do BC12» se tinham realizado várias reuniões de trabalho na ZMN, nomeadamente a 19, 20 e 25 de Fevereiro. E outra a 26 (hoje se fazem 37 anos e a que decidiu a rotação para Carmona). Depois, a 27 e 28, para acertar detalhes.
O dia era de 4ª. feira e de nos chegarem jornais de Portugal. Ficámos a saber que tinha sido criado o subsídio de desemprego, igual a um terço do ordenado, nesta fase experimental e para os trabalhadores rurais (1 100$00, ou 5,5 euros). E de 2/3, para is restantes trabalhadores. Ou seja, 2 200$00 (11 euros). E dizia o ministro do Trabalho, Costa Martins, que «o subsídio poderá ser revisto no prazo de três a quatro meses. 
Escândalo era, a esse tempo, o custo de um quilo de açúcar, que passava dos 8$50 de Março de 1974 para os 22$50 de Março de 1975. Agora, fui ver ao site de um supermercado e andava entre os 0,98 e os 1,45 euros, dependendo da qualidade. Ou entre 200$00 e 290$00.

sábado, 25 de fevereiro de 2012

1 185 - O quarteleiro Ferreira, que era atirador...



O Alberto era atirador e «caiu» como quarteleiro da CCS, sempre mortinho por «dar uma perna» nas escoltas, patrulhas e operações do seu (nosso) pelotão.Gente humilde, zeloso e bom companheiro, teve de pesar quilos de arroz e de massa, medir litros de azeite e de óleos e cumprir, inescrupulosamente, o seu mandato de quarteleiro do depósito de géneros - tarefa que, por razões que não vem ao caso, não eram nada fáceis, dadas as mãos que por ali se metiam e as ordem que tinha de cumprir.
Um dia, fui eu nomeado fiscal do rancho, tarefa atribuída para me porem na linha. Aos olhos de alguns, não tinha eu fama de se ver e apanhar-me em qualquer falha era (seria) ouro sobre azul. Para esses alguns! Fiscal de rancho nomeado, tinha de zelar pelo cumprimento das NEP´s alimentares. Assim fiz, procurando não falhar. 
Uma manhã, pesava o Ferreira o feijão para o rancho e, com ordens de superior hierárquico ao nosso lado, saltou a contagem. Era eu que tinha de dar contas - era o fiscal, fiscalizado! - e mandei recontar. Atrapalhou-se o bom do Ferreira, sem saber bem o que fazer - obedecer ao furriel ou ao superior?! Acabou por ter de recontar e eu, obviamente, «demitido» das funções. A coisa que. obviamente, mais me interessava.
O Ferreira vem hoje aqui, porém, não por isso, mas pelo louvor do capitão António Oliveira, sublinhando que «nas conferências mensais do armazém, nunca foram notadas quaisquer anomalias», pelo que se tornou «inteiramente merecedor da confiança nele depositada».
Ao ler o louvor, lembrei-me daquela história e das muitas outras que circulavam nos aquartelamentos, sobre as contas dos vários depósitos militares. Nada que, quanto ao Ferreira, o desabone, bem entendido. Até porque e cito o louvor, «desempenhou aquelas funções com muito acerto, honestidade e maior boa vontade». Diz o louvor e digo eu.
E o Ferreira, que será feito dele? Era de Viseu e já não mora na residência conhecida. Alguém sabe?
- FERREIRA. Alberto dos Santos Ferreira, soldado atirador de cavalaria. Natural de Viseu.

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

1 169 - Louvor militar ao 1º. cabo Carpinteiro


Há dois dias, aqui falámos do 1º. cabo Carpinteiro, anunciando o seu passamento, e hoje recordamos o louvor que lhe foi atribuído pelo comando da CCS, porque «no desempenho das suas funções, se manifestou um militar muito trabalhador, sempre pronto a atender os serviços que lhe eram determinados ou pedidos, procurando cumpri-los o mais rapidamente possível e demonstrando a maior vontade».
O louvor do capitão António Oliveira foi publicado na ordem de serviço nº. 170 e realça «a sua colaboração nos serviços de cozinha, aquando do apoio aos refugiados dos incidentes em Carmona», período (primeiros dias de Junho de 1975) durante o qual «dia e noite, ali permaneceu, ajudando os cozinheiros a orientar e atender o grande número de crianças e senhoras, à hora das refeições que lhe eram servidas no quartel».
Nem de propósito, recebemos hoje do filho (Carlos Manuel), uma foto do 1º. cabo Carpinteiro, tirada em pose e na parada do BC12, com cidadãos de Carmona recolhidos no quartel. Ali está ele e reparem como a imagem nos faz recordar tantas histórias vividas naqueles dramáticos dias de combates na capital do Uíge.
O louvor enfatiza, ainda, que o Carpinteiro «não deixou de emprestar o seu esforço a quaisquer outras missões que lhe fossem solicitadas». Assim, remata o louvor, se tornou «merecedor de público reconhecimento».
Bravo, meu caro Carpinteiro!
Até um destes dias!
- CARPINTEIRO. Manuel Augusto da Silva Marques, 1º. cabo carpinteiro, da CCS do BCAV. 8423. Era de Esmoriz e faleceu a 1 de Novembro de 2011.
- BC12. Batalhão de Caçadores 12, à saída de Carmona, para o Songo, onde aquartelou o BCAV. 8423, a 2 de Março de 1975.

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

1 168 - Os vigilantes que dormiam no posto de sentinela

Administração do Quitexe (2012), edifício colonial restaurado, mantendo a traça exterior

