terça-feira, 26 de maio de 2009

A morte da cobra cuspideira com o tiro certeiro do Alferes Garcia



ALFERES GARCIA, ao lado,
e a estrada de Quitexe para Carmona

A estrada para Carmona era o norte habitual da malta militar, que lá ia, à cidade, com fome das aventuras que a pacata e familiar vila do Quitexe não proporcionava.
Muitas vezes passámos nós por esta estrada, à cata de algum momento mais divertido, idos da vila onde estava instalado o comando do BCAV 8423. Éramos jovens de sangue quente, muito quente, e permanentemente desejosos dos pecados da carne! O que, verdadeiramente, nem era surpresa ou novidade para ninguém!
Havia, para ir à cidade, uma espécie de «rotação» entre os militares que, com o devido «passaporte», se faziam transportar nas viaturas que seis dias por semana asseguravam o Serviço Postal Militar (SPM). Saía-se pela manhã e vinha-se ao fim da tarde, depois de chegar o avião de Luanda - o avião que trazia o correio. O intervalo era para andar na galderice!
A minha «estreia» nesta estrada, porém, foi em viagem até uma tabanca muito próxima do Quitexe, onde o nosso pelotão foi «despejado» das berliets. Dali, iríamos palmilhar alguns bons pares de horas, num patrulhamento diurno que nos levou por lavras e matas. E pelos tais medos que sempre tínhamos!
Desse dia, absolvam-me da minha surpresa ao ver as mulheres a lavar roupa num ribeirito de pouca água, meias desnudas, de seios soltos e fartos, com os seus corpos cor de ébano a bombalearem-se descontraídamente - e que nós olhávamos com avidez desmesurada, ficando como que embriagados de cio e desejo. Outras, com as crianças às costas, pilando um milho que me parecia preto. Outras ainda, estranhamente, esfregando os dentes com um pau. Vim a saber que os estavam a lavar! Tudo isto era estranho para nós, há pouco chegados da Europa.
Desse dia, faço memória da pontaria «milagrosa» do Alferes Garcia, muito seguro na mira da G3 e no disparo que matou uma enorme cobra que se espreguiçava de um cafezeiro e, quem sabe?, iria cuspir veneno para cima de algum de nós.
Foi um tiro certeiro, e único, depois da ordem para o PELREC parar! E o enorme bicho, ferido de morte, contorceu-se, virou-se, pendurou-se, silvou... - um estranho silvo, como se assobiasse, um silvo que nos amedrontou... - e caiu, falecendo-se aos poucos! Um negro que a esventrou disse-nos mais tarde que era mesmo venenosa.
Nesse dia, algum de nós, quem sabe?, teve Deus pelo seu lado! E a sorte da pontaria e serenidade do Alferes Garcia, para evitar alguma tragédia!
Tinha a cobra mais de três metros e um peso e volume para ser pegada por três homens, já morta e bem morta! Lembro-me também de, nesse dia, um dos nossos soldados ter comentado a pontaria do alferes: «O tipo é bom!!....».
E era. E nem só na pontaria! Também na alma! Imensamente! Sempre!!!!

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