sexta-feira, 30 de setembro de 2011

1 020 - OS CAVALEIROS DO MONTE ALENTEJANO DO ALDEAGAS

J. Dias, Rodrigues, Aldeagas, Pinto e Queirós,
antigos furriéís  milicianos de Zalala


O Dias, o Rodrigues, o Pinto e o Queirós puseram-se a cavalgar Portugal abaixo, de norte para sul e esquecidos das divisas que deles fizeram sargentos milicianos na reserva, há 36 anos regressados da mítica Zalala do norte angolano.
O Rodrigues, o mais seco de carnes, mandou-nos a crónica da «operação»:
« Cinco sem divisas de furriel de Zalala que encontraram-se e conviveram, depois de um período extenso, de 30 anos sem se reverem, num monte do Alentejo, pertença do Aldeagas. Depois de muitas datas marcadas e desmarcadas, contactos e todas as peripécias do marcar datas e horários em que um pode e o outro não, lá se encontrou um consenso, que levou  os cavaleiros do norte - e somos mesmo do norte!!! - , o Pinto, o Rodrigues e o Queirós, a rumarem ao sul, reencontrar o camarada Dias em Torres Novas e partir em direcção a Estremoz  e lá encontrar, como anfitrião, o alentejano  Aldeagas.Aqui se recordaram os tempos passados em Angola e a camaradagem e amizade que perdura nos dias de hoje. Isto foi no dia 22 de Setembro de 2011.
AMÉRICO RODRIGUES

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

1 019 - Cavaleiros de Zalala em jornada alentejana...

Aldeagas, Rodrigues, Queirós e Dias, furriéis de Zalala, 36 anos depois


Olhem-me para estes, 36 anos depois do adeus às armas e da entrega aos seus amores de vida: o Aldeagas, o Rodrigues, o Queirós, o Dias - Cavaleiros do Norte de Zalala! Todos reformados, menos o nosso querido alentejano, que por Estremoz empresaria na terra e no gado e ganha a vida feliz e disponível, sempre com casa aberta para os amigos.
Esta malta, agora a bater-se nas vésperas dos seus bondosos 60 anos, fez escola pelo «degredo» de Zalala e de Zalala fala como se fosse o altar maior da sua devoção. Pudera!!! Por lá passaram emoções e desafios de uma vida, daqueles que fazem história e memória para sempre! E Zalala está-lhes no sangue e no rol das glórias e das tragédias (se as houve) da sua (deles) jornada africana.
O Rodrigues ainda há dias veraneou por Águeda, na Festa do Leitão! Está com corpo de 22 anos, como se os 35 não tivessem passado por ele. Reformou-se e vive em Famalicão. O Queirós «entedia-se» na reforma da vida que fez por Braga, ligado aos automóveis e aos negócios. E a comer bem e do melhor. O Dias «estagia» a pré-velhice por Tomar, depois de anos de investigação na Judiciária, de que foi agente, e entretém-se em agricultura de lazer. Está fortezinho, sim senhor..., mas com bom corpo para a idade. O Aldeagas anfitriou a jornada alentejana dos Cavaleiros de Zalala e, como se vê no retrato, não passa mal de vida, não! Falta o Pinto, que motoriza a vida por Paredes, do Porto. Foi ele a clicar na máquina e ficou de fora da vista de hoje. Aqui estará amanhã.
Abraço, ó malta... Águeda fica aqui, no centro, na terra do leitão e do espumante. Que o digam o Rodrigues e o Pinto e o Monteiro, que por cá passaram a 8 de Setembro! E vocemecês, também, que se devem lembrar do primeiro encontro do Cavaleiros, em 1994.

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

1 018 - Os Cavaleiros do Norte de Aldeia Viçosa em Leiria

Cavaleiros do Norte de Aldeia Viçosa! O grupo completo, em cima!  O mesmo grupo, na mesma foto mas «partida» em dois, abaixo. Todos em grande forma!
Aqui está a rapaziada que, ida de um pouco de todo o lado de Portugal, foi a Angola participar no natal de um país novo! Em 1974 e 1975!!! E, agora, a 4 de Setembro de 2011, cavalgou» até Leiria para festejar 36 anos da chegada da jornada africana.
São os Cavaleiros do Norte de Aldeia Viçosa - os da 2ª. CCAV. 8423, comandados pelo capitão José Manuel Cruz. «Parti» a foto para se verem melhores as caras, saudáveis e frescas, desta malta que também ajudou a fazer Abril! Mas se clicarem nelas, também as ampliarão.
Uma nota: vocemecês, meus caros Cavaleiros de Aldeia Viçosa, estão todos com muito bom aspecto, uns com uns cabelitos brancos e outros já sem ele, mas é a vida!!!

terça-feira, 27 de setembro de 2011

1 017 - Louvor à equipa de mecânicos dos Cavaleiros do Norte


A equipa de mecânicos auto-rodas do Pelotão de Manutenção-Auto do BCAV. 8423 foi colectivamente louvado, por proposta do capitão António Oliveira (comandante da CCS), tendo em conta que, no decurso da comissão, «constituiu equipa de trabalho com espírito de entreajuda e sacrifício, procurando tirar o maior rendimento do seu labor».
O louvor foi publicado na Ordem de Serviço nº. 181 e enfatiza que «ao mesmo tempo que, torneando dificuldades inerentes ao muito uso das viaturas e às faltas costantes de sobressalentes», mesmo assim «conseguiu que se obtivessem condições de utilização, em tempo oportuno e muito aceitáveis».
«Não se pretendendo distinguir uns, esquecendo outros, aqui fica vincado o público agradecimento do seu trabalho», conclui o louvor oficial.
O pelotão era comandado pelo alferes miliciano Cruz, com o 1º. sargento Aires e o furriel miliciano Morais. Tudo gente do alto!
- OLIVEIRA. António Martins de Oliveira, capitão do SGE e comandante da CCS do BCAV. 8423. Antigiu a patente de major, pelo menos) e residia em Ovar. Já faleceu.
- CRUZ. António Albano Araújo de Sousa Cruz, alferes miliciano. Engenheiro mecânico, natural e residente em Santo Tirso.
- AIRES. Joaquim António de Aires. 1º. sargento mecânico-auto, do SGE. De Évora, já falecido.
- MORAIS. Norberto António Ribeirinho Carita de Morais, furriel miliciano mecânico-auto. Natural de Niza e residente em Elvas, onde é quadro superior da Estação Nacional de Plantas. 

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

1 016 - Luanda e as vésperas de voltar ao Quitexe...

A 26 de Setembro de 1974, hoje se completam 37 anos, vadiava eu por Luanda, fazendo vésperas do fim de férias e de partida para o Quitexe. Tinha cirandado por Angola fora, de Luanda a Nova Lisboa, pela Gabela, Alta Hama, Silva Porto, Novo Redondo, Lobito e Benguela, Moçâmedes e Sá da Bandeira, lá mais para o fundo do mapa.
Tinha apalpado e sentido o cheiro de Angola, as suas belezas naturais - que tanto nos enfeitiçavam! Tinha deliciado os olhos e comprazido a alma, com o saboreio das paisagens angolanas e confirmava o desenvolvimento de uma terra, um próximo país em parto, uma nacionalidade que ia nascer!  Conhecera melhor a alma negra, alma grande e enorme, cheia de dedicações humildes e de rasgos generosos, que se despertava para uma nova realidade, fazia caminhos para um caminho novo!
Luanda, que eu ia deixar para voltar ao Quitexe, gorgitava de gente, num rodopio social imenso, era uma grande capital! Uma cidade como eu até aí nunca conhecera! Espantava-me!
A 26 de Setembro de 1974, o comando do BCAV. 8423 continuava ao périplo por fazendas e localidades da sua área de acção, na Fazenda Guerra. Já tinha estado em Luísa Maria, Minervina, Santa Isabel, Vamba (em Setembro), ou Liberato, Antoave, Pumbaloge, Zalala, Vista Alegre, Santa Isabel - antes!!! E na mesma Fazenda Guerra estivera a a 16 de Agosto, anterior.

