sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Cartas de filho para mãe, a falar de amigos...

Estação dos CTT de Viana (2005), Rafael, Cecília e Viegas (a 14 de Abril de 1975), na Barragem do Quando, no Huambo

Acabo de reler uma carta minha, de 28 de Agosto de 1975, dando notícias de Luanda para minha mãe, longe ela de saber que a sua cria mais nova (eu mesmo) estava a dias de lhe chegar casa, ido da guerra.
Dava-lhe conta das minhas buscas, em Luanda, de conterrâneos nossos: a Cecília e o Rafael (em Nova Lisboa), o Mário e a Benedita, o Clemente e a mulher - estes em Luanda. Gente por quem ela e perguntara, em correio do dia 21.
Tenho esquecido este casal - o Clemente e mulher -  que me recebeu principescamente na Gabela, em Setembro de 1974, quando por lá viandei em férias. Pelos finais de Agosto de 1975, procurava eu um cunhado dele (irmão da mulher), de Viana do Castelo - que eu sabia viver perto do Benfica de Luanda, justamente para saber do seu paradeiro.
«Sei mais ou menos onde é e vou lá, a ver se me consigo recordar da casa. Depois digo alguma coisa», reportava eu, a minha mãe.
E dava-lhe notícias: a Fátima do Zé Bernardino já foi para Lisboa, a Benedita vai de avião no dia 30 e o Mário fica cá. De Rafael e Cecília, dava-lhe conta que não os conseguia localizar e que os procurava num programa da Emissora Oficial de Angola.
«Ainda ontem ouvi eu próprio esses apelos, duas vezes, uma às duas da tarde e outra às nove da noite», epistolava eu, na carta para a minha mãe. 
A Emissora Oficial de Angola, ao tempo, tinha um programa especialmente feito para lançar apelos, pedindo às pessoas para se localizarem. «É mais ou menos a dizer que preocupado com a falta de notícias deles, que agradeço que entrem em contaco comigo, pelo telefone 210 de Viana, ou então pela Emissora Oficial», expliquei na epístola enviada à autora dos meus dias.
O 210 era o telefone da Estação dos CTT de Viana, onde pessoa amiga se disponilizou para servir de eventual intermediária. Infelizmente, nunca fui contactado. Cheguei à minha aldeia a 9 de Setembro e eles tinham chegado uns dias antes, via Gabão - fugidos de Nova Lisboa por via aérea.

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