segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

A falta de aerogramas entre a rapaziada da tropa...


Aos meados de Dezembro de 1974, rebentou uma inusitada crise no Quitexe! Era má a alimentação, fervia a indisciplina militar, havia incapacidade de comando, falta de cerveja ou bons wiskyes?! Ou gasóleo para as Berliets e unimogs, balas para as G3´s?  Nada disso: faltavam aerogramas! Os famosos bate-estradas.
O aerogramas eram meio de correspondência comum no mundo militar, voando de cá para lá e de lá para cá, com as boas e as más notícias, as saudades e as paixões que se faziam labaredas em cada um que se escrevia. Quantas lágrimas se choraram nas suas páginas amareladas ou azuis, quantas paixões de multiplicaram e azedaram, quantas orações de mãe se carrearam no silêncio que se dobrava e desdrobava, colando-se palavras até ao último vinco do papel - que ainda por lá levava mais um beijo e um adeus?!
Pois em meados de Dezembro de 1974, não havia aerogramas no Quitexe! O que era um drama, que nem podem imaginar. Socorri-me do amigo Alberto (foto, de 2002), que por Luanda jornadeava pela Base Militar.
«Não há aerogramas, pá!!! Isto está uma m... depois do 25 de Abril anda tudo desorganizado», escrevia-me ele, em carta de 12 de Dezembro, que agora reli, queixando-se de Lisboa, onde supostamente «anda tudo aos montes» e, quanto à correspondência, «só a mandam quando lhes apetece».
E os aerogramas? «Aqui na base, não há e já fui ao Depósito Base de Intendência. Também não há e ninguém sabe quando haverá», disse-me o Alberto, com uma facadinha no então muito recente 25 de Abril: «O glorioso 25 de Abril dá nisto e nem só..., pois isto nem é nada, a ver outras coisas que por aí se fazem».
- ALBERTO. Alberto Fernando Dias Ferreira, 1º. cabo especialista  da Força Aérea. Natural de Fermentelos (Águeda) e já falecido. Era quadro superior da administração fiscal e foi vereador e candidato a presidente da Câmara Municipal de Águeda.
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