segunda-feira, 9 de abril de 2012

Cavaleiros do Norte mudam de sítio!

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Norte continua AQUI
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1 249 - 3 anos e 1 248 postagens depois...


Há 3 anos, hoje se completam, era quinta-feira santa, e ocorreu-me lançar este blogue, para falar de um tempo   memorável das nossas vidas e da história de Portugal e de Angola! 
Aqui se publicaram, todos os dias, depoimentos, histórias e memórias de muitos de nós! Alguns momentos epopeicos aqui ficaram narrados. Outros mais dramáticos, que os sons e cheiros da guerra deixa/ra)m marcas e semearam algumas tragédias! Por aqui vamos continuar, por mais algum tempo! Com nova cara, por razões de eficácia informática. E o espaço continua disponível para que por bem, aqui queira deixar memórias, histórias e estórias. Uma mais divertidas, outras mais dramáticas e emotivas, afinal as que fizeram os 15 meses do Batalhão de Cavalaria 8423 em terras de Angola.
CELESTINO VIEGAS
- IMAGEM. Reprodução do post 
nº. 1, de 9 de Abril de 2009.
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domingo, 8 de abril de 2012

1 248 - Viagem para os dias (bons) de Nova Lisboa...

Cruz e Viegas, num miradouro do qual se via Nova 
Lisboa (agora, Huambo), na estrada para a Caala (Roberto Williams)

Dias de Abril, 1975! Eu e o Cruz, já alambazados da vida boa e flautiada de Luanda, voámos na TAAG para Nova Lisboa! Lá fui surpreender familiares: a Cecília, marido e filhos. E ia rever minha madrinha Isolina, viúva de meu padrinho baptismal, Arménio Pires Tavares.
O voo foi rápido, sobrevoando a terra angolana com a curiosidade de quem descobre coisas novas, para o sul sem guerra, o sul de natureza generosa e bela, de terras de grande desenvolvimento, que nos enchiam os olhos e a alma, levedando o ego.
Lá chegado, fomos de táxi até ao Bimbe, hotel onde Cecília e Rafael (o marido) faziam pela vida, como proprietários e trabalhadores, depois de terem vendido a fazenda da Gabela - onde eu estiveram em Setembro. De propósito, pedimos ao taxista para nos levar pelos sítios mais atractivos da cidade, antes de chegarmos à avenida  do hotel. Deslumbrámo-nos! A cidade era belíssima, moderna, de ruas e avenidas largas, grandes jardins, tudo de encher o olho. Grande e agradabilíssima surpresa!
Por Nova Lisboa também estavam primos de meu pai - o Manuel e o Zé Viegas, os filhos do tio Joaquim (a professora Ivone e o funcionário público Sérgio). E outros conterrâneos: o Orlando, o Miranda (pai dos meus amigos Óscar e Nélson). Iam ser (e foram) dias de grande intensidade social! Cheios de afectos e de carinho. Os dois militares do BCAV. 8423 tornaram-se meninos (muito) bem cuidados por familiares e amigos.

sábado, 7 de abril de 2012

1 247 - Dias do Uíge, aos primeiros de Abril...



Ponte do Dange (em cima) e Vista Alegre  
Aos dias primeiros de Abril de 1975, era expectável que continuasse e se concluísse o programa de remodelação do dispositivo militar do Batalhão de Cavalaria 8423. Não foi bem assim.
Os comportamentos, no terreno, dos movimentos emancipalistas, «resultantes do abandono de determinadas instalações militares», levou o comandante Almeida e Brito «a aguardar que se resolvessem, a  alto nível, as questões pendentes e inerentes a esse abandono».
As escaramuças entre os militares dos movimentos repetiam-se, querendo eles marcar terreno, a seu modo e interesse político e militar, e tal comportamento provocava instabilidades, insegurança e muitos receios - nomeadamente da população civil. E não só a europeia, também a local.
Os patrulhamentos mistos - envolvendo tropas portuguesas e as da ELNA, FAPLA e FALA e que se efectuavam desde 26 para 27 de Março - procuraram evitar a deterioração da situação, mas não resolviam tudo. Sublinhe-se, aqui, o espírito solidário e competente dos militares portugueses envolvidos, pois nem sempre era fácil ultrapassar os constrangimentos criados pela evolução de uma força armada que envolvia quatro tendências, chamemos-lhe assim: as NT, as FAPLA, as FALA e o ELNA.
Só a 24 de Abril se desactivou Vista Alegre e Ponte do Dange, quando a 1ª. Companhia rodou para o Songo e com um destacamento temporário em Cachalonde.
- NT. Nossas Tropas (Forças Armadas de Portugal).
- FAPLA. Forças Armadas Populares de Libertação de Angola, do MPLA (Agostinho Neto).
- FALA. Forças Armadas de Libertação de Angola, da UNITA (Jonas Savimbi).
- ELNA. Exército Nacional de Libertação de Angola, da FNLA (Holden Roberto). 

sexta-feira, 6 de abril de 2012

1 246 - Os heróicos passos do Branco...

