sexta-feira, 16 de abril de 2010

O homem das transmissões aos berros no meio da emboscada...

Vista aérea da vila do Quitexe (foto cedida por José Lapa, do BART. 786).


ANTÓNIO CASAL
Texto
A propósito dos homens das transmissões, continência, sim senhor, muito bem. Aproveito para puxar dos meus galões, melhor dizendo, das minhas divisas. Ou não tivesse eu sido homem de transmissões!
Teria aqui pano para mangas muito compridas, mas vou resumir. Recordo-me de um dia almoçar com uns amigos, que faziam parte da escolta ao MVL. Dois tinham feito a recruta comigo e o alferes tinha sido meu colega de escola. Almoçámos os quatro e despedimo-nos cerca das duas da tarde. Ás 16 horas, recebemos uma comunicação via rádio, pedindo-nos ajuda. Não chegámos a sair do quartel, porque logo de seguida recebemos nova comunicação, a informar-nos que um PELREC já ia a caminho, proveniente de um destacamento mais próximo do local.
Partimos, sim, mas às seis da tarde, com uma tarefa bem mais dolorosa. Não vou entrar em detalhes, apenas quero salientar a atitude do homem das transmissões. Muito baixinho, metido apenas com ele mesmo e que quando falava, parecia que sussurrava. Contou-me o alferes, à noite, que o soldado de transmissões, ao saltar da viatura, foi protegido pelo rádio Racal TR 28, que foi atingido por uma das três Bredas montadas, ficando destruído e sem hipóteses de funcionamento. Abrigou-se atrás de a roda e aproveitou uma pequena pausa do tiroteio, para gritar a amplos pulmões, simulando que estava a falar com os camaradas e dando a entender que a ajuda estaria próxima. A atitude resultou e verificou-se uma reviravolta nos acontecimentos, que já tinham deixado as suas marcas.
O acto foi reconhecido e, já na vida civil, vim a saber que foi condecorado, ou que recebeu uma medalha pelo seu feito, não posso precisar. Creio que se chama(va) Mateus, o tal que se punha sózinho no seu canto e que era olhado como um "meia leca". E que, pelos vistos, até tinha boa voz, mas só dela fazia uso quando entendia ser necessário! Ele lá sabia. E lá soube!

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