quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

O falso ataque ao quartel do Liberato

Mapa da Zona de Acção das unidades militares de CCS no Quitexe (verde). Aquartelamentos em Zalala (verde), Santa Isabel (amarelo), Fazenda Liberato e Santa Isabel. Falta Vista Alegre, a sul de Aldeia Viçosa.  


LUÍS PATRIARCA
(texto)

Estávamos nos últimos dias de Novembro de 1967.Já era quase noite e os sentinelas foram-se aproximando dos locais de vigia. Uma vala à volta do acampamento, com uns postos toscos,  que mais não tinham do que uma parte coberta para evitar o cacimbo da noite. Era assim a defesa do Liberato.
Cerca das 22 horas, fomos assustados por uma rajada de espingarda FN - as nossas armas. Corremos imediatamente para a vala. O sentinela informou que ouviu ruídos estranhos, mesmo em frente na mata, a 300 metros. Não teve dúvidas em disparar.
Na realidade, com muita atenção, ouviam-se ruídos bastante esquisitos. Um estalido aqui, um som mais abafado além, era tudo muito esquisito. O que pensámos foi que o IN estaria preparando um ataque ao acampamento, o que poderia acontecer a qualquer momento - o mais provável para já perto da manhã. Vivemos um sufoco tremendo causado pela situação.
Ninguém arredou pé da vala, toda a noite, e chegou a manhã. Nada. Passaram as horas e, por volta das 9, o capitão Medeiros,  comandante da companhia, mandou sair das valas e nada aconteceu.
Começou a rotina habitual e era preciso água que vinha do rio Kalambinga, ali a 250 metros do acampamento.
Tínhamos um velhíssimo gerador a gasolina que, coitado, não chegou ao fim da campanha. Produzia electricidade à noite, para o jantar e o deitar. E fornecia corrente a uma bomba que estava no rio e enchia os bidons de água para as nossas necessidades diárias.
Não havia água e foi preciso colocar o gerador em funcionamento. Assim foi feito, mas a água não chegava aos bidons.
Começámos a desconfiar do que estaria na origem e era necessário deslocarmo-nos ao local onde estava a bomba. Podia ser uma emboscada. Vai daí, formou-se um pelotão inteiro, armado, como se fosse para uma operação. Fomos andando, andando. A distância era curta e sem problemas chegámos ao local da bomba.
Estupefacção total, tudo estava arrasado, a bomba partida, um laranjal e um bananal que lá havia todo deitado abaixo, era só lama por todo o lado.
Resultado: uma noite em aflição e em claro só porque uma manada de elefantes aproveitou-se da nossa inexperiência dos ruídos da noite e se lembrou de passar por ali e decidiu partir aquilo tudo.
LUÍS PATRIARCA
Ex-2º. sargento miliciano do
Batalhão de Cavalaria 1917,
Companhia 1707 no Liberato

1 comentário:

Carlos disse...

Com que então bomba para tirar a água do Kalambinga!Que luxo! Na CArt785 (1965/67)todos os dias era nomeada uma equipa de faxinas à água, que a tiravam a pulso para os bidons em cima do Unimog.
Parabéns pelo blog: revivalista e bem-disposto.
Para o ano comemoramos o 50º.
Saudações.
Casimiro - fur.-pastilhas