domingo, 25 de setembro de 2011

1 015 - Cavaleiros de Aldeia Viçosa «galoparam» para Leiria



Os Cavaleiros do Norte de Aldeia Viçosa (foto) «galoparam» ontem para Leiria, para o «rancho» festivo do encontro de 2011. Mais de meia centena de antigos combatentes - eles e alguns familiares!!!... - fizeram deste dia um mar de recordações. Dizia o Letras, resumindo a festança, que «nunca esteve tão bom!...».
O Letras jornadeou comigo por terras de Lamego, nos Rangers, e em Angola, ficámos amigos pela vida fora, achámo-nos por várias mesas ao longo destes anos e fez-me este retrato do encontro de ontem: «Esteve bestial, pá!!!!... Nunca comemos tão bem!».
Ai como o Letras gosta de uma boa mesa e comensar do que é bom!
O Guedes também lá foi ter, de Salvaterra de Magos, e surpreendeu-se como estado físico dos quase sexagenários Cavaleiros do Norte de Aldeia Viçosa: «A malta está muito bem apessoada!!! A malta cuida-se...».
Nomes conhecidos de Aldeia Viçosa - não que os outros não sejam!!, falamos dos companheiros 1ºs. cabos e soldados, todos irmãos da jornada africana - estiveram o (capitão) professor Cruz, o aposentado Machado e o técnico de vendas Carvalho (que é dali ao lado, de Marrazes) - ambos ex-alferes milicianos -, os (ex-furriéis) Martins, Ramalho, Letras, Guedes e Gomes.
Já se sabe onde vai ser a «comunhão» de 2012: em Vila Viçosa, com a «obra»a  cargo do Mourato (que este ano não pôde estar).
Um destes dias, aqui editaremos fotos - que o Nunes (o organizador de ontem) vai enviar para o blogue.
-LETRAS. António Carlos Dias Letras, furriel miliciano de Operações Especiais (Rangers). Empresário do sector do mobiliário, em Palmela.
- GUEDES. António Artur César Monteiro Guedes, furriel miliciano atirador de cavalaria. Aposentado da GNR, como sargento-mor, matural da Régua e morador em Fofros de Salvaterra (Salvaterra de Magos).

sábado, 24 de setembro de 2011

1 014 - Cavaleiros de Aldeia Viçosa vão estar hoje em Leiria

Soldado condutor José Nunes, organizador do Encontro 2011

A 2ª. Companhia de Cavalaria do BCAV. 8423 reúne-se hoje, dia 24 de Setembro, em Leiria. Não vai, seguramente, faltar entusiasmo e memórias para desfiar.
O organizador é José Nunes (foto), que por lá foi condutor, e a concentração será pelas 10 horas, na fábrica de cimento SECIL, na Maceira (mesmo ao lado da cidade). O programa continuará e culminará com o almoço no restaurante O Casarão.
Grande festa, rapazes!!! E aquele abraço!!!

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

1 013 - O Portela e o Morais do Quitexe

O comerciante Morais, civil de Águeda que fazia vida no Quitexe


ANTÓNIO C. FONSECA
Texto

Cheguei ao Quitexe, depois de um estágio de oito dias no Regimento de Transmissões de Luanda. Estávamos a 24 de Abril de 1972, um dia extremamente chuvoso e quente. Cerca de meia hora depois, já estava nas instalações destinadas ao pessoal da minha especialidade, e com o resto do dia para folgar.
«Casal, está lá fora um gajo fardado à tua procura, mas não parece ser do Exército!», gritava-me o Aguiar - já companheiro no RTM do Porto - com o suor a escorrer-lhe dos seus 110 quilos!
Era o Portela, Sub-Chefe nos Voluntários, e aqui meu vizinho a três quilómetros, que eu não conhecia mas que me esperava a pedido de um amigo de Luanda. “É você que é o Casal?!..., venham daí esses ossos grande conterrâneo… Tenho cá a impressão que vamos ser grandes amigos!».
 E fomos, não se enganou!
Mas não tardou uma imposição: “Tem 15 minutos para se despachar, porque a minha Maria pôs umas cervejolas a refrescar!”
E lá estava a D. Maria à minha espera, a cozinhar umas bifanas carregadas de gindungo, ao som da choradeira do pimpolho de meses. Mas com lágrimas que lhe escapavam, quando me perguntava por novidades da sua terra natal. Estranhei a repentina ausência do Portela, e quando dei por ele já trazia consigo o Sr. Morais e a D. Esmeralda, a esposa.
«Seja bem-vindo sr. Casal, vai-se dar bem por aqui! …, pelo menos assim o espero!», dizia-me o patriarca da família Morais, com um sorriso do tamanho do corpo – grande! «Só pode ser boa gente compadre Morais… Até se chama Casal, como a família da minha Maria!...», atalhava o Portela com a mão por cima do meu ombro! Só faltavam as pequenas da família Morais, a São e a Lurdes que estavam na escola e só viriam no fim de semana.
«Compadre, deixe estar as cervejas que eu tenho ali um garrafão de vinho verde já fresco! Era para o jantar, mas sendo assim “vira-se” já!»
E virou! Eu, que raramente bebia vinho, senti-lhe os graus nas pernas, mas disfarcei como pude. A culpa foi do gindungo!
Muitos foram os momentos de convívio, ora na casa do Portela, ora no bar do Topeto, ou outro, com ou sem o Sr. Morais, sempre ocupado com os negócios, que não eram poucos.
Tive o grato prazer de ser convidado para o baptizado do filho do Portela e D. Maria. Apesar da partilha de muitos momentos em família, este gesto sensibilizou-me. Gostei mesmo! O Sacramento do Baptismo foi da responsabilidade do padre Albino, um acto que, passados alguns anos, viria a declarar por minha honra, ter acontecido. É que, com a independência, a ausência de documentos impedia a celebração de outros Sacramentos!
A foto, entre as muitas tiradas já no fim do repasto, iria servir de pretexto para um sem número de piadas caseiras que nos animariam a festa. E que festa! E não faltou o jogo de cartas, para que nunca tive muito jeito mas que os chefes das duas famílias jogavam com destreza.
Posto isto, é fácil perceber que, para mim, o Quitexe não se limitou a serviços no posto de rádio, escoltas, operações ou momentos de saudade e de nostalgia. A outra vertente, esta de que hoje falo, além de outras, foi muito importante para a contagem dos dias que se queriam rápidos. Já por mais de uma vez aqui disse que, comparado com outros, tive (tivemos) a sorte de o Quitexe nos calhar em sorte. E também a sorte de ter grandes amigos, como foi meu caso! Dentro e fora do seio militar! Que não esqueço!
ANTÓNIO C. FONSECA

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

1 012 - Rotação de dois grupos de combate de Santa Isabel

Aquartelamento e Fazenda de Santa Isabel (3ª. CCAV. do BCAV.8423)

A 13, 21 e 22 de Setembro de 1974, o comandante Almeida e Brito visitou a 3ª. CCVAV. 8423, aquartelada na Fazenda Santa Isabel, a uns 30 e poucos quilómetros do Quitexe. O objectivo era estabelecer «contactos necessários ao bom andamento dos trabalhos militares» e o tenente-coronel Almeida e Brito viajou «sempre acompanhado por oficiais da CCS».
Outras unidades, por esse tempo, foram igualmente visitadas: a 3ª. CCAV, em Aldeia Viçosa (dias 13, 18 e 24 de Setembro), e a CCAÇ. 4145, estacionada em Vista Alegre (1 19).
Reuniões, aliás, não faltaram ao tempo - que, militarmente, era minimamente tranquilo: «O IN (...) continuou apático em todo o mês, só se realizando acções ofensivas no dia 30, ao atacar madeireiros na área do Liberato e ao flagelar uma viatura da JAEA, na Quinta das Arcas», lê-se no Livro da Unidade.
Reuniões ocorreram também no BC12, em Carmona (no dia 3), e no Comando de Sector do Uíge, na mesma cidade - a 21, 23, 25 e 27.
A alteração mais substantiva desse tempo foi a rotação de dois grupos de combate da 3ª. CCAV, a de Santa Isabel, para a Fazenda de Além-Lucunga. Tal aconteceu a 23 de Setembro (amanhã se completarão 37 anos).

