terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Natal no Quitexe foi ser... pai de meninos!

Igreja da Mãe de Deus do Quitexe, no tempo do BVCAV. 8423.
 Por lá também se «fazia» Natal!


Por estes dias de Dezembro de 1972, multiplicavam-se os aerogramas e cartas que levavam e traziam saudades da família e dos amigos. Com a época natalícia a bater à porta, era ver o pessoal sentado nas camaratas e quartos a entregar-se à escrita. Retenho a imagem do Nunes, sempre muito recatado e de quem nunca se ouviu uma palavra menos própria, sentado na cama a escrever com ar nostálgico. Era uma carta para a filha de ano e meio, o seu ai Jesus do dia a dia - não a via há oito meses!

«Já deve estar bem crescida, já era uma mulherzinha…», dizia ele, sorrindo para a foto já me mostrada umas dez vezes, mas como se fosse a primeira! Carregou o pesado fardo da saudade por mais 18 longos meses. Outros havia, que não tinham ainda mimado o filho que nascera depois da nossa partida para Angola! Como o Dias, que gritou aos sete ventos «já sou paaaaai…, já sou paaaaai…», quando recebeu um telegrama a comunicar-lhe o nascimento da filha! Pulou, dançou, bebeu…e chorou como uma criança! Uma grande mistura de sentimentos deve ter-lhe assaltado os seus frescos vinte e um anos! Parecia um “miúdo”! Era um “miúdo”, claro que era, como os outros!
Mas as obrigações não se compadeciam com sentimentos, e a vida continuava como se nada de extraordinário tivesse acontecido. Mas Natal… era Natal, e as hostes andavam carregadas de emoções! Quase cheirava a filhoses, carregadas de açúcar e acompanhadas de uma caneca de café de cevada! Cheirar…cheirava, ou parecia que cheirava!...
Quem não tinha mãos a medir era o 1º Cabo do SPM, que aproveitava a ansiedade de alguns para lhes esconder as cartas, desesperando-os! Pura brincadeira, entregava-as minutos depois para lhes ver o sorriso de orelha a orelha! E rara era a carta que neste período não trouxesse uma notita para ajudar a colorir um pouco o dia de Natal. Algumas bem pequenas, mas enviadas sabe-se lá com que dificuldade! Com muita, certamente!
ANTÓNIO FONSECA

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