domingo, 31 de julho de 2011

Os fenómenos da Casa das Transmissões

Alavrito e Fonseca (BCAÇ. 3879) no Quitexe de 1972


ANTÓNIO FONSECA
Texto


Estive à conversa com o Alvarito, também ele ex-radiotegrafista, e lá vieram as histórias sobre Quitexe. Principalmente, as vividas na casa que albergava o pessoal de transmissões.
«Tivemos muita sorte com as instalações!...», disse-me ele, com aquele riso malandro e ansioso por me contar as suas aventuras! Como se eu as não soubesse! Na verdade, sem ser um luxo, tinha excelentes condições de habitabilidade. Não me recordo que alguma vez tenha faltado água no chuveiro, por exemplo. E se tal aconteceu, não me apercebi. Para ser mais exacto, ali não faltava rigorosamente nada. Talvez por isso um oficial miliciano tenha movido influências para correr dali connosco - episódio que um dia abordarei.

E até as “negras sensuais e bonitas” Maria e Joana apreciavam a “estalagem”, razão, suponho, porque lá dormiam ou pernoitavam não raras vezes! E em ambiente de festa, a avaliar pelos risos e gargalhadas que atravessavam as finas paredes das divisões! O que se passava por lá, não sei porque nunca vi, mas que a coisa era animada… lá isso era!
E as noitadas na varanda, onde quase se madrugava num desfiar de sentimentos - alegrias, tristezas, amores e desamores!? E também sonhos que cada um acalentava para depois do serviço militar, mencionando sempre terna e apaixonadamente o nome dos seus amores. Passados 37 anos, quando olho nos olhos estes casalinhos já avós e de cabelos brancos, dá-me uma enorme vontade de rir! E porquê?! Porque me vêm à memória todas aquelas conversas cheias de romantismo e de promessas de amor que se faziam ali naquele cantinho do Quitexe! Ainda hoje, as lindas senhoras me perguntam “como se portavam eles por lá ?”, o que os desconcerta e faz transpirar…de medo! Melhor, de pânico!...
Ah…, agora é que eu descobri porque é que o Zé Carlos, no almoço deste ano, fazia mímica e retorcia o bigode, enquanto me pontapeava as canelas, a coberto da mesa!...
ANTÓNIO CASAL FONSECA









sábado, 30 de julho de 2011

O que vai ser da terra e da gente do Uíge?

Alferes Garcia, na porta d´armas do BC12. Atrás, na parada, algumas viaturas da coluna para Luanda

O alferes Garcia era o nosso comandante de pelotão! Homem corajoso, de não dar pé atrás a qualquer perigo. Quis ele adiantar-nos alguns pormenores sobre a operação de saída de Carmona, com a boa nova de que a CCS iria de avião. E foi! Mas queria o Garcia que o PELREC se oferecesse para ir na coluna. Mas não foi!
A 30 de Julho de 1975, na reunião do Estado Maior Unificado, o comando português informou oficialmente a FNLA da próxima e última operação dos Cavaleiros do Norte: a da saída do Uíge, de Carmona.
A reacção foi eufórica, da parte dos fnla´s. Compreende-se: ficavam donos e senhores da sua terra e sem disputa com o MPLA, militarmente derrotado nos incidentes dos primeiros dias de Junho. E da UNITA pouco se falava por lá! Mal existia no norte angolano.
«O que é que esta m... irá dar?!», interrogava-se o Garcia, à conversa comigo e o Neto, num dos últimos serviços do BC12. Dele e nossos. Adivinhavam-se lutas fraticidas e derramamento de muito sangue, depois da saída da tropa portuguesa - que era muito mal-amada pelas comunidade civil mas, na prática, era o seu seguro de vida! 
Um civil angolano, nosso conhecido do Bairro Montanha Pinto, futurou o pior. «Com a tropa portuguesa, a gente sabia com o que contava. Agora, sei não...», queixava-se ele, de amargura estampada no rosto. O que será feito dele?

sexta-feira, 29 de julho de 2011

1000 aerogramas e cartas da jornada africana...

Mosteias, Viegas, Bento, Cruz e Pires, furriéis do BCAV. 8423 no bloco residencial à direita do BC122


A 23, 28 e 29 de Julho de 1975, realizaram-se reuniões de trabalho, preparando a operação de de saída do BCAV. 8423, de Carmona para Luanda. Daqui, chegaram ao Uíge vários oficiais do QG/RMA e, com eles, o comando do BCAV. 8423 esquematizou a rotação dos Cavaleiros do Norte. Uma operação que «não se adivinhava fácil», como se lê no Livro da Unidade.
«Como é que isto vai ser?», era a pergunta que circulava entre a guarnição, por aqueles dias muito apressados, a fazer caixotes para «transportar» a bagagem pessoal. Pedido vulgar, ao tempo, era a da cedência do espaço a que cada militar tinha direito, a troco de negócios algo «chorudos», propostos pelos civis - que, muito naturalmente, queriam pôr a salvo (em Lisboa) alguns dos seus bens. Os mais que pudessem.
Ocorre-me uma proposta que me foi foi feita, para ceder o meu: a de me ser dado um diploma académico. E uma outra: uma carta de condução de pesados. Ainda hoje não sei como isso seria feito, mas era a hora do desenrasca, do vale tudo. Não sei se alguém aproveitou estas inesperadas generosidades.
Sei é que, por estes dias, preparando eu malas para Luanda, me dei com um sério problema: onde pôr o meu correio pessoal, se não tinha espaço?! Valeu-me o Pires, de Bragança, que me cedeu uma mala, de que não precisava, e onde enfiei, ordenados e numerados, os na volta de 1000 aerogramas (e cartas) que acumulava desde Junho de 1974, nos 15 meses de jornada africana e que ainda guardo ali no sotão de casa. E são fonte abundante de informação deste blogue.

quinta-feira, 28 de julho de 2011

O começo do «fim» da nossa guerra...