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

1 011 - O 1º. cabo atirador Adão Morais

O período de Natal era especialmente sensível para os militares em campanha, saudosos da família, das mulheres e dos namorados, dos filhos, dos amigos, dos cheiros das suas aldeias e alcofas, de tudo o que, nos anos para trás, eram dias de festa e de partilha. Saudosos, até, do frio do inverno europeu, das rabanadas e das filhós, do bacalhau ou dos perús que saciavam apetites e faziam da mesa um altar de alegria e comunhão.
O tempo dos Cavaleiros do Norte já não foi desse, mas eram famosas e muito esperadas as mensagens de Natal, nas rádios e na televisão, com os insubstituíveis desejos de «um ano novo cheio de propriedades».
O tempo dos Cavaleiros do Norte foi de postais, com foto e dedicatória.
Hoje trago aqui, querendo homenagear e evocar, o cartão de Natal do 1º. cabo Adão, que fez jornada militar por Zalala e depois por Vista Alegre, Songo e Carmona, antes de chegar a Luanda, como atirador da 1ª. CCAV., a do capitão Castro Dias.
Homenager e evocar, por já não permanecer entre nós, ido a 7 de Agosto de 2009, já passaram 2 anos!
Adão Luís Correia Morais era natural de Fundões, freguesia da Ordem (Lousada). Foi canalizador da Câmara Municipal deste concelho e, em 2008, foi operado ao coração e recebeu implante de quatro by-passes. Dessa se livrou! O destino traiu-o, em 2009, quando lhe foi despistado um tumor na zona abdominal - a que foi tratado, mas ao qual não resistiu. Faleceu a 7 de Agosto de 2009 e deixou viúva (Maria Olívia Neto Morais), 3 filhos (2 rapazes, de 34 e 20 anos, e uma rapariga, de 29) e 3 netos. Assim aqui veio contar o Tomás.
Até qualquer dia...

terça-feira, 20 de setembro de 2011

1 010 - O 1º. cabo rádio-montador Rodolfo Tomás

Tomaz, Pais e Silva rádio-montadores da CCS, no jardim do Quitexe (1974)

 O Tomaz era homem de muitos ofícios, entre a arte de arranjar rádios, ou assistir aos projectores de cinema, ou carrear para o Quitexe o correio (das saudades) que nos chegava de Portugal.
«Militar muito disciplinado, correcto e inexcedível no zelo e eficiência», é assim que o louvor do comandante do batalhão o define.
Acrescenta-lhe que sendo «militar excepcionalmente educado e bom camarada», o 1º. cabo Tomaz «granjeou a estima dos seus superiores e camaradas», razão que, também este, levou a que fosse «digno de ser enaltecido, em público louvor».
Lembro-me bem do Tomás, do passo curto que o fazia passear nas ruas do Quitexe e, mais tarde, na parada de Carmona; a discrição, o trato delicado, o comportamento simples. E, uma ou outra vezes, lhe ouvi reacções respeitadoras, a um momento (ou outro), em que se lhe impusesse uma qualquer autoridade de circunstância.
Rádio-montador de responsabilidade técnica, dividiu-se por outras: foi servidor da secção de reabastecimentos, fez serviços de escala, empunhou a G3 quando necessário foi e também colaborou em serviços de interesse publico: o cinema e a estação de rádio civil, por exemplo. No Quitexe e em Carmona.
O louvor do batalhão tece elogio à competência do desempenho das suas funções e ao facto de «não se poupar a esforços, nem horários, par solucionar avarias de material».
O Tomaz faz pela vida em Lousada, onde mora, e é regular colaborador deste blogue. É com gosto que lhe ponho a «descoberto», e sublinho, o louvor à sua vida de Cavaleiro do Norte.

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

1 009 - Os milagres do dr. Leal....

A enfermaria militar do BCAV. 8423, no Quitexe (em 1974)



ANTÓNIO A. GUEDES
Texto

O soldado-condutor Palma, da 2ª.  Companhia do BCAV. 8423, sofreu, um dia, uma aparatosa queda, dela resultando ter deslocado um ombro, o que lhe causava muita dor. Um grande sofrimento.

A situação levou a que, de urgência e já de noite, viajássemos de Aldeia Viçosa para o Quitexe, a todo o gás e sem quaisquer medo, pelas curvas da estrada do café, para lá levarmos o acidentado - para ser visto pelo médico do batalhão - o capitão médico Leal.
Assim fizemos e, lá chegados, dirigimo-nos à enfermaria, onde, passado pouco tempo, chegou o dr. Leal. Perguntou o que se passava, por apalpação verificou se havia ou não osso fracturado e, mediante o diagnóstico feito, peremptoriamente determinou ao Palma que se deitasse de costas, no chão da enfermaria.
Ficámos a olhar, surpreendidos, mas o Palma contorcia-se com dores e o importante era que melhorasse. Assim, ajudámo-lo a estirar-se no chão e ficámos à espera de ver que tipo de cirurgia iria acontecer.
O dr. Leal, então, segurou-lhe a mão, levantou-lhe o braço, aplicou a sola da bota (ou sapato) contra a axila e, de seguida, puxou-lhe o braço.
Ficámos a olhar e, de repente, claríssimo como a água,  voltou tudo à posição inicial.
Terapia prática e eficaz.
Eh pá!!! Parecia um milagre!! Ou, dir-se-ia de outro modo, era bruxedo!!!
O Palma, como legítimo alentejano que era (e é, é de Vila Viçosa), não vai levar a mal que eu diga que ele berrou, berrou, berrou!!!! Berrou, berrou, é verdade, mas... curou!!! E bem curado!!!
- GUEDES. António Artur César Monteiro Guedes, furriel miiciano atirador de cavalaria, da 2ª. CCAV. do BCAV. 8423. Natural da Régua e residente em Foros de Salvaterra (Salvaterra de Magos). É aposentado da GNR, como sargento-mor. e trabalha numa empresa de segurança.
- PALMA. Joaquim José Batanete Palma, soldado condutor auto-rodas, da 2ª. CCAV. 8423. Residente em Vila Viçosa.  


domingo, 18 de setembro de 2011

1 008 - O 1º. Sargento Barata

1º. cabo Emanuel, 1º. sargento Barata e alferes Garcia (em cima), frente ao Gabinete de Operações do Quitexe (1974). 1º. sargento Barata, em foto recente (em baixo)


O 1º. sargento João Barata foi «militar digno e brioso, disciplinado e disciplinador consciente», como se lê no louvor do comandante do BCAV. 8423, sublinhando «o permanente exemplo com que dignificou a função militar», razão porque «os serviços que prestou à RMA são dignos do melhor realce».
O 1º. Barata, como nós o conhecíamos, trabalhava no Gabinete de Operações, directamente sob comando do capitão Falcão e, abaixo deste, pelo alferes Garcia - que era o comandante do PELREC e apoiava e substituía o oficial de operações, nos impedimentos deste.
«Sempre demonstrou - o 1º. sargento Barata - elevadas qualidade de trabalho, quer nos serviços a seu cargo, quer na orientação dos seus subordinados imediatos, conseguindo, deste modo, manter um verdadeiro espírito de equipa nesse pessoal, o que conduziu a ter o seu serviço sempre pronto e em tempo oportuno».
Regressado de Angola, a 8 de Setembro de 1975, foi colocado no Regimento de Lanceiros de Elvas (CICA 3), até à sua extinção. Passou pelo  Instituto Militar dos Pupilos do Exército (2 anos) e foi colocado em Estremoz (1 ano) e, logo depois, no Regimento de Lanceiros de Lisboa, onde era Comandante o Coronel Almeida Brito. Por lá esteve dois anos, antes de voltar a Estremoz (1 ano) e passar para o Regimento de Cavalaria de Santa Margarida (o ex-RC4), a unidade mobilizadora do BCAV. 8423 (2 anos)
Regressou a Estremoz onde, depois de todos estes anos de casa às costas, terminou a sua carreira militar no posto de Sargento Chefe.

Reside em Elvas e tem três filhos: um Sargento Chefe de Cavalaria, um Sargento Ajudante do Serviço Geral do Exército e um funcionário do Tribunal Judicial de Elvas.
- BARATA. João da Conceição Unas Barata, 1º. sargento de Cavalaria. Trabalhou no Gabinete de Operações do BCAV. 8423, no Quitexe e em Carmona (Uíge).
- GARCIA. António Manuel Garcia, alferes miliciano de Operações Especiais (Ranger´s). Natural de Pombal de Ansiães (Carrazeda de Ansiães). Faleceu a 2 de Novembro de 1979, vítima de acidente de viação, quando era agente da Polícia Judiciária, do Porto.
- FALCÃO. José Paulo Montenegro de Mendonça Falcão, capitão de cavalaria e oficial adjunto do comando do BCAV. 8423. É coronel na reforma e reside em Coimbra.
- EMANUEL. E,anue Miranda dos Santos, 1º. cabo escriturário, natural da Gafanha, de Ílhavo, (supostamente) emigrado nos Estados Unidos.

sábado, 17 de setembro de 2011

1 007 - O Encontro 2011 da CCS dos Cavaleiros do Norte



O encontro anual da CCS dos Cavaleiros do Norte deveria ter-se realizado em Maio, ou Setembro de 2011. A organização seria do (furriel) Monteiro e do (1º. cabo enfermeiro) Gomes. Assim foi decidido no Encontro de 2010, em Ferreira do Zêzere (ver AQUI).
Acontece que o tempo passou, passou, passou... e não surgiram novidades, apesar de insistentemente pedidas. Não fôra em Maio, em Setembro se concretizaria este reencontro de velhos amigos da jornada africana do 8423. Mas também não.
A data mais indicada teria sido 10 de Setembro, pois na antevéspera 36 anos se faziam da nossa chegada a Lisboa. Não foi! Aconteceu, no dia 8, foi o habitual almoço do Neto e do Viegas, ambos de Águeda e na Festa do Leitão (local). Assim ambos costumamos festejar a data. 
O Pinto e o Rodrigues, da 1ª. CCAV. (a de Zalala) juntaram-se, pela primeira vez, e de um contacto telefónico dessa manhãm (e da véspera), juntou-se o Monteiro, a quem «pedimos contas». Mais o Neto que eu, como sempre!!
Explicou o Monteiro que o ano não foi fácil para ele, e entre a «rajada» de palavras do Neto e um dedo apontado por mim, «jurou» que para ano é que é. Será, pois, segundo Monteiro, no mês de Maio de 2012. E, agora digo eu, a 26 - dia de vésperas da nossa partida para Angola (a 29 de Maio de 1974). Ou então, a 2 de Junho - os sábados que mais de aproximam desta memorável data.
Se o Monteiro e o Gomes se «baldarem», serão abatidos ao activo. Deus os livre!!!

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

1 006 - O dr. Leal..., médico e capitão do Quitexe


O dr. Leal, no Quitexe, de cigarro na boca (1974), com os alferes Garcia e Ribeiro (è esquerda) e tenente Luz (à direita). Em baixo, o consultório de Fafe (Setembro de 2011)




ANTÓNIO FONSECA
Texto

Já por diversas vezes aqui se escreveu sobre o dr. Leal, distinto médico que por terras do Quitexe, e outras, jornadeou com o 8423. E também com o 3879 e o 4211, que antecederam os Cavaleiros do Norte.
São muitas as histórias sobre os feitos, enquanto médico, do dr. Leal. Outros, talvez porque não chegaram a necessitar dos seus préstimos, realçam-lhe outras qualidades. Defeitos não lhe apontam, embora naturalmente os tenha, mas serão talvez tão inofensivos que não lhes salta à memória.
São muitos os episódios contados pelos ex-enfermeiros, ao tempo colaboradores do dr. Leal e que com ele trabalharam e conviveram durante cerca de um ano. O ex-furriel enfermeiro, desde há muitos anos seu colega de profissão, lembra, com nostalgia e muita saudade, as muitas horas vividas em trabalho e também em momentos lúdicos.
«Excelente médico e com uma capacidade de trabalho que nos impressionava. Muitas vezes nos serviu de motor em horas difíceis, sempre com um sorriso e uma disponibilidade exemplares. Gostava de rever esse homem… O dr. Leal… será vivo?!», comentava comigo o dr. Gouveia, com ar nostálgico e um acenar de cabeça, a deixar adivinhar o respeito que por ele nutre!
“Não só é vivo como, tanto quanto sei, goza de boa saúde e ainda dá consultas!”, informei-o eu, deixando-o um tanto perplexo com a saudável longevidade. Para que melhor nos situemos no tempo, na altura os meus 22 anos corresponderiam aos 45 do Dr. Leal, suponho eu!
Em périplo, por Alto Minho, resolvi dar um saltinho de Viana do Castelo a Fafe, e procurar o dr. Leal, na esperança de uma boa conversa e também de uma boa história para aqui postar. Iria também, porque não, agradecer-lhe os seus cuidados quando o paludismo me pôs mais para lá do que para cá!
Não tive a sorte que procurava e dei de caras com a porta fechada! Tive pena, muita pena, mas ficará para outra altura. Talvez até para breve!
Não conseguindo eu a “entrevista” nem a foto desejada, contentei-me em “trazer” a entrada do gabinete onde ainda dá consultas e, solidariamente, “teima” em isentar os economicamente mais frágeis!
«Excelente pessoa, afável… já não há como ele!», garantiam!
É assim o dr. Leal! Assim mo descreveram pessoas anónimas com quem encetei conversei, enquanto aguardava uma possível chegada a casa, do médico que Fafe bem conhece, respeita e admira! O mesmo homem que todos aprendemos a respeitar em terras Quitexanas. Bem haja, dr. Leal!
ANTÓNO CASAL DA FONSECA

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

1 005 - Um país novo e de si inimigo...

