segunda-feira, 31 de outubro de 2011

1 051 - A despedida do Neto, para férias em Portugal


Viegas e Neto no jardim público do Quitexe, em 1974. Em baixo,
a ordem de serviço com a «marcha» para férias

A 31 de Outubtro de 1974, por esta hora do Quitexe, já o Chico Neto tinha as malas feitas, para o voo intercontinental que ao outro o traria de férias e ao afago e aos abraços da família, dos amigos e a mais qualquer coisa da Ni. «Eh pá, traz lá os rojões e os chouriços da minha mãe», era a minha recomendação repetida, não fosse ele esquecer-se de tal missão e, depois, ficar eu por lá a xuxar no dedo e amuado, pela ausência dos sabores maternos. E já que não podia ser um escoadinho, ou um bacalhau com couves ou grelos, que de cá fossem umas latinhas bem fechadas e cheias dos ditos preparos de porco.
As nossas mães não se conheciam, mas com os filhos a peregrinar na guerra d´Angola, passaram a encontrar-se na praça de Águeda, onde a minha ia vender as suas hortaliças e animais de capoeira (para acautelar a economia doméstica) e a dele fazer compras.
A janta de há 37 anos, inevitavelmente, foi no Pacheco, mesmo em frente à casa da avenida que nos servia de ninho, e onde uma senhora de cor (suponho que tendo alguma coisa a ver com a propriedade do dito) preparava manjares de abrir a boca de apetites.
Lá veio o pratinho de camarão, mais outro e se calhar outro, com umas canecas de cerveja, enquanto o bife com ovo a cavalo se condimentava na cozinha. Até parece que lhe estou a tomar o sabor. Tenho a ideia de que ainda fomos ao Rocha e chegámo-nos ao bar de sargentos, onde o Neto foi amaciar a despedida com uns Porto´s e uns brandys Vital ou Macieira. E por láestava o Rocha, que com ele vionha até Lisboa!
Faz hoje 37 anos!!!
- ORDEM. Ordem de serviço
com a «saída» do Neto e
do Rocha, de férias. Clicar na
imagem, para a ampliar

domingo, 30 de outubro de 2011

1 050 - A contra-subversão e os cavaleiros de férias

Administração Civil do Quitexe, nos anos 70. Ontem, foto de 2011


A Comissão Local de Contra-Subversão (CLCS) do Quietexe reuniu a 30 de Outubro de 1974, uma 4ª.-feira - repetindo encontros do mesmo mês (a 3 e 16).
As CLCS actuavam junto das populações, através de acção psicológica e visando influenciar o seu comportamento, no sentido de uma maior fixação no território e de negar o apoio a elementos infiltrados do exterior.O topo da estrutura era o Conselho Provincial de Contra‑Subversão - composto pelo Governador‑Geral, Comandante‑Chefe, Secretário Geral, Secretários Provinciais, Comandantes dos três Ramos das Forças Armadas - e  apoiado por um Gabinete de Estudos e Coordenação da Contra‑Subversão (chefiado pelo Chefe de Estado‑Maior do Comando‑Chefe).
A nível dos distritos, instituíram‑se os Conselhos Distritais de Contra‑Subversão (com o Governador, Comandante de Sector, Intendente, Chefe do Estado‑Maior do Sector) e nos concelhos, circunscrições administrativas e postos administrativos organizaram‑se Comissões Locais de Contra‑Subversão (integrando a autoridade administrativa e comandante militar locais). Assim era no Quitexe.
As reuniões passavam despercebidas da guarnição militar e decorriam principalmente na administração civil (foto).
A 30 de Outubro, entraram de licença na metrópole os 1ºs. cabos Luciano Borges Gomes (mecânico de armamento ligeiro) e Joaquim Rama Breda (condutor), ambos de Leiria. E o (furriel) Neto preparava as malas para, a 1 de Novembro, voar até Luanda e Lisboa e depois para Águeda, também de férias. Todos da CCS.

sábado, 29 de outubro de 2011

1 049 - Elementos armados da FNLA apresentaram-se no Quitexe

Administração do Quitexe (foto de Agosto de 2011, edifício restaurado).
Em baixo, o administrador Galina




A 29 de Outubro de 1974, 6 elementos armados da FNLA apresentaram-se no Quitexe, ao comandante do BCAV. 8423 (tenente coronel Almeida e Brito) e às autoridades administrativas para «esclarecimento da actividades na serra do Quibunda, que julgavam ser das NT».
O Livro da Unidade, de que me socorro, cita o caso como tendo «o maior relevo» e sublinha que «facilmente se concluiu ser de elementos estranhos, que procuravam, certamente, criar um clima de desconfiança local, entre a FNLA e as NT». Não eram estranhas nem surpreendentes essas manobras, de gente interessada em criar conflito e animosidades entre as partes que até às vésperas eram inimigos em armas e, então, se faziam irmãos na construção de um país novo.
O grupo da FNLA era liderado pelo sub-comandante João Alves e, em termos de organização militar do movimento independendista presidido por Holden Roberto, pertenciam ao denominado quartel de Aldeia.
O mesmo dia, no acção do Centro Recreativo do Quitexe, foi tempo para mais uma exibição de um filme, desta feita especialmente «orientado para as populações».
- ADMINISTRADOR. O administrador civil do Quitexe,
em 1974, seria o sr. Galina (na foto, de João Garcia).
Não estou certo que fosse.
A foto do edifício é de Cecilia Miguel.

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

1 048 - O Brejo alentejano de Aldeia Viçosa


Estão a ver este tipo, com este olhar de gente fina, arguta e malandreca?! É o Brejo!!! O inimitável e grande companheiro Brejo, de Aldeia Viçosa - a mítica "capital" da 2ª. Companhia dos Cavaleiros do Norte!!
O Brejo era a ironia em pessoa, era a piada fácil e solta que se contava, a inteligência e o saber que se desvendavam do seu sotaque alentejano, sempre bem disposto e satírico, com a resposta e o trocadilho sempre na ponta da língua!
O Brejo era inimitável e crítico: sempre crítico, mordaz e multitalentoso no engenheirar de palavras e argumentos para esgrimir em qualquer debate de ideias, em quaisquer incidente que levasse o verbo à discussão, à diferença e à pluralidade de opiniões.  
Onde estivesse o Brejo, estava a boa disposição, o bom-humor, a alegria de viver - mesmo que o dia, ou a hora, fossem de dor por um qualquer incidente, uma qualquer diferença ou mágoa, algum desalento, ou constrangimento. 
Eu e o Brejo, na verdura entusiasmada dos nossos 22 anos, chegámos a ensaiar uma rábula que seria apresentada numa festa militar em Carmona. Ele à boca do palco, colado ao pano gigante que tapava a cena, girandolando saudades e metáforas, amores e desamores que se sentiam por lá, desembrulhando o cartucho reinvindicativo da tropa (que nem sempre entendia a palavra e a ordem do comando). Ele, de rosto que se fazia Cantinflas, versejando em prosa que se fazia graça. E fazia mesmo!! Pelo ar gingão, pelo talento e pelo dom que tinha de comunicar. Nunca a rábula chegou ao palco.
O Brejo era assim!
Achei-o algumas vezes, pela civil fora. E sei das dores que sente, porque nem sempre tudo corre bem! Mas não se lhe ouve uma amargura! Aceita a vida com a frescura dos que sentem viçosos e confiantes. Ainda hoje lhe senti isso, ao falar-lhe ao telefone.
O manganão chegava do trabalho e não perdeu momento para lamentar este país que somos! Tal qual há 36/37 anos, quando embrulhava a contestação em palavras acesas e fortes. E eu, daqui, a ver-lhe a cara, o esgar rezingão e sério! Mas sempre a brinca(lha)r!!! Sempre igual!!! Abraço forte, ó Brejo!
- BREJO. João António Piteira Brejo, furriel miliciano
atirador de cavalaria, da 2ª. CCAV. 8423, a de Aldeia
Viçosa. Natural de Montemor-o-Novo e residente em Vale
de Milhaços (Seixal). Trabalha na área da segurança, em Lisboa.

