FRANCISCO JOÃO
Furriel Miliciano no Quitexe, em 1967
Faro (Algarve)
Os dois carros iniciaram a marcha para o Zalala, ia o sol morrendo atrás dos picos da Serra Vamba. Eles próprios tomaram a mesma direcção, como que para aproveitarem mais umas réstias desse sol que se lhes escapava velozmente, para continuar o seu destino - aquecer e iluminar outros povos e regressar, indefinidamente.
Eu seguia na segunda viatura, entre os veteranos da picada. Homens para quem a mata não tinha segredos, quanto mais a que eles consideravam já a sua «auto-estrada».
A picada serpenteava, subia e descia como um carrossel entre montes vales e matas, onde populações pacíficas estavam instaladas em laboriosas fazendas, sanzalas e roças e onde, igualmente, se acoitam os “turras”, protegendo-se na densidade da floresta, por vezes virgem para o homem branco.
A poeira levantava-se à passagem dos Unimogs. Subia, subia pelos ares, ao mesmo tempo que se enovelava, formando uma cortina - como se fosse cacimbo ou nevoeiro e impedindo que se visse o carro da frente. Baixa de Mungage.
A poeira levantava-se à passagem dos Unimogs. Subia, subia pelos ares, ao mesmo tempo que se enovelava, formando uma cortina - como se fosse cacimbo ou nevoeiro e impedindo que se visse o carro da frente. Baixa de Mungage.
Os unimogs correm céleres, levantando nuvens de pó branco, direi mesmo alvo. Pó fino e macio que se infiltra em todos os poros. Aquilo é talco, riqueza natural que espera a mão amiga do homem. Montanhas e montanhas de pó talco! Sob o seu efeito, tivemos de nos atrasar. Perdemos de vista o carro da frente. A meio de uma subida e repentinamente, na direcção do primeiro Unimog. soaram tiros. Um, dois, três, quatro, uma rajada!!!
Emboscada!!!...
«Parem, parem!!!...», gritei.
«Parem, parem!!!...», gritei.
O condutor continuava, mouco às palavras pelo ronco contínuo do motor. Então maçarico, não olhando a outros meios e de arma na mão, saltei, lancei-me no espaço, desamparado. Julguei que nunca mais tocava o solo mas as pedras, fendendo-me a carne, assim como a roda traseira do carro roçando-me a cara, fizeram-me saber o contrário. Ao cair, rolei pelo chão e uma das rodas quase passou por cima de mim.
O unimog parou.
Os veteranos continuavam sentados, impávidos e serenos. Tomei de novo o meu lugar na viatura, massajando as partes doridas e ensanguentadas. Retomámos a marcha. Adiante, a outra viatura estava parada, aguardando-nos. De pé, o comandante da coluna (o médico, o doutor Águalusa, que era caçador) lamentava-se por ter falhado os tiros que fizera a uma pacaça.
Quando soube da minha atitude, comentou: “Não foi nada que eu não tivesse pensado que poderia acontecer...”.
Cisco Dio – SET/67.
- UNIMOG: Modelo dos carros militares, transporte típico com um banco corrido na caixa, sem taipal, e em que a tropa sentada vai virada para ambos os lados da via.
- PACAÇA: Animal de porte, africano, muito semelhante a uma vaca.
- COLABORAÇÃO: O blogue Cavaleiros do Norte está aberto à colaboração que quem tal desejar. Mandem textos e fotos para c.viegas@mail.telepac.pt. Serão publicados na primeira oportunidade.
6 comentários:
ùltimamente tenho estado atento ás v/ notícuas do Quitexe. Na v/ notícia do Francisco Joãp è dito que o V/ Batalhão rendeu o Batalhão 1917. Não é verdade porque eu estive no Quitexe de Fev. 70 a Jan. de 72 e já nessa altura o referido Batalhão tinha regressado à Metrópole. Nos faziamos parte de um pelotão de morteiros nº 2198 que estava adido ao Batalhão nº 2925. Por acaso não era esse Batalhão que vocês foram render? Tenho muitos slides tirados em muitas fazendas, porque nós faziamos muitas saídas para as fazendas de onde faziamos os bombardeamentos aos acampamentos do IN.
O meu contacto é Telem. 963130183 - João Letra - Vila Real
Quanto a rendições, o Bat. Cav. 1917 foi rendido pelo Bat. Caç. 2873, tendo este chegado ao Quitexe a 19/5/69.
Agora e a título de curiosidade, na CCS do 1917 não estaria lá um militar que era jogador da Académica de seu nome Leonardo?
O Sr. César é que deve saber destas coisas porque é do seu tempo.
A. Casal
A.casal
envio-lhe as minhas saudações,no comentario que fez a 3-7-09,diz que o b/caç 2873 chegou ao quitexe no dia 19-5-69, pois está errado chegaram a 1-6-69,e o b/cab 1917 deixou o quitexe no dia 8-6-69 e faz hoje 40 anos 22-7-69 que embarca-mos no paquete VERA CRUZ rumo á metropole.
quanto ao Leonardo não tenho conhecimento já fiz perguntas a camaradas das companhias não teem conhecimento.NB não me trate por SR.esse termo só se aplica a pessoas com mais de 150 anos e eu só tenho 64.
um abraço, « CÉSAR »
o cesar está certo, chegámos ao Quitexe em 01-06-69.
Pertencia à CCS e estivemos +- uma semana juntos.3
Abraço
Sim a data certa não lembro mas lem bro que estivemos uma semana a dormir no chão do parque auto debaixo de uma enorme tovoada
1º cabo de trms
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