BC12, em Carmona, visto da estrada que ia da cidade. A amarelo, destaca-se o refeitório. A vermelho, o edifício do comando. O espaço entre estas partes, correspondia às oficinas, casernas, serviços e parada. Ao lado direito, o bloco residencial

A 28 de Julho de 1975, já desde há dias que se preparava a saída da guarnição para Luanda: a CCS e a 2ª. CCAV. iriam de avião, no domingo seguinte, 3 de Agosto. Desde há dias, também, que os militares que residiam na cidade, tinham abandonado as instalações onde se aposentavam. No caso dos furriéis milicianos, fomos ocupar o edifício que na foto se assinala à direita. destacado do quartel (o BC12).
A este tempo, praparava-se cuidadosamente a terceira tentativa de saída do MVL para Luanda. Que viria a ser de vez, a 25 de Julho. Por duas ocasiões (a 13 e 21), tinha sido impedida, sem que os militares portugueses estivessem autorizados, pelo COPLAD, a forçar a evolução da coluna. A avançar na estrada, nem que fosse a tiro. Avançou a 25, depois da reunião com a FNLA/ELNA. Era uma questão de «ou vai, ou racha». Foi e não rachou.
O espírito da guarnição andava entusiasmado.
A saída para Luanda, embora soubessemos que por lá evoluíam seriíssimos problemas, era aguardada desde há muito. Era um passo gigante no caminho para a hora do regresso a Lisboa. Para o fim da «nossa» guerra. 
A cidade de Carmona, essa continuava hostil à comunidade militar e repetiam-se desrespeitos e desconsiderações. Que a tropa, para isso instruída, procurava ignorar. Multiplicavam-se, paradoxalmente, os pedidos de ajuda. Adivinhavam-se dramas humanos e familiares. Os civis ganhavam medo ao futuro e as ameaças dos fnla´s fizeram-se «pão de cada dia».
- COPLAD. Comando Operacional de Luanda, órgão coordenador das acções militares portuguesas.
- FNLA. Frente Nacional de Libertação de Angola, movimento presidido por Holden Roberto.
- ELNA. Exército de Libertação Nacional de Angola, braço armado da FNLA.

quarta-feira, 27 de julho de 2011

Há 37 anos: O direito de Angola à auto-determinação e independência



O mês de Julho de 1974 foi de (final da) «debutância» para os Cavaleiros do Norte. A mata, os trilhos, as picadas , o cheiro da pólvora e do pó avermelhado do chão uíjano, deixaram de ser virgens para os seus operacionais - que lhes iam conhecendo as curvas, os medos e os perigos.
A 27 desse mês, um sábado, hoje se completam 34 anos, ouviu-se no Quitexe uma mensagem do Presidente da República, que fazia adivinhar «uma solução para o problema militar da RMA». Iria demorar tempo!
A inportância histórica da declaração presidencial, leva-nos a transcrever na íntegra, tal como nos chegou, a nota que, sobre ela, emitiu a Junta Governativa de Angola:
«1 - Após a proclamação histórica hoje dirigida à Nação pelo Presidente da República, a missão das Forças Armadas em ANGOLA será dirigida especialmente no sentido de garantir a segurança da população e capacidade de construir uma ANGOLA nova, em ambiente de paz e de fraternidade.
2 - Acções contra bandos armados que possam ainda (ser) hostis são limitadas à defesa própria e a preservar a vida e bens dos habitantes pacíficos, devendo, neste caso, serem  usadas, se necessário, as maiores determinações e firmeza.
3 - ANGOLA terá que orgulhar-se da acção das Forças Armadas no auxílio à construção do seu futuro e estas deverão demonstrar todas a coragem, disciplina e capacidade de forma a manter intacto o seu prestígio tão duramente alcançado».
Comenta o Livro da Unidade, sobre isto: «Assim, pensa-se vir a verificar-se uma mutação na guerra que se efnfrenta desde 1961, o que impõe, pela futura situação a viver, um grande espírito de corpo e de missão».

Presidente da República nesse dia 27 de Julho de 1974 era António de Spínola e, em histórica declaração que ouvimos no Quitexe, através da rádio, reconhecia, em nome de Portugal, o direito dos povos africanos à auto-determinação e independência.
A nova situação foi-nos informalmente comunicada a 31 de Julho, nuna rápida reunião no gabinete de Operações.

terça-feira, 26 de julho de 2011

Ida de Carmona para Luanda e louvor ao BCav. 8423

O BC12, em Carmona, visto do lado do Songo

Os Dias do Exército (21 de Julho) e da Cavalaria (25) foram comemorados em 1974, jornadeávamos nós pelo Quitexe, e, naturalmente, em 1975 - já nos aposentávamos por Carmona, no BC12. 
Por essa altura, já sabíamos do nosso destino próximo:Luanda. E, depois, o mais desejado: o voo para Lisboa e para o chão das nossas terras natais.
O de Cavalaria teve missa na capela da Unidade, com presença do birgadeiro e Chefe do Estado Maior do Comando Territorial de Carmona, e mensagem an Ordem de Serviço do Dia - a falar do lema «Querer e saber querer», já conhecido desde que em Santa Margarida formávamos batalhão. Frisava o documento que «assim sucedera» e se esperava que «continue a suceder no pouco tempo da nossa vivência como unidade independente da Cavalaria Portuguesa, sendo esta a lembrança e o desejo da data que hoje se comemora, com a plena convição de que assim irá verificar-se».
 Novidade muito especial era, também, a de que o BCAV. 8423 iria ser louvado pela RMA - «Para orgulho de todos nós, pois que tal se deve a oficiais, sargentos e praças», como sublinhava o Livro da Unidade.
- BC12. Batalhão de Caçadores 12, em Carmona, onde se aquartelou o BCAV. 8423, entre 2 de Março e 3 de Agosto de 1975.
- RMA. Região Militar de Angola.
- LOUVOR. Pode ser visto AQUI

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Os Dias da Cavalaria e do Exército, no Quitexe!


Avenida do Quitexe (Rua de Baixo). À direita, o edifício do Comando do BCAV. 8423 (com a bandeira) e a porta d´armas

A 25 de Julho de 1974, no Quitexe, assinalou-se o Dia do Exército, em cerimónia simples - tão discreta deve ter sido que nem dela tenho memória alguma. Noto no Livro da Unidade, porém, que o comandante enviou mensagens às subunidades, tal qual fizera no Dia da Cavalaria (a 21).
E assim dizia:
"A época é difícil, as solicitações são várias, o desentendimento entre os homens uma constante, mas esses factores não podem arrastar-se ao Exército e, por isso mesmo, neste Dia da Cavalaria de 1974, o comandante apela para o conceito de disciplina, o sentido da responsabilidade, lealdade e firmeza de atitudes, o desejo de cumprir, a agressividade do combatente, de modo a que possam os militares do BCAV. 8423 ser um desses muitos bravos que foram já imortalizados na afirmação do patrono de que «essas poucas páginas brilhantes e consoladoras que existem na História de Portugal contemporâneo, escrevemo-las  nós, os soldados de África».
O patrono era (é) Mouzinho de Albuquerque, que «tantos e tão bons exemplos deu à Pátria».
O tempo de 1974, porém, não era para festas e, por isso mesmo, o comandante Almeida e Brito limitou-se, na efeméride, a «assinalar a data», lembrando uma das frases que «imortalizaram o patrono»: «Querer e saber querer».
De Lisboa, chegavam notícias das labaredas revolucionárias do tempo. Tudo nos deixava perplexos e nem o correio que nos chegava, muita coisa esclarecia. Antes, confundia!!!