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

1 047 - O 1º. cabo Esteves da Secretaria do Comando

O Zé Esteves foi 1º. cabo escriturário e comissionou por Angola na secretaria do comando do Batalhão, dirigida pelo então tenente Luz. Era a discrição e a competência em pessoa, aquele tipo para quem olhamos e sentimos ser boa gente, bem apessoada, cuidada, civilizada e amiga.
«Ao logo de toda a comissão, demonstrou interesse e dedicação por todos os serviços de que foi encerregado na secretariado comando, onde desempenhou funções da sua especialidade», lê-se no louvor que lhe foi atribuído, pelo tenente Luz.
O documento sublinha que era «muito desembaraçado, correcto e cumpridor, procurando com todo o seu entusiasmo e noção exacta das responsabilidades, apresnetar todos os serviços que lhe eram distribuídos, mesmo os mais variados, com a maior perfeição e em devido tempo».
Exemplar, pois!
- ESTEVES. José Lopes Esteves, 1º.-cabo escriturário,
natural e residente em Viseu (foto de 1994).

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

1 046 - O Grupo de Mesclagem da Fazenda Santa Isabel


Um Dala e um Bila, um Muecária e um Micaela, um Quinguegue!!! Estes apelidos dizem-vos alguma coisa? Dirão, seguramente, mas aos companheiros de Santa Isabel, já que foi por lá que aquartelaram os angolanos do Grupo de Mesclagem da 3ª. CCAV. 8423, comandada pelo capitão miliciano José Paulo Fernandes.
O grupo era oriundo do RI 20, de Nova Lisboa, e tinha militares como o Vunge, o Boma e o Conga, o Sola, o Buende e o Jinga! E o Paulo Sebetela, ouviram falar? Também era de Santa Isabel e foi promovido a 1º. cabo - tal qual o Abel A. Silva, o Manuel Franco e o Felisberto P. Barata.
De Santa Isabel eram, também, o Caiango, o Canda, o Cassul. E o Cassulo e o Capesse, todos nomes bem africanos. E, inevitavelmente, um Neto: o Inácio A. E o Salomão e o Sebastião (o M. Pedro), o Conceição e um outro Sebastião (o Paulo F.), mais o Simão (Daniel). O Oliveira era Silvestre e o Neves... Tomás. E havia o Diás.
Os mais velhinhos deles todos, eram o Sebastião M. Pedro e o Paulo F. Sebastião, nascidos em 1945, já idos nos seus 29 aninhos. O Garcia Conda e o Francisco Caiango eram de 1946 (28 anos). De 1948: Francisco Pedro, Bernardo Oliveira e José Buende. De 1949: Simão Bila e José Capesse, Francisco P. Correia,  De 1950: Miguel D. Gomes, Paulo Sebetela, João Canda. Neves Tomás, Diás Quinguegue, Inácio A. Neto, Francisco C. Sebastião. Manuel Franco, Cabral Pedro, Mateus J. A. Domingos e António José. Os outros eram de 1951 e 1952.
Alguns deles nos lerão? Contactem os Cavaleiros do Norte.

terça-feira, 25 de outubro de 2011

1 045 - Os mesclados de Aldeia Viçosa

Aldeia Viçosa, antes de 1974 (foto de José Lapa)

O Manhanga e o Cacongo, conhecem? Eram dois dos 36 soldados do Grupo de Mesclagem da 2ª. CCAv. 8423, a de Aldeia Viçosa. 
O Manhanga, Mateus D. Manhanga, era, por qualquer graça que desconheço, da  incorporação de 1966, portanto nascido em 1945 e o mais velho de todos quantos, naquele espaço os Cavaleiros do Norte, eram comandados pelo capitão milicianoJosé Manuel Cruz. O Cacongo, ligeiramente mais novito, era de 1971, portanto nascido em 1950. Havia tambem o Cipriano A. M. Costa, de 1969 - nascido em 1948.
Mais antigos, de data de nascimento, eram ainda o Rafael S. António e o João P. Mussoqui, o Paulo Santos  e o Fernando Águas, todos de 1949 e da incorporação de 1970.
Quanto a apelidos da malta dos «mesclados» de Aldeia Viçosa, temos um Quiala, um Mussoqui e um Bartolomeu, um S. Tomé (nada como ver para crer...) e até um Sobrinho. E um Bravo e um Amaro, um Romão e dois Costas (o Adelino e o Filipe, nomes bem europeus). Também não falta um Neto (o José A.). Aliás, dois: também o Adelino F.
Quanto a outros nomes e apelidos, ainda tenos um Panzo, um Gabriel, um Bernardo e um... Viegas. Não o conheci! Todos eles eram do RI20, de Nova Lisboa.

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

1 044 - O Grupo de Mesclagem de Zalala


Alguns elementos do Grupo de Mesclagem de Zalala, com militares europeus (brancos)

Nomes e apelidos foi coisa que por aqui não faltou, há dias, recordando companheiros europeus das 4 companhias do CCAV. 8423. Sobraram curiosidades até fartar, tantas e tão singulares eram (e são) os baptismos dos Cavaleiros do Norte.
Deixámos os companheiros angolanos no tinteiro e é deles que hoje vimos falar.
O Grupo de Mesclagem do RI20 completava a 1ª. CCAV., a de Zalala, e tinha um Etelvino e um Marcolino, um Gigante e um...  Helena. E um Marias! Um Adão e um Cimba, o Eliseu, o Dala, o Mussoque e o Mequiana, o Júnior, o Leite o o Cabindo.
Esta gente deverá ter agora na casa dos 60 anos, eram rapazes mais ou menos da nossa idade. Também o Macumbo, o Zangola e o Cunola. E o Tito Tandala! Dois Netos: o dito Ramos e o Augusto S.
Os mais idosos de todos eram o José Luís e o Manuel Garcia, da incorporação de 1968 e com nomes bem europeus. Reparo agora que há um «mesclado» de 1967, o Augusto M. Dala. E um de 1969, o Eliseu Neves. Outro de 1970: Eduardo Alberto.
O ano de 1971 foi ano de incorporação de 10: Neto Ramos, Tito C. Tandala, Diniz José, Roque Martins, Tiago Marques, Gaspar Manuel, João Q. Campos, Ernesto Filipe, o José Pedro e o Duarte A. João.
Havia ainda 21 de 1972: Etelvino J. Nunes, Jorge André, Amtónio J. João, José J. Ferreira, Domingos M. António, Daniel J. Helena, Albano V. Marias, Adão J. Francisco, Eduardo H. Júnior, Miranda Cimba, Paulo Mussoque, Gomes Mequiana, Eduardo P. G. Leite, Pedro M. Cabindo, Francisco J. António, Augusto S. Neto, Daniel Macumbo, Adão C. Manzola, Augusto C. Zangala, João S. Manuel Joaquim Ferrão. Todos os outros eram da incorporação de 1973, portanto nascidos em 1952.

domingo, 23 de outubro de 2011

1 043 - Pelotões de Santa Isabel em Lucunga e Quipedro

Vista aérea de Lucunga, nos anos 70 (foto de blog da CCART. 3451)

A 23 de Setembro de 1974, dois grupos de combate da 3ª. CAV. 8423 «abandonaram» a Fazenda de Santa Isabel, deslocando-se um para a Fazenda Além-Lucunga, outro para Quipedro. Tal acontecia no âmbito da rotação aprovada pelo Comando da ZMN e iam reforçar a área do BC12, instalado em Carmona. Os grupos voltaram a Santa Isabel, a 8 de Novembro do mesmo ano.
A finais de Outubro, era cada vez mais iminente a remodelação de todo o dispositivo dos Cavaleiros do Norte e, por isso, repetiam-se reuniões na ZMN. A CCAÇ. 4145, até aí em Vista Alegre, iria mudar-se para o Comando de Sector de Luanda. A CAÇ. 209, a do Liberato, regressaria ao RI 21, a sua unidade de origem. As duas companhias estavam associadas ao BCAV. 8423 desde Junho desse ano, quando chegou ao Quitexe.
O Neto, meu conterrâneo de Águeda, contemporâneo de escola e companheiro «Ranger» de quarto, de companhia e de batalhão, preparava a mala de saudades para as férias do Portugal Europeu - onde o esperavam a família e a «mais que tudo» Ni Santos.
A 23 de Outubro de 1974, hoje se completam 37 anos, exibiu-se no Clube Recreativo do Quitexe (CRQ) o filme sobre a vida de Eusébio - que rodara em toda a zona de acção do batalhão, desde o dia 10 e no âmbito das actividades de acção psicológica junto das tropas. A 29, foi exibido para a população civil. Os cuidados técnicos da passagem da fita estavam ao cuidado do 1º. cabo Rodolfo Tomás - que também apoiava o CRQ, sempre que era preciso.

