Igreja da Mãe de Deus do Quitexe, no tempo do BVCAV. 8423.
Por lá também se «fazia» Natal!
Por estes dias de Dezembro de 1972, multiplicavam-se os aerogramas e cartas que levavam e traziam saudades da família e dos amigos. Com a época natalícia a bater à porta, era ver o pessoal sentado nas camaratas e quartos a entregar-se à escrita. Retenho a imagem do Nunes, sempre muito recatado e de quem nunca se ouviu uma palavra menos própria, sentado na cama a escrever com ar nostálgico. Era uma carta para a filha de ano e meio, o seu ai Jesus do dia a dia - não a via há oito meses!
«Já deve estar bem crescida, já era uma mulherzinha…», dizia ele, sorrindo para a foto já me mostrada umas dez vezes, mas como se fosse a primeira! Carregou o pesado fardo da saudade por mais 18 longos meses. Outros havia, que não tinham ainda mimado o filho que nascera depois da nossa partida para Angola! Como o Dias, que gritou aos sete ventos «já sou paaaaai…, já sou paaaaai…», quando recebeu um telegrama a comunicar-lhe o nascimento da filha! Pulou, dançou, bebeu…e chorou como uma criança! Uma grande mistura de sentimentos deve ter-lhe assaltado os seus frescos vinte e um anos! Parecia um “miúdo”! Era um “miúdo”, claro que era, como os outros!
Mas as obrigações não se compadeciam com sentimentos, e a vida continuava como se nada de extraordinário tivesse acontecido. Mas Natal… era Natal, e as hostes andavam carregadas de emoções! Quase cheirava a filhoses, carregadas de açúcar e acompanhadas de uma caneca de café de cevada! Cheirar…cheirava, ou parecia que cheirava!...
Quem não tinha mãos a medir era o 1º Cabo do SPM, que aproveitava a ansiedade de alguns para lhes esconder as cartas, desesperando-os! Pura brincadeira, entregava-as minutos depois para lhes ver o sorriso de orelha a orelha! E rara era a carta que neste período não trouxesse uma notita para ajudar a colorir um pouco o dia de Natal. Algumas bem pequenas, mas enviadas sabe-se lá com que dificuldade! Com muita, certamente!
ANTÓNIO FONSECA
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