quinta-feira, 18 de junho de 2009

O furriel Morais e os primeiros isqueiros BIC no Quitexe

1º. Sargento Aires e o furriel-miliciano Morais. Vêem-se
ainda os furriéis Rocha e Cruz e, entre eles, o soldado Lages (do bar).
Clique, par ampliar a foto.

A frota de viaturas era essencial na execução das operações militares desencadeadas em zona de guerra. Já aqui vos contei do susto apanhado num dos habituais patrulhamentos que fazíamos em zonas de mata e às fazendas, para trazer e levar gente civil que ia ao Quitexe ou a Carmona para mercar - vender o que produzia, comprar que precisava.
O susto resultou de uma suposta emboscada, quando evoluíamos numa picada, arrimada pela serra acima - num dia em que, se havia de estar calor de rachar, era nesse! O lenço verde que nos protegia a boca e o nariz do pó fino das picadas, era... castanho e enlameado. Os óculos do tipo de soldador que usávamos para proteger os olhos, mal deixavam ver os vidros. E um unimog avariou!!
Foi lá, em socorro, o furriel Morais, com três ou quatro soldados - estávamos ainda bem perto do Quitexe, uns 20/30 quilómetros, na «estrada» de pó que ia para a Fazenda Luísa Maria. Veio ele embora, continuámos nós pela picada fora.
À noite, no bar, interrogou-me o Morais: «Aquilo é sempre assim?!...".
Aquilo era o pó! Aquilo era o capim crescido e de pontas crestadas do sol que abrasava os ares de Angola, eram os guinchos dos macacos a saltar de ramo em ramo, os cafezais imensos, de quilómetros atrás de quilómetros, a perder de vista e cheios de negros contratados no sul, que o tratavam e ripavam. Era o piso enrugado da picada e as curvas de mistérios que eram sempre cada curva que dobrávamos! Acho eu que o Morais estava naquela de extasiado e vencedor de algum receio. O receio de quem, furriel mecânico-auto que ele era, mal saía do aquartelamento.
Passou-se o tempo e o Morais veio a Portugal de férias, levando para lá a grande novidade dos isqueiros BIC. Uma noite, a conversar no varandim do bar de sargentos, disse-me o Morais, a perguntar-me, muito sério: «Vocês não têm medo quando saem?».
- «Temos, claro...», disse-lhe eu.
- «Mas já estão habituados, não é?!...».
- «É... - disse-lhe eu - só ficamos f... é quando as viaturas avariam!...». Estava a provocá-lo, na brincadeira, ele era o furriel mecânico-auto.
- «Lembrei-me disso uma série de vezes, agora em Portugal!».
O Morais disse-me isto com um ar algo seráfico, de tez comprimida, diria até que de corpo hirto. Puxou de um cigarro e ofereceu-me outro, deixando-me com ele na mão. Procurou o isqueiro nos bolsos do camuflado e acendeu-os! Foi a primeira vez que eu vi um BIC, a gás! Ao tempo, a 25 de Abril, os isqueiros careciam de licença e eram de gasolina. O Morais fez um novelo de fumo, expeliu-o no ar quente da noite e acomodou-se na cadeira de fitas de plástico. Eu, puxei o fumo e engasguei-me, a tossir! Eu não fumava!
- MORAIS. Norberto António Ribeirinho Carita de Morais, furriel-miliciano mecânico-auto, natural de Niza. É técnico principal da Estação Nacional de Tratamento de Plantas, em Elvas.
- AIRES: Joaquim António Aires, 1º. sargento mecânico-auto, de Évora, já falecido.

3 comentários:

QUITEXE disse...

O furriel Morais era um tipo porreiro, a calma em pessoa, vi-o muitas vezes no parque-auto a olhar para as brincadeiras dos rapazes mecânicos sem nunca se chatear, O sargento Aires era a mema coisa, e como é que se chamava o alferes? lembro-me que usava óculos e acho que era engenheiro, bom tipo; o pessoal da oficina era tudo boa malta.

Anónimo disse...

O furriel Morais era muito fixe, gostava da simpatia e humildade dele que estava sempre ao nosss lado com palavras amigas, emocionei-me ai ver isto.
Silva

Anónimo disse...

O furriel Morais era muito fixe, gostava da simpatia e humildade dele que estava sempre ao nosss lado com palavras amigas, emocionei-me ai ver isto.
Silva