sábado, 22 de outubro de 2011

1 042 - Sem disparos de armas mas com rajadas de palavras

Praia da Ilha de Luanda, em Setembro de 1974

A guerra angolana não me «fez» disparar tiros, para além dos de treino. Ou os de instrução, na carreira de dito do BC12, ao que era para ser (e nunca foi) o Exército de Angola, que seria formado por elementos dos  movimentos independentistas: MPLA, FNLA e UNITA.
Operações militares, escoltas, patrulhas apeadas ou motorizadas, em nenhuma situação disparei - embora tal fosse iminente, por mais de uma vez. Mas nem sequer tal aconteceu nos dramáticos primeiros dias de Junho de 1975, em Carmona.
Disparei, isso sim, foram muitas palavras, às rajadas e em centenas e centenas de cartas e aerogramas, ora no meu ofício pessoal, ora dando mão (e letra) a companheiros que tal queriam. E mantive um registo pessoal regular, que não diário, sobre as minhas «aventuras» angolanas. Algumas delas, até no requinte da dactilografia, em papel de cera (um luxo!!!,...), como o nº. 4 de uma série que chamei de "Sou Apenas Um Homem», na qual ia narrando algumas coisas provocadas pelos desejos da idade, ou pela vontade de debitar emoções no papel.
A 20 de Outubro de 1974 (como se vê no final deste dizer de hoje), no por mim pomposamente denominado Solar dos Rangers, no Quitexe, escrevia eu (entre outros preparos de que vou dispensar o leitor) que tinha andado a laurear o queijo por Luanda, onde me sentira «sozinho na cidade grande».
Há na história uma Salomé («sempre faminta de jogos lúbricos!!!...») e uma Mariluz (de «corpo esguio e moreno, de olhos grandes, que abria apetites e suscitava sonhos...») e conto eu (em «Sou apenas Um Homem» - parte 4) que se esquivou esta aos meus desejos, mesmo já quando «entre nós nascera uma doce intimidade».
Por outras palavras, levei com os pés. Até quando «andámos alguns dias, como duas crianças, brincando na Praia do Bispo ou na ilha, e mirando o mar calmo, por onde navegavam traineiras e se se confundia o infinito do firmamento com o beijar das águas azuis da costa do Mussúlo».
Quanto ao resto, fico por aqui. Estava em vésperas de fazer 22 anos.
- ASSINATURA. A minha letra da altura, no
final do texto de 4 páginas, do nº. 4 da Série
"Sou Apenas Um Homem». A narração refere-se
às minhas férias de Setembro anterior.
- SOLAR DOS RANGER´S. O quarto dos furriéis
Neto e Viegas, de Operações Especiais (Rangers).
- NOMES. São fictícios, mesmo no original.

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

1 041 - Os regedores e o desarmamento dos milícias do Quitexe

Regedores do município Quitexe (foto da net)

O desarmamento dos milícias foi um dos pontos mais delicados da actividade do Batalhão de Cavalaria 8423, em Outubro de 1974. E começou faz hoje precisamente 37 anos.
A questão já AQUI foi falada. Mas, ao tempo, foi necessária a intervenção dos regedores das aldeias (sanzalas) nas quais houve mais renitência ao desarmamento.
Ocorre-me uma convocação, apressada, do regedor de uma sanzala perto da vila do Quitexe (porventura o Tabi), onde o regedor local teve enormes dificuldades em convencer os milícias para entregarem as armas. A «coisa» pôs-se preta  - o que motivou a intervenção militar, de resto muito aligeirada e discreta, já que os milícias acabaram por compreender a situação, embora, e com legitimidade, tivessem receio de represálias, da parte dos elementos dos movimentos de libertação. 
Não consta, porém, que tivesse acontecido qualquer retaliação, pelo menos na zona de acção do BCAV. 8423.
A 26 de Outubro, no Quitexe, realizou-se uma reunião com todos os regedores, no sentido de os sensibilizar para a necessidade de entrega do armamento dos milícias - o que veio a acontecer, a partir de 28 de Outubro desse ano de 1974. Entregas voluntárias.
- REGEDORES. Representantes da autoridade
administrativa civil, nas sanzalas. Tinham
autoridade policial e até judicial.

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

1 040 - O incidente disciplinar e o castigo do Buraquinho...

1º. Cabo Coelho (Buraquinho) em pose fotográfica. Ao fundo, vê-se a messe e bar de sargentos do Quitexe, onde ocorreu o incidente de faz hoje 37 anos



O inimitável Buraquinho, sempre exuberante no verbo e farto nas estórias que tanto gosta de contar, vai saborear com um sorriso o post de hoje: o que vem contar a participação que o levou a castigo e despromoção. O incidente ocorreu faz hoje precisamente 37 anos.
Era domingo, 18 horas do Quitexe, os furriéis faziam tempo para o jantar e eu, de serviço, chegava da cantina e da refeição dos praças. Tagarelava no bar e messe de sargentos, quando, estridente como sempre, o 1º. cabo Coelho (o Buraquinho) entrou por lá dentro. E não podia. Assim determinavam as normas. E parlapeou, parlapeou quanto pôde e quis..., empatando o cumprimento da ordem para sair.
Ora, ordens são ordens!
Estando eu de serviço, a mim cabia fazê-las cumprir. Coisa que o Buraquinho teimosamente se recusou a fazer. «De tal maneira levando a sua má educação, que até obsecenidades proferiu», escrevi eu na participação, na qual acrescentava que «continuou com insolências» e, descrevi mais adiante, «recusando-se a cumprir a ordem».
Ora a coisa complicou-se: um furriel de serviço a ser desobedecido e ofendido, como todos os outros, e, como se continuou a recusar a sair, tive de agir: Participei eu: «Novamente instado para se retirar do local, continuou a recusar-se, altura em que, para o obrigar ao cumprimento da ordem, tive de utilizar meios coercivos, não sem que o citado militar opusesse resistência, mas acabando por sair».
Sair, ele saiu. Mas voltou a entrar, aproveitando a altura em que me sentava. «O desrespeito por uma ordem, obrigou-me novamente à aplicação de meios coercivos, para que se retirasse definitivamente, o que aconteceu», escrevi eu na participação.
A história foi toda provada em tramitação processual e tem pormenores mais recambolescos e voos por cima de cadeiras e varandins, mas poupo-os neste dia em que se passam 37 anos sobre o incidente - que foi testemunhado pelos furriéis milicianos António José Dias Cruz, José dos Santos Pires, Manuel Afonso Machado e Miguel Peres dos Santos, entre outros.
O resto já se sabe: o Buraquinho foi castigado e despromovido e continuámos amigos, como sempre e até hoje.
- COELHO. Alfredo Rodrigo Ferreira Coelho, 1º. cabo
analista de águas, o Buraquinho. Empresário do ramo
da restauração em Custóias (Matosinhos).
- PARTICIPAÇÃO. Cópia, na imagem. Podem clicar, para
a ampliar. A participação tornou-se obrigatória, por se tratar
de um incidente público. De outro modo, eu não teria participado. 

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

1 039 - Os alferes milicianos de Operações Especiais (Rangers)

Quartel do CIOE, em Lamego. Distintivos das Operações Especiais (Rangers)


Os Cavaleiros do Norte tinham quatro alferes milicianos de Operações Especiais (os Rangers), do mesmo curso (o segundo de 1973) de todos os furriéis, menos um - o Reina, da companhia de Santa Isabel (que era do terceiro). Os outros, eram o Monteiro, o Viegas e o Neto (da CCS, no Quitexe), o Pinto (da 1ª. CCAV., em Santa Isabel) e o Letras (da 3ª. CCAV., a de Aldeia Viçosa).
Alferes milicianos eram o Garcia (CCS), o Sousa (1ª. CCAV.), o Machado (2ª. CCAV.) e o Rodrigues (3ª. CCAV.). E são aqui chamados, hoje, por uma curiosidade: classificaram-se todos seguidos, no 2º. curso do CIOE de 1973 - que decorreu entre Julho e finais de Setembro. Por esta ordem: 23º.-Rodrigues (média final de 14,78), 24º.-Machado (14,75); 25º.-Sousa (14,73); 26º.-Garcia (14,78). Separados por décimas. E tudo gente boa.
O curso não foi pêra doce, bem pelo contrário! E foi ensombrado pela morte, em plena instrução nocturna, de um cadete - atingido por um disparo, na carreira de tiro, quando fazia a prova de rastejamento. Era já madrugada (umas 3 para 4 horas da madrugada), eu já tinha concluído a minha prova (que foi muito dura, muito violenta, metendo também petardos e agressões físicas, diziam-nos que era para estimular a agressividade e capacidade de defesa (pois que fosse!!!) e saí da caserna, com outros companheiros,  atraídos pela passagem inopinada de uma ambulância militar. Logo soubemos o que se passara, mas nada havia a fazer. O companheiro soldado cadete (futuro alferes miliciano) faria 21 anos nesse dia e nessa madrugada faleceu.
Cada um de nós se lembrou, e emocionou, a pensar que tínhamos passado o mesmo obstáculo, escapando ao luto da morte!
Saudades desse companheiro, de quem não lembro o rosto, mas por quem não esqueci a aquela noite trágica.

terça-feira, 18 de outubro de 2011

1 038 - Louvor ao Matos, o decorador de números mecanográficos

Viegas e Matos, em Santa Margarida (1974)

O Matos é de Anadia e foi Cavaleiro do Norte na 2ª. CCAV. 8423, a de Vila Viçosa, ajudando o 1º. sargento Norte na secretaria, sendo embora atirador de cavalaria. Refere o louvor público que «sempre demonstrou as melhores qualidades militares, no desempenho de todas as missões que lhe foram deeterminadas».
O Matos não poderia ser outra coisa. Humilde, arguto, inteligente, disciplinado, sem nunca se lhe ouvir um ai de protesto que não fosse justo, «sempre se mostrou militar disciplinado e disciplinador». Razões sobremaneira para se «saber impôr aos subordinados, merecendo também a estima dos seus superiores, bem merecendo a distinção que ora lhe é conferida», como se lê no louvor publicado na Ordem de Serviço nº. 174.
O Matos é daqui de pertinho, de Anadia, e foi «boleia» permanente do carro do Neto, nas viagens de e para Santa Margarida. Ficámos amigos, desde então - cruzando os ares para e de Angola, por lá sentindo os cheiros da terra e os medos da guerra, depois na vida que nos amadureceu desde 1975, aos dias de hoje.
Um característica notável do Matos era fixar números. Acreditam que sabia de cor e salteado, de trás para a frente, todos os números mecanográficos dos mais de 120 companheiros da 2ª. CCAV.?! Pois a verdade é que sabia. Para terem uma ideia de um só, aqui fica o dele: 06218173. Todos os outros tinham seis algarismos.
Era obra, ó Matos!
- MATOS. Mário Augusto da Silva Matos, furriel miliciano atirador de cavalaria. Natural de Avelãs de Caminho e residente em Anadia.

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

1 037 - Caos económico e ameaças de coação e morte

Contratados para a apanha do café (foto da net)


Os meados de Outubro de 1974, pela grande zona produtora cafeeira do Uíge angolano, foram tempo de medos, da parte dos trabalhadores rurais, constantemente ameaçados por gente que se fazia novo dono do poder.
Ou deixavam de colaborar com os fazendeiros (europeus), ou sofriam represálias.
O Livro da Unidade, reportando este mês, dá conta da «grande preocupação dos fazendeiros» e à fuga do pessoal dirigente das fazendas, por «julgar que a sua presença não tem justificação e até não será aceite no futuro». O livro diz mais: diz que «há provas absolutas que é a FNLA que impõe a saída dos trabalhadores rurrais, sob coação de morte, se tal não fizerem».
A maioria dos trabalhadores eram da raça bailunda, oriundos da zona central de Angola, gente humilde  trabalhadora, pacífica, diria que fiel á soberania portuguesa. «O exôdo ds trabalhadores rurais teve elevando incremento no período, provocando o fecho de algumas fazendas, nomeadamente nas cordas de Zalala e do Canzundo, e bem assim na zona de Vista Alegre e, em muitas outras, provocando a paragem da laboração», sublinha o LIvro da Unidade.
A situação não era ainda tão dramática, por ser a partir de Janeiro a época das colheitas, o que poderia vir a constrangir, seriamente, a economia local. Assim viria a ser, salvo muito poucas excepções. Muitos dos bailundos que regressaram às suas terras, não voltaram - e a perspectiva de caos económico regional estender-se-ia a Angola, «em elevado grau», como se lê no Livro de Unidade.

domingo, 16 de outubro de 2011

1 036 - O alferes de Aldeia Viçosa sempre sem tempo...


ANTÓNIO CASAL FONSECA
Texto


“Ó pá, preciso de falar contigo, aguenta aí um minuto”, gritei eu para o Domingos!
Falou ele:
«Pronto, já sei que me vais dizer para eu enviar uns textos para o blog do Viegas! Eu bem sei que devia, e até gostava muito, mas diz-me cá onde é que eu vou arranjar tempo para isso!?... Não consigo, pá, mesmo que eu queira! E até me custa, tás a ver…, tanto mais que o Viegas até é um gajo porreiro e merecia que eu colaborasse com ele! Mas quê, o dia só tem 24 horas, eu trabalho 26 e precisava de 30!!! E quem me trata das vinhas, quem vindima, quem faz o vinho?! E ainda por cima, vê lá tu, o melhor vinho da região…, do puro, do lavrador! E tudo sai das minhas mãos… estás a vê-las ?…, calejadas?! Eu não paro, sabes como é…, fui criado assim! Ah, tás para aí a rir…, tás?!..., então passa lá à minha adega que vais ver se não é assim como eu digo!
Ai se eu tivesse tempo!... Se eu tivesse tempo enviava textos e fotos lá para o Viegas, para toda aquela malta do 8423 ler. E olha que eu tinha, e tenho, cada história daqueles tempos, com malta fixe, malta do caraças, que nem calculas! Um dia até tive uma história com uns dentes de marfim que eram para o Jonas Savimbi! Atenção, dentes de elefante…, não eram para ele fazer implantes!... Um dia, quando tiver tempo, hei-de contar!
Tinha lá malta muito porreira, fossem oficiais, sargentos ou praças! Era uma família, mas atenção que eu era muito exigente…, sempre fui…, e comigo não havia baldas e irresponsabilidades! Ainda hoje sou assim! Eles podiam sempre contar comigo, mas em contrapartida eu também podia contar sempre com eles! Aí, deixa que te diga, tive sempre rapaziada à altura dos acontecimentos! Depois tivemos aquela passagem da zona de mato para a urbana, que não foi nada fácil. Mas o pessoal esteve sempre à altura, embora com momentos muito tensos. Tantas histórias haveria para contar dos tempos de Carmona! E olha que em algumas situações tivemos que ter um domínio do caraças!... E para falar de Carmona teria de falar do Menezes, que também era alferes…, aquele ali das Cortes que tem um restaurante!...aquele que descarregou uma vaca na Av. Principal de Leiria. Queria entrar com ela no café Soraya, lembraste do episódio?! Achava que ela tinha os mesmos direitos que as outras! Grande maluco!
Agora, nos conflitos internos, comigo qualquer tensão era desanuviada! Em segundos pá…, e á minha maneira…com uma graçola no momento! Como hoje…, sabes como é!
No almoço deste ano, ali no casarão, que até foi cinco estrelas, a malta fartou-se de desfiar episódios daqueles tempos! Lembro-me de tudo, esta cabecinha não falha nada…é um computador!
Olha pá, se eu me reformasse entretanto – vamos ver como param as modas neste país -, dedicava-me mais à internet para mandar uns bitaites e escrever umas coisas. A minha Companhia tem malta fixe, que até podia colaborar com o blog! Olha que seria bem interessante!
Quando contactares o Viegas, diz-lhe que a minha vida é assim! Aliás, ele sabe bem que eu sou um moiro de trabalho!…, encontrei-me muitas vezes com ele em Águeda quando eu andava por lá! Ainda sou dos que fazem alguma coisa por este país!!!... Diz -lhe que mando um abraço! Olha pá, tenho que me ir embora, porque é quase uma da manhã e ainda tenho que ir engarrafar vinho! Ah pois…estás ar admirado ?..., não tenho a tua vida…daqui a pouco estou a pé! Até amanhã!!!»
E lá foi o Domingos, ex-alferes de Aldeia Viçosa, um ícone na terra que o viu nascer, passo acelerado e ainda cheio de energia, como se o dia estivesse a raiar! E nem me deixou espaço para lhe dizer ao que ia, e que nada tinha a ver com a tropa nem com o blog. Ele é assim mesmo!
E sempre com um sorriso que dá gosto ver!!!
ANTÓNIO CASAL FONSECA
- DOMINGOS. Domingos Carvalho de Sousa, alferes miliciano atirador de cavalaria, da 2ª. CCAV. 8423, a de Aldeia Viçosa. Técnico comercial e empresário agrícola, em Marrazes (Leiria).