Alvarito e Passos Branco no Quitexe


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ANTÓNIO CASAL DA FONSECA
Texto



O Passos Branco é um leitor assíduo deste blog, onde de vez em quando deixa os seus comentários. Eu, que há tanto tempo ando para lhe dedicar um texto, logo haveria de o saber antes de o escrever! É que assim até pode parecer que falo e escrevo bem dele, apenas pela razão de por aqui andar com os mirones e assim limitar-me as ideias! Pois está o Passos Branco muito enganado, se pensava que eu vinha para aqui engraxá-lo e rotulá-lo como o melhor do mundo! É que nem pense!

Eu tinha lá a lata de dizer bem de um indivíduo que foi soldado na CCS do BCaç. 3879, magro, para não dizer franzino, e convencido que conhecia todas as picadas da área do Quitexe e Ambrizete?! Nem pensar, mas que as conhecia todas melhor que ninguém, disso nunca houve dúvidas! As curvas, descidas e subidas, e para elas alertava sentado no banco do unimog! E os cuidados que ele lançava, alertando para os perigos que vinham da mata, ali mesmo a escassos metros de nós!?

Se eu quisesse falar bem do Passos Branco, teria de lembrar o seu espírito voluntarioso, a sua disponibilidade nos momentos mais difíceis, apanágio dos valentes e dos que nunca viram a cara à luta! Nunca, em circunstância alguma se lhe notou um arrepio, e se o sentiu não o quis transmitir, tal era a sua fibra!

Se eu quisesse engraxar o amigo Branco, diria também que ele se congratulava com a minha presença nas escoltas! Não porque me desejasse tal risco mas porque entendia que um grupo em situações de perigosidade era mais coeso quando alicerçado pela amizade!

Muitas coisas eu diria do amigo Branco, tantas que me poriam horas a escrever! Diria, também, que foi um dos seres humanos que mais me impressionou durante toda a comissão, pela franqueza e postura, mas principalmente pela camaradagem que sempre demonstrou, até em situações bem adversas!

Agora, e mais a sério, dizer tudo isto acerca do Passos Branco não se trata de um favor que lhe presto mas sim de uma justiça. A sua coragem vai muito para além da demonstrada nas picadas e matas do Quitexe!

Outras “picadas” se seguiram, ao longo de décadas, como ele e eu bem sabemos, com uma coragem que só os heróis têm! E sempre no seu tom gaiato e brincalhão que lhe é tão peculiar e natural!

Desculpa lá ó Branco, mas se calhar até sinto inveja da tua coragem!!!
ANTÓNIO CASAL DA FONSECA




quinta-feira, 5 de abril de 2012

1 245 - Luandices e rotações no Uíge militar

Baía de Luanda, à noite (1974). Largo da Portugália, 
um dos locais de culto da tropa portuguesa (em baixo)



Aos idos primeiros dias de Abril de 1975, andávamos (eu e o Cruz) a laurear o queijo por Luanda, feitos civis de férias e vida regalada, mas não parava a vida pelo território uíjano. Os Cavaleiros do Norte preparavam as últimas rotações e as consequentes saídas dos aquartelamentos do Quitexe (3ª. CCAV.), Ponte do Dange e Aldeia Viçosa (a 2ª. CCAV.).  
A 4, o tenente-coronel Almeida e Brito retomou o comando do Batalhão, que interrompera para interinamente liderar a ZMN. Ficara o capitão José Diogo Themudo a comandar e continuou como 2º. comandante. A 6, hoje se completam 37 anos, foram anos, com o oficial-adjunto (o capitão José Paulo Falcão) de visita de trabalho a Vista Alegre, para preparar a rotação da Companhia do capitão Castro Dias - a que fora de Zalala.
Iriam para o Songo - o que só aconteceria a 24 de Abril.   
Luanda continuava apetitosa para os nossos 22 anos e por lá fui tendo algumas novidades do processo militar e independentista, sem grandes pormenores e também sem grandes preocupações. Eram dadas por um oficial, que conhecia de Carmona e era familiar de amigos meus, os Resendes. De um desses encontros, recordo uma dramática situação: a da detenção de civis, supostamente levados para a praça de touros e de quem mais nada se sabia.
Por estes dias, já tínhamos avião da TAAG marcado para Nova Lisboa, lá para os dias 9 ou 10. Iria eu surpreender familiares e, depois em Benguela, o Cruz a bater à porta de amigos da sua natal terra de Cardigos.
- ZMN. Zona Militar Norte.
- TAAG. Transportes Aéreos de Angola.

quarta-feira, 4 de abril de 2012

1 244 - Zalala nos acampamentos do inimigo...