Os meus primeiros dias do Portugal europeu, chegado eu da ultramarina Angola que se preparava em parto para a independência, teve momentos de choque. E de surpresa! E de expectativa!!!
Tudo para mim era novo: o deslumbramento revolucionário, a capacidade reinvindicativa, as manifestações e os plenários, o azimute único para um caminho que eu desconhecia, umas coragens inflaccionadas que me arrefeciam a alma! E eu, por aí apanhado de surpresas, a querer entender as diferenças de um Portugal onde, nas ruas e nas praças, cantavam de raiva algumas G3 roubadas em quartéis, atirando sobre irmãos nossos, sangue nosso.
Eu chegava de Angola, que se violentava de Luanda para o norte - para o nosso Quitexe,a  nossa Carmona; de Luanda para o Cunene e para o Huambo, em guerra fraticida. De uma Angola em torrente abrupta de sangue, que sujava muitas mãos. Uma Angola que, irada ao rubro e violenta, atirava para Lisboa aviões de bojo grávido de gente mártir, que fugia, com uma mão à frente e outra atrás.
E que Portugal eu reencontrava?
Um Portugal diferente! Muito desigual, levedando esperanças de igualdade e liberdade.
Um Portugal já em V Governo, em prolongada e complexa crise de Verão Quente, que despertou fervores revolucionários e amordaçou muita gente - ameaçada com a grilheta das prisões. Otelo e o seu COPCOM a ameaçar, até que Vasco Gonçalves caiu, apesar da muralha de aço de que se rodeou e o segurou. Parecia-me, na minha inocência, que os políticos não eram mais que vendedores ambulantes de sonhos, mercadores de simpatia fácil e votos, exploradores da boa fé dos portugueses. Vinha de um sítio que entremeava esperança com a morte e chegava a outro, ao meu país, que parecia fazer-se de si inimigo.

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

1 004 - O último combatente, são e salvo e com o juízinho todo...


Viegas, Mosteias e Neto, últimos dias de Carmona (Agosto de 1975)

Os meados de Setembro de 1974, em termos pessoais, foram de visita a aqui e a ali, de cumprimentos e confraternizações com familiares e amigos. Afinal, no dia 9 desse mês chegara eu,o último combatente da aldeia na guerra ultramarina. São e salvo e com o juízinho todo!! E, compreendam, numa aldeia de pouco mais de 700 pessoas, uma chegada dessas era acontecimento festivo e de dar graças a Deus!!!
Não faltaram abraços e perguntas: como é que estás e como é que está Angola? Então, viste lá fulano e cicrano? Sabes se eles vem embora, ou se não? Aquilo lá está mau, não está?
Entre uns bons bacalhaus e saborosos rojões, uns tracanazes de broa (ai a broa da minha mãe, a broa da minha mãe!!!, quantas saudades e quantas fomes eu tinha dela!!!...), lá fui eu dando recado da carta angolana que trazia nas minhas memórias, não me dispensando de algum exagerozito, para dourar as glórias dos meus méritos militares! Daqueles de entrar para a lenda... 
Minha mãe, agora em vésperas de 91 anos mas ao tempo carregada do luto de meu pai e das dores de um filho na guerra, já não falando nos berbicachentos bicos de papagaio que tanto lhe «adormeciam» as cruzes, dispensou-me de exageros «inquisitoriais». Perguntou-me, tão só, se sempre era verdade que «lá na guerra» nos davam comprimidos para nos matar o medo.
Ó mãe!!!! Lá lhe contei que não, que nunca dera por isso, que se dizia sempre muita coisa da guerra, e, a garfar o escoado de couves com bacalhau, na velha cozinha do forno, expliquei-lhe que, sim, tomávamos comprimidos, sim...,mas para prevenir doenças. As doenças tropicais.
«Então é isso!...», concluiu ela, a pegar no copo da água-pé, para empurrar as batatas molhadas de bom azeite - o azeite das nossas oliveiras.
Claro que era!!! E para provar, fui buscar e mostrei-lhe os comprimidos e injecções que eu, bem aprudentado, trouxera na mala de guerra, para me defender desses males sanitários de África. Vim  a ter de, por volta de Janeiro/Fevereiro de 1976, usar umas injecções, justamente por causa de um paludismo chato que me interrompeu uma tardada de domingo.  

terça-feira, 13 de setembro de 2011

1 003 - Os dias de Luanda e os Cruz(es) na praia...

O capitão Cruz e o alferes Cruz, «cruzados» na praia da Barracuda, em Luanda (1975). As esposas atrás, com o bebé a do capitão, ao meio a do alferes

 
Os dias de Agosto de 1975, por Luanda, foram como aqui tenho contado: os servicinhos da ordem, no Grafanil (para quem os fazia!...), e descobrir e viver a cidade e... arredores!! Por exemplo, as praias da ilha, os encantos do Mussúlo, as vistas sobre a cidade (lá do alto da fortaleza), as noites e os dias de uma urbe  fantástica, que fervilhava todas as horas do dia e nos dava o que as nossas juvenis apetências mais desejavam!
E pôr os medos da guerra atrás da porta!
Isto para os solteirinhos da.. silva, que se faziam corredores das noites de cio e dos neons, das bebidas brancas, da boa cerveja e dos manjares trincados com a gula de que ama a vida e não tem colesterois, ou ácidos úricos!..., a limitarem os desejos da carne.
Mas havia quem por lá andasse casado de amores e família. Era o caso do alferes Cruz, o homem das mecânicas, ido das berças de Santo Tirss para os calores de África. Com a dra. Margarida, a sua mais que tudo!!!! E o Ricardo, que nasceu desse amor que perdura até hoje.
Vem ele, aqui ao blogue, lembrar-nos Agosto de 1975, quando por lá se pôs de férias, para aligeirar a vida. «Estes dias permitem-nos recarregar as nossas energias,bastando para isso sair da rotina do dia a dia, quer em casa quer fora dela», conta o alferes Cruz, de nome António Albano.
Assim e agora, 36 anos depois!!!..., lembrou-se o nosso oficial miliciano das mecânicas de «partilhar esta fotografia, de um magnífico dia de férias em 1975, na praia da Barracuda, em Luanda». 
Esta partilhada, meu alferes!
A foto veio adoçar-nos a vida de hoje, fazendo-nos esquecer a crise, os impostos, a política que nos azucrina a disposição, os sócrates e os coelhos deste país, os portas, os louçãs e os jerónimos que nos enfastiam, nos incomodam, nos tornam mais amargos.


- NOTA. O engº. (alferes) António Albano Araújo de Sousa Cruz, em email para o blogue, envia «saudações para os Cavaleiros do Norte, com desejo que todos tenham tido (ou ainda venham a ter) as melhores férias». E um grande abraço para o Capitão Cruz.
- CRUZ. José Manuel Romeira Pinto da Cruz, capitão miliciano e comandante da 2ª. Companhia 8423, a de Aldeia Viçosa. É proefssor e reside em Esmoriz (Ovar). 

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

1 002 - Os Cavaleiros do Norte e a disciplina militar

Os Cavaleiros do Norte no Encontro de Ferreira do Zêzere, a 29 de Maio de 2010

Todos nós quisemos que o batalhão fosse um todo». São palavras do tenente-coronel Almeida e Brito, comandante do BCAV. 8423, em Setembro de 1975, quando se faziam vésperas e malas para regressar a Portugal e ele concluía o Livro da Unidade.

