terça-feira, 6 de abril de 2010

Incidentes...

Militares dos movimentos emancipalistas, no BC12, em 1975 (foto de Rodolfo Tomás)


A presença de militares dos movimentos emancipalistas na guarnição do BC12, em Carmona, não direi que nos criou constrangimentos - nem me lembro, sequer, de qualquer caso de indisciplina ou mau relacionamento com as FAP - mas sempre gerava algum desconforto, nomeadamente nos primeiros contactos.
A verdade, porém, é que, principalmente entre eles, vivia-se um clima de «desconfiança». Afinal, eram três movimentos que tinham combatido o exército português, mas antipatizavam-se em notórias diferenças. Os incidentes de Luanda e Salazar apressaram alguns outros na província do Uíge - onde o BCAV. 8423 era praticamente a única força militar portuguesa. E a FNLA a força emancipalista mais dominante, muito protestada pelo MPLA. Com homens em armas.
Hoje, 36 anos depois, é provavelmente mais visível, para nós, o fosso que se então se cavava entre os movimentos, alimentado em constantes incidentes - principalmente entre o MPLA e a FNLA.
O Livro da Unidade refere que «os incidentes de Luanda vieram em ressaca até Carmona, dando origem a que houvesse que fazer intervenção a conflitos diversos».
Recordo, de Luanda e dos primeiros dias de Fevereiro de 1975, incidentes que levaram à morte de um capitão e de um alferes miliciano portugueses, perto do mercado do Bairro de S. Paulo. O capitão miliciano era andebolista do Sporting (de Lisboa) e ambos foram abatidos quando tentavam uma conciliação. Rapidamente a notícia se espalhou e as FAP quiseram retaliar, mas foram impedidas pelos comandos militares.
Eu estava em Luanda nesse dia, tinha passado no local (à civil) pouco tempo antes e fui interpelado por homens armados e aparentemente drogados, que me saíram na frente, sob um edifício que passava por cima da rua. Queriam deter-me, ia eu para o bairro da Cuca, visitar a Benedita e o Mário. Conhecia bem o local, onde praticamente ia sempre quando estava em Luanda - não só para visitar Benedita e Mário, como o (PSP) José Martinho e, nos primeiros meses, também o conterrâneo Custódio, soldado sapador. E, inevitavelmente, ir ao bacalhau do Vilela.
Lá me safei... mas na altura sempre a supor que levaria um tiro pelas costas, enquanto galgava a estrada no Toyota do Albano Resende. Ainda agora, ao lembrar-me deste momento, sinto um arrepio pelas costas acima.
- NOTA: Já depois de elaborado este post, socorri-me da net para (tentar) melhor caracterizar o lamentável incidente de que resultou a norte do capitão Ramiro Pinheiro e do alferes miliciano Santos, AQUI. De lá retirei os nomes e a foto e para lá remeto os leitores.
- FAP. Forças Armadas Portuguesas.

4 comentários:

J. Silva disse...

Parabens ó viegas pelo blogue, eu estava em luada nesta altura, vinha de férias para Portugal.

Casal disse...

Exceptuando algumas zonas, bem referenciadas, Luanda era considerada uma cidade segura. Pelo menos, de 1972 a 1974!
A única insegurança que senti na cidade, foi numa noite quando saíamos do cinema, creio que se chamava Miramar. Curiosamente, a insegurança foi provocada por tropas Portuguesas. Devido a distúrbios numa qualquer discoteca, militares dos Comandos e dos Paraquedistas, confrontaram-se e chegou a haver fogo real. Para mim, que tinha chegado no dia anterior, foi uma surpresa. Fiquei depois a saber que aquelas escaramúças, não sendo normais, aconteciam mas não com aquela gravidade. Sempre que algum militar daquelas forças era agredido, havia a inevitável retaliação dos colegas.
Tudo isto fazia parte das noites quentes de Luanda.

Casal disse...

Exceptuando algumas zonas, bem referenciadas, Luanda era considerada uma cidade segura. Pelo menos, de 1972 a 1974!
A única insegurança que senti na cidade, foi numa noite quando saíamos do cinema, creio que se chamava Miramar. Curiosamente, a insegurança foi provocada por tropas Portuguesas. Devido a distúrbios numa qualquer discoteca, militares dos Comandos e dos Paraquedistas, confrontaram-se e chegou a haver fogo real. Para mim, que tinha chegado no dia anterior, foi uma surpresa. Fiquei depois a saber que aquelas escaramúças, não sendo normais, aconteciam mas não com aquela gravidade. Sempre que algum militar daquelas forças era agredido, havia a inevitável retaliação.

J. Silva disse...

Quem é este casal que eu não me lembro, porque nome era conhecido o quitexe? se era rádiotelegrafista não me parece que fosse do nosso tempo, o nome não me diz nada...