domingo, 7 de junho de 2009

O nosso primeiro dia inteiro no Quitexe...

Os furriéis Neto e Viegas, ambos de Águeda, numa rua do Quitexe,
em 1974. Ao natural, em baixo, e «recauchutados», em cima.

O primeiro dia por inteiro, no Quitexe, foi uma 6ª. feira, acordada em calores que nos transpiravam o corpo todo, numa madrugada que entrou pelo quarto dentro, assim de repente, sem nos pedir licença.
Bem ao meu hábito, levantei-me cedo e pus-me a espreitar pela janela das traseiras, que dava para uma xitaca de muitos verdes e de onde se ouviam ruídos nada estranhos aos nossos ouvidos: ele eram cacarejos de galinhas e patos que grasnavam, eram porcos que grunhiam, um ou outro silvo. Desfiz a barba, calmamente, ainda não eram 6,30 horas, transpirava por todos os poros e já sabia que tinha de acordar o Neto. Matabichámos na messe de sargentos e pela manhã fora andámos em primeiros actos de serviço, que viriam a ser rotinas: aqui era a secretaria da CCS, acolá o comando do batalhão, o parque-auto, as casernas, a enfermaria, as transmissões, o refeitório, as messes. Interessava-nos a nós alguma privacidade para o nosso pelotão, que era o único operacional da CCS e ficou em caserna exclusiva. Por ela batalhou principalmente o Alferes Garcia.
Chegou a hora do almoço e a tarde foi para conhecer o Quitexe: os bares (principalmente os bares!...), as ruas, a administração civil, o hospital, os Correios, as pessoas! Ficámos bem impressionados!
Outra surpresa, e boa!, foi a de vermos muitos civis brancos, que nos olhavam curiosos e meio de soslaio, diria até que desconfiados, perguntando um ou outro de onde éramos! O reconhecimento à vila deixou-nos muito tranquilos. Afinal, havia aquela ideia de que íamos para o mato, para um «buraco»..., e as leituras sobre o Quitexe, em texto e imagem, tinham-nos criado alguns constrangimentos. Ficámos confiantes e mandei o meu primeiro areograma para Portugal. Com o do Neto, escrito o dele na véspera e eu ali num instante: «Mãe, já estou na terra onde vou ficar. Chama-se Quitexe e é na zona onde se apanha o café. Falei em Luanda com o Albano e o José Bernardino e já sabia mais ou menos o que vínhamos encontrar! É uma vila, com duas ruas principais e fica a 300 e tal quilómetros de Luanda. No caminho, encontrei o Neca Taipeiro, que trabalha num bar, diga aí à família...».
Jantámos, demos outra volta pela vila e... ala para vale de lençóis, que se fazia tarde!
- XITACA: Aos nossos costumes agrícolas, é uma espécie de mistura de pomar com horta.
- ALBANO E JOSÉ BERNARDINO: Os irmãos Resende (com o Manuel), conterrâneos que residiam em Luanda.
- NECA TAIPEIRO. Manuel Ferreira Simões dos Reis, conterrâneo que foi o primeiro militar ribeirense em Angola. Com o Lito. Voltou, como civil. Ainda hoje é aqui vizinho.

3 comentários:

Cavaleiro disse...

Olhem para estes dois bonitões do quitexe, eram como o roque e a amiga. Abração,

Anónimo disse...

São estes os tais furrieis gémeos do quitexe, era dois tipos porreiraços. o neto era dos que berraba muito e tinha um coração de ouro, o viegas era mais dos que não brincava em serviço, mas era tum gajo bestial, não lhe conhecia esta veia literária e estou verdadeiramente admirado...
Vasco

QUITEXE disse...

Sempre gostei destes dois furrieis eram como o roque e a amiga...