quinta-feira, 11 de junho de 2009

A primeira operação millitar, lá para os lados de Camabatela

Restaurante Pacheco em 2009 (Foto de Franklim). Era,
em 1974 uma das boas casas do Quitexe
O PELREC, aqui com o Alferes Garcia (o primeiro, do lado direito,
em cima) e os furriéis Neto (primeiro da direita, em baixo) e Viegas (sexto,
em cima, a contar da esquerda). Clique na foto, para a ampliar


A 20 de Junho de 1974, o Batalhão de Cavalaria 8423 teve a sua primeira operação em terras do Uíge, virada para as chamadas centrais do Negage e do Mungage - cabendo-nos esta na «rifa», considerada perigosíssima. A operação era a nível do Sector do Uíge, envolvendo o nosso batalhão e outros, ainda com o BCAC 4211 no Quitexe, mas sem intervir.
Quem também interveio nessa operação chamada Colibri 310, e socorro-me aqui do livro «História da Unidade», foi a 41ª. Companhia de Comandos e os Flechas de Carmona. Um soldado «comando» pisou uma mina anti-pessoal para os lados do Negage, ficou sem um pé (amputado) e a 41ª. Companhia abandonou a operação ao fim de 18 horas.
O PELREC, nesta estreia operacional, evoluiu sob o comando do Alferes Garcia e por zonas de mata densa e plantações de café, palmilhando trilhos que adivinhávamos traiçoeiros e pisávamos com mil cuidados. Também por uma ou outra picadas e com passagens à vista de tabancas e lavras que nos diziam ser de guerrilheiros. Fomos largados a uns 80 quilómetros do Quitexe, na estrada para Camabatela - numa fazenda onde voltaríamos meses mais tarde, para intervir numa rebelião dos negros contratados para a campanha do café.
Não tivemos qualquer contacto com o dito «inimigo».
Saímos às 4 horas da madrugada do dia 20 e voltámos ao Quitexe ao fim da tarde do dia 21 de Junho. Cansados e sujos, de pele ensopada de suor e pó, fardas mal ataviadas mas com evidente sensação de alívio! Tínhamos passado ilesos do primeiro contacto vivo com iminente situação de combate! E não houve, não se ouviu um "ai de medo" de ninguém do pelotão! Sentimo-nos muito encorajados!
Um outro grupo do BCAV foi emboscado no Tabi, mas rapidamente foi embora o «inimigo», depois de uns tiros de aviso! E no «quartel» de Aldeia foi capturado um velho negro que, depois de ouvido no Quitexe, foi "devolvido" à mata!
É desse dia 21 de Junho a minha «estreia» a comer camarão! Nunca tinha comido, acreditem! O mais parecido, tinham sido cabras, que eram trazidas do mar da Barra e Costa Nova pelos chamados "sardinheiros» que por aqui vendiam peixe de porta em porta! E em minha casa não havia luxos para mais. Fomos jantar, eu e o Neto, ao Pacheco, depois de um banho de largos minutos, nos chuveiros da casa dos furriéis! E tão bem nos soube aquela água mole do clima, a molhar-nos o corpo por inteiro!!
- PACHECO. Restaurante do Quitexe, na foto. Ficava mesmo em frente à Casa dos Furriéis, que ficava entre o comando da CCS e a messe de oficiais, na avenida (rua de baixo).

2 comentários:

SANTOS disse...

Amigo Viegas, não nos vemos há mais de 30 anos, mas vasta olhar para a sua cara; eu estou nos Estados Unidos desde 1977, e fiquei very feliz de encontrar o site; confesso que me emociono ao ler o que escreve e até lhe digo que quase estou a ver todos os momentos e situações que descreve, conto ir este verão a Portugal e vou tentar encontrá-lo pois temos muitas coisas para recordar e parabéns pela ideia do site. É very, very nice...
Santos

Anónimo disse...

Lindos meninos, podem dizer os nomes deles, assim eu conheço-os mas não os sei identificar.
José