Os Cavaleiros do Norte, pode dizer-se, bem se podem identificar, sem falsas modéstias ou quaisquer constrangimentos, como servidores da Pátria onde nasceram. Servidores, sem nada exigirem e sem nada pedirem - para além de «regressarem sãos e salvos», como todos desejávamos, como desejavam as nossas famílias e amigos.
Almeida e Brito, no remate final da nossa comissão, escrevia que «todos nós fizemos por honrar o lema da nossa unidade mobilizadora e todos nos praticamos o nosso querer e saber vencer».
Escreveu bem!
E disse bem!
Assim foi, ainda que uma outra excepção confirmasse a regra.
A comissão de 15 meses regista apenas 7 punições, entre 87 oficiais e sargentos. Menos ligeiras, duas. As de dois amigos que, por razões disciplinares, tiveram de abandonar o batalhão - um deles (furriel) lamentavelmente já falecido. Um outro (alferes miliciano), com quem falei telefonicamente há alguns meses - não se lhe notando qualquer mágoa pelo que a vida militar lhe apôs na caderneta. Mais difícil lhe foi, depois, a vida civil - que o levou aos tribunais e coisas mais.
Lê os Cavaleiros do Norte, eu sei..., e aqui o saúdo. O saúdo, recordando-lhe uma célebre noite de serviço, quando o abandonou (para se enlevar em outros pousos e compromissos) e lhe foi «escondida» a falta disciplinar. Não resistiria a outros e seguintes encantos das noites de África e abandonou o BCAV. 8423 em Março de 1975, por razões disciplinares, já nos jornadeávamos por Carmona, mas ele com pecado do Quitexe.
Ficou-lhe o gosto pelos Cavaleiros do Norte! E a paixão!
- NOMES. Os nomes dos personagens são intencionalmente omitidos.

domingo, 11 de setembro de 2011

1 001 - Dever cumprido e saudade dos que partiram

CCS dos Cavaleiros do Norte no Encontro de Setembro de 2009 (Águeda)


Quem foi Cavaleiro do Norte e em Angola, vestiu a farda de Portugal, para a missão que recebeu e cumpriu, só pode sentir-se honrado e orgulhoso. Não fomos dos que fugiram e agora são heróis, mas dos que, sem recuar a desafios, medos e perigos, deram o corpo e a alma pela defesa de um projecto que afirmou a Nação Portuguesa. E nos fez mais homens, mais maduros e solidários, mais portugueses.
A nossa consciência é, obviamente, muito para além da de dever cumprido. «O dever que nos solicitaram e que nem sempre foi fácil de cumprir», como leio no Livro da Unidade. Assim foi.
Estes já tantos anos passados, que nos trouxeram à (provecta!) idade quase sexagenária - eu, querendo fazer graça, costumo dizer se-xI-ge-ná ri o!!! -, são tempo mais que suficiente para a fria e desapaixonada leitura do que foi a nossa jornada angolana. E nunca ouvi dúvidas de alguém, do colectivo que faz os Cavaleiros do Norte de hoje: todos sentem a alegria e a honra, o orgulho, de terem feito parte de um tempo único das histórias de Portugal e de Angola. Único e irrepetível! Valeu a pena!
O Livro da Unidade, reflectindo em Setembro de 1975, sobre a missão do BCAV. 8423, afirma que existe «a certeza do dever cumprido».
Não tenho dúvidas.
Na verdade, entre os momentos de euforia e de glória, de lenda!, e outros menos bons, quiçá vésperas de tragédias, há um espaço e um fôlego que nos fez maiores e actores de um momento que todo o mundo livre viu. E aplaudiu! Aplaudiu o «parto» da nova nação e o desprendimento da nação-mãe e irmã e dos seus homens (nós e muitos outros!), que deixaram famílias, namoradas, mulheres, filhos e amigos e em Angola fizeram o casamento da liberdade com a independência.
Este momento, 36 anos depois, é de alegria. E de saudade pelos companheiros que, nesta caminhada que nos traz já desde 1975, já nos deixaram e não podem comungar o nosso abraço. Prestamos-lhe a nossa continência!

sábado, 10 de setembro de 2011

O 1000º. post dos Cavaleiros do Norte

O blogue Cavaleiros do Norte chega hoje ao 1000º. post!
O milésimo!!! Mil vezes que inspiraram falar de um período muito especial e intenso das nossas vidas!
Ninguém tal diria e muito menos eu, a 9 de Abril de 2009, quando me meti nesta «brincadeira» de contar histórias e lembrar pessoas da nossa jornada africana, «brincadeira» que ficou «obrigação» diária, quase um dever profissional, um imperativo institucional, um objectivo levedado pelos permanentes estímulos que foram chegando.
Talvez os amigos que por aqui passam, lendo e recordando passagens da nossa jornada africana de Angola, não façam ideia, nem a mínima, da investigação, trabalho, disciplina e concentração que obriga esta tarefa de aqui, diariamente, fazer memória dos nossos tempos de militares que, ao serviço de Portugal e por uma causa boa, um dia partimos para aquela (ao tempo) colónia portuguesa - em vésperas de independência. De onde regressámos há 36 anos - que se passaram anteontem, 8 de Setembro de 2011.
O correio e registos pessoais do tempo, a leitura de alguma imprensa, o meu álbum fotográfico e as centenas de telefonemas e emails feitos e recebidos têm sido preciosas ajudas para a tarefa. Também, e aqui a sublinho, a colaboração de alguns companheiros de então, cada qual à sua dimensão: o tenente Luz, os alferes Almeida, Ribeiro e Cruz ,os furriéis Neto (que me lembra momentos de lá), Pires, Machado, Monteiro e Lopes e os 1ºs. cabos Tomás e Coelho (Buraquinho) - todos da CCS.  O furriéis Rodrigues e Pinto (da 1ª. CCAV.), o alferes Machado (da 2ª.). o capitão Fernandes, o furriel Belo e o 1º. cabo Deus (da 3ª.) - com textos e fotos. Talvez outros Cavaleiros do Norte, que agora não lembrarei. E outros quitexanos que nos antecederam: Octávio Botelho, Luís Patriarca, César e, muito principalmente, o António Casal Fonseca. Não esqueço, o (agora) 1º. sargento Louro (filho do malogrado 1º. cabo Louro). O CIOE, de Lamego! E tanta gente que neste tempo fui consultando: companheiros de Angola, Juntas de Freguesia,  paróquias e associações de localidades natais de tantos dos que foram nossos irmãos na jornada angolana.
Meus amigos: acho que valeu a pena começar! E chegar ao 1000º. post!!!
Um abraço para todos.
C. VIEGAS
(ex-furriel miliciano)

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Os presos que foram soltos no aeroporto de Lisboa

Viegas e Neto, no jardim do Quitexe (1974)

Os Cavaleiros do Norte (do Quitexe) chegaram a Lisboa ao fim da tarde de 8 de Setembro de 1975, ontem se completaram 36 anos - regados de bom espumante e boas lascas de leitão à Bairrada. Pois não!!! E desfiámos muitas memórias. Uma delas, vejam lá, a de termos abandonado três presos, no aeroporto de Lisboa. 
A história vinha de horas antes, ainda em Luanda, onde a PM nos «entregou» um preso, militar, a cada um - a  mim, ao Neto e ao Mosteias. Algemados ao nosso braço esquerdo, cada um. Presos que tínhamos de, em Lisboa, entregar à PM - que, para o necessário efeito, o comandante do avião avisaria, uma hora antes da aterragem.
O «meu» preso, já na casa dos dos 27/28 anos, alentejano de não sei onde e cara de rufia, tinha estado detido na cadeia do deserto de Moçâmedes - que, lá por Angola e entre a tropa, era conhecida como o Tarrafal. Já de isto se imagina que não seria homem de ir à missa ao domingo. Vim a saber, metendo conversa com ele, já no avião, que tinha assassinado dois militares, graduados! A tiro! E isto dito da boca dele, com tal tranquilidade e crueza, fez-me crer, sem falta de convicção e sem qualquer dúvida, da brutalidade da rês.
Mas vamos à história.
Chegámos a Lisboa, desembarcámos, a malta pôs-se toda a dar o fora, correndo para todo o tipo de transportes, para casa, e nós os três, ali pespegados, de homens algemados aos nossos braços e nada de aparecer a PM. Aquilo era uma angústia.
Resolveu-se o Mosteias, sempre mais ágil que eu, e também mais que o Neto, para tudo o que fosse «desenrascar».
«Sabes onde fica isto?...», perguntou ele, ao preso dele.
«Isto» era o destino, o quartel indicado na guia de marcha do preso. Pois, que sabia, sim senhor - assim lhe respondeu o detido, ao Mosteias.
O Mosteias, do alto da sua envergadura física e mortinho, pela certa, por ir abraçar a mulher e o filho (que não via há um ano), olhou para nós, olhou para ele, pegou na chave, abriu a algema e mandou embora o homem, o preso dele!
«Vai-te embora, desaparece...».
E deu o homem de frosques, com a pressa toda que as pernas lhe deram.
Eu e o Neto, espantados, banzados..., olhámos um para o outro, para o Mosteias a dar-nos um abraço e a pegar nas malas, para os (nossos) presos e, vai daí, desenchavámos as algemas e mandámo-los embora. E eles foram! Até hoje

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Setembro, dia 8, anos de 1975 e de 2011...

