domingo, 2 de maio de 2010

O roubo de dentes de elefante e a detenção dos assaltantes

Avenida Portugal, em Carmona. Os incidentes decorreram na rua para a direita
A noite de 2 para 3 de Maio de 1975 foi acidentada: um grupo de populares assaltou várias residências na rua que dava para a Rádio Clube do Uíge e Cine Moreno. Esta mesmo que, na foto, fica para a direita deste cruzamento (se a memória não me falha).
Jantava eu na messe de sargentos do bairro Montanha Pinto quando recebi instruções: imediatamente para o local, com o piquete. E por lá passámos, como quem diz, «calma aí, nós estamos por cá!...». Mas nada vimos e ninguém nada nos disse. Apenas uma vozearia insultuosa e anónima se ouviu na noite, escondida atrás do cortinados das casas: «Traidores, cabrões..., filhos desta e daquela!...». Nem o denunciante dos assaltos apareceu.
Voltei à messe a dessedentaram-se os soldados com missions e dussois, enquanto eu acabei o jantar, guardado em panos quentes pelo Cabrita. Já iam para lá das 10 horas da noite e o ceú estrelado de Carmona convidava a um repouso, a uma partida de damas, uma suecada ou a um bom pé de orelha entre a malta que por lá acamaradava. Mas quais quê?! Tínhamos missão a cumprir e lá voltámos ao BC12, de onde saíria o patrulhamento misto. E saiu!
Voltámos à cidade e ao «local do crime», onde se barulhavam populares por novo assalto: um grupo de três homens negros levava dentes de elefante e outros objectos de marfim, de uma casa particular. Tentámos apaziguar a situação e diligenciámos a detenção dos assaltantes (armados), mas a missão ia abortando - por alguns soldados da força mista quererem tomar partido por eles, seus conhecidos. A 35 anos de distância, talvez todos ainda sintamos os arrepios do momento.
Os populares europeus desde há tempos que baptizavam a tropa de demissionária, de traidora, e apontavam-nos o dedo acusador - por supostamente não os defendermos. O que era literalmente inverdade.
Ali, espreitavam das janelas, enquanto os assaltantes (armados) ofereciam resistência. Por um momento, valeu a intrepidez do Marcos e do Francisco, ágeis a segurar um deles e a sacar-lhe a arma. Foi um ápice e a situação foi controlada, sem permitir qualquer desautorização. Nem quando os tivemos de «carregar» para o unimog e levar para o BC12.
Nunca os assaltados ou vizinhos nos deram uma palavra. Então, ou depois! Escarraram das janelas e portas e assobiaram, vaiando a garbosa tropa que arriscava a vida para lhes salvar vidas e bens! Os detidos foram depois entregues à PSP.
- MARCOS. João Manuel Lopes Marcos, soldado atirador de Cavalaria. Natural e residente no Pêgo (Abrantes).
- FRANCISCO. Vitor José Ferreira Francisco, soldado atirador de Cavalaria. Natural e residente na Marinha Grande.
- MISSION E DUSSOL: Refrigerantes.

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