quinta-feira, 8 de julho de 2010

Os instruendos angolanos na carreira de tiro


Militares do (que seria em 1975) exército nacional de Angola 

Íamos aí pelos finais de Junho, princípios de Julho de 1975, e formava-se aquele que não chegaria a ser o exército de Angola. Escriturários ensinavam a escrita, enfermeiros a enfermagem, carpinteiros a carpinteirar, condutores a conduzir, mecânicos a mecanizar, atiradores a dar... tiros.
A minha rifa de miliciano de Operações Especiais - os Ranger´s!!! - levou-me a, com o Neto, assessorar o alferes Garcia nas nobres artes da ordem unida e de acertar nos alvos. Era ele o Oficial de Tiro e nós, ambos furriéis milicianos, os monitores. 
Descia-se a rampa em frente ao BC12 para a carreira de tiro instalado abaixo, no meio de um capinzal e com algumas poucas sombras de imbondeiro, preparavam-se as linhas de tiro, municiavam-se os homens e, zás, os futuros militares do exército angolano flagelavam os alvos. Isto, digo eu... pois raramente lhes acertavam e muito menos na mouche. Coisa estranha!!! A 60 metros não acertavam nos alvos?!
E lá íamos nós, de joelhos, de cócoras, deitados, a exemplificar posições de tiro e, trrrrááááá-tá-tá-tá..., rapidamente a despejar as 20 balas da cartucheira nos alvos. «Estão a ver? É assim... faz-se o ponto de mira, coronha bem apoiada e.. tiro», explicávamos nós - o Garcia, o Neto, eu!
Mais quais quê, lá acertavam uma de vez em quando!
Por razões de segurança, nunca nos aproximávamos dos homens, no momento dos disparos. As ordens de fogo eram gritadas pelo alferes Garcia e nós recuávamos das linhas, depois da inspecção aos instruendos. Olhando-os de trás, não nos passaria pela cabeça o que, afinal, se passava: os bons dos nossos homens, ao fazerem a  mira, não fechavam o olho. Apontavam a arma pelo meio da testa e, zás, fogo para a frente - razão primeira de não acertarem.
«Exemplifica aí, ó Viegas», ordenou-me o alferes Garcia.
Eu peguei na G3 de um dos homens, minuciei-a e apontei um imbondeiro. «Olhem para acolá!....». E zuniram as balas e caiu um ramo da árvore, ante o espanto geral.
«A mira tira-se assim...», disse eu, circunspecto, de nariz empinado e meio a gozar do êxito do derrame. Não expliquei mas toda a gente sabia que o imbondeiro é oco. Por isso, caiu o ramo. Mas por momentos passei por ser o melhor atirador do mundo. Mas só até que o Neto, com a sua minúcia e certeza de tiro, e só com um!!!, acertasse na mouche do alvo, a 80 metros
«Como podes, esfurrié?!! Com´és possibe?!...»,  espantavam-se os nossos irmãos angolanos, ali postos a instruentos da nossa técnica de tiro.
O alferes Garcia, a deliciar-se com a situação, passeava os óculos Ryban, verdes, por cima das carapinhas. «Temos de vir aqui muitas vezes!!! Muitas vezes, pá!....», disse ele, reportando-se aos instruendos.Voltámos algumas, mas não muitas.

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