O furriel Neto e o Alferes Ribeiro, numa noite do Quitexe
O alferes Ribeiro era o oficial miliciano sapador, de um pelotão que incluía os furriéis Mosteias, Cândido Pires e Farinhas. Engenheiro de formação, era a imagem da serenidade, da camaradagem, da tolerância e do saber-estar.
Um dia, estava ele, alferes Ribeiro, de serviço - de oficial de dia - e eu de sargento de dia, fazia-se a apresentação regulamentar da companhia, na parada das casernas e oficina-auto, atrás do edifício verde do comando. Eram três menos um quarto, o sol estava quase a pique e os soldados formavam o «U» com a malandrice indolente da hora, despreocupados e lentos, depois do café e do bagaço do almoço. Nada que não fosse habitual.
Era norma que, ultimada a formatura, se apresentasse a companhia ao oficial de dia. E naquela hora estaria a caminho o alferes Ribeiro, vindo da messe de oficiais para o cerimonial, quando irrompeu na parada o capitão Oliveira. Que eu não vi! Ele morava ali perto, fora do aquartelamento, com a mulher, a filha e o neto, e nem era habitual comparecer às duas formaturas diárias. Pois apareceu e, como não lhe fiz a apresentação regulamentar, berrou-me: «Ó nosso cabo, apresente lá essa m...».
Pfff...., o que disseste, capitão!!! Fiquei pasmado da surpresa de ele aparecer e do que disse! Gelaram-se-me as veias e mordi os lábios. De raiva!!! Cabo, eu?!!! «Essa m...?!!!...». Essa quê?!, perguntei-me por dentro. «Vossa Excelência meu comandante dá licença?!!! Apresenta-se o furriel miliciano tal, nº. tal, de Operações Especiais! M... pronta!!!», apresentei eu, depois dos passos do regulamento, à direita, em frente, palada de mão direita, hirta e seca, saudando o oficial! Ai o que eu disse!
Gerou-se um burburinho dos diabos, entre a centena e meia de praças que estavam na formatura. Meia volta, passo em frente, um, dois três: «Na formatura, não se fala, não se mexe, nem que passe um c... pela boca!...», gritei eu. Eu estava mesmo furioso para caraças!
Gerou-se um burburinho dos diabos, entre a centena e meia de praças que estavam na formatura. Meia volta, passo em frente, um, dois três: «Na formatura, não se fala, não se mexe, nem que passe um c... pela boca!...», gritei eu. Eu estava mesmo furioso para caraças!
Foram uns segundos de tensão. Farta tensão! Voltei-me: passo à direita, outro passo, e ia a reapresentar a Companhia mas o capitão já ia a caminhar a uns metros de mim, já de costas. A ir embora.
«Disse-me para lhe dizer, para ir ao gabinete dele...», disse-me o cabo Marques, o carpinteiro - o Manuel Augusto da Silva Marques, de Esmoriz.
Lá fui. De caminho, disse-me o alferes Ribeiro. «Podias ter evitado isso, aguenta-te!...».
Fui e nada aconteceu de especial, para além da invocação das NEP´s e muito comigo temeroso de alguma atitude disciplinar. Que não aconteceu!
Comentou-me o alferes Ribeiro, nessa noite, íamos aí pela uma da madrugada, estando eu seguro que estava solidário comigo: «Não percebeste o capitão, estou por ti mas podias ter criado um problema...».
O meu castigo foi ser nomeado fiscal de alimentação, à ordem. Acho que nisso fiz um papelão, razão de histórias para outras alturas!
O meu castigo foi ser nomeado fiscal de alimentação, à ordem. Acho que nisso fiz um papelão, razão de histórias para outras alturas!
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