domingo, 9 de maio de 2010

O comício de um militar num café-restarurante de S. Miguel de Rio Torto

Alferes Garcia e furriel Viegas, frente à CCS do Quitexe, na partida para uma operação militar


Hoje, o dia de hoje de 1974, foi o penúltimo do IAO, na Mata do Soares, e noite de um «desenfianço» a um café/restaurante de S. Miguel do Rio Torto. Vale a pena lembrar que se viviam, ao tempo, as labaredas mais acesas do entusiasmo popular com o 25 de Abril. Alguém nos pagou o jantar, nunca soube quem. E, com a abastança gastronómica e o que por lá se falou, chegámos tarde à «emboscada» dessa noite.
Houve «chá», por isso!!! Sermão e missa cantada!!! Do aspirante a oficial miliciano Garcia, comandante do PELREC - muito avesso a indisciplinas e rigoroso no cumprimento de deveres. Lá me expliquei como pude, justificando o deslumbramento porque nos deixámos tomar, embrulhando-nos no que para o povo era, ao tempo, sempre motivo de festa: a presença de militares. «O que é que queres? Não podia deixar envergonhar a tropa...», disse-lhe eu.
«Mas houve algum problema?...», interrogou-me o Garcia.
Pois, não houvera! Eu até dera uma parlenga muito séria sobre os méritos da tropa e as prováveis vantagens da revolução. «Não tinha hipótese de evitar que nos vitoriassem...», disse eu. E disse um dos soldados, não me lembro quem: «Ó meu aspirante, o nosso cabo miliciano fez um figurão, aquilo é que era a falar!...».
Convenceu-se o Garcia de tal mérito só, porém, quando, uma noite de serviço no Quitexe e meses depois, a história veio à baila. «Ainda hoje estou convencido que fui enganado...», argumentou o Garcia. Que não, «nem penses nisso». «Eu fiz até um verdadeiro comício...», regozijei-me. Na verdade, a sala do tal café-restaurante ouvira-me como nunca mais fui ouvido.

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