sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Os presos que foram soltos no aeroporto de Lisboa

Viegas e Neto, no jardim do Quitexe (1974)

Os Cavaleiros do Norte (do Quitexe) chegaram a Lisboa ao fim da tarde de 8 de Setembro de 1975, ontem se completaram 36 anos - regados de bom espumante e boas lascas de leitão à Bairrada. Pois não!!! E desfiámos muitas memórias. Uma delas, vejam lá, a de termos abandonado três presos, no aeroporto de Lisboa. 
A história vinha de horas antes, ainda em Luanda, onde a PM nos «entregou» um preso, militar, a cada um - a  mim, ao Neto e ao Mosteias. Algemados ao nosso braço esquerdo, cada um. Presos que tínhamos de, em Lisboa, entregar à PM - que, para o necessário efeito, o comandante do avião avisaria, uma hora antes da aterragem.
O «meu» preso, já na casa dos dos 27/28 anos, alentejano de não sei onde e cara de rufia, tinha estado detido na cadeia do deserto de Moçâmedes - que, lá por Angola e entre a tropa, era conhecida como o Tarrafal. Já de isto se imagina que não seria homem de ir à missa ao domingo. Vim a saber, metendo conversa com ele, já no avião, que tinha assassinado dois militares, graduados! A tiro! E isto dito da boca dele, com tal tranquilidade e crueza, fez-me crer, sem falta de convicção e sem qualquer dúvida, da brutalidade da rês.
Mas vamos à história.
Chegámos a Lisboa, desembarcámos, a malta pôs-se toda a dar o fora, correndo para todo o tipo de transportes, para casa, e nós os três, ali pespegados, de homens algemados aos nossos braços e nada de aparecer a PM. Aquilo era uma angústia.
Resolveu-se o Mosteias, sempre mais ágil que eu, e também mais que o Neto, para tudo o que fosse «desenrascar».
«Sabes onde fica isto?...», perguntou ele, ao preso dele.
«Isto» era o destino, o quartel indicado na guia de marcha do preso. Pois, que sabia, sim senhor - assim lhe respondeu o detido, ao Mosteias.
O Mosteias, do alto da sua envergadura física e mortinho, pela certa, por ir abraçar a mulher e o filho (que não via há um ano), olhou para nós, olhou para ele, pegou na chave, abriu a algema e mandou embora o homem, o preso dele!
«Vai-te embora, desaparece...».
E deu o homem de frosques, com a pressa toda que as pernas lhe deram.
Eu e o Neto, espantados, banzados..., olhámos um para o outro, para o Mosteias a dar-nos um abraço e a pegar nas malas, para os (nossos) presos e, vai daí, desenchavámos as algemas e mandámo-los embora. E eles foram! Até hoje

1 comentário:

francisconeto disse...

Nesta epoca era mesmo lindo.