e a estrada de Quitexe para Carmona
A estrada para Carmona era o norte habitual da malta militar, que lá ia, à cidade, com fome das aventuras que a pacata e familiar vila do Quitexe não proporcionava.
Muitas vezes passámos nós por esta estrada, à cata de algum momento mais divertido, idos da vila onde estava instalado o comando do BCAV 8423. Éramos jovens de sangue quente, muito quente, e permanentemente desejosos dos pecados da carne! O que, verdadeiramente, nem era surpresa ou novidade para ninguém!
Havia, para ir à cidade, uma espécie de «rotação» entre os militares que, com o devido «passaporte», se faziam transportar nas viaturas que seis dias por semana asseguravam o Serviço Postal Militar (SPM). Saía-se pela manhã e vinha-se ao fim da tarde, depois de chegar o avião de Luanda - o avião que trazia o correio. O intervalo era para andar na galderice!
A minha «estreia» nesta estrada, porém, foi em viagem até uma tabanca muito próxima do Quitexe, onde o nosso pelotão foi «despejado» das berliets. Dali, iríamos palmilhar alguns bons pares de horas, num patrulhamento diurno que nos levou por lavras e matas. E pelos tais medos que sempre tínhamos!
Desse dia, absolvam-me da minha surpresa ao ver as mulheres a lavar roupa num ribeirito de pouca água, meias desnudas, de seios soltos e fartos, com os seus corpos cor de ébano a bombalearem-se descontraídamente - e que nós olhávamos com avidez desmesurada, ficando como que embriagados de cio e desejo. Outras, com as crianças às costas, pilando um milho que me parecia preto. Outras ainda, estranhamente, esfregando os dentes com um pau. Vim a saber que os estavam a lavar! Tudo isto era estranho para nós, há pouco chegados da Europa.
Desse dia, faço memória da pontaria «milagrosa» do Alferes Garcia, muito seguro na mira da G3 e no disparo que matou uma enorme cobra que se espreguiçava de um cafezeiro e, quem sabe?, iria cuspir veneno para cima de algum de nós.
Desse dia, faço memória da pontaria «milagrosa» do Alferes Garcia, muito seguro na mira da G3 e no disparo que matou uma enorme cobra que se espreguiçava de um cafezeiro e, quem sabe?, iria cuspir veneno para cima de algum de nós.
Foi um tiro certeiro, e único, depois da ordem para o PELREC parar! E o enorme bicho, ferido de morte, contorceu-se, virou-se, pendurou-se, silvou... - um estranho silvo, como se assobiasse, um silvo que nos amedrontou... - e caiu, falecendo-se aos poucos! Um negro que a esventrou disse-nos mais tarde que era mesmo venenosa.
Nesse dia, algum de nós, quem sabe?, teve Deus pelo seu lado! E a sorte da pontaria e serenidade do Alferes Garcia, para evitar alguma tragédia!
Tinha a cobra mais de três metros e um peso e volume para ser pegada por três homens, já morta e bem morta! Lembro-me também de, nesse dia, um dos nossos soldados ter comentado a pontaria do alferes: «O tipo é bom!!....».
Tinha a cobra mais de três metros e um peso e volume para ser pegada por três homens, já morta e bem morta! Lembro-me também de, nesse dia, um dos nossos soldados ter comentado a pontaria do alferes: «O tipo é bom!!....».
E era. E nem só na pontaria! Também na alma! Imensamente! Sempre!!!!
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