Monteiro, Pinto, Neto, Viegas e Rodrigues, 5 Cavaleiros do Norte em Águeda, 36 anos depois, em 2011. Aos 59!!!


A 8 de Setembro de 1975, pegámos malas no Grafanil e fomos até ao aeroporto de Luanda, passando pelo terminal da base aérea. Por volta das 10 horas da manhã (ou pouco mais!!...), já no avião dos TAM, demos a última olhadela sobre a capital angolana, a aeronave fez o azimute para a Europa e lá viemos nós até Lisboa, onde chegámos ao fim da tarde. Ufff!!!!, até qu´enfim!!!
A 8 de Setembro de 2011, cinco Cavaleiros do Norte juntaram-se em Águeda, para saborear o leitão à Bairrada que por aqui se festeja (e come!!!) e, horas a fio, para falar de Angola, do Quitexe, de Zalala, de Aldeia Viçosa, de Santa Isabel, do Songo, de Carmona e de Luanda. E tantas histórias se contaram, quantas memórias foram avivadas, dos mil e um incidentes que fizeram os nossos 15 meses angolanos!!! Não houve espaço para outra coisa, com o espumante a regar a nossa sede física e a fazer desfiar memórias e o prazer de revivermos alguns dos anos melhores das nossas vidas.
O Pinto, mais irreverente (ao tempo e hoje), não se cansou de memoriar as suas aventuras: as de moto e as de carro, desenfiado de Zalala, de Vista Alegre ou do Songo, para Carmona.
O Rodrigues lembrou o "embarca-desembarca" que atrasou o regresso das companhias operacionais a Lisboa por duas semanas. Até que, ao comandante Almeida e Brito, bateram o pé, ameaçando tomar um avião de assalto. Acho que eram homens para isso!
O Monteiro, a contar a (quase) trágica viagem ao Negage, onde ia levar um capitão e um tenente do MFA. Viagem interrompida por acidente que levou os oficiais para o hospital. 
O Neto, a bater-se de igual para o comandante Almeida e Brito e a invocar-lhe o seu curso de «ranger´s», a propósito de uma norma regulamentar sobre fardamento. E as ironias relacionais com o tenente Mora. Dele e de todos.
Eu, a ouvir e a também não deixar por boca alheia o lembrar das nossas lendas - pessoais e colectivas.
Assim festejámos os 36 anos do nosso regresso de Angola! 

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

O meu (antepún)último dia de Angola - 2

Igreja da Sagrada Família e maternidade de Luanda (à direita, casa de branco. Viegas e Resende na Ilha de Luanda (em baixo)


A quente tarde de 6 de Setembro de 1975 finou-se num instante, entre as muitas portas batidas nos muitos adros de Luanda: ora a despedir-me deste ora daquele, naquele adeus que se diz a correr como se fosse apenas até amanhã. E nós não sabíamos, ninguém sabia!!!, que amanhã teriam os que ficavam naquela balbúrdia de cheiro a pólvora que microclimatava Luanda.
O Neto, com outras vidas para o resto daquela tarde, largou-me na avenida D. João II (onde ficava o escritório da FRAL), para eu ir à messe de sargentos, nos Combatentes - onde me ia encontrar com o Albano Resende. Foi no Toyota dele, de azul claro, que viajei o resto da tarde pelo infinitos da enorme metrópole luandina, a distribuir os últimos abraços, a debitar os últimos «segredos» e conselhos, a deixar encher o bornal de mensagens para os familiares (daqui) daqueles (civis) que por lá ficavam a gritar contra o destino que lhe levedava constrangimentos e raivas. E ódios! E desejos de vingança! Porque, pelo menos aparentemente, a tropa portuguesa não protegia o que e quem devia, deixando fragilizar a segurança do património humano e material dos (futuros) retornados.
«Isto ... está a cheirar a esturro!!!..», disse-me o Albano, que, caustelosamente e com a família, já tinha mudado de um dos bairros novos da saída da cidade para Catete, perto do Jumbo!, para um prédio de apartamentos no centro de Luanda. Mais seguro, menos perigoso, na zona da praça de touros.
O Toyota comeu qulómetros pela cidade e fomos à Sagrada Família, perto do Hospital Militar, da maternidade e da Emissora Oicial de Angola - onde, sem resultado, procurei respostas à procura de mensagens dos amigos e familiares de Gabela e Nova Lisboa.

O reencontro com o Neto foi na hora de jantar, antes de voltarmos a Viana. Ainda lá iríamos dormir uma noite e, depois, dar a chave ao Gilberto. Foi quando, no regresso, o Neto me falou no que a família dele lá ia deixar: a FRAL Angola, fábrica do Grupo Neto que já laborava na Zona Industrial de Viana. Ainda passámos por lá, no pequeno Daihatsu, antes de voltarmos à última noite da casa de Viana! Era guardada por um angolano!
- FRAL. Ferragens Reunidas de Águeda, Limitada. A empresa industrial do pai de Francisco Neto. Instalava uma fábica em Viana e tinha escritório na avenida D. João II.

terça-feira, 6 de setembro de 2011

O meu (antepen)último dia de Angola - 1

A baía de Luanda. Cúpula do Banco de Angola, à esquerda, e o porto, lá ao fundo (foto de Jorge Oliveira). Em baixo, entrada para a ilha

Viana, Angola, 6 de Setembro de 1975!
O calor de África abriu-se nas janelas gradeadas da casa de Viana, ainda não são 6 horas da manhã de domingo. Já ando a pé, como sempre mais madrugador que todos! Espreguiço-me, desfaço a minha antepenúltima barba da jornada que me levou por lá e saio, em passeio pelo descampado em frente. Dou uma volta, menos de uma hora, e volto a casa, onde encontro o Neto e o Monteiro de pé - este já aparelhado para a boleia do Grafanil, onde irá fazer algumas horas de secretaria.
É o nosso penútimo dia de Angola!
Vamos sair do campo militar na madrugada de terça-feira seguinte - a dia 8. Para o aeroporto de Luanda. Depois, para Lisboa!
As malas fecham-se, depois de arrumadas os últimos pertences, ficando de fora os de higiene pessoal: a lâmina de barbear, o creme, a escova dos dentes e o resto de uma lata de graxa líquida, até uma água de colónia que alguém me dera e eu nunca usei! Levarei isso tudo, depois, no velho saco da TAP, que ainda ali guardo no sotão.
As garrafas de wiskye, religiosamente guardadas e escondidas da nossa sede - como que delas fazendo espólio de guerra!!! -, estão arrumadas numa mala mais forte. Não vão elas partir-se, nas andanças e andarilhanças de aeroportos e bojo dos aviões. Num instante, o pequeno Daihatsu da FRAL, está cheio. Com as minhas malas, as do Neto, as do Monteiro. E aí vamos nós para o Grafanil. Lá as deixámos e seguimos para Luanda, para alguns dos últimos adeus ao chão que nos fez felizes e sofridos, homens de fome pelos prazeres da vida e solidários com quem por lá, mais próximo de nós, sentia das dores das dúvidas do futuro.
As malas lá ficaram, num espaço do batalhão de Intendência, à guarda do fiel Almeida, do generoso Leal, dos sempre voluntários Marcos, António e  Silvestre. O que será feito do Ezequiel Silvestre?
Já está próxima a hora do almoço e o pequeno  Daihatsu «voa» pela estrada de Catete. «Acabou, pá... Acaaaaaaaaaaaabou!!!....», cantarolou, ou gritou???!!!!, o Francisco Neto, de pé pesado no acelerador. 
Peço-lhe para parar no cemitério e vou pela última vez, naquele primeiro domingo de Setembro de 1975, visitar a campa do Zé da Rita, no cemitério de Catete! Seguimos para a baixa e almoçámos. Por muitos instantes, ficámos de olhos na baía, espairecendo o espírito e nela lavando a alma. Já tínhamos saudades daquela terra onde semeámos e colhemos sonhos, onde nos fizemos mais homens, mais companheiros e mais solidários. Onde amadurecemos ideias e aprendemos a amar a terra de Angola.
«Vamos à ilha?!...».
Fomos e vimos a cidade, do outro lado. Demos a volta e fomos para outros algures da cidade. A deixar «morrer» as últimas horas da nossa jornada africana.