domingo, 24 de julho de 2011

Visita aos povos e fazendas a ZA do Quitexe


O mês de Julho de 1974, entre muitas coisas - algumas delas já aqui faladas e outras nem opor isso - foi tempo para os Cavaleiros do Norte melhor conhecerem a região, as autoridades locais (civis e eclesiásticas), as fazendas, as sanzalas. Como já acontecera em Junho.
O Livro da Unidade faz referência às seguintes fazendas:
- Dia 7: Negrão.
- Dia 14: Rio Duizo.
- Dia 25: Guerra, Chandragoa, Businaria e Isabel Maria (faz hoje 37 anos).
- Dia 26: Minervina.
E povos (sanzalas):
- Dia 6: Aldeia e Luege.
- Dia 10: Qutoqui e Quimassabi.
- Dia 13: Autoridades tradiconais e fazendeiros (no Clube do Quitexe).
- Dia 26: Aldeia Viçosa.
Foi numa destas saídas, em escolta, quer parecer-me que na ida para a Guerra e as outras (seguindo, em algum percurso, pela estrada/picada para Camabatela), que tivemos um primeiro acidente de Unimog. O que viria a acontecer por mais duas vezes: uma na picada para Santa Isabel, outra para Zalala. E uma outra, em plena estrada de alcatrão, entre o Quitexe e Aldeia Viçosa.
Desta vez, para os lados de Camabatela, julgo que era condutor o Canhoto, a viatura saiu fora da picada, ficou meia voltada e «voou» um dos nossos soldados - que teve de receber tratamento hospitalar. Não me lembro do nome dele. Eu, que ia sentado na travessa da carroçaria, saltei a tempo e tive a sorte de não ser apanhado pela viatura.
- ZA. Zona de Acção.
- CANHOTO. Alípio Canhoto Pereira, condutor-auto. Natural e residente em Belmonte, onde trabalha numa estação de serviço.

sábado, 23 de julho de 2011

Tropa criticada pelas populações civis de Carmona

Quartel do BC12, na saída de Carmona para o Songo

A 23 de Julho de 1975, e depois de das saídas em falso do MVL, de Carmona para Luanda, os comandos militares de Carmona reuniram com os responsáves da FNLA, para analisarem a delicada questão. Estava em causa o transporte de bens militares para Luanda e a autoridade militar portuguesa. A 13 e 21 de Julho, a coluna «teve» de voltar para Carmona.
Acumulando tensões, de trás, vinham também os incidentes de Luanda, Salazar e Malange e a muito «provável ressaca da FNLA» em Carmona. E não esqueçamos o cerco ao quartel de Negage e os comícios da FNLA/ELNA (no dia 13) e o «constante afluxo de refugiados da FNLA» a Carmona (começado a 14) e os pedidos de armas (a 15). Já não falando dos dramáticos incidentes carmonianos dos primeiros dias de Junho.
A guarnição dos Cavaleiros do Norte, essa, estava «em permanente situação de prevenção simples». E era «permanentemente alvo da crítica das populações brancas» - que, e cito o Livro da Unidade, se sentiam «marginalizadas e sem quaisquer apoios ou segurança daqueles que, ainda são, como afirmam, os lídimos representantes da Autoridade Portuguesa».

sexta-feira, 22 de julho de 2011

O Melo está vivo!!!

O Melo foi companheiro de alguns momentos epopeicos da nossa jornada de África. Ele, atirador de cavalaria e sempre mais impulsivo, mais arrebatado, mais empolgante e contestatário. Revoltado!! Anti-tropa, diria eu! E eu, de operações especiais (ranger´s), talvez mais recatado, menos explosivo, porventura mais racional, menos dado às dores de alma que nos constrangiam a comissão ultramarina.
Um momento menos bom da nossa passagem pela terra angolana aproximou-nos bastante. Sem sermos íntimos - ou sequer por isso ficarmos!... -, fomos cúmplices. E ainda bem!!! Ainda há dias falámos disso, pelo telefone!!!
O tempo passou, galgou os anos que nos fazem (quase) sexagenários, mas abre-se o baú de memórias e algumas coisas não esquecem! Estão gravadas na alma e até nos fazem chorar o coração. Vencem-nos pela emoção, ou pela nostalgia.
O Melo, em 1975, seguiu a vida dele e eu a  minha, cada qual pelo seu lado. Surpreendentemente, seguiu ele a carreira militar, na GNR, e um dia nessa função o achei, na antiga EN1, entre Pombal e Leiria. Ele não deu pela minha cara, enquanto o companheiro de patrulha me inspeccionava documentos. Eu fui-o "descobrindo". Aquele ar, aquele trejeito, aquele olhar, aquele nervosismo, aquela ansiedade..., eu conhecia "aquilo". Não via era de onde. Até que me deu o clic: era o Melo.
Abraçámo-nos, a espanto do GNR que me inspeccionava!
Voltámos a encontrar-nos, quando me visitou em Águeda, em finais dos anos 90 e por razões que não vem a caso. E a desacharmo-nos, de novo e por nada. Apenas porque a vida é mesmo assim.
Recentemente, chegou-me a notícia: morrera o Melo. De doença. Pffff!!!..., como é madrasta a vida!
Um amigo e conterrâneo do Melo, confirmou a infausta nova. E aqui a dei.
Mas não era assim. O instinto levou-me a refazer a "investigação", acreditando ter de vir a "desfazer" a minha "mentira". Um vizinho menos simpático confirmou-me a vida do Melo. Que era vivo, sim senhor! Daí, até me  socorrer de um companheiro do blogue, o Casal, foi um instante. Olhe vá aí, ao nº. tal da rua tal, e veja se por lá está o Melo. Estava! Já falei com ele e das mãos dele, pelas do Casal, aqui está a foto do Melo. O ganda Melo!!!
Ó pá, desculpa lá: aqui te "matei", aqui te ressuscito!
Um grande abraço!