sábado, 15 de outubro de 2011

1 035 - Cessar fogo da FNLA e acções de banditismo

Estrada do café, algures entre o Quitexe e Aldeia Viçosa (foto da net)


A 15 de Outubro de 1974, a FNLA anunciou publicamente o cessar-fogo, não oficial. Mas na véspera, recordemos, tinham sido emboscados e mortos dois civis europeus.
«Havia sido obtida uma plataforma de entendimento que levava à paragem das hostilidades, entre as NT e a FNLA», lê-se no Livro da Unidade.
O facto, todavia, «não tocou directamente a vida do BCAV. 8423», não se mudando a nossa actividade operacional - que continuou a caracterizar-se por intensa actividade de patrulhamentos, nomeadamnete orientados para a criação de liberdade de trânsito nos itinerários principais.
Havia razões para isso, pois, leio no Livro da Unidade, «a FNLA começou a procurar realizar actividade de pilhagem aos utentes» desses itinerários, especialmente a partir de 18 de Outubro e no troço entre o Quitexe e Aldeia Viçosa. Uns 40 quilómetros, em piso de asfalto,a chamada Estrada do Café - que liga(va) Carmona a Luanda.
Os Cavaleiros do Norte, para «contrariar estas acções de banditismo», lançaram patrulhamentos inopinados e sempre que apareciam queixas de civis. Patrulhamentos que suscitaram alguma instabilidade emocional e operacional na guarnição: por um lado, anunciava-se o cessar-fogo; por outro, realizavam-se ataques. Pior: os FNLS´s «furta(va)m-se ao contacto e consequentenente não se evita a acção». Pior ainda: não se evitava a acção já realizada nem as que se pudessem realizar. É que, em boa verdade, os patrulhamentos das NT não podiam ser contínuos. Reagir bem a estas incertezas, era o grande desafio da guarnição quitexana.

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

1 034 - Dois civis europeus mortos numa emboscada


A 14 de Outubro de 1974, a comunidade civil e militar de Quitexe foi alarmada por um acontecimento trágico: a morte de dois civis europeus, emboscados numa picada entre as Fazendas Alegria II e Ana Maria, mesmo no limite nordeste do sub-sector.
O acontecimento foi inesperado, pois o que circulava entre a guarnição era a iminência do cessar fogo, da parte da FNLA - o que, aliás, se viria a verificar no dia seguinte. A surpresa foi quase total e funcionou como alarme para os tempos seguintes: nunca fiando, sempre de missão atenta, sem condescender a facilidades que poderiam ser letais para a tropa. E para os civis.
O que se comentou na altura, como sempre se comenta e especula nestes casos, era que a emboscada à viatura civil tinha seria uma acção esporádica. «Poderá mesmo ser um ajuste de contas», relata o Livro da Unidade. Mas a verdade é que pôs a guarnição de sobreaviso para «a possibilidade de desrespeito à ordem recebida». Ou, pelo menos - diremos nós, agora... - para as iminentes ordens de cessar fogo, certamente «negociadas» entre os comandos das NT e a FNLA.

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

1 033 - Luísa Maria e Nossa Senhora de Fátima, 13 de Outubro de 1974


Hipólito e Viegas (atrás), Caixarias, Silvestre (?) e Marcos, em Luísa Maria

O mês de Outubro de 1974 foi de intensa actividade na área de acção do BCAV. 8423: preparou-se a rotação de várias subunidades (algumas concretizadas, outras ficando para meses seguintes), repetiram-se reuniões de comandos, aconteceram algumas emboscadas (com mortes de civis), houve pilhagens nas estradas e picadas, foram desarmados os milícias e apresentaram-se 6 elementos armados da FNLA. E foi anunciada a paragem de hostilidades, deste movimento independentista (armado)  para com as NT.
Outras coisas aconteceram: a 13 de Outubro (hoje se completam 37 anos), saiu do Quitexe uma delegação de oficiais da CCS para ir (e foi) à Fazenda Luísa Maria - de onde iria sair a guarnição do Destacamento Militar, formado por gente da 2ª. CCAV., a de Aldeia Viçosa. Era domingo, dia de Nossa Senhora de Fátima - que em Portugal encerrava o ano mariano no santuário e mais um ciclo anual de peregrinações.
Surpreendeu-me por lá, a enorme fé e quase misticismo com que os populares negros nos falaram de Nossa Senhora de Fátima. Era dia de Fátima! Era uma devoção tão surpreendente quanto evidente, quase comovente! Enternecedora e emotiva!
O que me lembro desse dia, e por isso, foi de ter levado a memória atrás no tempo e a conversas com minha mãe sobre o meu desejo de que não fizesse promessa de ir a Fátima a pé, como ao tempo era vulgar - da parte de familiares dos militares em cenários de guerra. Acordo que ela cumpriu, embora o terço das suas rezas lhe passasse pelos dedos centenas e centenas de vezes nos 15 meses da nossa jornada angolana.

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

1 032 - Louvor ao 1º. sargento Panasco


O 1º. sargento Panasco jornadeou por Zalala - pela mítica Zalala!!!..., passou por Vista Alegre e pelo Songo, aquartelou em Carmona e Luanda e voltou a Portugal. Com a 1ª. CCAV. 8423, a do capitão Castro Dias.
Regressou com louvor publicado à ordem, pela sua «maior zelo e inexcedível sentido de responsabilidade, de que resultou creditar-se como excelente auxiliar da administração da companhia».
As várias rotações da 1ª. CCAV., que «forçosamente muito dificultaram o controlo de toda a vida administrativa», não foram razão ou motivo para qualquer reparo à comissao do 1º. sargento Panasco. Em todas essas situações, «mostrou a melhor prontidão, dedicação e espírito de sacrifício, superando desse modo as dificuldades vividas».
O louvor aponta-o como «militar correcto, de elevado sentido de colaboração e vincada lealdade para o comando que serviu», pelo que, sublinha, «cotou-se como preciooso auxiliar e conselheiro do seu comandante de Copmanhia».
- PANASCO. Alexandre Joaquim Fialho Panasco, 1º. sargento de Cavalaria, responsável pela secretaria da 1ª. CCAV. 8423. Residia em Carnaxide e já faleceu,

terça-feira, 11 de outubro de 2011

1 031 - Amores, aerogramas e madrinhas de guerra...


