sábado, 16 de maio de 2009

Um susto, ou uma emboscada...

Mercado de café, em Carmona (Uíge). Clicar, para ampliar

Um dos nossos mais vulgares serviços eram feitos às fazendas, dando protecção aos seus movimentos de viaturas, nomeadamente em tempo de colheita e venda de café - no mercado de Carmona (como se vê na foto, tirada da net). Iam-se dezenas e dezenas de quilómetros a engolir o pó das picadas, sempre de arma tensa e olho vivo, para repetir a viagem no sentido inverso! E, depois, de novo repetindo. No mesmo dia!
Não era fácil! Eram muitos, muitos quilómetros num só dia, por picadas sempre inseguras e nas quais cada dúvida ou ruído aumentavam os nossos medos. Uma vez, serpenteava a coluna por um monte quando avariou um unimog. Foi um susto!!! Maior susto ainda porque um militar viu um homem, aparentemente armado, por detrás de um penhasco. Reagimos, foram tomadas todas as acções de circunstância e uma equipa do pelotão avançou, lesta e corajosa, para um imediato «golpe de mão», se assim posso dizer - a equipa do 1º. cabo Cordeiro. E galgou o monte à direita da coluna. Estes momentos são de muita inquietação e exigem serenidade. E coragem!!! Nada viu a equipa, que foi e voltou, connosco todos em ansioso alerta, controlando emoções e respirando apressados para o que seria o nosso baptismo de guerra. E lá continuámos a missão - interrompida por uns bons três quartos de hora de tensão. Passámos neste local, nesse dia, mais três vezes e, não se ouvisse o roncar dos motores dos unimogs, diria eu que olhávamos aqueles penhascos em silêncio sepulcral! De cortar à faca!! De olhos e sentidos apurados!!!
Soubemos mais tarde, por um suposto membro da FNLA (supostamente integrante desse alegado grupo), que nos tinham emboscado e se preparavam para atacar, quando avariou a viatura. A reacção imediata do nosso grupo terá evitado males maiores. O sítio era propício a uma verdadeira flagelação - a uma carnificina. Quase bastaria, na verdade, que nos atacassem à pedrada.
- CORDEIRO: José Manuel de Jesus Cordeiro, 1º. cabo atirador de cavalaria, natural da região de Leiria.

2 comentários:

Anónimo disse...

caro Viegas, felicito-o pela ideia de recordar a nossa passagem pelo Quitexe, gostava de lhe mandar fotografias nas infelizemene não as encontro mas mandarei assim que as encontrar, ainda me lembro do nome da maior parte dos homens do seu pelotão.

Anónimo disse...

Ésbeleza, meu... tu tem espertos nos cabeço para escreveres assim...
Abraço grande, mais velo... temos de nos encontrar, para recordar histórias e mais histórias...
Ricardo