domingo, 19 de dezembro de 2010

O Pagaimo do Pelotão de Morteiros 4281

Valdemar e Pagaimo, militares do Pelotão de 
Morteiros 4281 (em cima). Alferes Leite, à direita, 
em baixo, com os também alferes Garcia e Ribeiro, 
da CCS do BCAV. 8423

O dia 19 de Dezembro de 1974 fez de véspera da saída do Pelotão de Morteiros 4281 do Quitexe, por onde acamaradou sete meses com a CCS dos Cavaleiros do Quitexe. Tenho particular afecto pelo grupo, em memória da minha primeira operação militar em terras do Uíge.  
Olho o Livro da Unidade e recordo a data: 20 de Junho de 1974, Operação Castiço DIH, dividida em quatro fases, que se prolongaram até 7 de Julho e envolveram todas as subunidades orgânicas do batalhão. Ainda em sobreposição com o BCAC. 4211, que nós substituíamos. Foi o Pelotão de Morteiros que nos foi buscar à fazenda que foi objectivo final da operação, comandado pelo alferes Leite.
O pelotão estava instalado ao lado da padaria, entre as messes da sargentos e oficiais, e dele (do PM) lembro o impagável furriel Costa. Impagável - ele que me perdõe... - pelas teorias que desenvolvia sobre qualquer assunto (fosse qual fosse...) e porque vivia na suspeição de que o álcool fazia mal. E, por isso, só  dussóis, missions, coca-colas e, vá lá, ousava até beber água. Até que lhe começámos, à socapa, a meter álcool nos sumos e lá os bebia ele, como se estivessem no estado original. Era um bom companheiro, de quem não sei paradeiro.
A vida civil tornou-me encontrado, poucos anos depois, pelo 1º. cabo Pagaimo, que por lá também fez missão e por cá, nas Brigadas de Trânsito, me fez stop na estrada de Águeda para Aveiro, aí pelos anos 80, fartando-se de brincalhar comigo - que não o reconheci. Pedia-me ele os documentos, olhava os pneus e os faróis, se eu tinha tirado a carta em Angola, a intoxicar-me de questões e a irritar-me.
«Ouça lá, se quer multar-me, multe...», disse-lhe eu, já com a paciência no limite e a contar as horas para um compromisso.
E ele, nas calmas, a bater com a biqueira da bota nos pneus e a dar voltas ao carro. «Então não me conhece?». Que não, respondi eu. E veio a velha questão: se o gajo me conhece, só pode ser da tropa. Era ele, o Pagaimo - que eu conheci de camuflado, no Quitexe, e ali me inspectava na estrada, com a farda da BT vestida. Como é que eu o havia de conhecer?
Ah e não me multou. Também não tinha ponta pode onde me pegar.
- PAGAIMO. Celestino de Jesus Pagaimo, 1º. cabo do Pelotão de Morteiros 4281, aposentado da GNR. Natural e residente em Cantanhede.
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