A paz que por estes dias de Fevereiro de 1975 se vivia pelos lados do Quitexe - e Vista Alegre e Aldeia Viçosa, também guarnições dos Cavaleiros do Norte - não era razão para descurar os serviços mínimos de segurança, nos postos de vigias instalados em posições nucleares da vila. Um deles, era para trás da sede da administração civil.
Uma noite mais folgada, e com a vigilância mais relaxada, deu para os nossos homens se enfiarem em sono colectivo. Três homens de reforço e três homens a dormir.
Eram para aí umas duas horas da manhã, já há muito a vila se punha em vale de lençóis e tinham fechado os bares civis, quando - eu, o Hipólito e Marcos - galgávamos a distância do Posto 5 para o da administração civil, apeados e em plena rua principal, quando, junto ao bar do Rocha, achámos vários homens deitados pelo chão, carregados de álcool. Passasse uma viatura mais pesada, um camião!!!, e seriam esmagados. Mal nos vimos para os arrastar dali, para a frente da administração, onde os entregámos. E seguimos.
O caminho para o posto de sentinela era curto, dali, e, regulamentarmente convencionada, a nossa aproximação deveria ser despistada pelos homens da vigia. Mas, nada disso. Fomos-nos aproximando, aproximando..., com o cacimbo a cair-nos no quico e já com bala na câmara. E nada, nem um breve sussurro da noite, muito menos um sinal do posto de sentinela !
«Ó furriel, isto estranho!...», disse o Hipólito!
«Isto há m...», considerou o Marco. 
Ambos de arma em riste.
O luar da noite angolana fazia sombras à nossa frente e começámos a ganhar medo. O que seria e o que não seria?! Teria este estranho silêncio alguma coisa a ver com os homens deitados na estrada, seria uma armadilha, os nossos homens teriam sido apanhados? A progressão foi tensa e já estávamos molhados de suor quando, a medo e rodada a chave em silêncio, entrámos no posto. E subimos! Os nossos três homens dormiam a sono alto e com as G3 amarradas ao cinturão.
Safou-os o alferes Garcia que, de oficial dia, fez as coisas de tal modo que não houve participação.
- HIPÓLITO. Augusto de Sousa Hipólito, 1º. cabo de reconhecimento de infantaria (atirador). Reside em França.
- MARCOS. João Manuel Lopes Marcos, soldado atirador de cavalaria, residente no Pêgo (Abrantes).

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

1 167 - A morte do 1º. cabo Carpinteiro!!

Manuel Augusto da Silva Marques, o Carpinteiro, em foto 
recente (em cima) e de 1974 (no Quitexe) 

O Carpinteiro, quem não se lembra do Carpinteiro??!!, foi figura de grande popularidade na guarnição da CCS do BCAV. 8423. Faleceu a 1 de Novembro de 2011 e faria 60 anos a 15 de Janeiro de 2012. É um outro Cavaleiro do Norte que nos deixou!!! Até amanhã!
Não há, seguramente, um de nós que não se lembre do Carpinteiro: era a boa disposição em pessoa, o menino de corpo gingão sempre disponível para o que desse, viesse e se precisasse; o homem da piada fácil, da sátira solta e da irreverência amadurecida pela vida que não lhe era de todo doce, como a nós - em tempos em que a adolescência crescia para a guerra! E dela se tinham medos! E por ela se faziam promessas protectoras. E nela se morria!
Veio e casou, o Carpinteiro. Com Constância Costa - que lhe deu dois filhos, a Iola Marlene (34 anos) e o Carlos Manuel (de 29, casado com Nela e pai da sua única neta, a Carla). E carpinteiro continuou, até que uma diferença profissional o fez mudar para trabalho na área dos resíduos sintéticos. Pelo meio, há uns 20 anos, teve um um aviso em forma de enfarte. Mas dele se cuidou e tratou.
A 1 de Novembro de 2011, foi à missa e ao cemitério (era dia de Todos os Santos), passou pelo café e tomou o  pequeno almoço com a mulher. Voltou a casa e, ao pôr a chave na porta, imobilizou-se. 
«O que estás a fazer?? Abre lá a porta!!!...», disse-lhe Constância. 
Mas o Carpinteiro já não a terá ouvido e caiu, fulminado. De nada valeram os socorros imediatos. Faleceu!!
«Foi um bom marido e um bom pai», disse Constância, de luto vestido pela viuvez.
Até um destes dias, grande Carpinteiro!
- CARPINTEIRO 1. Manuel Augusto da Silva Marques, 1º. cabo carpinteiro. Natural de Esmoriz, onde nasceu, residiu e era conhecido por Manuel do Gaio. Faleceu a 1 de Novembro de 2011, aos 59 anos.
- CARPINTEIRO 2. Também aqui de falou do Carpinteiro: http://cavaleirosdonorte.blogspot.com/2010/01/por-onde-anda-o-manuel-augusto-o.html2.

1 166 - Papeladas, desenfianços e castigos...

Achei esta foto, tirada na frente da secretaria da CCS, no Quitexe - onde me mostro com o Mosteias, o sempre disponível e generoso Mosteias, arrebatado e valente, o único de todos nós (furriéis) que por cá deixara compromisso de casado e já era pai, desde Setembro. 
Pouco diz a legenda, apostada nas costas do retrato: «Eu e o Mosteias. Ele de cigarro na mão e eu  carregado de papelada. Ambos a olhar para o... além». Data: 17.02.1975. Tem 37 aninhos, esta imagem. O tempo passa!
Fui ao baú e lá achei notas. Dia 17, foi uma segunda-feira. E digo eu que «acabei hoje o serviço ontem começado, depois de uns dias em Luanda e esperado na secretaria da CCS pelo capitão Oliveira, prontinho para me aviar uma porrada».
Releio um aerograma de Alberto Ferreira, do dia 18: «Concerteza já estás no Quitexe, visto ter-te procurado no Katekero e já teres saído, na sexta-feira à noite. O que é que se passou?»
Sorri-me, ao reler isto. O que se passara, fora simples e tal recordo com a memória refrescada pela leitura das minhas papeladas. Eu tinha ido a Luanda e teria de me apresentar até ao meio dia do dia 15, um sábado. De lá teria de partir na 6ª.-feira, mas, naturalmente, ampliaria os dias da capital para até domingo. Desenfiado!!! Tinha a conivência do alferes Garcia, mas sabia-me «perseguido»  por alguma gente da guarnição.
Releio a papelada da época: «Espraiava-me por Luanda, às voltas pela Mutamba, pelo Portugália e Amazonas ou Pólo Norte, pela ilha e passeando-me com o Albano, ou comendo churrascos no Floresta, com o Alberto. Ir para o Quitexe na tarde de 6ª.-feira, nem pensar. Só no domingo. Mas deu-me a dúvida, quando encontrei malta de Aldeia Viçosa, que ia sair do Grafanil na madrugada de sábado. Rebateu-se-me a consciência e acabei por vir com eles e apresentar-me no Quitexe, nas horas certas da guia de marcha. Safei-me de boa, pois o capitão, em pessoa, esperava-me no gabinete dele».
Óbvio, como o azeite: assim não me apresentasse e desta não escapava ao poder disciplinar do comandante da companhia, com quem, no gabinete dele, tive uma cena algo patética - com ele a não aceitar a minha apresentação, por estar de sapatos (e deveria estar de botas, dizia ele) e depois eu, demasiado irreverente e impetuoso, a repetir a apresentação, porque ele não tinha cinto. Depois, porque tinha um botão desabotoado na camisa. E depois, ele há coisas!, porque não trazia o galão do ombro esquerdo. Possivelmente, na pressa de me vir apanhar infractor, não se uniformizou convenientemente.
Dias depois, o Garcia perguntou-me, primeiro a gargalhar mas, após tal, fazendo cara de caso: «O que é que fizeste ao capitão?». Rimo-nos ambos, com a explicação dada - que passou a lenda na guarnição. Mas alertou-me o Garcia, sempre atento e algo paternal para com os seus mais próximos: «Não abuses!!!...». E riu-se, com o sorriso doce dos amigos cúmplices.
As minhas papeladas (sei lá se não eram as que tenho na mão, na foto) deram-me memória para este caso de há 37 anos. Voa o tempo, mas sobram os registos, destas actas da minha jornada angolana do Uíge.
- ALBERTO. Alberto Fernando Dias Ferreira, 1º. cabo-especialista da Força Aérea, na Base Aérea de Luanda. Licenciado em Economia, foi quadro superior da administração fiscal e candidato a presidente e vereador da Câmara Municipal de Águeda. Já falecido, era de Fermentelos (Águeda).
- OLIVEIRA. António Martins Oliveira, capitão do SGE e comandante da CCS do BCAV. 8423. 
- GARCIA. António Manuel Garcia, alferes miliciano de Operações Especiais (Ranger´s). Inspector da Polícia Judiciária, faleceu a 2 de Novembro de 1979.
- MOSTEIAS. Luís João Ramalho Mosteias, furriel miliciano sapador. Quadro de empresa, residente em Vila Nova de Santo André.

