fazia que engraxava os meus sapatos
Chegou-me um delicioso e emotivo comentário sobre o Papélino, o Agostinho Papélino, engraxador oficial do Quitexe, corneteiro oficial do Quitexe! Ou mangueiro oficial do Quitexe?!! Ele corneteava os toques militares com uma magueira de jardim! E era o nosso mascote!! Era?!
Quem nos escreveu, assinando (digo eu) a primeira crónica inter-activa deste blogue, é Casal, ex-militar do Quitexe, que começa por frisar que«muita coisa haveria para contar sobre o Agostinho!». E diz ele:
«Sempre que falo de África menciono o seu nome. Viveu tempos muito dramáticos. Conheci-o quando o livrei de uma quase bárbara agressão, após ter conseguido comida no quartel. Levava-o comigo ao Topete e ainda vejo os seus olhos mirar o "prego". A carne era maior que o pão e não sabia bem por onde começar! O dono da casa ousou um dia fazer reticências e foi aí que estalou o verniz! Tudo se esclareceu e até ficámos amigos... ou quase! No dia seguinte, era chamado ao capitão, mercê da pressão exercida pelo então meu amigo ex-alferes Serpa. Foi o comandante quem, ao ouvir a conversa, não lhe atribuíu qualquer valor e acabou com o assunto ali mesmo. O mais importante é que o "enguia" continuava a ir ao Topete deliciar-se com a comida, acompanhada por uma "mission" de maçã. Durante um ano e quase todos os domingos me engraxava um par de sapatos que eu nunca calcei, mas que ele afirmava peremptoriamente estarem necessitados de cuidados. Eu nunca lhe disse nada, mas num dos seus raros momentos de distração constatei que usava pomada duma caixa...vazia!Dei-lhe uma caixa nova mas duvido que a tenha usado em meu proveito. Talvez tenha servido para cativar clientes na Companhia que me foi render. Durante um ano, o "enguia" esteve protegido mas o dia 26 de Abril de 1973 tinha chegado. Às seis da manhã, lá estava ele à minha espera para se despedir. Olhos no chão e um nó na garganta, igual ao que ainda hoje sinto quando falo dele. Oxalá seja hoje hoje um adulto realizado. - Casal»
NOTA CV: O Papélino era isso mesmo, não faria eu melhor a caricatura viva que lhe foi feita por Casal. Engraçado como tudo o que descreve se repetiu um ano depois e meses seguintes: comigo, com o Neto, o Farinhas (todos na foto). E outros «cavaleiros» do Quitexe. Até o prego no Topete e a Mission meia fresca - bebida de que francamente já não me lembrava! E o faz que engraxa mas não engraxa; até a oferta de uma caixa de graxa!
Dele, sempre me ficou uma dúvida: se ele não passava informações para o IN. Perguntei-lhe e sempre negou, mesmo quando o confrontei com uma situação concreta. Aparentemente, ele não se chamaria Agostinho, mas talvez Francisco Caiango, ou Augusto Cacongo! Ou outro nome qualquer! Era uma criança grande, muito esperto, mais que inteligente; sagaz, mais que o que dava a entender. Dele, recordo a última palavra, a 2 de Março de 1975: «Leva-me nos puto, esfurrié...».
Nem eu nem o Neto lhe respondemos. Passei-lhe eu a mão na carapinha e não disse uma palavra, dei-lhe 20 angolares! Fugiu com eles embrulhados na mão, a correr, e ficou atrás das plantas da messe de oficiais que ia ser abandonada, a ver-nos partir para Carmona.
Lá me procurou, no BC12, algum tempo depois!
- FARINHAS: Joaquim Augusto Loio Farinhas, furriel miliciano sapador, de Amarante. Esteve nos Estados Unidos e regressou.
1 comentário:
Abraço, Mosteias e Viegas...
Havemos de ir a Angola...
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