ANTÓNIO C. FONSECA
Texto

Em Junho/Julho de 1972, recebi por correio uma revista “social” da época – a Plateia. Era uma revista que noticiava o panorama artístico nacional – teatro, música, cinema, etc. – e que também cuidava bem das tricas e da devassa das vidas privadas. Como hoje, as que se lhe seguiram!

As notícias não eram frescas, mas falavam de um amigo que escrevera um artigo polémico para a revista em questão.
Lida a noticia que eventualmente me poderia interessar, coloquei-a à disposição da malta sequiosa por notícias do puto.
A alguns não escapou a secção de “pedidos de correspondência” onde muitas jovens procuravam habilitar-se a «madrinhas de guerra». O Zé Carlos escolheu a Élia Maria (Funchal) , o Pinto virou-se para a Sofia (Vila Nova de Cacela)) e o Mário ficou com a Mizé ( Lagos). Assim está anotado na revista que ainda guardo no meu “arquivo” e me está a servir de cábula.
Andavam entusiasmados, talvez demasiado, com os seus novos “amores”, fabricados à pressa mas que lhes escreviam as palavras que eles queriam ler. Ousadas, até picantes, escreviam abertamente o que lhes dava na gana! Estariam a gozar o prato e, diga-se, não eram nada coxas com a caneta! E até deixavam os afilhados com suores nocturnos! Enquanto isto, as namoradas de cada um, por cá andariam a chorar as saudades dos seus amores!
Não se aguentou muito tempo, o Pinto, já que a sua madrinha de guerra não via jeitos de o ver escrever em Inglês, Francês e Alemão, tal como ela exigia no pedido de correspondência! Foi “despedido” por não cumprir os objectivos, como agora se diz!
Ao Zé Carlos, já sem grande assunto que prendesse a rapariga, a coisa já não corria da melhor forma. O Mário, ainda sem escrever uma linha em Francês, lá se ia segurando mas já se sentia acossado pela Mizé, de Lagos, que lhe falava em enxoval e outras coisas mais. Esta, até lhe pediu uma foto tirada à sua mesinha de cabeceira onde supostamente ele teria uma foto que ela lhe oferecera! E que ele de imediato enviou, mas sem mesinha porque isso seria um luxo para a maioria!
Durante longos meses, o Zé e o Mário não falavam de outra coisa. As cartas até eram escritas em conjunto!
Mas a mentira tem perna curta, e não tardou que metessem os pés pelas mãos! Na tarefa conjunta, em serão regado com “nocais” e outras mais, terão trocado (trocaram mesmo) os envelopes, e lá se foram os beijos misturados com promessas de amor…e o resto, e até a foto, para casa de quem não devia!
Ambos receberam resposta das madrinhas de guerra, que não devo aqui reproduzir, tais foram os termos «finíssimos» que usaram. Nem a família mais chegada escapou à ira das “madrinhas”. Até parecia que se conheciam, tal a semelhança do conteúdo das missivas!
Ficaram encolerizados, “piursos” até, direi eu porque o vi! E responderam-lhes (dizem eles…) à letra, devolvendo todos os finos impropérios com que tinham sido creditados!
Mas tudo voltou ao normal, com o Pinto, o Zé Carlos e o Mário a virarem-se de novo para os seus verdadeiros amores de sempre, e que ainda hoje ternamente os cuidam das maleitas! Os seus amores verdadeiros…desde 1969/1970, dizem!
«Elas eram mafiosas…filhas da mãe…sabidonas...o que elas me chamaram!», recorda o Mário, 39 anos depois, talvez ainda não refeito do conteúdo da missiva!
ANTÓNIO CASAL DA FONSECA



domingo, 9 de outubro de 2011

1 030 - Nomes e apelidos de Cavaleiros do Quitexe

Porta d´armas e edifício do BCAV. 8423, no Quitexe (à direita)

Um Rei, a CCS tinha um Rei - o João Augusto Pinto, atirador de cavalaria e «real» membro do PELREC, mais tarde passado para Zalala. E, imaginem, um Afonso Henriques (o Sousa). E um Guerreiro, que era Encarnação (o algarvio José Domingos). E um Clara? Também, o António Pereira.
Oliveira, Nogueira, Salgueiro, Louro e Serra(s) eram apelidos do dia-a-dia dos Cavaleiros do Norte do Quitexe.
E também não faltavam um Cordeiro, um Raposo, um Cabrita, um Robalo, vários Coelho(s) e diversos Pinto(s) na «fauna» quitexana.
Até um Lavadinho Estrela, o João Francisco. E um Frangão com Dores, o José Caeiro - mais conhecido por Cuba, por desta vila alentejana ser natural!
Havia de tudo, entre os nomes da CCS: até um Graciano da Purificação Queijo, transmontano. Vejam Lá... E um Ressurrreição, o Duarte. Um Aguiar... Lages, um Mota... Zambujo, um Esgueira e um... Gaiteiro, o Américo. Neves, também, dois ou três - apesar do calor que por lá se sentia. E dois Leal - o médico Manuel Cipriano e o atirador Silva. Olhem, Silva... aí está um apelido muito vulgar por lá!
E se vos falar num Caixarias, num Messejana e num Botelho? Num Florêncio, num Júnior (que também era barbeiro) e num Silvestre, num Marcos e num Cordeiro? Pois existiam, eram todos atiradores do PELREC - a que não faltava um Madaleno, um Hipólito, um Izequiel Maria (com I, o tal Silvestre) e um Jesus... Cordeiro, um Anjos... Ferreira  e um Domingos... Vicente!
O universo de nomes e apelidos quitexano tinha mais «curiosidades: um Florindo (enfermeiro), um Alcino (cozinheiro), um Pais e um Tomás (rádio-montadores) e um Jerónimo e um Baltazar Serafim Brites (sapadores), um Irineu (clarim) e um Esgueira. Também um Malheiro de... Jesus. Pronto, mais estas larachas de nomes: um Rafael que era Serra e Farinha, um Alfredo que era Coelho e ... Buraquinho!!  E, já agora, também tinha o Piedade (o cozinheiro Carlos).
O rol mostra mais dois casos assaz curiosos: os condutores Rosário Picote e Alípio Canhoto Pereira - este, irmão do José, de Santa Isabel. Nem faltava um Machado ... da Silva (não de guerra), um Couto e um Castro! Por mim, tinha especial predilecção por este nome: Francisco Fernando Maria António, um  bravo atirador do PELREC, meu companheiro de muitas patrilhas, escoltas e operações, que tive a graça de reencontrar a 29 de Maio de 2010, no Encontro de Ferreira do Zêzere. A ele, ao Albino (dos Anjos) e ao Florêncio, todos atiradores de coragem e generosidade nunca regateadas.

1 029 - Santa Isabel até tinha um... Deus!


