terça-feira, 13 de julho de 2010

Os dias incertos e perigosos de Carmona, em Julho de 1975


Avenida de Portugal, em Carmona (anos 70 do século passado)


A 13 de Julho de 1975, os combatentes da FNLA fizeram um cerco ao quartel do Negage, onde estava instalada a Companhia de Caçadores 4741. Pediam armas. No mesmo dia, a FNLA fez um comício em Carmona, no qual foram proferidas afirmações e slogans anti-portugueses. O piquete do BC12 estava sempre pronto para qualquer intervenção.
A guarnição militar da cidade estava de prevenção, embora simples. Toda ela.
«Havia que tomar uma decisão para os dias futuros. Ficar em Carmona, com o total descrédito das nossas tropas e perigosamente alvo das queixas dos ataques da FNLA, nomeadamente reivindicando os desequilíbrios de outros lugares; ou sair, antecipando o regresso a Luanda, num salvar de face e tentando evitar males futuros», lê-se no Livro da Unidade - seguramente reflectindo o clima de instabilidade, insegurança e perigos que se viviam na província do Uíge.
Uma coluna militar que transportaria material do BCAV. 8423 para Luanda, tivera de voltar para trás - impedida por combatentes da FNLA, alegando que as NT iam para território controlado pelo MPLA. As NT não tinham autorização para «forçar» o avanço na estrada, por Negage e Salazar, ao Dondo e até à capital. Pretendia-se a tudo o custo evitar o derramamento de sangue. O simples disparar de um tiro poderia suscitar mortandades inimagináveis.
Um grupo de furriéis, por estes dias, chegou à fala com o comandante Almeida e Brito - querendo saber coisas do que se passava. Mas pouco soubemos. Apenas que se negociava com o COPLAD a nossa saída para Luanda. Lembro-me de nos dizer, no bar dos oficiais do 1º. piso do comando, coisa parecida com isto: «Conto convosco...». Anos mais, tarde, em Coimbra, dir-me-ia que se chegou a pensar a avançar para Luanda, mesmo sem autorização do COPLAD.
Uma sessão no Cinema Moreno foi interrompida quando a sombra da noite escondia rostos e bocas que blasfemavam contra as NT.  
Desde 8 de Julho que toda a 3ª. CCAV. estava em Carmona. Desde o dia 1 que começara a abandonar o Quitexe. Definitivamente! Luanda andava esquecida do menos de meio milhar de militares que, no Uíge, e sentia abandonada pelo seu próprio país.
- COPLAD. Comando Operacional de Luanda.
- NT. Nossas Tropas.

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