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

1 165 - O furriel mascarado à moda de Vilarandelo...


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A. CASAL FONSECA
Texto

Não me recordo minimamente de festejos carnavalescos na vila do Quitexe. O Fonseca ainda tentou dar um ar da sua graça fazendo algumas pinturas, mas não havia ambiente para tal e a coisa ficou por ali mesmo.

Surpreendentemente, faz amanhã 39 anos, os quartos do pessoal das transmissões foram invadidos por um mascarado, com vestes carnavalescas que nos eram muito estranhas! Se entrou,  só podia ser da casa, mas não foi fácil identificar o mascarado, nem pelas danças que executava! Vontade não nos faltava para lhe puxar as vestes e a máscara, mas sabíamos lá com quem nos depararíamos!...

Aguentou o mascarado cerca de um quarto de hora, sem que tivéssemos a menor ideia de quem se trataria, e pelos vistos não demorou mais porque o calor que sentia debaixo das roupas era demasiado para uma noite tão quente!

E lá saiu ele do seu casulo carnavalesco, de gargalhada bem solta, o furriel Teixeira! Vestira-se (como pôde) com o traje bem característico da sua terra, Vilarandelo (em Valpaços), e onde o carnaval, dizia ele, era forte tradição e dele fazia parte desde que deixara o seminário. Dizia, até, que se equiparava a uma tradicional festa de verão, tal era a animação. Disso não sei!

O que sei é que ele se vestiu com traje de pastor, com roupas que se assemelhavam a serapilheira, e com uma máscara feita por ele mesmo! E dançou! Desajeitado…, mas dançou!

Ficámos espantados, não tanto pelo disfarce mas vindo de quem veio! Então alguma vez imaginámos que o furriel Teixeira, ele que era tão introvertido e que corava quando se saia da casca, viesse com uma surpresa daquelas?! Nem pensar!

Gostaria de lembrar esta história amanhã, a ele mesmo em Vilarandelo, mas como a vida é sempre imprevisível, ficar-se-á pelo blog – que, acredito, terá a sua visita! Pelo blog e pela nossa memória, já que foi protagonizada por alguém que sempre mereceu (e merece) o nosso maior respeito! Alguém que sempre foi um exemplo de dignidade e camaradagem, mesmo carregando o pesado fardo do sustento dos irmãos! A partir do Quitexe, terra bem longínqua onde, sempre exemplarmente, cumpriu a sua missão!

E que não esqueceu o carnaval, e muito menos o da sua terra, celebrando-o com alegria! E até com uma lagrimazinha…no fim! Acontece!!!...
ACF


domingo, 19 de fevereiro de 2012

1 164 - O carnaval de 1975 no Quitexe



Porque hoje é domingo de carnaval, empurremos a memória para o de 1975, no Quitexe, a 11 de Fevereiro. Que passaria quase despercebido, não fora, no regresso de uma escolta a uma fazenda para o lados de Camabatela (e cujo nome me escapa) termos sido surpreendidos com os sons de tambores e gritos, quando nos aproximávamos da vila,
Circular nas poeirentas picadas do norte angolano não era coisa para descuidos. Importava ir de olhos bem abertos (para ver o que não se queria ver), ver ao longe e dos lados, de ouvidos apurados e concentração máxima. Não fosse o diabo tecê-las, estivessemos embora, como estávamos, em período que se adivinhava (e desejava) fácil, descontraído, distante dos constragimentos e dos medos da guerra.
Mas aquele barulho!!!
Estranho, o que seria?
«Carnaval!!!...», disse o Neto. E adivinhou!
Ouvia-se o batuque a voar no vento quente e imaginava-se a dança volupiosa de mulheres de seios nus fervilhando na nossa juvenil imaginação. O que viemos a achar, já na aldeia do Canzenza, às portas do Quitexe, foi um grupo de novos e mais velhos, a ondular os corpos ao ritmo do batuque e dos tambores. Alguns(as) bailavam mascarado(a)s, de forma rudimentar, outros de faces pintadas.
Era o carnaval africano.
Já na vila, a correr pela rua de baixo (a avenida), vimos meios dúzia de miúdos a fazerem de entrudos, com a  piada deles. Que não era igual à nossa.
A foto é da CCAÇ. 3413 (1973)

sábado, 18 de fevereiro de 2012

1 163 - Mudança para Carmona e incidentes da independência

Quartel do Batalhão de Caçadores nº. 12 (BC12), na saída da estrada para o Songo, em Carmona


A estes dias de Fevereiro de 1975, sabia-se já que o destino próximo do BCAV. 8423 seria Carmona e o BC12, requisitado pela ZMN, em desfavor da RMA - que queria os Cavaleiros do Norte em Luanda.
O comandante Almeida e Brito, por isso e para «ultimar aspectos da rendição do BC12» tomou parte em várias reuniões de trabalho na cidade capital da província do Uíge - nomeadamente nos dias 19, 20, 25, 26, 27 e 28 de Fevereiro, nalgumas delas acompanhado pelo capitão Falcão, o oficial adjunto e de operações.
Pela mesma razão, e por tal estar definido, rodariam (e rodaram) para Carmona a CCS e a 2ª. CCAV. (a de Aldeia Viçosa) e, por isso, «foram estabelecidos, ao nível das subunidades, inúmeros contactos».
O processo de independência de Angola continuava, mas com vários incidentes que, hoje, a história pode evocar:
- 24 de Janeiro: Tropas portuguesas e do MPLA impedem a entrada no Luso de forças fiéis a Daniel Chipenda.