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Apresentação de um IN no quartel de Vista Alegre

Vista Alegre, vista parcial em 1975 (foto de José Martins)


A 21 de Julho de 1974, apresentou-se à guarnição de Vista Alegre um elemento armado, fugido do IN e entregando uma arma semi-automática Simonov - a primeira «apanhada» pelo BCAV. 8423. Tratava-se de um antigo GE, que fora raptado pelo IN e que lhe conseguira fugir, quando o grupo inimigo andava em trânsito.
A apresentação foi espontânea, refere o Livro da Unidade, nada tinha a ver com os contactos qe se vinham a fazer, no sentido de elemendos do IN fazerem a sua apresentação, no «contexto da actual política».
O dia foi também o Dia da Cavalaria, com cerimónias simples (eu nem me lembro delas), destacando-se a mensagem que o comandante  Almeida e Brito enviou às várias subunidades.
No mesmo dia, mas de 1975, registou-se o segundo impedimento, da parte da FNLA, da saída de um MVL de Carmona para Luanda - o que, decididamente, enervou as autoridades militares portuguesas, sentindo-se desprestigiadas por esta arrogante (e até irresponsável) atitude dos comandantes do movimento de Holden Roberto. Reforçaram-se os patrulhamentos na cidade e itinerários, aumentou o nível de segurança e prevenção das instalações militares. Preveniu-se, para não ter de se remediar.
- FNLA. Frente Nacional de Libertação de Angola.
- IN. Inimigo.
- MVL. Movimento de Viaturas Ligeiras.

quarta-feira, 20 de julho de 2011

A guarnição militar partilhada com a comunidade civil

José Borges Martins, soldado atirador de Zalala, na rua principal do Quitexe

A passagem da tropa portuguesa pelas terras de Angola foi semeada de afectos, cultivando e multiplicando relacionamentos muito próximos com a comunidade local. Por exemplo, quando saíamos em missão, escoltando os médicos (capitão) dr. Leal e (alferes) dr. Honório nas suas consultas ao povo das sanzalas e das fazendas. No dia-a-dia da vila, em troca de cumprimentos e colaboração com os moradores e comerciantes, nos correios, no hospital, na escola, nos restaurantes e bares. Nas saltadelas às sanzalas - ao Talabanza, à Qual e ao Quimassabi, ao Quitoque (na estrada para Carmona), ao Cazenza (antes do cemitério), ou Aldeia, Catenda e Tabi, na estrada (picada) para Camabatela.
No fundo, era uma família grande e de cores e origens diversas mas, no geral, no comum, sentindo-se gente igual e comungando de ansiedades muito primas de alma.
O Papelino representava, aos meus olhos, a alma civil quitexana, negra, africana, viva, emotiva, saudável. As crianças eram, quantas delas, colo e alvo do carinho que a guarnição dava com generosidade.
A imagem mostra um desses momentos: o soldado atirador Martins dando-se de afecto com 7 crianças negras do Quitexe. E o que se vê não é só pose de fotografia: é também amor por aquela gente que nos recebia de sorriso tímido e de nós esperava a partilha do que tínhamos. Quantas vezes, da nossa mesa!
- MARTINS. José Borges Martins, soldado atirador da 1ª. CCAV. 8423, a de Zalala.  Aposentado da Tudor Portuguesa e residente em Castanheira do RIbatejo.


terça-feira, 19 de julho de 2011

A chegada da 1ª. Companhia do BCAV. 8423 à cidade de Carmona

O edifício do Comando da Zona Militar Norte (ZMN) em Carmona (em cima) e furriel Rodrigues, da 1ª. CCAV., nas traseiras (em baixo)



A 1ª. CAV. 8423, a do capitão Davide Castro Dias, jornadeou pela mítica Zalala, passou pela urbana Vista Alegre (e Ponte do Dange), depois pela ainda mais urbana cidade do Songo e, a 6 de Junho de 1975, começou a rodar para Carmona - imediatamente após oa dramáticos e sangrentos incidentes entre FNLA e MPLA, cuja  capital era Carmona.
A sub-unidade foi ocupar as instalações do comando da ZMN (foto), no centro da cidade, onde funcionava também o Comando de Sector do UÍge e toda a logística militar que apoiava o enorme província cafeícula do norte de Angola,
O Rodrigues - que agora goza a reforma pela sua natal Vila Nova de Famalicão -, vem recordar-me que os «zalalas» «estiveram alguns dias no BC12 a ajudar a instalar e a fazer comida para os civis que vieram integrados na coluna militar». Gente que se apoiou na tropa e que a tropa nunca abandonou.
 A 1ª. CCAV. foi depois instalada no edifício da ZMN e por lá missionou até à partida para Luanda. «Passámos muitos maus momentos, com muitas noites sem dormir, sempre à espera de ataques e preparados para a defesa da guarnição», lembra o Rodrigues, sublinhando que «o ambiente daqueles tempos, em Carmona, era de cortar à faca, com o conflito entre os movimentos e a nossa tropa, como tu também conheceste».
Ai se conheci, ó Rodrigues!!!! Conhecemos todos, no corpo e na alma! E de que maneira!!!

segunda-feira, 18 de julho de 2011

A Lagoa do Feitiço e as alterações operacionais

A Lagoa do Feitiço, nos arredores do Quitexe (net)

A 17 de Julho de 1974 terminou a Operação Turbilhão, com diversas acções na área envolvente do Quitexe e envolvendo todo o batalhão e companhias adidas. Julgo bem se disser que este tipo de crescente responsabilização militar nos adequou e adaptou perfeitamente à nossa ZA.
Por estes dias e numa das saídas operacionais, tive uma surpresa simbólica e pessoalmente emotiva: a descoberta da lagoa do feitiço, que me fez lembrar a pateira da minha aldeia, conhecida como de Fermentelos. Por momentos, foi como sentir-me em casa, ainda que lá tão longe, em clima tão diferente. Numa zona 100%operacional, que nada tinha a ver o bucolismo da natureza que faz a lagoa minha vizinha.
A estrutura operacional do BCAV. 8423 teve alterações:
1 - A responsabilidade de Luísa Maria e Vista Alegre voltou ao batalhão, a 17 de Julho.
2 - A 1ª. CART. 6322/COTIM passou a depender do BCAV. 8423, continuando a operar as areas de Cabatela e Quiculungo - como aqui referimos. Sairia do Subsector a 28 de Julho.
3 - Um grupo de combate da 2ª. CCAV. (a de Aldeia Viçosa) foi reforçar a guarnição de Carmona, para «patrulhamentos na área suburbana» - a 17 de Julho.

domingo, 17 de julho de 2011

Galões e divisas das Forças Integradas de Angola

Militares da Companhia de Forças Integradas em Carmona (1975)


