segunda-feira, 29 de novembro de 2010

O soldado Branquinho que chegou a major e às mãos da PM...



ANTÓNIO CASAL (texto)


Sempre que volto ao “baú” que me avivam as memórias de África, dou com alguma coisa que já estava esquecida, ou quase. Desta vez foi uma foto tirada em Carmona, num dia de Páscoa de 1973. E lá está o Branquinho, o homem da secretaria, que era dado a cometer proezas inéditas. Não tivesse ele sido, no espaço de um ano, soldado recruta, furriel, quase 1º. cabo, soldado, major e de novo soldado!

Sempre ouvi dizer que a presunção incontrolável impele a que se dêem passos maiores que as pernas. Logo, não é defeito mas doença para a qual não há tratamento! Apenas por esta razão, ao Branquinho eram “admitidas” determinadas atitudes, desde que não prejudicasse terceiros ou não ultrapassasse em muito as mais elementares regras militares!
Como todos, ele teve direito ao seu mês de férias e lá foi até Luanda dar as suas passeatas e ver o que no Quitexe não havia, nem em qualidade e nem em quantidade, como ele gostava de frisar.
Na grande capital, e já com pouco dinheiro na algibeira, sentiu que as morenas sensuais lhe escapavam por entre os dedos. Se trajado à civil a coisa estava feia, fardado também não iria a lado nenhum! Então e não é que o Branquinho optou pela farda?! Pois optou, mas nos ombros colocou galões! E de major!!! Ainda pensou em “ser” alferes, mas lá viu que já eram muitos a fazer-lhe concorrência!..., e atirou-se para o tudo ou nada!
Dizem que chegou a ter sucesso com uma beldade influente na sociedade luandense, mas foi na companhia da segunda conquista que descobriram o logro! E quem haveria de ser?!... A Polícia Militar, pois claro!
Passeavam-se que nem namorados e a beleza dela, mais do que os galões dele, chamaram a atenção! Conta quem viu, que na hora da identificação, ficou vermelho até às orelhas e que ainda esboçou um gesto para a fuga!
Ora, o Branquinho com 22 anos, baixinho e ainda isento de penugem que lhe enraizasse a barba, como se fosse depilado, não deixou dúvidas à PM!
Atirado para o jeep, pela PM, que se esteve nas tintas para a donzela, lá andou em bolandas e a puxar, não dos galões, mas das cunhas. E voltou ao Quitexe, com o seu ar imaculado, e a agarrar-se a um oficial influente que acalmou as hostes em Luanda e que conseguiu o milagre de tudo ficar como nada tivesse acontecido. E ele sabia bem o que o destinava! Mesmo assim, continuou os seus desmandos que, não nos prejudicando, sempre nos serviam para animar os nossos serões mais lúdicos!
ANTÓNIO CASAL
FOTO. António Casal e Branquinho,
num jardim de Carmona

1 comentário:

Anónimo disse...

Já nem me lembrava do Branquinho, mas eu só o conhecia por lexívias. Depois é que levou a alcunha de major por causa deste episódio. Andava sempre com livros na mão mas diziam que não lia nenhum, era só para dar ares. Foi gajo que nunca mais vi. Acho que foi um capitão que não lembro o nome que o ajudou porque ele foi ter com ele a casa a chorar. O gajo tinha era uma grande cunha para ter ido para a secretaria porque ele era atirador. E diziam até que era bufo, agona não sei se era ou não.