terça-feira, 11 de outubro de 2011

1 031 - Amores, aerogramas e madrinhas de guerra...


ANTÓNIO C. FONSECA
Texto

Em Junho/Julho de 1972, recebi por correio uma revista “social” da época – a Plateia. Era uma revista que noticiava o panorama artístico nacional – teatro, música, cinema, etc. – e que também cuidava bem das tricas e da devassa das vidas privadas. Como hoje, as que se lhe seguiram!

As notícias não eram frescas, mas falavam de um amigo que escrevera um artigo polémico para a revista em questão.
Lida a noticia que eventualmente me poderia interessar, coloquei-a à disposição da malta sequiosa por notícias do puto.
A alguns não escapou a secção de “pedidos de correspondência” onde muitas jovens procuravam habilitar-se a «madrinhas de guerra». O Zé Carlos escolheu a Élia Maria (Funchal) , o Pinto virou-se para a Sofia (Vila Nova de Cacela)) e o Mário ficou com a Mizé ( Lagos). Assim está anotado na revista que ainda guardo no meu “arquivo” e me está a servir de cábula.
Andavam entusiasmados, talvez demasiado, com os seus novos “amores”, fabricados à pressa mas que lhes escreviam as palavras que eles queriam ler. Ousadas, até picantes, escreviam abertamente o que lhes dava na gana! Estariam a gozar o prato e, diga-se, não eram nada coxas com a caneta! E até deixavam os afilhados com suores nocturnos! Enquanto isto, as namoradas de cada um, por cá andariam a chorar as saudades dos seus amores!
Não se aguentou muito tempo, o Pinto, já que a sua madrinha de guerra não via jeitos de o ver escrever em Inglês, Francês e Alemão, tal como ela exigia no pedido de correspondência! Foi “despedido” por não cumprir os objectivos, como agora se diz!
Ao Zé Carlos, já sem grande assunto que prendesse a rapariga, a coisa já não corria da melhor forma. O Mário, ainda sem escrever uma linha em Francês, lá se ia segurando mas já se sentia acossado pela Mizé, de Lagos, que lhe falava em enxoval e outras coisas mais. Esta, até lhe pediu uma foto tirada à sua mesinha de cabeceira onde supostamente ele teria uma foto que ela lhe oferecera! E que ele de imediato enviou, mas sem mesinha porque isso seria um luxo para a maioria!
Durante longos meses, o Zé e o Mário não falavam de outra coisa. As cartas até eram escritas em conjunto!
Mas a mentira tem perna curta, e não tardou que metessem os pés pelas mãos! Na tarefa conjunta, em serão regado com “nocais” e outras mais, terão trocado (trocaram mesmo) os envelopes, e lá se foram os beijos misturados com promessas de amor…e o resto, e até a foto, para casa de quem não devia!
Ambos receberam resposta das madrinhas de guerra, que não devo aqui reproduzir, tais foram os termos «finíssimos» que usaram. Nem a família mais chegada escapou à ira das “madrinhas”. Até parecia que se conheciam, tal a semelhança do conteúdo das missivas!
Ficaram encolerizados, “piursos” até, direi eu porque o vi! E responderam-lhes (dizem eles…) à letra, devolvendo todos os finos impropérios com que tinham sido creditados!
Mas tudo voltou ao normal, com o Pinto, o Zé Carlos e o Mário a virarem-se de novo para os seus verdadeiros amores de sempre, e que ainda hoje ternamente os cuidam das maleitas! Os seus amores verdadeiros…desde 1969/1970, dizem!
«Elas eram mafiosas…filhas da mãe…sabidonas...o que elas me chamaram!», recorda o Mário, 39 anos depois, talvez ainda não refeito do conteúdo da missiva!
ANTÓNIO CASAL DA FONSECA



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