A 17 de Julho de 1975 realizou-se em Carmona a cerimónia de entrega de galões e divisas aos graduados da Companhia de Forças Integradas que tinha sido formada em Carmona. Parte do (então) futuro exército de Angola. A ocasião foi aproveitada para «explorar os deveres militares e as responsabilidades dos chefes» - no sentido de os orientar para «fazerem algo por Angola».
Os tempos, também para eles, não estavam fáceis. Refere o Livro da Unidade que «sentiam a submergir-se e deixar de ver a aceitação e autoridade que se pretendeu imprimir-lhes»..
A formação tinha sido dada pelos oficiais e sargentos do BCAV. 8423, dela me recordando uma famosa sessão de instrução de tiro, na carreira do dito, no BC12. Oficial de instrução, era o alferes miliciano Garcia. Monitores, os furriéis Neto e Viegas. Tiro após tiro, em sessões de 60, 80 e 100 metros, registava-se o facto de rarissimamente os praças acertarem nos alvos. Vai-se a ver e... não fazia ponto de mira.
Mais grave foi o comportamento de um jovem oficial angolano, que resolveu disparar ao alvos, nos intervalos das mudanças das linhas de fogo - o que era expressamente proibido, por razões de segurança. Avisado foi uma vez, e duas vezes, sem que aceitasse as ordens do oficial da carreira de tiro - o Garcia. Aparentemente, julgando que não lhe devia obediência, por ser alferes - sendo ele tenente. 
Pois, à terceira, não hesitou o alferes Garcia. A minha G3, que estava pronta para nova sessão de tiro de instrução, foi passada às mãos dele, que despejou uma rajada à volta do jovem tenente, que desapareceu na nuvem de pó vermelho que se levantou. 
«Mataste o gajo!!!...», disse eu, incrédulo. E o Neto, triunfal.
O tenente «reapareceu» da núvem de fogo, era angolano e negro, de cor, mas surgiu aos nossos olhos (espantados!!!...) feito branco de... medo.
«O meu tenente não dispara mais», gritou-lhe o alferes Garcia. «Para a próxima, abato-o!!!!...», ou coisa parecida.
E não disparou mais o tenente, entrando a cena para a lenda dos Cavaleiros do Norte.   
- FORÇAS INTEGRADAS. Companhias militares formadas por militantes da FNLA, MPLA e UNITA. Eram o embrião do (então) futuro Exército de Angola.

sábado, 16 de julho de 2011

O alferes miliciano médico Honório Campos

Tenente Luz, alferes Ribeiro e Hermida, tenente Mora, alferes Cruz, capitão Oliveira, alferes médico Campos e capitão médico Leal, na messe de oficiais do Quitexe (1974/75)


O alferes médico Honório Campos serviu o Batalhão de Cavalaria 8423, dividindo o seu sacerdócio médico pela CCS (onde substituiu o capitão dr. Leal), a 2ª. Companhia (Aldeia Viçosa) e a 3ª. (em Santa Isabel), com «elevada competência profissional», justificando «merecido louvor», proposto pel capitão José Paulo Fernandes, da 3ª. CCAV., a de Santa Isabel.
Acabei de falar ele, a primeira vez desde esses tempos de 1974 e 1975. E vejam só: fez carreira de dermatologista entre Coimbra e Aveiro (ao lado da Águeda onde vivo) e nunca o destino nos fez acharmo-nos. Foi hoje.
O dr. Honório ministrou, pelo chão angolano do Uíge, sacerdócio médico invulgar, acumulando funções militares com as de Delegado de Saúde do Quitexe, do mesmo modo, e cito o Livro da Unidade, apoiando «toda a população civil, sem olhar a horas de trabalho», como se lê no louvor do comandante Almeida e Brito, acrescentando-lhe «dedicação integral a todos os casos vividos».
O grave confito armado entre a FNLA e o MPLA que se despoletou no Quitexe (em Junho de 1975) levou-o a ter de «actuar quase sozinho, perante elevado número de feridos muito graves, patenteando elevada isenção» e manifestando, igualmente, «a sua capacidade técnica e humana, em actividade digna de realce».
A competência profissional associava-a a comportamento social de sã camaradagem com todos quantos com ele privaram. É um dos melhores Cavaleiros do Norte!
- CAMPOS. António Honório de Campos, alferes miliciano médico. Seguiu carreira de dermatologista, chegando a assistente graduado do Hospital Infante D. Pedro, em Aveiro - cidade onde ainda tem consultório privado. Aposentado desde Outubtro de 2006.

sexta-feira, 15 de julho de 2011

O pedido de armas, os cobardes e os traidores...

Rotunda de entrada em Carmona (1975), indo do Quitexe e do Negage

A 15 de Julho de 1975, a tensão levedou fartamente no BC12, onde chegou a notícia de que a FNLA pedira armas ao comandante Almeida e Brito e que este estaria disposto a dar-lhas. Podia lá ser?! Um «conselho» de furriéis (Machado, Neto, Mosteias, Viegas, pelo menos...) decidiu pedir explicações e foi recebido no gabinete do 1º. piso.
Que «não era bem assim...», foi o que nos disse Almeida e Brito, querendo descansar-nos. Que realmente tinham sido pedidas armas, «as armas arrecadadas pela DGS» e que estavam no BC12, para aí umas duas ou três centenas. Mas que se eram essas, «não havia problemas...», pois, ele assim nos disse e nos descansou, «ou estão avariadas ou não têm munições». Foi um consolo, o que ouvimos!
A véspera, dia 14 de Julho, fora de tensão bem sofrida e alimentadora de muitas dúvidas: a FNLA, fazendo-se soberana do terreno uígense, impedira a saída de um MVL, de Carmona para Luanda. Ninguém gostou, entre a guarnição militar, e aquela de lhes dar armas mais incendiou os ânimos.
Dar-lhes armas, para nos atacarem?! Nããããã, nem pensar!
A data faz-me refrescar ideias sobre um incidente desse dia, na rotunda da entrada de Carmona (foto), de quem vinha do Quitexe e do Negage: um grupo de civis, europeus, já noite adentro, provocou a patrulha militar mista e um dos elementos africanos quis reagir, a... tiro!! Por momentos, poder-se-ia ter despoletado uma situação de muito sangue e de mortes, quem sabe?!
Felizmente, o africano obedeceu à ordem do furriel europeu que comandava a patrulha e não se passou do susto! Os militares indígenas, eram turras e filhos de todas as mães. Os brancos, europeus, uma cambada de cobardes e de traidores. O império, nos seus cabeceiros, teve destas malhas mal tecidas.

