Banco de Portugal, em Carmona (foto de Jorge Cruz Oliveira, 1973)
Aos primeiros dias de Julho de 1975, estando o PELREC de piquete, fomos chamados pelo tenente Mora. «Vão fazer uma escolta. Saem dentro de 10 minutos!!!...». Ordens são ordens e lá se aprontou a rapaziada, formando descontraídamente na frente do gabinete do capitão Oliveira, o comandante da CCS: «Vão fazer segurança a um transporte do Banco de Portugal, mas o tenente Mora vai convosco...».
A escolta era do banco para o aeroporto. Viemos a saber que seriam valores em dinheiro e outros, mas, obviamente, nunca soubemos exactamente o que transportavam as pesadas malas que carregámos nas viaturas militares e depositámos no bojo do avião, guardadas a 30 armas.
O estranho, para nós, era o tenente Mora ir connosco. O tenente Mora?!!!
Bom, a verdade é que, de camuflado, arma na mão e botas a brilhar, escanhoadíssimo, subiu para um jipe e deu ordem de arranque da coluna, ainda na parada do BC12. «Ó meu tenente, não há engano?», perguntou-lhe o Neto. O Neto, como todos nós, estava espantado. O tenente Mora na coluna?
Levantou-se ele do jipe, bateu o tacão no asfalto da parada e ordenou, de voz empolgada: «A coluna vai sob meu comando!». Bateu a pala e voltou à viatura. Tá bom, tenente é tenente!!! E lá fomos nós em direcção ao Banco de Portugal.
De mão pousada no pequeno pára-brisas do jipe, o tenente Mora lá ia, ufano e garboso, a comandar a coluna, na viatura da frente. A certa altura, mudou de rumo e dirigiu-se (dirigimo-nos) à messe de oficiais. Saltou o tenente e os dois ordenanças que o acompanhava e ficámos nós, sentados nos Unimogs - à espera. E desfez-se o mistério: o tenente Mora ia buscar a mulher, uma senhora de etnia indiana, que ia embarcar no avião para Luanda e, daí, não sei se para Lisboa.
E lá foi o avião, com duas fortunas: a do Banco de Portugal e a do tenente Mora.
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