- 25 de Janeiro: A FNLA faz destruições na Emissora Oficial de Angola e é raptado o jornalista António Cardoso.
- 26 de Janeiro: Após os distúrbios provocados pela FNLA na Emissora Oficial de Angola, o MPLA denuncia o propósito da reacção de instaurar no país um clima de guerra civil.
- 28 de Janeiro: Toma posse o alto-comissário para Angola, general Silva Cardoso.
- 31 de Janeiro: Posse do Governo de Transição, com Vasco Vieira de Almeida, Joaquim Antunes da Cunha e Manuel Resende de Oliveira assumindo as pastas da Economia, dos Transportes, Comunicações e Obras Públicas e da Habitação e Urbanismo, como representantes de Portugal.
- 13 de Fevereiro: Forças do MPLA e de Daniel Chipenda combatem em Luanda. Dos incidentes, resultam baixas para ambas as partes.
- 17 de Fevereiro: A UNITA manifesta a disposição de aceitar nas suas fileiras a facção de Daniel Chipenda.

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

1 162 - Véspera da semana final da Escola de Recrutas

PELREC. Almeida (falecido). Messejana, Neves, Soares, Florêncio, Silvestre, Marcos, Pinto, Caixarias e Florindo (enfermeiro). Em baixo: Vicente (falecido), Viegas, Francisco, Leal (falecido), Moreira (?, transmissões), Hipólito, Aurélio, Madaleno e Neto


A 17 de Fevereiro de 1974 saímos de Águeda, eu e o Neto, por volta das 10 horas da noite, para ir dormir a Santa Margarida. Era costume, ao tempo, irmos na segunda-feira de manhã, mas naquela semana (na segunda-feira, 18) começavam os exercícios finais da escola de recrutas.
A nossa conversa, país abaixo e pelas estradas que tínhamos, foi sobre a nossa mobilização para Angola, que ambos (e muita gente) achávamos uma sorte. Pior seria uma jornada militar em Moçambique ou na Guiné, por onde a mortalha era maior e os relatos de guerra nos chegavam bem mais cheios de lutos. Por mim, melhor ainda: tinha muita família no chão angolano. E lá os procuraria, surpreendendo-os a bater-lhes na porta. Como fiz! E o Neto era filho de empresário do sector das ferragens, que em Angola ao tempo instalava um fábrica, em Viana.
Mobilizados para a guerra, sim, mas afortunados no destino!
A conversa alongou-se sobre as características dos nossos homens, soldados que nós ajudávamos a fazer, enriquecendo-os com o que aprenderamos em Lamego, nos Ranger´s. E como nós sentíamos, neles, o prazer dos exercícios, dos patrulhamentos, das técnicas de combate e até da ordem unida - que os fazia garbosos e invejados por companheiros da guarnição.Companheiros da nossa idade, todos crescidos em adolescência que lhes antecipava a guerra.
Alguns nomes se substantitavam na nossa análise: o Vicente, o Pinto, o Hipólito, o Ezequiel, o Almeida, o Albino (que viriam a ser 1ºs. cabos), o Caixarias, o Madaleno, o Marcos, o Aurélio e outros. Viríamos a formar o PELREC, sob o comando do aspirante a oficial miliciano Garcia.
- PELREC. Pelotão de Reconhecimento, Serviço e Informação. Grupo operacional da CCS.
- GARCIA. António Manuel Garcia, alferes miliciano de Operações Especiais (Rangers). Faleceu a 2 de Novembro de 1979, de acidente, era investigador da Polícia Judiciária.
- VICENTE. Jorge Luís Domingos Vicente, 1º. cabo atirador de cavalaria. Faleceu a 21 de Janeiro de 1997, vítima de doença.
- PINTO. João Augusto Rei Pinto, 1º. cabo atirador de cavalaria, residente em Corroios.
- HIPÓLITO. Augusto de Sousa Hipólito, 1º. cabo atirador de cavalaria, residente em França.
- EZEQUIEL. Ezequiel Maria Silvestre, 1º. cabo atirador de cavalaria, residente em Almada.
- ALMEIDA. Joaquim Figueiredo de Almeida, 1º. cabo atirador de cavalaria. De Penamacor, falecido a 28 de Fevereiro de 2009, por doença.
- ALBINO. Albino dos Anjos Ferreira, 1º. cabo atirador de cavalaria, residente em Casal de Cambra.
- MADALENO. Francisco José Matos Madaleno, soldado atirador de cavalaria, carpinteiro, morador na Covilhã.
- MARCOS. João Manuel Lopes Marcos, soldado atirador de cavalaria, morador no Pego (Abrantes).
- AURÉLIO. Aurélio da Conceição Godinho Júnior (Barbeiro), soldado atirador de cavalaria empresário comercial, morador em Pias (Ferreira do Zêzere).
 - CAIXARIAS. Raúl Henriques Caixarias, soldado atirador de cavalaria, aposenado, morador em Torres Vedras.
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quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

1 161 - O jardim do Quitexe, com 30 anos de diferença

Jardim do Quitexe, em 2012 (em cima) e 1974 (em baixo)

O jardim do Quitexe, em 2012. Ali se vê o pequeno monumento que ostentava as armas de batalhões militares portuguesas. Naturalmente retirados. 
A foto de baixo, de 1974, mostras os então furriéis milicianos Viegas e Neto e reconhe-se, perfeitamente, o emblema do Batalhão de Cavalaria 1917 - que por lá esteve antes dos Cavaleiros do Norte. Assim como o BCAÇ. 3879, que por lá andou entre 1972 e 1973, supondo eu que seja dele o emblema do outro lado do obelisco.
O aspecto geral do jardim público mantém-se muito igual, com a mesma traça geométrica dos talhões arrelvados e floreados. Mas atrás, passa a estrada do café - que liga Luanda a Carmona (Uíge). Quantas vezes por ali passámos, em passeios apeados ou em saídas transportadas, para escoltas, patrulhamentos e operações militares.
Ao fundo, na foto de 2012, julgo ver o edifício que foi a antiga estação dos Correios - em cor de rosa e portas e janelas azuis. Na de 1974, à direita, lá se vê o telhado e parte da parede (cor de rosa) do mesmo edifício. Sã duas fotos que semeiam e aumentam saudades do Quitexe.