quinta-feira, 14 de julho de 2011

Os dias pesados de meados de Julho de 1975

Parada do BC12, em Carmona (anos 70 do século XX, da net)


Os meados de Julho de 1975, em Carmona, foram vividos com intensidade e receios, na ressasa dos trágicos acontecimentos dos primeiros dias de Junho - já lá ia mês e meio!... - e, para acumular dores e temores, também pelas consequências que se arrastavam de Luanda, onde se multiplicavam os conflitos entre a FNLA e o MPLA.
E os Cavaleiros do Norte isolados no Uíge, zona de controle da FNLA - «vencedora" dos incidentes de Junho!!!
A partir de 12 de Julho e pelos menos até 18, a guarnição entrou em «permanente situação de prevenção simples» - forma alegórica de dizer que, a cada momento, poderíamos ter conflitos entre-portas, principalmente na cidade de Carmona. Os patrulhamentos urbanos eram intensos, principalmente a partir da altura, recordo do Livro da Unidade, em que «houve que aguentar a provável ressaca da FNLA, face aos seus desaires em Luanda, Salazar e Malange».
A 13 de Julho e mais perto, no Negage, os FNLA´s cercaram o aquartelamento português e quiseram armas do CCAÇ. 4741. No mesmo dia, ontem se fizeram 36 anos e no comício da FNLA e do ELNA, fizeram-se afirmações preocupantes para a segurança e honra dos militares.
A 14, começou a registar-se «constante afluxo de refugiados da FNLA a Carmona». Mais gente, e gente «desembainhada» no seu orgulho, tornava o ambiente pesado e perigoso. Ameaçador!!! Um barril de pólvora que as NT iam controlando tanto quanto podiam. E puderam!
- FNLA. Frente Nacional de Libertação de Angola, preasidida por Holden Roberto.
- ELNA. Exército de Libertação Nacional de Angola, braço armado da FNLA.
- MPLA. Movimento Popular de Libertação de Angola, liderado por Agostinho Neto.
- NT. Nossas Tropas. As Forças Armadas Portuguesas.

quarta-feira, 13 de julho de 2011

Até um destes dias, Cavaleiro Barata!!!

Notícia da morte de Jorge Barata, que foi furriel de Zalala (em cima).
Em baixo, foto de então (1997)


O Barata foi furriel miliciano atirador de cavalaria e Cavaleiro do Norte de Zalala, de quem já aqui falámos. Depois, jornadeou por  Vista Alegre e Carmona, antes da Luanda que se fez «ponte» para Lisboa e para o chão e o afecto dos seus familiares e amigos de Alcains. 
Um deles e agora amigo comum, Manuel Peralta, seu companheiro de escola, de escuteiros e da vida, mandou-nos a notícia da sua morte, publicada no jornal Reconquista, de Castelo Branco - na edição seguinte à do seu inesperado passamento, a 10 de Outubro de 1997, vítima de enfarte de miocárdio.
O Barata foi companheiro dos bons e dos que não se esquecem! Casou com Graciosa dos Reis Dias e teve dois filhos: o Vitor, agora com 31 anos, e a Eduarda (25). A eles, que comungaram do seu afecto e com ele partilharam a graça de viverem o mesmo tecto, os mesmos sonhos de família e de futuro, o nosso abraço fraterno, grávido de saudade e levedado de solidariedade.
Até um destes dias, Barata! Grande Cavaleiro do Norte!
 Ver o blogue Terra dos Cães
este post dos Cavaleiros do Norte

terça-feira, 12 de julho de 2011

O Tenente Mora!

Tenete Mora e furriéis Neto e Viegas na avenida do Quitexe. Eu e ele de serviço, como se vê pelo armamento

O Tenente Mora era uma figura incontornável do Quitexe. Pelo feitio, pela forma, pela continência, pelo que fazia e não fazia. Pelas ideias e comando que exercia. Um Cavaleiro do Norte inesquecível. 
Não há história mais interessante das que a memória leveda no tempo, que não tenha o tenente Mora como personagem. Dele, recordo a mais irónica: quando ele procurou no meu quarto (que também era do Neto) uma rapariga que lá tinha entrado momentos antes, Assim tinham visto os seus olhos. A rapariga, «a moça», na graça dele, era simplesmente... eu. Ou a enternecedora audição do repenique sineiro, no mesmo quarto.
Uma noite, ele de oficial de dia (voluntário) e eu de sargento de dia, aconteceu o trivial das meias noites: por segundos, «falhava» a luz, que era substituída (a pública) pela dos geradores militares. Ligados por um soldado.  E assim foi.
«Sabotagem!...», gritou o tenente Mora, à falha de luz, atirando-se para o chão, em posição de combate.
Tínhamos de enfrentar o IN, que, na suposição dele, já nos  flanqueva a praça militar, quem sabe se já dentro da parada e prontos a asssinar os nossos soldados, que dormiam na noite quenete, enrolados nos lençóes das casernas.  
«Não é nada, meu tenente!!!...», gritei-lhe eu, de pé. E ele, bem mais maduro de idade, compenetradíssimo na sua missão de defesa do Quitexe, a querer rastejar na avenida.
Levou algum tempo até que percebesse o que se passava. O tempo de os geradores serem ligados.
- MORA. João Eloi Borges da Cunha Mora. Tenente do SGE, adjunto do Comandante da CCS. Faleceu a 21 de Abril de 1993, com 67 anos.

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Artilharia no Quitexe e missão do PELREC a Luísa Maria...

Caixarias, Hipólito, Silvestre (?), Viegas e Francisco em Luísa Maria (em cima). Brasão do BART. 6322 (em baixo)


A 1ª. CART. do BART. 6321 passou à dependência operacional do BCAV. 8423 nos primeiros dias de Julho de 1974 - «continuando a trabalhar na área dos «quartéis» de Camatela e Quiculungo», como refere o Livro da Unidade.  Foi por pouco tempo, pois «foi retirada ao Subsector em 28 de Julho».
Os tempos desse tempo eram de desenvolvimento de «elevado número de acções e operações» e os Destacamentos de Luísa Maria e Vista Alegre voltaram a «responsabilidade operacional do BCAV. 8423». As picadas e trilhos da ZA começam a ser íntimos dos grupos de combate - embora sempre perigosos, sempre espaços para armadilhas e medos! 
A Luísa Maria foi, por esta altura de 1974, o grupo de combate que eu integrava - o PELREC, da CCS - numa viagem de escolta ao comandante Almeida e Brito e numa vez (a primeira) em que vi uma pacaça - que corria atrás do UNIMOG pela picada fora e não caiu do tiro ao alvo de que foi vítima, acabando por se embrenhar na mata.
Terá sido, não estou certo, também a primeira vez em que parámos numa sanzala e contactámos directamente com o povo -talvez no Tabi, talvez no Catenda, ou no Caunda... -, lá sendo recebidos com a pompa da circunstância pelo soba.
Assim, aos poucos, íamos conhecendo a terra vermelha do Uíge, galgando pelas picadas e trilhos que nos levavam às serras de Canacajungue, ou Quibianga, ou da Quimbinda. E nos habituávamos as sons da mata, aos uivos e cantos da bicharada.

