quinta-feira, 4 de junho de 2009

A última noite de Luanda, antes do Quitexe!...

Nossa Senhora do Grafanil, local de recolhimento e oração

A noite de véspera de partida para o Quitexe, de 5 para 6 de Junho de 1974, foi passada no Grafanil, em alvoroço e ansiedade. O dia de muitos de nós fôra vivido na cidade, entre restaurantes, passeios e praia, deslumbrando-nos todos com a sua dimensão e modernidade.
Coisa que nos surpreendia, era a sensação de segurança que se vivia, podendo-se circular sem quaisquer constrangimentos, por qualquer lado. Nem tropa se via, que fosse alguma de excessivo, embora se adivinhasse quem eram os militares, pelo corte do cabelo. Comemos uns bons pregos no pão com piri-piri à farta e vinho verde gelado. Na Portugália, à baixa, na fronteira da Paris Versailles e do jornal A Província de Angola!!! E lá fomos nós pró Grafanil... era para aí meia noite.
A agitação era farta entre a tropa, no destacamento onde «víviámos», fechando-se malas e ataviando-se o pessoal para a viagem. O equipamento foi «testado», coisa rápida - com se estivessemos a medir o poder de fogo. Olharam-se as berliets que nos levariam pelos 320 quilómetros até ao Quitexe e o tenente Mora deu-nos instruções que agora não recordo! Não sei se alguém dormiu, mas ainda era noite quando a coluna arrancou para o norte, estrada do café fora. Cacuaco, Caxito, Ucua, Ponte do Dange, Vista Alegre, Aldeia Viçosa, eram nomes que já não era estranhos no nosso falar de caserna! E Nambuangongo, Maria Fernanda, Santa Eulália, Camabatela.. Só nos faltava ir para lá! Para o Quitexe!
Quando chegámos a Grafanil, ainda passava um filme no cinema e, na saída de toda aquela gente camuflada, fiquei-me a olhar para o altar de Nossa Senhora, feito no tronco de uma árvore!
«Vamos embora!...», gritou alguém, aí para entre as três e as quatro da madrugada, com o céu carregado de vermelhos.
Carregámos as nossas malas e acomodámo-nos como pudemos nas caixas das Berliets. Horas depois, descobri porque se dizia em Portugal «andas a dormir à sombra da bananeira»! Eu, e muitos (todos?) nunca tínhamos visto uma bananeira e admirei-me do tamanho das folhas. Era pela sombra delas que se matavam sonos e preguiças!

1 comentário:

Anónimo disse...

O Grafanil era o terror da tropa mas ao ler isto fico até com a ideia de que era uma coisa boa, eu nunca fui ao cinema e praticamente nunca de lá aí antes de ir para o matio, o sr. furriel Viegas era o que ia fazer acção pissicológica...
Alberto Ferreira