quarta-feira, 7 de setembro de 2011

O meu (antepún)último dia de Angola - 2

Igreja da Sagrada Família e maternidade de Luanda (à direita, casa de branco. Viegas e Resende na Ilha de Luanda (em baixo)


A quente tarde de 6 de Setembro de 1975 finou-se num instante, entre as muitas portas batidas nos muitos adros de Luanda: ora a despedir-me deste ora daquele, naquele adeus que se diz a correr como se fosse apenas até amanhã. E nós não sabíamos, ninguém sabia!!!, que amanhã teriam os que ficavam naquela balbúrdia de cheiro a pólvora que microclimatava Luanda.
O Neto, com outras vidas para o resto daquela tarde, largou-me na avenida D. João II (onde ficava o escritório da FRAL), para eu ir à messe de sargentos, nos Combatentes - onde me ia encontrar com o Albano Resende. Foi no Toyota dele, de azul claro, que viajei o resto da tarde pelo infinitos da enorme metrópole luandina, a distribuir os últimos abraços, a debitar os últimos «segredos» e conselhos, a deixar encher o bornal de mensagens para os familiares (daqui) daqueles (civis) que por lá ficavam a gritar contra o destino que lhe levedava constrangimentos e raivas. E ódios! E desejos de vingança! Porque, pelo menos aparentemente, a tropa portuguesa não protegia o que e quem devia, deixando fragilizar a segurança do património humano e material dos (futuros) retornados.
«Isto ... está a cheirar a esturro!!!..», disse-me o Albano, que, caustelosamente e com a família, já tinha mudado de um dos bairros novos da saída da cidade para Catete, perto do Jumbo!, para um prédio de apartamentos no centro de Luanda. Mais seguro, menos perigoso, na zona da praça de touros.
O Toyota comeu qulómetros pela cidade e fomos à Sagrada Família, perto do Hospital Militar, da maternidade e da Emissora Oicial de Angola - onde, sem resultado, procurei respostas à procura de mensagens dos amigos e familiares de Gabela e Nova Lisboa.

O reencontro com o Neto foi na hora de jantar, antes de voltarmos a Viana. Ainda lá iríamos dormir uma noite e, depois, dar a chave ao Gilberto. Foi quando, no regresso, o Neto me falou no que a família dele lá ia deixar: a FRAL Angola, fábrica do Grupo Neto que já laborava na Zona Industrial de Viana. Ainda passámos por lá, no pequeno Daihatsu, antes de voltarmos à última noite da casa de Viana! Era guardada por um angolano!
- FRAL. Ferragens Reunidas de Águeda, Limitada. A empresa industrial do pai de Francisco Neto. Instalava uma fábica em Viana e tinha escritório na avenida D. João II.

Sem comentários: