segunda-feira, 5 de julho de 2010

Os primeiros dias de Julho em Carmona de 1975...


O ambiente de Carmona (foto) era de cortar à faca, por Julho de 1975 fora. As feridas físicas e emocionais dos incidentes dos primeiros dias de Junho estavam longo de cicatrizadas e as preocupações militares levedavam a cada dia que passava.
Os quadros operacionais recebiam instruções específicas todos os dias e as noites, principalmente as noites, eram tempos de farta tensão. Os olhos tinham de andar bem abertos, os sentidos bem aferidos, a emoção não podia trair a razão. 
A comunidade europeia, cada vez mais acordada para a realidade que a esperaria - sabia-se lá o futuro!!!... - repetia e lançava descréditos sobre a tropa, que era permanentemente alvo da sua crítica.
Aqui deixamos uma nota do capítulo II, página 26, do Livro da Unidade:
«As preocupações vividas do antecedente, continuaram a ser os factores dominantes em Carmona, onde diariamente se verificaram factos que contrariavam a chamada neutralidade activa, os quais retiravam toda e qualquer espécie de autoridade às NT, dando ainda azo a que se fosse permanente alvo da crítica das populações brancas».
A comunidade europeia levedava em dúvidas quanto ao futuro e o mais fácil parecia ser acusar a tropa. Sentiam-se (os europeus) marginalizados e desapoiados. Recordo-me de, num destes dias de Julho de 1975, vestido à civil e na compra de postais da cidade na Papelaria Académica, ter sido violentamente insultado e apelidado de traidor. Não reagi, deixei-me imperturbar até ao limite do meu controlo emocional. Nas vésperas, muito perto do local e fazendo de Polícia Militar, tinha intervido para evitar uma sova a um casal de civis brancos, atacado por um grupo de jovens civis de cor. E eu mesmo fôra pontapeado num tornozelo.
Não havia nada a fazer nestes casos. Nem a dizer!!! Apenas intervir de forma neutral, sóbria e consensualizadora. O que não era nada fácil.

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