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

1 160 - A messe de sargentos do Quitexe

Messe de sargentos do Quitexe, ponto de encontro diário, do café matinal ao jantar e passando pelo almoço e pelo bar. A foto recorda algumas caras daqueles que foram (e são) os Cavaleiros do Norte.
Aqui do lado esquerdo, e em primeiro plano, o Pires (sapador, do Montijo), depois o Velez (da 1ª. CCAV.. encoberto) e o Miguel (paraquedista). O Pires (das transmissões) só se vê pela testa vê-se e o Cruz pelos óculos. Ao fundo e a olhar para o fotógrafo, está o inimitável e grande Machado. Atrás, de pé, o Lages (do bar).
Do lado direito, aqui a espreitar junto à janela, está o Graciano, seguido de um «cabeça rapada» cujo rosto não identifico (será o Flora?, parece mesmo!). Depois, eu..., euzinho. Seguem-se, o Neto (de óculos e bigode), o Mosteias (de barba), o Rocha e os 1ºs.-sargentos Luzia e Aires. De pé, atrás, o Rebelo (da cozinha).
Assim, olhando tão tranquila foto, não se vê, em se adivinha, quantas diabrites ali se viveram, confrontando-se sargentos com furriéis, em situações que, algumas e medidas à distância de mais de 37 anos, nos parecem exageradas. 
Reformados, estão já o Pires (transmissões), o Cruz e o Neto, para além do 1º. Luzia. o 1º. Aires já faleceu

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

1 159 - O acidente que mandou o Pires pela ribança abaixo

Furriel Pires, num Unimog, viatura igual àquela em que 
se acidentou, entre Carmona e Quitexe


O Pires jornadeou pelo Quitexe, era um dos homens das transmissões, e morria por sair fora do arame farpado. Que é como quem diz: operacionalizar-se ao nível do que nos ouvia, quando contávamos e recontávamos as nossas lendárias expedições pelas matas do norte angolano. 
Foi o Pires, num belo dia 4 de Novembro de 1974, meu companheiro de um epopeica aventura na aldeia do Dambi Angola, já AQUI contada. Ainda hoje, mais de 38 anos depois, filtramos pormenores desse dia - quando nos achamos em pé de orelha sobre os tempos saudosos que passámos por Angola.
Mas o Pires não vem aqui hoje por isso, mas por um acidente na estrada do café - entre Carmona e Quitexe - que o «vitimou» a ele e outros Cavaleiros do Norte, felizmente sem consequências graves. Então, vinha ele e outros, em «burro de mato» acelerado, depois de um dia de boa-vai-ela na capital uíjana, quando, já não se lembra bem porquê, se virou a viatura por uma ribança abaixo, indo todos eles em saltos e cambalhotas que não lembraria ao diabo e a malhar com os costados, perna e cabeça por onde calhou.
Tiveram sorte!
Algum capim alto e pequenos cafezeiros amorteceram a queda e embora por lá abaixo fossem, não tiveram de receber cuidados de maior, para além de avermelhar uns arranhões com mercúrio e fugir de mostrar a história a quem por lá comandava.
«Ainda hoje  não sei quem nos protegeu, tivemos um sorte danada», diz o Pires, a sorrir-se da história que lhe poderia ter atrapalhado a vida e, sabe-se lá, se também enlutar o batalhão.
- PIRES. José dos Santos Pires, furriel miliciano de transmissões. Aposentado da GNR e residente em Bragança.
- BURRO DE MATO. Viatura de transporte militar, o UNIMOG. Tinha um banco corrido, onde se sentavam 10 militares - 5 de cada lado. Havia as versões 404 (90 kms. à hora e 2o litros aos 100) e 411 (não mais de 53,5 kms./hora e consumo de 12 litros).

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

1 158 - O emblema do Batalhão de Cavalaria 8423

A 11 de Fevereiro de 1974, uma segunda-feira, ficámos a conhecer o emblema do BCAV. 8423. Servindo o lema «Perguntai ao Inimigo Quem somos», honrava as tradições militares do RC4 e identificava os futuros Cavaleiros do Norte.
Almeida e Brito, o tenente coronel que comandava o batalhão, explicou que «pretendendo-se instituir o espírito de corpo do BCAV.,  de modo a que se constituísse num todo coeso, disciplinado e disciplinador», se começou (logo de início) a idealizar o futuro emblema braçal da unidade - que se desejou «em plena identificação com a unidade mobilizadora» - o RC4. 
O emblema, a preto, é o que se vê na imagem. Identificava todo o batalhão e era essencialmente usado na CCS. As companhias operacionais tinham o mesmo emblema, mas em cores diferentes: vermelha (1ª. CCAV., a de Zalala),  azul (2ª. CCAV., a de Aldeia Viçosa) e  castanha (3ª. CCAV., a de Santa Isabel).
Tem um autor, naturalmente, o então aspirante a oficial miliciano Simões (na foto, ao lado, que viria a jornadear por Santa Isabel, como alferes miliciano, na Companhia do capitão José Paulo Fernandes.
Tinha ele jeito para o desenho e ligações às artes gráficas, o que o levou a ser apontado para a tarefa. «O comandante deu-me umas dicas, esbocei o emblema e aperfeiçoei-o, até à forma final», explicou o (ex-alferes) Simões.
Assim se ficou a identificar o BCAV. 8423, também em forma de guião. E a ser usado em toda a documentação da unidade e nos braçais dos  homens de serviço (praças, sargentos e oficiais). No Quitexe, foi pintado em todas as entradas da guarnição e em todas as viaturas.
- SIMÕES. Mário Jorge Barros Simões. Alferes miliciano atirador de cavalaria. Professor, natural de Tomar e residente nas Caldas da Raínha.

domingo, 12 de fevereiro de 2012

1 157 - O comício da FNLA em Aldeia Viçosa

O comício da FNLA em Aldeia Viçosa, a 2 de Fevereiro de 1975, teve presença física de dois capitães milicianos do Exército Português: José Manuel Cruz (de camuflado, o segundo, a contar da esquerda) e José Paulo Fernandes (o terceiro), comandantes,  respectivamente, da 2ª. CCAV. (a de Santa Isabel, mas ao tempo já em Quitexe) e da 2ª. CCAV. 84123 (a de Aldeia Viçosa).
à histórica fotografia (cedida pelo furriel Letras) mostra também o alferes Machado de Operações Especiais (Rangers), o primeiro , da direita. Nenhum deles interveio no comício, como é óbvio, mas foram anfitriões do movimento emancipalista que se politicamente se queria afirmar no Uíge angolano, depois da guerra que a opôs ao exército português.
O comandante Bundula, da FNLA, foi a primeira fugura do comício e é o primeiro, a contar da esquerda, na foto.

sábado, 11 de fevereiro de 2012

1 156 - Saudades do alferes Garcia...