domingo, 10 de julho de 2011

A mentalização dos povos do Quimassabi e Quitoque

Quitexe (a vermelho), Quimassabi (verde) e Quitoque (amarelo), na estrada para Carmona

O dia 10 de Julho de 1974 foi, para os então debutantes Cavaleiros do Norte, mais um de runiões do Comando com os povos da ZA: os de Quimassabi e Quitoque, na beira da estrada de asfalto que liga a vila do Quitexe a Carmona.
A mentalização das populações para o novo ciclo político e militar, decorrente do 25 de Abril, era objectivo primário do BVCAV. 8423 e a essa tarefa se entregou, devotada e competentemente, o Comandante Almeida e Brito - que sempre se fazia acompanhar por oficiais e um pelotão. Algumas vezes (e também noutros casos) o PELREC foi «guarda de honra».
Não sei (não me lembro) se foi o caso deste dia 10 de Julho de 1974, mas é certo que uma e outra aldeia fizeram parte, indistintamente, da construção de memórias da nossa pasasagem pelo Uíge angolano.
Foi no Quitoque que começámos uma operação, nos primeiros dias da nossa comissão e na qual o alferes Garcia matou uma cobra gigante que se soltava de um cafezeiro sobre o pelotão, que pela primeira vez vi uma mulher africana a lavar os dentes com um pau e água de um riacho. O que era coisa espantosa para o nosso olhar de europeus. E lá vi as primeiras mulheres de peitos nus e filhos pendurados nas costas.
Memórias que hoje desfiamos!

sábado, 9 de julho de 2011

A saída definitiva do Quitexe...

Casernas e parada do Quitexe (vermelho), edifício do comando (rôxo), porta d´armas (amarelo) e administração civil (branco, em cima)

 
A 8 de Julho de 1975, a 3ª. CCAV. do BCAV. 8423 abandonou o Quitexe. Ali, foi a última guarnição militar portuguesa. O primeiro grupo de combate já abandonara a vila no dia 1 e, assim, ficou completa a retração do dispositivo militar do Uíge. Concentrado em Carmona.
A situação não era a melhor e, cito o Livro da Unidade, houve «necessidade de se preparar uma maior presença na cidade».
Os problemas, na verdade, já depois dos gravíssimos incidentes dos primeiros dias de Junho, não deixaram de se repetir. Ora confrontações entre militantes dos movimentos independentistas (armados), ora no relacionamento da comunidade civil, com a guarnição militar portuguesa.
O comando do BCAV. 8423 bem tentou respostas e soluções da parte do QG/RMA, para «a melhor situação em Carmona», mas a verdade é que nãs as teve e, em boa verdade, a guarnição sentia-se isolada, orfã a norte - numa zona (o Uíge) de fortíssima influência da FNLA, que o MPLA rejeitava e combatia, em palavras e, por vezes, com armas na mão. Como acontecia em Carmona, Vista Alegre, Aldeia Viçosa e Quitexe. Ou principalmente em Luanda e, mais perto de nós, em Salazar e Malange.
- QG/RMA. Quartel General da Região Militar de Angola.

sexta-feira, 8 de julho de 2011

Reunião de comandos do Batalhão de Cavalaria 8423

Bar dos Sodados (cercada a vermelho) e enfermaria militar (a amarelo) do Quitexe


A 8 de Julho de 1974, reuniram-se no Quitexe os comandantes das várias sub-unidades do BCAV. 8423 - da CCS, da 1ª. (Zalala), da 2ª. (Aldeia Viçosa) e da 3ª. CCAV´s (Santa Isabel). Foi a primeira reunião mensal dos Cavaleiros do Norte. A 5, mas em Sanza Pombo, fôra a vez de idêntica reunião, mas esta dos comandos do Comando do Sector do Uíge.
A guarnição militar adaptava-se gradualmente ao ambiente da vila-mártir e desenhavam-se a criavam-se afinidades com a comunidade civil. Os bares e restaurantes eram bons pontos de convívio - inicialmente algo desconfiado, até constrangido e frio. Um dos primeiros civis com quem falei (me lembro), foi o sr. Guedes, que tinha casa para o lado do Topete e era um bom conversador. E, de resto, como se veria depois, com muitas afinidades com a gente militar - particularmente com os sargentos do quadro.
A imagem cercada a vermelho mostra a casa que, no Quitexe, foi o bar dos praças da CCS. A cobertura da esquerda serviu de espaço para aulas regimentais. Em frente, para a direita, ficavam a messe de oficiais. E bem se vê a dimensão da avenida - também conhecida por Rua de Baixo.

quinta-feira, 7 de julho de 2011

Acções, operações e o novo Governo em Lisboa


O reconhecimento de toda a ZA do Batalhão de Cavalaria 8423 continuou por Junho de 1974 adentro. A 7, por exemplo, foram visitadas a 2ª. CCAV., em Aldeia Viçosa (identificada no mapa, dentro do rectângulo a rôxo) e a fazenda Negrão - cuja localização não consigo memoriar.
Terminara, entretanto, a Operação Castiço DIH, com novo contacto com o IN, na Central do Negage - em data não precisa, mas sem quaisquer consequências. Enquanto isso, e cito do Livro da Unidade, «desenvolveu-se elevado número de acções e operações em toda a ZA, mas nomeadamente sobre o  Mungage, Negage, Aldeia e Tabi».
Correio de  Portugal dá conta de muitos problemas políticos e sociais em Lisboa. Uma carta do Governador Civil de Aveiro a 25 de Abril de 1974 (exonerado nos dias seguintes), faz irónico  comentário sobre a nova política nacional: «Mudaram as moscas!!!...».
Lisboa arde em conflitos e instabilidade: Palma Carlos (foto de baixo), líder do 1º. Governo Provisório, tomou posse a 15 de Maio e demitiu-se a 9 de Julho, sendo exonerado a 11. MFA e Governo não se entendem e Palma Carlos, sem carta branca para fortalecer o seu poder, bateu com a porta. Substituído por Vasco Gonçalves (foto de cima) - coronel que formou Governo com 17 ministros: 8 do MFA, dois do PS, um do PPD (PSD), um do PCP e independentes, com orientação política proxima do PCP.A nós, no Quitexe e sua ZA, tudo isto passava ao lado. O Expresso era, na altura, o jornal que nos chegava à 2ª.-feira e em que íamos lendo «novas» da confusão que se passava em Lisboa. Com as dicas do correio pessoal que nos chegava, lá nos íamos "informando", embora sem pormenores e sem sem entender bem as intrigas e a chicana do movimento revolucionário que se enlabaredava por Lisboa e corria o país fora. Da Guiné, onde jornadeavam os comterrâneos Dinis, António Melo e o Aldírio, chegavam aerogramas com notícias do próximo regresso a Portugal, com a independência dada ao PAIGC. E nós? Em Angola? Não sabíamos, mas ainda tínhamos mais de um ano pela frente.  

