Furriéis Velez, Miguel, Pires (de Bragança) e Cruz (sentados, do lado esquerdo)
e Graciano, NN, Viegas, Neto, Machado e Rocha, na messe de sargentos do
Quitexe, a 30 de Outubro de 1974
e Graciano, NN, Viegas, Neto, Machado e Rocha, na messe de sargentos do
Quitexe, a 30 de Outubro de 1974
Falei ontem à noite com o Velez! E quem é o Velez, perguntam vocês. É um dos cavaleiros de norte, de Zalala - terra de base da 1ª. CCAV do BCAV 8423.
Uma noite, tivemos de "zarpar" do Quitexe para a (para mim!) misteriosa picada de Zalala, onde - lá por um qualquer sítio... - nos esperava uma Companhia de Comandos com um ferido de uma operação na Baixa do Mungage.
Fomos acordados de sopetão, eram para aí umas três horas da madrugada de uma noite de breu cerrado, e havia que ataviar-nos rapidamente, formar o pelotão sem perturbar o sossego das casernas, preparar-nos para a saída, chamar os homens das transmissões e enfermagem, o mecânico, os condutores, tudo em silêncio. A saída já sabíamos ter razões de sangue: havia um soldado ferido, um irmão nosso que pisara uma mina, num qualquer trilho da mata de medos que nos rodeava, lá de longe! E apareceu o Velez, na parada do aquartelamento, armado até aos dentes, de G3 traçada no peito, cartucheiras e granadas defensivas seguras no cinturão, lenço verde a enrolar-lhe o pescoço, óculos escuros, verdes..., olhos grandes, a medir a noite! Assim, a juntar-se a nós: a mim e ao Neto, ao alferes Garcia, ao PELREC.
«Onde é que vais, pá?!...».
O Velez, sendo ou não, era para nós um fidalgo de pose feita, semeado de cultura e saberes que escapavam a nós, rapazes de província. Tinha um jeito de dizer que, parecendo senhorial, era simultaneamente igual e cúmplice dos nossos iguais sentires. Tínhamos conversas de horas e diferenças de quilómetros, de culturas e de experiências. Até o gargalhar dele nos parecia mais nobre, sendo tão ou mais estridente que o nosso. Respirava-se franqueza no nosso relacionamento. E o Velez, o furriel miliciano atirador de cavalaria, ali estava connosco, por ordem de quem mandava, para irmos galgar a madrugada de cacimbo e breu, nos "burros de mato", a caminho das picadas para Zalala, até aos trilhos da Baixa do Mungage.
"Onde é que vais, pá?...".
O Velez deu meia volta, sem uma palavra, e vi-o a aconchegar o lenço no peito, como quem faz uma almofada contra o camuflado e parecendo ainda meio acordado de sonhos de outras galáxias, ali permanecendo calado, mordendo os lábios, talvez pensando...
"Vai connosco!..", disse o alferes Garcia.
O Velez, da 1ª. CCAV, a companhia de Zalala, conhecia bem a picada, das muitas viagens de lá e para o Quitexe. Não lhe tinham segredos as curvas e declives de que se adivinhavam medos e os sons que se evaporavam no ar quente da terra angolana e que respirávamos quantas vezes carregado de pó! Por isso, quem mandava o mandou acordar e preparar-se com o equipamento de combate.
"Vamos"...", disse o alferes Garcia.
Fomos e viemos, indo depois para o Hospital do Negage o nosso irmão "comando" que pisara a mina do trilho.
Nessa tarde, eu, o Velez, o Neto e outros, retomámos as conversas de sempre, sobre os quês dessa altura, espreguiçando-nos nas cadeiras de fitas da entrada do bar/messe de sargentos, entre o saborear de alguma eka, alguma cuca, ou uma nocal, sei lá eu, já..., e o desfiar de saudades do "puto", da família, dos amigos.
Ontem à noite, retomámos essa conversa, entre lembranças das horas amargas do Maio e Junho de 1975, em Carmona, e a evocação das que ele e a 1ª. CCAV viveram pelo Songo, a esse tempo!
Ontem, reatámos um conversa interrompida 34 anos e que vamos continuar um destes dias! Quem sabe, lá para Setembro e ao vivo!
- VELEZ. Vitor Manuel da Conceição Gregório Velez, furriel miliciano atirador de cavalaria, da 1ª. CCAV do BCAV 8423, de Lisboa.
- MIGUEL. Miguel Peres dos Santos, furriel paraquedista, então temporariamente no Quitexe. De Torres Novas.
- BURRO DE MATO. Designação vulgarmente dada aos unimogs, veículos de transporte de pessoal militar.
- PUTO. Petit nom dado a Portugal (continental), pelos militares.
"Onde é que vais, pá?...".
O Velez deu meia volta, sem uma palavra, e vi-o a aconchegar o lenço no peito, como quem faz uma almofada contra o camuflado e parecendo ainda meio acordado de sonhos de outras galáxias, ali permanecendo calado, mordendo os lábios, talvez pensando...
"Vai connosco!..", disse o alferes Garcia.
O Velez, da 1ª. CCAV, a companhia de Zalala, conhecia bem a picada, das muitas viagens de lá e para o Quitexe. Não lhe tinham segredos as curvas e declives de que se adivinhavam medos e os sons que se evaporavam no ar quente da terra angolana e que respirávamos quantas vezes carregado de pó! Por isso, quem mandava o mandou acordar e preparar-se com o equipamento de combate.
"Vamos"...", disse o alferes Garcia.
Fomos e viemos, indo depois para o Hospital do Negage o nosso irmão "comando" que pisara a mina do trilho.
Nessa tarde, eu, o Velez, o Neto e outros, retomámos as conversas de sempre, sobre os quês dessa altura, espreguiçando-nos nas cadeiras de fitas da entrada do bar/messe de sargentos, entre o saborear de alguma eka, alguma cuca, ou uma nocal, sei lá eu, já..., e o desfiar de saudades do "puto", da família, dos amigos.
Ontem à noite, retomámos essa conversa, entre lembranças das horas amargas do Maio e Junho de 1975, em Carmona, e a evocação das que ele e a 1ª. CCAV viveram pelo Songo, a esse tempo!
Ontem, reatámos um conversa interrompida 34 anos e que vamos continuar um destes dias! Quem sabe, lá para Setembro e ao vivo!
- VELEZ. Vitor Manuel da Conceição Gregório Velez, furriel miliciano atirador de cavalaria, da 1ª. CCAV do BCAV 8423, de Lisboa.
- MIGUEL. Miguel Peres dos Santos, furriel paraquedista, então temporariamente no Quitexe. De Torres Novas.
- BURRO DE MATO. Designação vulgarmente dada aos unimogs, veículos de transporte de pessoal militar.
- PUTO. Petit nom dado a Portugal (continental), pelos militares.
2 comentários:
Diziam que Zalala era um buraco do caraças...
Goste de ler, caro Viegas, você tem uma excelente capacidade narrativa, posso perguntar-lhe qual é a sua actividade?
Enviar um comentário