segunda-feira, 3 de maio de 2010

Os primeiros dias Maio de 1975, em Carmona, não foram fáceis...

Rua do Comércio, cidade de Carmona (foto dos anos 70 do século XX)

O ambiente na cidade de Carmona era tenso, nos primeiros dias de Maio de 1975. «Pareceria que o fim tácito de vários anos de guerra em Angola traria, como consequência, situações de acalmia em todo o território, procurando os diversos movimentos emancipalistas, através da ideologia político-social que defendem, fazer enraizar nas populações os seus ideais e, daí, com maior ou menor facilidade, conduzir-se-iam as suas acções no decurso do processo de descolonização», lê-se no livro do Batalhão de Cavalaria 8423.
A verdade é que não era isso que acontecia - no terreno e na prática. O que parecia ir ser fácil e desejado por todos, complicava-se, e o papel de arbitragem que tacitamente era atribuído a Portugal e às suas forças armadas era muitas vezes posto em causa - acusadas por uns e outros de não isenção. Pelos dirigentes e militantes dos movimentos, pela população branca.
A manutenção da ordem era cada vez mais difícil e repetiam-se as escaramuças, nalguns casos envolvendo mesmo confrontações físicas. Mas o mais vulgar eram os insultos à tropa, acusada das mais incríveis responsabilidades e muitas vezes alvo de tentativas de vexame, de agressões verbais.
A PM que desde a nossa chegada do Quitexe actuava diariamente na cidade era vulgarmente alvo de piadas e críticas, da parte de populares - o que nos obrigava a permanente auto-controlo. Nem sempre fácil! O que mais valia, por esse tempo, era a disciplina dos militares - o seu garbo e virtude, que resistia a provocações e tentativas de chacota. Em alguns momentos, foi precisa muita coragem. E sorte. A que protege os homens de bem e de boa-vontade. E era cada vez mais latente o que separava os movimentos!

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