domingo, 4 de setembro de 2011

Tempo de sofrer e de morrer, em Angola...

Bichas para a compra de bilhetes da TAP (em cima) e entrada do Campo Militar do Grafanil, em 1975 (foto de Jorge Oliveira) 

Ainda em (finais de) Agosto de 1975, já em tempo de corte dos dias do calendário para o nosso regresso, recebi  jornal de Águeda - onde me surpreendi a ler declarações do general Silva Cardoso, alto-comissário de Angola até dias antes, em Lisboa: «Porque já não acredito nos homens, principalmente nos políticos, aqui vim. Estou cansado da mentira, das falsas promessas, das atitudes de fachada. Venho cansado da miséria, de ver miséria, de ver ódio, de ver desespero. Venho cansado do egoísmo, da crueldade e da ambição desmedida». Assim mesmo, sem tirar nem pôr. Cruamente.
Não fugia à verdade, o general. Era isso mesmo que nós víamos por Luanda. Com outros olhos, quiçá menos responsáveis. Talvez menos sensíveis. Mas que viam o povo anónimo a sofrer e a morrer.
A amargura do genral Silva Cardoso foi mais longe, dirigindo-se aos «milhares e milhares de portugueses europeus brancos, escorraçados daquela terra, terra que já consideravam como sua Pátria». Portugueses que, frisava o general (ex-alto comissário), «perdendo tudo, deixando tudo, tiveram de se refugiar em Portugal».
Por estes dias e até Novembro de 1975, decorria já a ponte aérea que de Angola trouxe centenas de milhares de pessoas. E o que faziam os  Cavaleiros do Norte? Cumpriam as tarefas da guarnição, no Campo Militar do Grafanil e «laureavam o queijo pela cidade», a contar os dias. Com os medos e as precauções de ordem. Até 8 de Setembro e com um e outros incidentes pelo meio. 

1 comentário:

Anónimo disse...

Efeitos da independência, feita em cima dos joelhos e á pressa.
Soares e cª . Foi o que se viu.........
Manuel Pinto