Alferes Machado (à civil) e Garcia (de oficial de dia). E quem é o Barbas?
__________
JOÃO MACHADO
Texto


Hoje estava a fazer o que havia prometido a mim próprio: quando me aposentasse, digitalizar todos os slides trazidos, ao tempo (já lá vão 30 e tal anos), de Angola e que nunca tinha visto. Não calculava que me iriam vir as lágrimas aos olhos. Não é preciso dizer porquê, basta olhar a foto. 
Não sei a data exacta, mas foi tirada no BC12, em Carmona, num daquelas noites em que me apeteceu ir, talvez, contar uma anedota ou «gozar» com o Garcia, que estava de serviço. Pois é! Assim lembrei um bom amigo e grande camarada, que conheci em Lamego, durante o curso de Rangers, que ele tanto se orgulhava ter terminado, onde tanto passámos e onde a coragem e a parte física e psicológica não era para todos. Aquilo, na verdade, não era para brincadeiras. 
Em Santa Margarida, depois, confesso que havia alguma saudável rivalidade, durante a instrução aos rapazes - homens da nossa idade, que nos iriam acompanhar até terras de Angola. Uma certa mas saudável rivalidade, ou vaidade (talvez), para ver qual era o pelotão que marchava melhor e o que mais depressa se "desenrascava" no cumprimento das instruções das famosas Fichas de Combate, em que as palavras "TURRA" e "IN" eram as mais faladas. 
Mais tarde, em Angola e principalmente durante os acontecimentos bélicos - que eram guerra a valer, entre o MPLA, a FNLA e a UNITA -, todos tivemos de dar as mãos e testar a reacção real à instrução que tivemos e administrámos. 
Tudo correu bem! 
Olho para trás e sinto saudades. 
A amizade e camaradagem eram indiscutíveis, mas não perdia a oportunidade de «picá-lo»,  sempre que podia,  para, quanto mais não fosse, ouvir as histórias e aventuras que o Garcia contava. Não é a primeira vez que olho para a minha filha (agora com 31 anos) e agradeço, lembrando-me  de ti.  
Até um dia amigo!   
JOÃO MACHADO

- MACHADO. João Francisco Pereira Machado, alferes miliciano de Operações Especiais (Rangers) e comandante interino da 2ª. CCAV. 8423, de Aldeia Viçosa.  Aposentado da administração fiscal e residente em Lisboa.
- GARCIA. António Manuel Garcia, alferes miliciano de Operações Especiais (Rangers), da CCS do BCAV. 8423. Faleceu a 2 de Novembro de 1979, num acidente de viação, era agente da Polícia Judiciária. Natural de Pombal de Ansiães (Carrazeda de Ansiães).

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

1 155 - A última reunião do Comando de Sector do Uíge


Patrulhamento militar numa rua do Songo

A última reunião dos comandos do Comando de Sector do Uíge (CSU) realizou-se a 5 de Fevereiro de 1975, no Songo. Não se sabia, ao tempo, que seria a última, mas foi. 
O BCAV. 8423 fez-se representar pelo comandante Almeida e Brito e como ele seguiram o furriel Cruz, o delegado do MFA no BCAV. 8423, da classe de sargentos, por lá haver um reunião do movimento. E eu lá fui, como suplente dele e à «boleia». E também o oficial delegado do MFA.
Apenas duas ou três vezes estive no Songo, onde, mais tarde, jornadearam companheiros Cavaleiros do Norte da 1ª. CCAV. (a de Zalala e, mais tarde, de Vista Alegre - de onde saíram a 24 de Abril de 1975).
Eu não sabia, e ao tempo nem sequer me passaria pel cabeça, mas por lá era Administrador do Concelho o dr. Acílio Gala - mais tarde presidente da Câmara de Oliveira do Bairro (aqui ao lado de Águeda) e deputado na Assembleia da República, eleito pelo CDS/PP. As duas qualidades e o trabalho que lá fez tinham justificado, a15 de Julho de 1973, um homenagem pública e o descerramento de um busto.
O Songo, ao tempo, era militarmente zona de acção do Batalhão de Caçadores 5015 - então prestes a regressar a Portugal, o que levou à deslocação da 1ª. CCAV. 8423, liderada pelo capitão miliciano Castro Dias.
- BCAÇ. 5015. Batalhão de Caçadores 5015. Tinha CCS na Damba e aquartelamentos no Chimacombo (1ª. Companhia), Mucaba (2ª.) e Quivuenga e Cachalondo (3ª.). Por esta altura, no Songo, o batalhão estava em fase de desmobilização e em partida para Luanda, no Grafanil, para regressar a Portugal.

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

1 154 - Cavaleiros de Zalala em passeio por Ponte de Lima


Queirós, Mota Viana, Rodrigues e Pinto, quatro Cavaleiros de Zalala, em Ponte de Lima (Fevereiro de 2012)

Três Cavaleiros de Zalala (o Pinto, o Rodrigues e o Queirós) desafiaram um quarto e foram comensar a Ponte de Lima, com sarrabulho no arroz - num restaurante de antigo hoquista, que foi treinado por... por quem? Pelo Mota Viana.
O tempo do prazer gastronómico foi, também, de abrir e desfiar memórias da mítica Zalala, por onde jornadearam os Cavaleiros do Norte da 1ª. CCAV. 8423.
O Mota Viana foi meu companheiro em Lamego, de onde saiu para Cavalaria, e era filho de militar. Esteve em Zalala até Outubro de 1974, altura em que, estando deslocado no Quitexe, foi apanhado pelo comandante Almeida e Brito a rodar o quico na ponta do dedo, como toda a gente fazia, e à espera de boleia para um desenfianço até Carmona, na estrada do café.
Almeida e Brito mandou-o chamar, por um 1º. cabo, mas o Mota Viana convenceu-o a dizer que não o tinha e visto e, à boleia e sem complexos, lá foi ele até à «boa-vai-ela» de Carmona.
Foi ingénuo, pois o comandante não era de se deixar iludir e «espremeu» o 1º. cabo, que lá teve que dizer a verdade. Conclusão: o Mota Viana apanhou 15 dias de prisão disciplinar, que o Comando de Sector do Uíge agravou para 20  e o Comando do Zona Militar Norte para 30.
Há aqui um pormenor: o comandante conhecia a família de Mota Viana, até era amigo do pai (também militar), mas castigou-o, com um (fatal) argumento: «Tens de dar o exemplo!». 
O capitão Castro Dias, comandante da 1ª. CCAV. 8423, ainda propôs que Mota Viana ficasse em Zalala, sob sua responsabilidade, mas o jovem militar agradeceu e, como qualquer coisa que lhe acontecesse, seria Castro Dias a «pagar as favas», assumiu as suas responsabilidades e, de castigo, foi para o Leste, onde chegou dois dias depois da partida (de autocarro) e onde passou "coisas que ninguém quer" - segundo ele próprio.
- MOTA VIANA. Fernando Manuel da Mota Viana, furriel miliciano atirador de cavalaria, da 1ª. CCAV. 8423, até Outubro de 1974.  Trabalha como comercial, numa empresa de litografia, em Braga, de onde é natural.

