terça-feira, 13 de abril de 2010

Os meus dias de Nova Lisboa !!!...

Hospital Militar e jardim de Nova Lisboa, em Abril de 1975 (em cima). Porto do
Lobito, no dia 12 ou 13 do mesmo mês (em baixo). Repare-se nos slogans revolucionários
escritos no muro. Clicar, para ampliar as imagens
A minha estadia em Nova Lisboa deslumbrou-me. A cidade era moderna, apetecível, bem desenhada, cheia de espaços ajardinados e fluidez de trânsito, muito bem estruturada, ampla e de gente simpática e ordeira. Com muitas respostas para a nossa curiosidade jovem.
Por lá caminhei eu, em busca da soleira da porta de familiares: o Manuel e o Zé Mau (ambos Viegas), primos direitos de meu pai. Queria que eles me mostrassem a casa que um tio comum, irmão de minha avó paterna, tinha construído na cidade e seria, segundo a lenda familiar, a primeira de Nova Lisboa com dois andares - lá pelos anos de 40 e tal.
A casa, para minha alegria, ainda existia - embora habitada por outra gente. Era do tio Joaquim Viegas, que sempre me deliciava com latas de goiabada, era eu miúdo e quando ele vinha de férias a Portugal.
Por lá, em Nova Lisboa, moravam os irmãos Miranda, meus companheiros de escola primária - o Óscar (que a vida levou a combatente da UNITA e, depois, apanhado da justiça em Portugal) e o Nélson (que por cá também conheceu uns lados menos bons). Filhos de Zulmira e Óscar.
E o Orlando Rino, com bar no bairro de Santo António, junto ao campo militar - onde petisquei fartas panquecas, molhadas a jarros de vinho branco. Com ele, fui ao Lobito, numa epopaica viagem de automóvel que teve um stop "militar" de combatentes de um movimento, uns quilómetros adiante do Alto Hama, serra abaixo no caminho de serrania para a beira-mar. Ainda hoje estou para saber onde levava ela a arma com que enfrentou a "turba" que nos assaltava.
Com ele moravam a mulher Paula, já com dois dos três filhos; e os sogros Figueiredo e Leontina. Foi uma festa, na casa do bairro de Santo António!!! Leontina lembrava-se do que eu tinha esquecido: uma irmã dela, na nossa aldeia ribeirense, tinha dado uma queda com um carrego de erva à cabeça, partira uma perna e fôra eu, pelos meus 12/13 anos, quem a ajudara nessa aziaga tarde de inverno. E lá ia mais um copo de branco, a cada lembrança que se avivava.
O Cruz, bem mais contraído que eu, deliciava-se no viver destas parlengas adocidadas pelo sabor do chão da terra ois-da-ribeirense. E lá ia mais um copo de branco!
E as minhas férias militares, em Abril de 1975!!
- MANUEL E ZÉ «MAU». Primos de meu pai e ao tempo residentes em Nova Lisboa. Manuel já faleceu. Zé mora em Travassô e é avô de Edson Santos, chefe de gabinete do presidente da Câmara de Águeda.
- ORLANDO. Orlando Tavares Rio, conterrâneo de Ois da Ribeira, actualmente residente em Rio Grande (Brasil), onde já estive com ele por quatro vezes. Os sogros Leontina e Figueiredo já faleceram.
- MIRANDA. Irmãos Óscar Alberto (residente em Lisboa) e Nélson Manuel Marques Miranda (em Coimbra).
- JURA. Juventude Unida Revolucionária de Angola, movimento de jovens da UNITA.
- PUNA. Sigla do Partido para a União Nacional de Angola.

1 comentário:

Casal disse...

Com muita pena minha, não tive oportunidade de conhecer a cidade do Lobito. Ou outras, excluindo Luanda e Carmona.Dela me disseram maravilhas os que a elegeram como destino de férias. Permita-me o Viegas um comentário de quem a viveu:

«Os naturais do Lobito declaravam com alguma sobranceria que haviam nascido na "sala de visitas de Angola". Exageravam certamente porque quem vinha de paquete do Puto, após muitos dias de viagem, não entrava na Colónia por ali mas por Luanda.
Com ou sem o exagero desses convencidos, o Lobito era realmente uma beleza indiscutível: Com a sua restinga, a sua baía, a sua praia, a sua arborização pública, mais a Igreja da Arrábida, mais o Cine Flamingo, mais as Estátuas Modernas de Canhão Bernardes, etc.
Um etc, numeroso, que todos os visitantes admiravam.»

Extraído de "Mukandas do Monte Estoril"