Um Oliveira (Fernandes) comandava a 3ª. CCAV, 8423, a de Santa Isabel. Era (e é) José Paulo. A companhia era muito nutrida de originais nomes e até abençoada por... Deus (Manuel Ramos Deus).
Outro Oliveira, era alferes (o Pedrosa). E outro Fernandes era furriel (o António de Braga). Ainda nos jovens oficiais milicianos, não esqueçanos o Barro(s) de que somos feitos (o Simões) e o Silva, que era Carlos. Falta o Augusto... Rodrigues. 
Os furriéis tinham nomes por onde se lhes pegar. Até um que era Capitão (Luís Ribeiro). Mas havia um Belo (Agostinho), um Gordo que era Barradas (o António Luís), um Grenha (Lopes) e um Querido (José Adelino). A massa furrielística não se ficava por estas originalidades: havia ainda um Flora (que também era Pires) e um Ribeiro que era Delmiro, um Tuna que era Rabiça e até um Reina, o Armindo. Mais: o Costa era... Carvalho, o Silva de Lamego era Graciano e o Alcides, um Santos(s) da Fonseca Ricardo. E também um Guedes (o Vitor Mateus Ribeiro, já falecido).
A classe tinha um líder, o mais velho: Marchã. Era o 1º. sargento Francisco António, que também se apelidava de Gouveia. E o Lino, furriel que mecanizava as viaturas.
E a malta dos praças, os cabos e os soldados?
Vejamos: um S. Simão, um Malhado, um Carilho, um Floro, um Pimenta, um Rosado, um Mota e um Macário. E o Deus de que já falámos (Manuel Ramos). E também um Trigoso Leiria, um Albino, um Bento que também era Amado, um Santo(s) de Mota e um Bernardo de Pratas.
Simplício Luta Alcobia? Gostava de ter este nome? Era o de um 1º. cabo de Santa Isabel. Onde também havia um Quaresma da Silva (já falecido), um Manuel Barata e um Francisco Gestrudes, um Catarino, um Desidério Bolrinha, dois Feliciano(s) e um Canhoto (o José, irmão do Alípio, condutor da CCS). E um Cristiniano, um Caroço da Silva, um Eusébio e um Guia. O rol mostra outro Graciano: o Letra Castelo (soldado atirador). E um Coelho Galante, um Silva Coelho e um Ferrão (Mário).
Estas coisas precisam de Frieza(s), era o Manuel José das ditas. Santa Isabel tinha também um Elvino Corado Romão, um Rosa da Braça (Raúl), um Tobias e um Grácio, mais conhecido por Spínola - e que, infelizmente, por lá faleceu a 2 de Julho de 1975, vítima de acidente. Era da Vieira de Leiria.
Nomes originais, temos ainda o Pestana Chambelo, o Eurípedes Pavanito, o Manuel Moço, o Bernardino Alcobia e o Parente Novo, um Montês Barreiros e o Teotónio Granches.

sábado, 8 de outubro de 2011

1 028 - A malta de Aldeia Viçosa, nomes e sobrenomes...

Aldeia Viçosa, a estrada do café, de Luanda para Carmona

Romeira Pinto da Cruz, o capitão miliciano José Manuel, comandou Aldeia Viçosa, com um  Machado de adjunto. O alferes João Francisco, também Pereira. Os cavaleiros alferes milicianos tinham ainda um Carvalho (que era Domingos) e um Capela (o Jorge). Não seria pela fé que se perdiam no sertão ou nas matas africanas. E por lá apareceu, em Fevereiro de 1975, o Meneses Alves.
A classe de sargentos também não se perderia, seguramente: tinha o 1º. Norte, na secretaria. E o Letras, para saber ao que se ia, nas cartas militares e outros ares. E agora, vejam: o Letras era... Dias. E havia um Ramalho (com Pimenta), um Piteira que é o Brejo e um Ribeiro... Mourato. Cruz, aí está outro Cruz, o Oliveira de Vieira do  Minho. E um Milheira, que era Courinha e Chitas (o António). E o Barrelas, sabem quem era? Era (e é) o Amorim Martins. E um Noro, o Melo; um Cerqueira da... Costa, um Silva... Gomes; e ainda por lá apareceu um Jesuíno (Pinto) e havia o Matos e o Mário Soares (que lá chegou em Novembro de 1974) e o Alcides da... Eira (já 2º. sargento e enfermeiro). Mais aristocráticos: António Artur César Monteiro Guedes e António Augusto Faria Novais Rebelo.
E o resto da malta?
O Ribas Teodósio, o Encarnação Sebastião, o Salcedas, o Balha, o Pampim da Silva, o Pinho Beato e o Margalha Grave. Grave não seria, também, que alguém se chamasse Jesus Branco, ou Jesus Lopes, ou Jesus Pisco. Ou até Freire, Versos Quaresma, Ramiro Sobreira, Estevão Neto ou Venâncio. E Silvestre? E João Ligeiro? E Herculano Custódio ou Mendes Gameiro? Ou Trigoso Leiria?
A rapaziada de Aldeia Viçosa tinha ainda um Tenreiro, um Batanete Palma, um Magro, um Mesquita Tomás e um Vergas. Um Verde. E um nome próprio de nome... Martins?  Pois, era o Pereira de Oliveira - Martins Pereira de Oliveira. Também nome próprio, era o Vidal. Vidal Chagas!!! E ainda um Patrina, um Santana Palongo e um Domingos Maciel. E não esquecendo o Frade, o Damaia, o Morgucha, o Ascensão, o Baiça Santos, o Cabalcira Tomaz e o Belarmino Botelho.
A Aldeia era mesmo Viçosa, em nomes e apelidos.

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

1 027 - Nomes e apelidos das gentes de Zalala




O Castro comandava Zalala! O Castro? Exactamente, o capitão Castro Dias, que também era... Oliveira e Davide (com e). E oficial miliciano.
Oficiais milicianos eram também o Costa... Sampaio (nome de santo), um que era mesmo Santos(s), o Lains; um Silva que era... Rosa (o Pedro) e até um que repetia o apelido: Sousa. O Mário Jorge de Sousa Correia de Sousa. 
Por Zalala, proliferavam Dias furriéis (o João Custódio e o Manuel Dinis), um Mota... Viana e outro Mota, o Aldeagas; um Velez que era Vitor e também se chamava por Gregório e um Barreto que era enfermeiro e Mesquita (não era capela nem igreja); havia também um Plácido... Queirós (que também é Guimarães mas é de Braga), um Barata (Jorge Eanes) e um Pinto que é Moreira, um Louro Santos(s), o de Évora; um (da Silva) Rodrigues e, para acabar, um... Rito. Ritual para acabar, não! Tínhamos ainda nomes grandes como Eusébio e Gomes da Costa (o Vitor). E um Belém, o Pereira. Ah, e também havia o Évora... Soares!
Zalala tinha outros nomes e apelidos de luxo.
Vejam só: Dorindo, Conchinho, Novo, um Felizardo e um Felicíssimo, um Ventura, um Temporão e um Leirinha, um Catuna e um Canelas, um Rego e um Feijão, o Vilaça, o Adélio, o Idalmiro Vargas, o Altino Fião, o Tarciso Rebelo, o Afonso da Lica e o Almiro Brasil, o Patrício Parracho, o José Beato, o António Lazo e o Silvestre Raposo.
Havia mais: dois Carmo(s), o Manteigas e o Leal. Um Sacramento Carneiro, um Leiria, o Marques da Eira, o Jesus... Rego, o Delgado... Correia, o Lago e o Casimiro Guerreiro.
- E nomes de árvores e plantas, reparem: Carvalho, Figueira, Silva, Pereira (uns poucos) e Feijão.
- E de animais: Carneiro, Coelho e Raposo.

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

1 026 - Apelidos, sobrenomes e outras curiosidades...


Nomes, sobrenomes e apelidos de toda as «raças» encheram endereços dos aerogramas



O Batalhão de Cavalaria 8423 era heterogéneo. Bastante e em várias áreas. Por exemplo, nos sobrenomes e apelidos. Tinhamos um oficial Falcão que era Montenegro e um Picão que era Ribeiro, um Lains que era Santos(s), um Romeira (que era Pinto e Cruz) e dois Oliveiras, um Machado e um Periquito. Até um Capela e um Domingos!! E havia ainda o Leite!!! Um Cunha que era Mora e um Aragão que era Hermida!!! E, para acabar, um Luz que andava à Carreira. Para nos alumiar bem!  Ah e um Leal, por acaso médico, assim como Honório, o de Campos. E um Pedro que era da... Rosa.
O comandante era Brito e... Almeida. Como o alferes, o Alegria! Alferes era também o João... Curral
Sargentos, não eram muitos mas bem predicados: havia um Leite que era Machado, um Joaquim que era do Aires, um Claudino que era Luzia, um Unas que era Barata e um Fialho que era Panasco. Chiça! Para que tudo fosse bem orientado, havia um Norte e um Marchã, para o que desse e viesse!
Cruz(es) era o que não faltava: um capitão, um alferes e dois furriéis! E lá nos ajudaram eles no calvário da comissão africana de Angola!
E Dias?! Tão longos dias por lá passámos, a riscá-los no calendário: um capitão e três furriéis de último apelido, porque havia mais.
A furrielada tinha por lá outros apelidos de se lhe tirar o chapéu: Um Carita que era Morais, um Brogueira... Dias, um Dias da... Cruz, um Machado que era Manuel e um Nelson que era dos Remédios (o Rocha). E o Bento? O Bento era Francisco. E o Neto? Tinha avós e era também Francisco, mas José. E o Mosteias? Era Ramalho. Todos na CCS.
Hoje, ficamos pela CCS, companhia que tinha ainda dois Pires que não eram de servir café, mas eram a bonomia em pessoa: um Cândido (o Candinho do Montijo) e um Santo(s) - o de Bragança. Querem mais? Olhem-me um Loio (o Farinhas) e um Verdelho (o Lopes). E nomes de árvores e plantas, para fechar: um Oliveira (o capitão), um Pereira (o Fonseca) e um Pinheiro (o Viegas), um Silva (o Rocha) e até um Ramalho (o Mosteias). Só falta falar no Monteiro, que era Guedes! E do Garcia, que era alferes. Ah e o Carita de Morais ali de Cima, também era Ribeirinho. Para nos secar as mágoas da sauade!

