segunda-feira, 19 de julho de 2010

A indústria de caixotes e os negócios com civis...


A partir de 19 de Julho de 1975, começou a reorganizar-se a coluna militar que iria para Luanda, transportando carga do batalhão. Que não pudera avançar no dia 13, "impedida" pela forças da FNLA. E a tropa não tinha ordem de forçar o avanço.
Sabia-se já, entretanto, que a partida do BCAV. 8423 seria nos primeiros dias de Agosto e levedava o entusiasmo da guarnição. Ir ara Luanda significava fazermos vésperas de partir para Lisboa, para as nossas casas. E como se faziam saudades dos cheiros e dos sons das nossas terras!, o afecto das nossas famílias.
Ao tempo - e desde há várias semanas... - florescia por aqueles lados a indústria dos... caixotes. De madeira. Os os civis - e também os militares... - arrumavam neles os seus bens, de toda a natureza. Para mandar para Portugal. Era a via de assegurar o transporte das suas pequenas ou grandes fortunas.
Os militares tinham direito a um metro cúbico, se me lembro bem!!! Metro cúbico que, naturalmente, ultrapassava muito as nossas necessidades, pelo que se tornaram rapidamente objecto de negócio. Compravam os civis, a bom dinheiro!!! Vendiam os militares!!! O que importava era encaixotar e mandar para Lisboa.
Todos nos recordamos, por 1975, 76 e anos seguintes, dos milhares e milhares de caixotes abandonados no porto de Lisboa - onde se perderam muitos bens. Onde muita gente ficou mais pobre!
Em Carmona, éramos literalmente assediados pelos europeus, para lhes vendermos a cubicagem. À sucapa!!! Alguns caixotes forma despachados de Luanda em nome de militares - tomando sabe-se lá que caminhos.
Por mim, não vendi, não dei, não usei!!! E por isso muito mal tratado por uma família que insistentemente - e por mais de uma vez... - me aliciou na Rua do Comércio. Os nomes que ouvi não cabiam no meu estatuto de solteiro e bom rapaz, nem de filho de mãe viúva que em Portugal rezava por mim! Fiz-lhes ver isso e recalcitraram os aliciadores. Estes, como outros - de outras vezes. Chegaram a prometer-me habilitações literárias falsas, ou carta de condução de pesados e motociclos! A mim e outros!
Foram dias que doeram e são hoje amargas recordações da terra angolana.

2 comentários:

Santos disse...

Sei de quem trouxe motorizadas e moto-serras para Portugal dento de um caixote e o carpinteiro ainda ia levado uma porrada

Santos disse...

Não deste, não vendeste nem usaste, pois fizeste muito bem, houve lá malta que explorou os civis...