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

1 153 - Comício no Quitexe e eleições em Portugal





O PAIGC realizou um comício no Quitexe, a 8 de Fevereiro de 1975. Em «colaboração com a FNLA», como se lê no Livro da Unidade. Coisa estranha, o PAIGC era o partido independentista da Guiné-Bissau, como apareceu por ali? Não sei, nem tenho memória de tal comício. 
A guarnição fervia era de interesse em saber dia de fazer malas, preferencialmente para Luanda (viria a ser para Carmona, a 2 de Março). E era espaço e tempo para fartas conversas políticas, em tertúlias de discussão que animavam o bar de sargentos, entre o grupo de furriéis milicianos - e é destas que posso lembrar, por nelas participar.
As primeiras eleições era um desígnio da tertúlia, nalguns casos com posições muito extremadas, ora entre as ideias que hoje se chamariam de direita e de esquerda, sem que na altura as identificássemos com a mínima clareza. O que eram PS, PCP, PPD (agora PSD) ou CDS para os militares da guarnição quitexana? Ou os já desaparecidos PDC, FSP, PCPT/MRPP, MDP/CDE ou MES, FEC/ML, LCI, UDP e AOC? Ou o ainda vivo PPM? Alguns deles nem chegariam ao acto eleitoral de 25 de Abril (só os da imagem) e, para a maioria de nós, pouco diziam e menos importavam. O que nos importava era a data de regresso a Portugal.
- PAIGC. Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde.
- PS. Partido Socialista.
- PCP. Partido Comunista Português.
- PPD. Partido Popular Democrático (actual PSD).
- CDS. Centro Democrático Social.
- PDC. Partido Democrata Cristão.
- FSP. Frente Socialista Popular.
- PCTP/MRPP. Partido Comunista dos Trabalhadores de Portugal/Movimento Reorganizativo do Partido do Proletariado.
- MDP/CDE. Movimento Democrático Português/Comissão Democrática Eleitoral.
- MES. Movimento da Esquerda Socialista.
- FEC/ML. Frente Eleitoral de Comunistas (Marxistas-Leninistas).
- LCI. Liga Comunista Internacionalista.
- UDP. União Democrática Popular.
- AOC. Aliança Operária Camponesa.
- PPM. Partido Popular Monárquico.

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

1 152 - O fim das escoltas dos Cavaleiros do Norte

Grupo de Cavaleiros do Norte a sair para uma escolta


Os Cavaleiros do Norte, com a chegada do dia 7 de Fevereiro de 1975, deixaram de fazer escoltas na chamada Estrada do Café - que ia (vai) de Carmona a Luanda, toda ela em asfalto. 
A tarefa não era fácil e, citando o Livro da Unidade, era, até, «assaz desgastante para o pessoal e viaturas».
E que, continuo a citar, «não conduzia a qualquer finalidade prática».
Ao tempo, levedavam as diferenças da comunidade europeia com os militares e isso, transformava-se, gradualmente, perigosamente, em iminentes incidentes. Recordo, pela rama da memória, uma dificílima altercação com o motorista de um camião de mais de 30 toneladas, que seguia para Luanda, carregado de café.  Transportava armas, também, umas dezenas largas de armas!!!, escondidas entre as centenas de sacos e, quiçá por isso, se atrapalhou com uma fiscalização de rotina.
Quanto ao resto, as rotinas operacionais levavam-nos repetidamente em viagens para os povos (sanzalas) e fazendas da zona de acção do batalhão - o que, cito o LU, «levava a percorrer a rede estradal à nossa responsabilidade, com elevada frequência».

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

1 151 - Futebolistas do Quitexe no Estádio dos Coqueiros



Futebolistas do Quitexe, atletas do Recreativo do Uíge, em jogo no Estádio dos Coqueiros, em 1973, frente ao Benfica de Luanda. Da esquerda para a direita, Siva (3º.), Alvarito (4º.), Nélson (6º.), Victor (7º.) e Faruk (8º.)



Ontem voltei à conversa com o Alvarito, que por muitos campos espalhou o seu perfume futebolístico! Muito raramente, por razões que não vêm ao caso, comparece aos almoços anuais - excepção feita quando estes se realizam em Leiria. Por isso, também, estabeleço com ele um contacto mais assíduo, de preferência durante horas.
Estava nostálgico, o Alvarito, e mais ficou quando abordei o tema do futebol! Nostalgia que se devia, principalmente, pela perda de contacto com amigos que fizeram parte da equipa do Recreativo Uíge, de Carmona, e que simultaneamente eram camaradas no Quitexe!
A equipa titular do Recreativo tinha cinco atletas, militares no Quitexe:  quatro da CCS e um do pelotão de morteiros.
«Que será feito do Nelson, o guarda - redes?! Desde que apanhou a “porrada” e foi transferido, nunca mais soube dele!..., gostava de o reencontrar!», questionava, com ar de saudade, como se eu tivesse ali uma resposta para ele!
Do Nelson, além de excelente guarda-redes, guardo na memória um furriel miliciano, de operações especiais, muito exigente, e um operacional com uma determinação férrea! Foi, se não estou enganado, essa mesma determinação que o Comando terá considerado exagerada, que originou a abertura de um processo e a sua posterior transferência - a tal "porrada", para ser mais preciso.
«E o Faruk pá?, lembraste do Faruk, aquele do pelotão de morteiros? Será que ninguém consegue encontrar o gajo?!, nem na net?! Que belos tempos pá, por que raio é que um gajo envelhece! Não havia de valer!...», continuava, em tom cada vez mais nostálgico!
Eu já não sei se era nostalgia ou se da rega que déramos ao almoço! É que o combinado foi almoçar-mos como se estivéssemos, há 39 anos, no Quitexe e no bar do Topeto! Mas desta vez o Alvarito suplantou-me: comeu três doses de bife com batata frita e ovo a cavalo, enquanto eu me fiquei apenas pelas duas! Não estava nos meus dias!...
Como se diz na gíria, um dia não são dias! E estas duas alminhas, diga-se a verdade, sempre se trataram bem por lá! Pois não!...
A. CASAL DA FONSECA

