quarta-feira, 28 de julho de 2010

Os últimos dias de Carmona...

O BC12, visto do lado de Carmona. À direita, vê-se o bloco residencial militar
que foi nossa «casa» nos últimos dias da capital do Uíge

A 28 e 29 de Julho de 1975 continuaram, em Carmona, as reuniões de trabalho entre os comandos do BCAV. 8423 e a delegação do QG/RMA, para preparar a rotação do batalhão para Luanda. E já se sabia o dia de saída da CCS, de avião: 3 de Agosto, um domingo.
O regresso tranquilo, a 26, da coluna que no dia 25 partira para Salazar - aqui se juntando ao grupo que vinha de Luanda  - inspirou grande confiança nas hostes. O trânsito não tivera impedimentos - ora da FNLA, ora do MPLA - e parecia seguro que a grande coluna de rotação para a capital não iria ter problemas de maior. E, a aparecerem, a tropa responderia «à letra». O COPLAD, com ou sem vontade de tal aceitar, já não punha «impedimentos» regulamentares ao BCAV. 8423 e a guarnição multiplicou a sua confiança no comando de Almeida e Brito (1º.) e José Diogo Themudo (2º.).
«O que parece isto?!...», perguntei várias vezes ao Neto e ao Garcia. «Vai haver porrada!...?».
Escusado será dizer que, um e outro, não tinham dúvidas sobre o êxito da operação. «Eles nem se atrevem!!!...», exultava o Neto. «Está a ser preparada uma grande operação...», garantia o Garcia - que, no dia a dia, contactava directamente com os oficiais e, no Gabinete de Operações, com o capitão Falcão. Por isso, sempre bem informado.
Semelhante confiança era, naturalmente, passada para os praças. E era o nosso PELREC o que mais emotivamente vivia estes dias. Dias de muitas ansiedades! Tinha sido (era!!!), sem dúvidas, o pelotão mais sacrificado da CCS e a alvorada da saída entusiasmava-os intensamente.
«Eh furriel, nunca mais conheço a minha menina!!!...», comentou-me uma vez, o saudoso Leal - que foi dos mais bravos do PELREC e já era pai pela segunda vez. Sorri-lhe e, em ar de brincadeira, perguntei-lhe se o pai da criança não seria o padre.
Por esta altura, já estávamos no bloco residencial ao lado do BC12 e, nessa noite, eu e o Neto fomos chamados ao quartel, por um ordenança da casa da guarda.
«Já há m...», disse para o Neto. Afinal, eram os «pelrec´s» que tinham panqueca preparada, com a conivência da cozinha e da padaria. Tivemos de arranjar um garrafão de vinho. Tinto do Cartaxo!!

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