Furriel miliciano Rodrigues, da 1ª. CCAV. 8423, num
 acampamento do IN dos arredores de Zalala (1974)

A mítica e heróica Zalala foi palco, desde 1961, de momentos da drama e tragédia que as palavras já não podem evocar com rigor. E com a emoção de quem os viveu e sentiu na pele e na alma!
A 1ª. CCAV. 8423 foi a última guarnição portuguesa que ali aquartelou - até 25 de Novembro de 1974, quando rodou para Vista Alegre e Ponte do Dange -
e sabe Deus e já se esqueceram os homens do capitão Castro Dias quanto por lá terão sofrido.  
A imagem mostra o furriel miliciano Rodrigues, num acampamento do IN nos arredores de Zalala, depois de mais uma operação no mato, de vários dias. 
A progressão teve indetermináveis precauções e os perigos não deixaram de espreitar os corajosos homens que galgaram trilhos e picadas, passo a passo, pé ante pé e de ouvidos apurados, para não serem surpreendidos por alguma iminente emboscada. Mas, custando o que custou, «lá conseguíamos chegar...», como recorda o Rodrigues.
Algumas vezes, as operações eram feitas por etapas, para reconhecer o terreno e depois actuar, abrindo trilhos com catana pela selva virgem de Angola. E quando se chegava a um acampamento do IN, já dele não havia sombra ou cheiro.
«Nem viv´alma. De qualquer modo e já conhecedores dos caminhos, lá voltávamos, bem mais confiantes, para verificar se as zonas estavam mesmo livres e o certo é que estavam mesmo», recorda o Rodrigues. «Eles sabiam que tinha passado por ali gente de Zalala», frisou o ex-furriel miliciano Cavaleiro do Norte.
Eram tempos de 1974, os últimos da ocupação portuguesa.
- RODRIGUES. Américo Joaquim da Silva Rodrigues, furriel miliciano atirador de cavalaria, da 1ª. CCAV. 8423. Aposentado, residente em Vila Nova de Famalicão.
- IN. Inimigo.

terça-feira, 3 de abril de 2012

1 243 - Dias de Angola a luandar...

Baía de Luanda, nos anos 70 do século XX (foto da net)


A 31 de Março de 1975, já andava eu por Luanda na vadiagem de férias que dividia com o Cruz, e ocorreu-me ligar para Portugal, para a vizinha Celeste, que chamaria minha mãe, vizinha do lado, para eu lhe falar num dia muito especial da família: o da visita pascal. Que, na minha terra, ainda hoje é à... 2ª.-feira.
As ligações não eram fáceis como hoje, quando se tecla um telemóvel e no segundo seguinte se está no fim do  mundo. Tínhamos de ir a uma estação de Correios e pedir a ligação, que não acontecia logo - poderia demorar horas. Aprazei-a para a hora do meio dia, acreditando que eu a senhora minha mãe estaria por casa. Chegou a ligação, falei com a vizinha Celeste, mas, azar!!!..., tinha minha mãe saído. Aproveitou Celeste para me perguntar pela irmã Benedita, que  morava no bairro da Cuca, com o marido (Mário) e com a filha Fernanda (do  eu ano) já casada e a morar fora.
Luanda fervilhava!
A restinga (a ilha de Luanda), o Amazonas, a Portugália, a Mutamba, a Paris Versailles, a ilha do Mússulo, eram pouso destes dias agitados e muito vivos de dois moçoilos idos de Carmona e que, por lá, dispensavam o camuflado e se vestiam de civil e civis se portavam no levedar da noite, com «pantagruélicas» almoçaradas e jantaradas nos Florestas e outros poisos da cidade. Olhem aqueles nomes de ali atrás.
De Lisboa, chegavam notícias das primeiras eleições, marcadas para 25 de Abril. António Spínola negava ter participado na intentona de 11 de Março, na sequência da qual o Governo Provisório (antes de Vasco Gonçalves) nacionalizara a banca e os seguros, institucionalizara o MFA e foi criado o Conselho da Revolução 
Vasco Gonçalves tinha tomado posse com 1º. Ministro, a 26 de Março. AOC, MRPP e PDC foram suspensos pelo Conselho de Revolução.  
Luanda «assistia» a regulares confrontos, mas a vida social continuava como se nada fosse. Praias, cinemas, restaurantes, locais de culto da vida nocturna, enchiam-se de vida. Luandava-se como se  caminhasse para os paraísos da vida!
- AOC. Aliança Operária e Camponesa.
- MRPP. Movimento Reorganizativo do Partido do Proleteriado.
- PDC. Partido da Democracia Cristã.

segunda-feira, 2 de abril de 2012

1 242 - Os heróis, os desertores e os refractários...