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Os dias de véspera de regressar a Portugal...

Gabela, centro da cidade, com a igreja em primeiro pleno. Mário Neves morava ali ao lado esquerdo

 
A 1 de Setembro de 1975 escrevia eu, em carta a minha mãe: «Isto, por aqui, não anda nada bom. Em Luanda, ou mais propriamente no Caxito, tem havido guerra da forte, entre MPLA e FNLA. Para o sul, então, em sido do piorio». Para o sul, na cidade de Gagela, estava parte da nossa família: o Mário Neves e o Clemente Pinheiro, com as respectivas famílias. E por lá estava, também, outra família conterrânea, a de Anaceto Melo. E de lá tinha saído, já, a de Rafael Polido e Cecíla, para Nova Lisboa.
Eu tinha estado na Gabela em Setembro de 1974 e Abril de 1975, recebido como príncipe, pelos meus familiares. E a preocupação, por eles, crescia todos os dias. Medrava, medrava, medrava!!!... - sem por eles nada poder fazer. Os contactos telefónicos eram dificílimos, se não impossíveis. Nunca consegui, de resto, chegar à fala com eles, nem mesmo depois dos apelos lançados na Emissora Oficial de Angola.
A epístola a minha mãe dava-lhe, porém, conta que eu, por Luanda, já nem ia ao quartel desde 6ª.-feira (28 de Agosto). «Isto quer dizer - explicava-lhe eu - que a guerra não tem sido connosco», referindo-me ao meu batalhão e, claro, a mim próprio. Assim procurava eu descansar-lhe as preocupações de mãe. Mãe recentemente viúva e com um filho na guerra. 
Não lhe furtando verdades, informava-a, porém, que «houve macas fortes na Gabela» - a cidade dos nossos familiares - e dava-lhe conta de que «assim que souber» lhe diria quando voltava. Eu j sabia, é verdade, mas queria chegar de surpresa. Para mão lhe alimentar ansiedades. Ou alimentar expectativas. E de surpresa lhe cheguei, às primeiras horas de 9 de Setembro de 1975.

domingo, 4 de setembro de 2011

Tempo de sofrer e de morrer, em Angola...

Bichas para a compra de bilhetes da TAP (em cima) e entrada do Campo Militar do Grafanil, em 1975 (foto de Jorge Oliveira) 

Ainda em (finais de) Agosto de 1975, já em tempo de corte dos dias do calendário para o nosso regresso, recebi  jornal de Águeda - onde me surpreendi a ler declarações do general Silva Cardoso, alto-comissário de Angola até dias antes, em Lisboa: «Porque já não acredito nos homens, principalmente nos políticos, aqui vim. Estou cansado da mentira, das falsas promessas, das atitudes de fachada. Venho cansado da miséria, de ver miséria, de ver ódio, de ver desespero. Venho cansado do egoísmo, da crueldade e da ambição desmedida». Assim mesmo, sem tirar nem pôr. Cruamente.
Não fugia à verdade, o general. Era isso mesmo que nós víamos por Luanda. Com outros olhos, quiçá menos responsáveis. Talvez menos sensíveis. Mas que viam o povo anónimo a sofrer e a morrer.
A amargura do genral Silva Cardoso foi mais longe, dirigindo-se aos «milhares e milhares de portugueses europeus brancos, escorraçados daquela terra, terra que já consideravam como sua Pátria». Portugueses que, frisava o general (ex-alto comissário), «perdendo tudo, deixando tudo, tiveram de se refugiar em Portugal».
Por estes dias e até Novembro de 1975, decorria já a ponte aérea que de Angola trouxe centenas de milhares de pessoas. E o que faziam os  Cavaleiros do Norte? Cumpriam as tarefas da guarnição, no Campo Militar do Grafanil e «laureavam o queijo pela cidade», a contar os dias. Com os medos e as precauções de ordem. Até 8 de Setembro e com um e outros incidentes pelo meio. 

sábado, 3 de setembro de 2011

O Garcia e o PELREC à procura dos Martins de Carrazeda

Viegas, Marcos, Pinto, Caixarias e Garcia (em cima), Leal, Moreira (TRMs?), Hipólito, Aurélio (Barbeiro), Madaleno e Neto, membros do PELREC

Trago aqui hoje uma parte do PELREC, em foto, para ilustrar uma história destes dias de Setembro de 1975, os nossos últimos de Luanda e de Angola.Um momento que tem a ver com o nosso saudoso (alferes) Garcia.
Já abundantemente por aqui foi falado sobre os dramas pessoais e familiares da população civil, inquieta e insegura com a situação que lhe pereclitava a vida, ante os permanentes conflitos que por lá se viviam e, nalguns casos, se sentiam em carne viva. E de eu mesmo, o mais que pude e soube, por Luanda ter procurado familiares, amigos e conterrâneos de quem se tinha perdido o rasto e temia pela vida. Não fui só eu a ter esse tipo de problemas e preocupações. Foi muita gente.
No Grafanil, alguém nos deu nota (a mim e ao Neto) da urgência do (alferes) Garcia em falar connosco. Falámos. O problema estava em ir localizar uns conterrâneos dele, de Carrazeda de Ansiães, que moravam na Vila Alice, bairro chic de Luanda, e onde tinham acontecido graves conflitos em finais de Julho.
Então, um jeep das Forças Armadas, com um sargento e condutor, foi interceptado e mandado parar por uma patrulha do MPLA. Identificados e autorizados a prosseguir, o sargento foi alvejado pelas costas logo que a viatura se pôs em marcha, tendo ficado gravemente ferido. O que motivou enérgica reacção do então alto-comissário, general Silva Cardoso. Viria a demitir-se.
Poupando a narrativa, o objectivo do (alferes) Garcia era ir descobrir a família Martins, que por lá morava e onde tinha lojas de moda (se me lembro bem). Conterrâneos dele, eram, não sei se parentes. Estão mortos, estão vivos, como é que estão?  Bem se pode imaginar a angústia da dúvida sobre o destino de amigos.
Queria saber deles, com a mesma dor de alma e nó na garganta de muitos de nós, pelas mesmas razões! Juntaram-se uns quantos «pelrec´s» e lá fomos, fortemente armados e em viatura militar, de olhos bem abertos, com todas as mobilidades e seguranças de quem sabe que está em ambiente de hostilidade e de guerra.
Achámos os Martins, para felicidade do Garcia! Que se ria rasgadamente, de alegria e de olhos molhados de felicidade. 
Mal sabia eu (só soube muito mais tarde e em Portugal) é que um deles era casado com uma aguedense e em Águeda se viria a fixar, depois da descolonização. É o Martins da Xitaca!
- PELREC. Pelotão de Reconhecimento, Serviço e Informação, atiradores. Era comandado pelo alferes Garcia.