Coimbra. Ao fundo (casa de arcadas), era a residência do Comandante do BCAV. 8423. Entre
a casa das TMS e a viatura, era a casa da enfermaria militar
Os fados foram, em tempo de missão por terras do Quitexe, alguns dos momentos lúdicos que a tropa «produzia» para matar o tempo, ou as saduades. Ou para receber os companheiros que, de outras Companhias, faziam férias pela vila. O que era um luxo!
Deles, dos fados, era palco muitas vezes a Vivenda das Transmissões, aproveitando a varanda que dava para o quintal. Cientes de que não iríamos incomodar o sono de ninguém, lá se afinavam as cordas – vocais e instrumentais.
Faltava-nos uma guitarra portuguesa, mas com duas clássicas tínhamos a questão quase remediada. Também não éramos esquisitos!
Munidos de violas e com ar sério, entravam o Marinhas, hoje professor de música aposentado, e o Castro. As vozes estavam entregues ao Matos e ao Santos, no chamado fado de Lisboa, e ao Casal, no fado de Coimbra. Talvez não tenham sido grandes momentos musicais e não culpo apenas a falta de acústica! Certo, é que ninguém alguma vez reclamou e as cerca de três horas que durava, só não se prolongavam até de madrugada porque nos tinham sido impostos limites. E muito bem! E também porque às oito da manhã começava um novo dia, e às vezes bem austero.
Cabia-me o fel da abertura e o mel do encerramento do serão. Abria com Balada do Encantamento e fechava com Fado Hilário. Segunda reza a sobrevivente cábula, à minha conta eram treze, sempre alternados com fados de Lisboa e também alguns “solos” superiormente tocados pelo «quase» professor de música.
Tudo muito “puxado”, em directo, ao vivo, sem microfones ou truques manhosos. Nem playback, porque não estávamos ali para enganar ninguém! E também com algumas gafes à mistura, mas sempre bem disfarçadas.
Nada era deixado ao acaso, e até o aquecimento das vozes era uma imposição do Marinhas, ainda estudante de música mas já cheio de preciosismos e exigências. Com ele, era assim ou ponto final! Mas tínhamos de aguentar, não fosse ele o cérebro de tudo aquilo!
E muitas outras noites se seguiram, sempre com o mesmo objectivo, embora nem sempre fácil, atendendo aos compromissos de cada um.
Noites Quitexanas diferentes, com momentos lúdicos e despretensiosos e que, por horas, nos transportavam para a nossa terra, ficasse ela no local mais recôndito! É que o fado, seja de Coimbra ou de Lisboa, é indubitavelmente a canção nacional!..., e cantado no Quitexe deixava as suas marcas emocionais, para não dizer… lacrimais!...
Mas nada que umas nocais ou uns “sbells” não curassem, não estivéssemos nós em ambiente de festa!
ANTÓNIO CASAL
1º. cabo rádio-montador da CCS do
BCAC 3879, no Quitexe em 1972/73
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