quarta-feira, 6 de julho de 2011

Os velórios angolanos e a mentalização dos povos

Viegas e Pires (Montijo) na sanzala do Talambanza, na saída do Quitexe para Luanda

Os militares, chegados da Europa e inebriados pelos calores d´Angola, rapidamente ganharam apetite por conhecer os hábitos dos nativos. Eu, por mim, dou-me conta de fazer registos escritos (e agora relidos) sobre as tradições negras, por exemplo nas noites de velório. Tinham hábitos estranhos, para nós, e registei alguns em fitas de gravador - que, infelizmente, se deterioram com o tempo. Já lá vão 37 anos.
Gravei e registei explicações sobre os cânticos e batucadas, bebidas e espiritualismo dos nativos - aspectos de cultura, ou de etnografia e folclore, que me entusiasmaram e acicatarm muitas curiosidades, a ponto de, sobre isso, demoradamente falar com os «mais velhos»do Talambanza e do Canzenza.
Entusiasmou-me conhecer, realmente e por dentro, as tradições populares nesta área tão sensível da vida humana, a morte! - e que eles viviam de forma estranha, para os nossos hábitos.
A imagem fotográfica deste post é de Julho de 1974, nela estando eu e o Pires - o imortal Pires do Montijo.
Outro regresso, agora ao Livro da Unidade, é para lembrar que, a 6 de Julho desse ano, o comandante Almeida e Brito, na «continuação da mentalização das populações», fez nova série de reuniões com os povos das sanzalas em redor do Quitexe. Desta feita, as povos de Aldeia e Luege. Hoje passam 37 anos!
- PIRES. Cândido Eduardo Lopes Pires, furriel miliciano sapador. Natural do Montijo e residente em Niza, onde é funcionário camarário.
- ALDEIA. Sanzala (povoação) à saída do Quitexe, na estrada (picada) para Camabatela.
- LUEGE. Idem, na estrada para Luanda.

terça-feira, 5 de julho de 2011

A Polícia de Informação Militar (PIM) do Quitexe

Avenida do Quitexe (Rua de Baixo). À direita, Casa dos Furriéis, messe de oficiais e, ao fundo, depósito de géneros e messe de sargentos (casa branca, à direita). Foto de 2004 (net)


Quem por aqui nos lê faz ideia de quantas vezes calcorreei este passeio que se vê aqui a direita? Não faz. Pelo dia de hoje, de 1974, ainda não eram muitas, tínhamos apenas (quase) um mês do Quitexe, mas, até 2 de Março de 1975, foram largas centenas, milhares. Era o meu caminho (e de outros) para as messes - de sargentos e oficiais. E por ali cirandávamos nós, também a caminho da enfermaria (ao fundo - à esquerda do telhado em bico que se vê em branco). Ou, aqui para trás (do lado de que a foto é tirada, para a secretaria e comando da CCS (imediatamente a seguir), mais à frente a do comando do batalhão (na esquina da rua que ia para a igreja) e a parada, casernas e oficinas.
Bom, vamos a factos: a 4 de Julho de 1974, leio no Livro da Unidade, «completou-se o quadro orgânico da Policia de Informação Militar» - a PIM, «sucedânea» local da DGS (PIDE), mas pela qual não me lembro ter dado, a não ser quando, em data que não consigo concordar, participámos numa operação militar que envolveu os Flechas e dela ouvi falar.
Tão discreta deveria ser a sua actuuação que nem demos por ela, a PIM. Mas, ontem se fizeram 37 anos, apresentou-se ao comandante Almeida e Brito «o chefe de Posto daquela polícia do Quitexe». 
Julgo não estar enganado, mas nunca conheci a cara de tais PIM´s.

segunda-feira, 4 de julho de 2011

A morte do furriel miliciano Jorge Barata, de Zalala!

Barata (à esquerda, em cima), furriel miliciano em Zalala, com o alferes Santos e o Rodrigues (fm). E como defesa central do Alcains, quinto a contar da esquerda, de pé

O Barata, o furriel miliciano Barata, faleceu em 11 de Outubro de 1997, na sua terra de Alcains, cujas cores defendeu no futebol (foto) e na alma. Era um dos Cavaleiros do Norte de Zalala e dele, tenho a imagem da sobriedade, do companheirismo e da verticalidade, sem submissões ou exageros, cumpridor fiel da missão que o (nos) levou à jornada angolana do Uíge.
O nosso envolvimento relacional começou em Santa Margarida, pelos primeiros meses de 1974, na formação do batalhão - ele na 1ª. Companhia, eu na CCS. Continuou em Angola, particularmente nas missões que, ido de Zalala, ele cumpriu no Quitexe.
A 22 de Novembro de 1974, com toda a guarnição zalaliana, passou para Vista Alegre e depois para Carmona - antes de, em Agosto de 1975, seguir para Luanda - onde chegara a 1 de Junho do ano anterior. De lá saiu, com comissão finda e para Lisboa, a 9/10 de Setembro desse mesmo ano de1975.
O Barata faleceu vítima de um enfarte do miocárdio. Na véspera, ainda treinou futebol, jantou, sentiu-se mal, seguiu de ambulância para o hospital e faleceu no dia seguinte - 11 de Outubro de 1997, às 7 horas da manhã.
Deixou viúva, um filho e uma filha.

Até um destes dias, Barata!
- BARATA. Jorge António Eanes Barata, furriel miliciano atirador de cavalaria, da 1ª. CCAV. 8423. Natural de Alcains.