sábado, 9 de maio de 2009

O «ataque» à 3ª. BCAV em Santa Isabel

Viegas (CCS) e Carvalho (3ª. BCAV), furriéis
do BCAV 8423, no dia de Ano Novo, no Quitexe

S
anta Isabel era uma fazenda de café, entre o Quitexe e Aldeia Viçosa, onde estava aquartelada a 3ª. CCAV do BCAV 8423. O comandante era o capitão Fernandes e fui lá três, quatro vezes, em missões de reabastecimento e lá passei uma noite, de partida para uma operação de dois ou três dias.
Uma outra noite, lá por meados de Setembro de 1974 - eu não estava lá... - confraternizavam os militares, com mais uma cerveja, um gole de wiskye, um jogo de cartas, um aerograma que se lia ou escrevia para namoradas e famílias, uma mais acalorada discussão sobre o futebol ou a política que se instalava em Portugal, quando rebentou uma granada - ali mesmo, na boca da zona aquartelada. Estremeceram os homens, com o peito a rebentar de ansiedade. E tensão! Nunca tal tinha acontecido. E mais ainda quando, logo, logo depois... uma rajadada silvou na noite, gelando coragens e desblindando medos.
Tudo se agitou num ápice, o piquete, o oficial e o sargento de dia, a guarda de armas, granadas, morteiros em riste, aprontando-se todos para o combate!! O aquartelamento estava a ser atacado!
O Lino galgou o terreiro do café em passada larga, correndo com o Graciano em direcção a um unimog equipado com uma Breda. Conduzia o Lino - que era mecânico... - e instrumentou-se o Graciano para disparar para tudo o que bulisse à volta. "Ah gandulagem!...".
O efeito da rajada da Breda seria letal a quem lhes aparecesse pela frente! Ai não que não era.... As intenções eram de combate puro, correndo soldados, sargentos e oficiais para todas as posições de defesa. Em opoucos segundos!
Tudo serenou num repente, não se ouviram mais tiros nem granadas e foi-se a ver e a Breda, instalada no unimog que dava voltas aceleradas ao terreiro do café, guiado pelas mãos nervosas mas seguras do Lino, nunca disparou, porque o pente das munições estava ao contrário. E não houve mais tiros e medos na noite.
Afinal, a granada tinha sido arremessada de um dos postos de sentinela, por um soldado que, à passagem de animais selvagens, se deixou iludir pelo escuro e gritou, gritou de alarme e medo, angustiado na noite que crescia cheia de sombras. E a despoletou sobre o «inimigo» - que eram os animais. Tudo acabou num instante, nos instantes depois do pavor e tensão que se espalharam por Santa Isabel. O que se adivinhava como tragédia, recorda-se hoje com a ironia e caricatura possível!
- FERNANDES. José Paulo de Oliveira Fernandes, capitão miliciano de infantaria, comandante da 3ª. CCAV do BCAB 8423.
- CARVALHO. José Fernando Costa Carvalho, furrriel miliciano atirador de cavalaria, PSP aposentado, mora no Entroncamento.
- LINO. José Rodrigues Lino, furriel mecânico-auto, do Fundão.
- GRACIANO: Graciano Correia da Silva, furriel miliciano atirador de cavalaria, de Souto de Lamego.

1 comentário:

MELO disse...

Dois bons amigos, conheci melhor o Carvalho, o Viegas era da CCS, mas fizemos coisa juntas e bonitas. Estive com ele algumas vezes, depois da tropa, mora em Águeda