Alferes Machado (2ª. CCAV) e capitão Castro Dias 
(1ª. CCAV.) no Escape, em Carmona (1975)

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JOÃO MACHADO
Texto


Há muita gente que diz que a nossa ida para Angola, principalmente depois do 25 de Abril, foi para beber uns copos e pentear macacos. É verdade, amigos!!! E para prová-lo junto fotografias “a beber uns copos” e a pentear macacos (com rabo, como podem ver na foto). 
Porque não? 
Nunca devemos é deixar de dizer alto e em bom som “EU CUMPRI O MEU SERVIÇO MILITAR “ e quem conhecer este bocadinho de espaço – Cavaleiros do Norte – onde vamos recordando algumas “traquinices” daqueles tempos, deverá ficar no mínimo na dúvida “Mas quem são (ou quem foram) aqueles putos? ”. 
Sim, éramos miúdos, na maioria com 22/23 anos, com uma G3 nas “unhas”, com 100 munições 7,62 mm (20 na arma e 80 à cintura), mais duas granadas defensivas, e duas ofensivas, e alguns ainda traziam uma no dilagrama, e uma faca de mato. Não esquecendo os 3 ou 4 soldados que levavam as HK21, duas em regra com morteiros 60 I e um lança granadas. Tudo com as respectivas munições, é claro. Assim equipados andamos por terras do Norte de Angola. 
Era moda na altura e nós andávamos na moda, porque não? Mas tudo isto era verdadeiro, não eram espingardas, balas e granadas de plástico, que se compram nas feiras. 
A nossa actuação até foi motivo para conversa entre algumas patentes militares e políticas quando abordavam o tema, na altura também na moda, DESCOLONIZAÇÂO. Tudo o que andamos a fazer foi só por um motivo. Sabem qual foi? “JURAMOS A BANDEIRA PORTUGUIESA” e como Portugueses, comprometemo-nos a cumprir até ao fim esta brincadeira.
Mas, amigos e camaradas, não podemos é continuar a encobrir e a esquecer os heróis que fugiram, com o rabo entre as pernas, para fora do país. Onde estão os chamados então de refractários e desertores? Alguns até podemos saber quem são, outros andam encobertos, mas seria óptimo publicar esses nomes para os portugueses conhecerem. Escrevê-los mesmo num monumento, perto da Torre de Belém (em Lisboa), com os nomes dos que morreram em combate. 
Aproveitava-se, assim, a guarda de honra de um, para guardar o outro. Como é que alguém pode desempenhar altos cargos de uma Nação quando, justa ou injustamente, virou a cara ao juramento da bandeira, mais alto símbolo dessa Nação? 
Pode ser que as referidas palavras – refractário e desertor – com o novo acordo ortográfico, já tivessem sido abolidas dos dicionários de Língua Portuguesa, quem sabe? Mas a Bandeira ainda é a mesma.
Um abraço.
João Machado

domingo, 1 de abril de 2012

1 241 - Novo, radiotelegrafista e louvado...





O Novo era mesmo novo, tinha 22 para 23 anos, e foi radiotelegrafista em Santa Isabel, na 3ª. CCAV., a do capitão miliciano José Paulo Fernandes. Depois, de 1974 para 1975, no Quitexe!  Homem de «espírito franco e leal, disciplinado, correcto de trato e um incansável trabalhador».
Tais atributos foram-lhe apostos no louvor atribuído pelo comando da 3ª. CCAV., que lhe enfatiza a sua «dedicação e elevado espírito de sacrifício e meticuloso cuidado e zelo, que fez com que se  distinguisse dos demais». Por isso mesmo, sublinha  o louvor publicado na  na ordem de serviço 167, foi apontado como «exemplo a todos os seus camaradas».
O documento também refere «uma perfeita compenetração da missão que lhe foi confiada, quer pelos seus actos, quer pelas suas palavras» . Pormenores que se revelaram «desde que principiou a servir a companhia».
- NOVO. José de Oliveira Novo, soldado radiotelegrafista da 3ª. CCAV. 8423, a de Santa Isabel. A foto é de Junho de 2011.