terça-feira, 2 de junho de 2009

Os «pilha-galinhas» ou a guerra galinácea «do Quitexe....

A Casa das Transmissões, no Quitexe de 1972/73.
Texto e foto de A. Casal (Marrazes de Leiria)

Era normal ter-se conhecimento de ocorrências menos boas e algumas até trágicas na zona do Quitexe. Felizmente, não eram muito frequentes mas sempre que existiam deixavam-nos um amargo de boca. Em que fazenda, qual a picada, em que Companhia? Um sem fim de interrogações!
Mas naquele dia a ocorrência tinha todos os predicados para ser grave e muito grave mesmo. Pairava uma nuvem que ameaçava anunciar qualquer coisa de fantástico e claro que nos olhávamos desconfiados. A avaliar pelo seu historial, o orador não nos traria nada de bom (isso já sabíamos...).
Finalmente, eis o capitão, com o seu ar sisudo, que começava a mirar todos os perfilados. «Ai as minhas patilhas...», pensei eu!... Bom, não era a primeira vez! Mas não é que parou mesmo à minha frente?! Fixou-me bem e deixou no ar um «entretanto a gente conversa» e eu, confesso, sabia bem porquê.
Finalmente, hirto na sua farda engomada e ainda com odor a ferro, do alto da sua idade já avançada para aquelas lides vocifera: «Recebi uma queixa da população, muito grave!!...».
Nós, pobres mortais, vimo-nos envolvidos num silêncio sepulcral, mas eis que arremata:
«Exijo saber quem é que anda a roubar galinhas!...».
Rostos perplexos foi o que mais se viu, mas também de alívio. Afinal, não morreu ninguém, caramba!... «Têm até amanhã para se acusarem, ou vou levantar um auto!...», ameaçou o capitão.
Alguém mais ousado ainda tentou abrir a boca mas ouviu logo: «Sem conversa...».
Terminada a reunião, ficaram os comentários. Uns indignados com o tema, outros perplexos com a ousadia do desvio. Pela parte que me toca e se a memória não me atraiçoa, nunca tinha visto tais aves por ali.
Alguns dias depois, ao entrar na casa das transmissões, notei um ambiente estranho. O Pinto, aquele rapazinho sossegado (demais para o meu gosto) que, diziam mas eu não vi, fazia o risco no cabelo com uma régua, estava impregnado de cerveja e com os olhos esbugalhados!
Pensando já em algo de tenebroso, desci ao quintal e pelo que vi pensei estar numa planície alentejana, onde merendavam meia dúzia de trabalhadores.
O Pinto & Companhia tinham acabado de digerir duas galinhas de churrasco, temperadas superiormente pelo Zé (isto comprovo eu), mas carregadas de gindungo. Ainda estou a ver o Fernando a soprar as «quenturas» do tempero e o Zé perguntar-lhe se tinha asma!
Estava explicada a ira do Capitão! Como se deve ter sentido diminuí­do por, numa zona 100% operacional, ter sido incomodado por meros galináceos!
Se calhar, por ele até fechava a boca mas havia o raio da«psico»! E como é que apanhavam as galinhas em silêncio?!
Pois, fizeram um buraco no portão do quintal, arranjaram milho e espalharam-no grão a grão na rua até ao dito buraco. Depois, diz o Zé, «quando passa, o buraco leva a mocada!...».
Nisto, grita indignado o Pinto com os olhos ainda esbugalhados e lambuzado de molho: «Porra, Zé, também não era preciso arrancares-lhe a cabeça, também se comia, cara...». A casa da galinha continuou sempre no segredo absoluto. Afinal, o pessoal de transmissões estava habituado à contenção.
Na véspera do adeus ao Quitexe, o capitão com um ar sorridente (rarí­ssimo) e matreiro abeira-se do Zé que, feliz com a simpatia do superior, retribui com igual sorriso. Nisto, vê o nariz do «maior» quase tocar o seu e ouve uma pergunta aterradora, que não esperava resposta: «Olhe lá, as galinhas eram mesmo boas?!...».
Estático e afónico foi o estado em que o meu amigo ficou! Claro que o bom homem não podia imiscuir-se em tudo. Seria demais!
Depois, ainda estava bem presente a história do bacalhau! Então não é que naquela santa terra o produto se tornou afrodisáaco?! Será que era por comer em excesso que a sua mente se incendiava e na calada da noite buscava momentos voluptuosos? Voluptuosos e perigoso, muito perigosos mesmo! Nem quero lembrar!...

A. Casal
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1 comentário:

Anónimo disse...

Este casal eu não me lembro, esteve mesmo no quitexe? não tenho a menor ideia, era quem?
A história é bem interessante, muito gostaria eu de me lembrar destes coisas e saber contá-las; é curioso que lá no quitexe eu tive uma história muito parecida com esta, era com o capitão oliveira, para roubar galinhas estávamos nós sempre prontos.
Vasco