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

1 025 - O Zeca Louro, que foi furriel de Zalala!

O Louro, a 23 de Setembro de 2011 (em cima) e num domingo de 1974, em Zalala, na foto de baixo (ao centro)



O Louro fez-se atirador na Escola Prática de Cavalaria, em Santarém, e juntou-se ao BCAV. 8423 em Santa Margarida, já mobilizado para Angola. Viria a integrar o grupo de furriéis da mítica Zalala (a da 1ª. Companhia) e jornadeou por Vista Alegre e Songo, antes da definitiva passagem por Carmona, depois Luanda e... Lisboa!
Era gajo fixe! Dos bons!
A foto do lado mostra-o ao meio, exactamente no meio, de cavaleiros de fartas brincadeira de Zalala. O Rodrigues e o Barata, do lado esquerdo, o Nascimento e o Eusébio - com o camuflado por cima de roupa civil e... vermelha.
Voltado ao seu Alentejo, depois da jornada de África, o Louro fez-se à vida e é quadro da Universidade de Évora: assistente técnico, assim se idêntica profissionalmente o sr. Louro, agora em vésperas de reforma! Já faltou muito mais!
O Louro, sem contar, teve de se haver com a visita (inesperada) de cinco zalalas: o Pinto, o Queirós e o Rodrigues (que foram do Minho) e o Dias (estremenho de Tomar) e, depois, o alentejano Aldeagas. Mas que grande trupe!
Não é difícil imaginar o trauteio de histórias que estes cinco Cavaleiros de Zalala desfiaram na hora do almoço de Évora, E esta? E aquela? E daquela vez? E o capitão Dias? E o sargento Fialho, e o bar, e o campo de futebol, com jogos espreitados pelo inimigo? E a picada? Aquela picada de Zalala, pá!, quantos medos por lá se derrotaram, entre núvens de pó e o roncar pesado dos unimogs e das berliets?!!!!
Aqui te saudamos, Zeca Louro! Tás com muito bom aspecto, mais idade e menos cabelo! E «muito fixe!!!...», garante o Pinto!
-LOURO. José dos Santos Louro, furriel miliciano atirador de cavalaria, da 1ª. CCAV. 8423 (Zalala), Assitente técnico da Universidade de Évora.
- PINTO. Manuel Moreira Pinto, idem. Natural de Penafiel e empresário do ramo automóvel, em Paredes.
- QUEIRÓS. Plácido Jorge de Oliveira Guimarães Queirós, idem. Aposentado, residente em Braga.
- BARATA. Jorge António Eanes Barata, idem. De Alcains, já falecido.
- RODRIGUES. Américo Joaquim da Silva Rodrigues, idem. Natural e  residente em V. N. de Famalicão, aposentado.
-ALDEAGAS: João Matias Mota Aldeagas, idem. Empresário agrícola em Estremoz.
- DIAS. João Custódio Dias, furriel miliciano de transmissões. Aposentado da Polícia Judiciária e residente em Tomar.
- EUSÉBIO. Eusébio Manuel Martins, furriel miliciano mecânico-auto. Funcionário público aposentado, natural e residente em Belmonte.
- NASCIMENTO. José António Moreira do Nascimento, furriel miliciano de alimentação.

terça-feira, 4 de outubro de 2011

1 024 - A retórica do soldado Zeca, que era um ás nas damas e no bilhar...

António Casal à porta do Café Camabatela


ANTÓNIO CASAL DA FONSECA
Texto

O Café Camabatela era dos irmãos Santiago e local de encontro de muitos militares, principalmente depois do almoço. Aqui se comia, bebia e até jogava bilhar. Seria, penso, o único bar que tinha tal mesa!

Mas também era palco de jogos de “damas” e até de grandes torneios com prémios apetecíveis, disputados por civis e militares.
E assim voltou a acontecer, em Agosto de 72, com a “apresentação” dos jogadores, noite adiantada, num ambiente que se queria lúdico. Mas a coisa não iria ser bem assim, com um elemento civil a querer impor a sua lei e a trilhar um caminho que indignou todos os presentes: «Se este aqui participar, eu não participo!..., era o que mais me faltava… Nem pensem!».
Ora, o “este aqui” era um militar da CCS, o soldado Zeca! Pois, o problema é que ele era soldado, confessou-o - e não se sentava à mesa com soldados! O Zeca, homem sempre extremamente educado, não estava a acreditar no que ouviu! Quando percebeu que o civil não estava a brincar, ficou atónito! Grande de corpo e de alma, a sua indignação era bem visível! Serenamente, os seus olhos pararam na farda que envergava! Sentiu-se deslustrado e injuriado, e enfrentou o civil! Tememos o pior! Eu já “via” o civil agarrado pelos fundilhos, e as graves consequências que tal arrecadaria! Mas não, nada disso! Olhos nos olhos, até mesmo a escassos centímetros, o amigo Zeca passou-lhe uma retórica, forte e feia mas bem incisiva! Um discurso fluente e carregado de emoção, que nos surpreendeu! E orgulhou! Afinal, todos os militares estavam fardados!
O civil, que eu bem conhecia pela sua arrogância e tentativas de desrespeito pelos militares, principalmente pelos praças, viu fugir-lhe a coragem que pensava ter e refugiou o seu olhar na restante comunidade civil branca! Escutou um silêncio sepulcral e, de rabinho entre os membros inferiores, saiu pela porta pequena!
Era uma sexta-feira e já não houve torneio de damas. Passaria para o dia seguinte, pelas 22 horas, com os ânimos mais calmos e a concentração mental que o jogo exigia.

E aqui houve uma surpresa! O civil que no dia anterior causara o mau ambiente, foi dos primeiros a chegar à sala do torneio. Olhado de soslaio, cumprimentou todos os intervenientes, com excepção para o Zeca! Agora, com o apoio de um sargento do quadro, seu amigo de batota, que se inscrevera com a intenção de usar as divisas para correr com o Zeca, julgava-se dono da situação. Já não era a primeira vez que o graduado fomentava divisões entre militares e civis, pelo que, além de outras infracções graves, já tinha sido chamado à razão, pelo Comando!
Poupando eu os detalhes, que seriam muitos e nada dignificantes, o sargento e o comparsa civil acabaram literalmente expulsos da sala de jogo!
Já por volta da meia-noite iniciou-se o torneio e, sem qualquer surpresa, o “ouro” foi para o Zeca. A sua rapidez de raciocínio, que se estendia às cartas e ao dominó, impressionava a silenciosa assistência.
Ainda hoje dá cartas, que é como quem diz…damas, em grandes torneios na sua cidade natal. Apesar de fragilizado e em cadeira de rodas, ainda há dias me disse: «Mesmo sem as pernas que percorreram centenas de quilómetros de mata, continuo feliz!…, a minha vida está agora a recomeçar…ninguém me pára…tu conheces-me»!
Eu sei, Zeca… Se conheço! E também sei que, à boa moda do Quitexe, continuas a “limpar” os torneios!