domingo, 5 de fevereiro de 2012

1 150 - O comandante Bundula, da FNLA, em Aldeia Viçosa

Comandante Bundula no Comício da FNLA, a 2 de Fevereiro de 1975 


O comício da FNLA em Aldeia Viçosa, a 2 de Fevereiro de 1975, teve presença das Forças Armadas Portuguesas, na foto representadas pelo capitão Cruz, na foto «tapado» pela mão em continência do comandante Bundula - que se apresentou como comandante operacional e de logística da Zona Norte.
A imagem suscita várias observações:
1 - A continência do capitão Cruz, muito provavelmente ao hino da FNLA.
2 - A presença de crianças e jovens brancos.
3 - A presença de militares e civis brancos (europeus).
4 - A mulher do comandante Bundula, que se vê a cantar o hino (e ao lado do marido). 
O blogue quis saber mais deste dia, dia histórico do processo da independência angolana, mas nada mais soube do que já aqui foi dito nos dias anteriores. Os dirigentes da FNLA apregoaram os seus argumentos e razões independentistas, obviamente procurando doutrinar o povo do norte de Angola para o seu projecto político, fazendo entoar cânticos de fervor revolucionário, numa micro-zona principalmente afecta ao MPLA.
O tempo era de ganho de confiança, de parte a parte: do colonizador que abria mãos do seu domínio; e do colonizado que subia as escadas da independência.
O que será feito desta gente angolana, que tantos sonhos semeou há 37 anos?
- BUNDULA. Comandante Operacional e de Logística da Zona Norte, da FNLA.
- CRUZ. José Manuel Romeira Pinto da Cruz, capitão miliciano e comandante da 2ª.CCAV. 8423. Professor aposentado, residente em Esmoriz (Ovar).

sábado, 4 de fevereiro de 2012

1 149 - Os Cavaleiros do Norte e o custo de vida em 1974...



Mural do Regimento de Cavalaria de Santa Margarida, o RC4 em 1974, unidade mobilizadora do BCAV. 8423

A 4 de Fevereiro de 1974, o BCAV.8423 conheceu o 2º. comandante - o major de cavalaria Ornelas Monteiro. Não viria a estar muito tempo connosco, já que «por motivos imperiosos de serviço e por solicitação do Movimento das Forças Armadas» acabou por não seguir para Angola.
O oficial, em vésperas da partida para Luanda, foi deslocado para o Comando-Chefe das Forças Armadas na Guiné (CCFAG) e lá veio parte parte activa no processo de transferência de poderes, de Portugal para o PAIGC. Representava o Governo de Portugal e o MFA.
Ao tempo, com a escola de recrutas de Santa Margarida (no Destacamento do RC4) a funcionar intensamente, não era muito próximas das relações dos praças (futuros atiradores), que foram chegando até 8 e 9 de Janeiro (de 1974) e os quadro superiores do batalhão - ainda sem os especialistas. 
Os 1ºs.cabos-milicianos já mobilizados e monitores da instrução ««viviam» num dos pavilhões do Regimento e arranchavam em messe própria. Faziam diariamente o percurso apeado que os levavam dali até ao Destacamento, cumpriam os serviços de rotina e tornou-se vulgar ir jantar a Abrantes - onde um restaurante nos apaparicava com um delicioso frango de churrasco carregado de piripiri, ou um belíssimo arroz de frango, ou até uma bacalhauzada.
O leitor deste blogue talvez se admire, interrogado e espantado, mas um opíparo jantar destes, com vinho ou cerveja, um pudim e café, ficava pela módica quantia de 22$50 - qualquer coisa parecida com 0,1125 euros. E não era cara a gasolina, que «rebocava» o SIMCA 1100 do Neto, uns 7$50 o litro - comparados com os mais de 300 de agora. Por aí, umas 40 vezes mais!
A altura, de resto, foi muito polémica, por causa de um anunciado aumento - que passaria para 10$50. Um escândalo que era para chegar à primeira página do Expresso de então e foi censurada. O aumento era  justificado no agravamento do preço das ramas e iria funcionar como um imposto indirecto, mas julgo que se limitou a passar para 8$50. Eram outros os tempos e os custos, apesar de um país alimentar 3 guerras coloniais simultâneamente.
- ORNELAS MONTEIRO. José Luís Jordão Ornelas Monteiro, major de Cavalaria, já falecido. Atingiu a patente de tenente-coronel.

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

1 148 - O comício da FNLA em Aldeia Viçosa, há 37 anos!

Aldeia Viçosa, Estrada do Café, que liga(va) Luanda a Carmona. Por aqui aconteceu o comício da FNLA de 2 de Fevereiro de 1975


A 2 de Fevereiro de 1975, realizou-se um comício da FNLA em Aldeia Viçosa. Sem acontecimentos especiais, embora, o Livro da Unidade fale de «incidentes entre MPLA e FNLA» - o que era de todo expectável, tendo em conta as escaramuças de 26 de Janeiro anterior (entre os dois movimentos) e que motivaram pronta e serena intervenção das NT.
O alferes Machado, deste dia 2 de Fevereiro - ontem se completaram 37 anos! -, recorda a presença do comandante Bundula (deste movimento liderado por Holden Roberto) e a de grupos de jovens angolanas, semi-despidas e em danças tribais - o que atraiu muitos curiosos ao local do comício, a  estrada do café.
"Dançavam e, com os outros militantes, cantavam palavras de ordem», disse João Machado, frisando a calma como tudo correu, apesar de tudo, numa zona que «era essencialmente do MPLA». 
«Lá-lá-lá... / efe-ene-éle-á!!!», era o que gritavam as jovens, saracoteando o corpo aos olhares masculinos e fazendo coro com os seus companheiros de movimento emancipalista (que se fazia partido político).
O comício, como outros e segundo o Livro da Unidade, foram «sem significado para a história do BCAV.», mas foi(ram) registado(s) porque aconteceu(ram) na sua «área de responsabilidade».
- MACHADO. João Francisco Pereira Machado, alferes miliciano de Operações Especiais (Rangers). Aposentado a Autoridade Tributária.
NT. Nossas tropas.