quarta-feira, 21 de julho de 2010

Segunda saída fracassada da coluna militar para Luanda

A coluna militar sairia de Carmona, por Camabatela e Salazar, pelo Dondo e até Luanda. Tenente-coronel Almeida e Brito (em baixo)


A 21 de Julho de 1975, a segunda tentativa de saída da coluna militar de Carmona para Luanda, via Negage e Salazar, voltou a fracassar - «impedida» não sei já se pela FNLA (porque saía de uma zona que alegadamente controlaria), se do MPLA (porque ia de uma zona da FNLA para as áreas que controlava).
O fiasco - assim lhe chamo eu, agora... - gerou fartíssima desilusão entre a guarnição, que se sentiu desautorizada e envergonhada. Afinal, o que era isto?? Não podíamos avançar, não podíamos disparar, ia a coluna e tinha de, cobardemente, voltar para trás? As virtudes militares - as da honra, da coragem, da nobreza, do servir... - estavam a ser fragilizadas na praça pública. «Comer-nos-iam»  os movimentos e nós ficávamos assim, acobardados e vencidos?! 
Não sei o que pensaram os nossos companheiros oficiais milicianos - acho que nunca falámos sobre isto... - e muito menos os do quadro. Mas, reunidos no bar de sargentos do BC12, um grupo de furriéis avançou para uma conversa com o comandante Almeida e Brito. Exigindo explicações! 
Não estou muito autorizado a falar sobre o que aconteceu nas duas colunas recambiadas - por delas não ter feito parte... -, mas a desilusão era solidariamente assumida. Isto não podia ser!!! E foi o que, respeitosa mas reivindicadamente, dissemos ao comandante Almeida e Brito, que nos recebeu no bar de oficiais. Falou o Machado, lavrando ideias sobre uma situação delicada e que envergonhava a tropa. Interveio o Neto, não se apoucando muito nas palavras, querendo explicações e decisões. Disse eu da minha justiça, reclamando a autoridade que a tropa estava a perder. Manifestou-se o Mosteias, impiedoso no julgamento sobre a  inépcia dos militares, que eram barrados na estrada por homens armados e desorganizados. Resumindo, a voltar a sair, só com ordem para avançar a todo o custo. A tiro fosse!!! À porrada, à deflagração de pólvora, ao sangue que se derramasse!
Considerou Almeida e Brito o que melhor entendeu, falando de reuniões com o Comando Unificado de Carmona e o Quartel General, em Luanda. Era grande psicólogo, Almeida e Brito!!! Reinspirou-nos confiança. Anos mais tarde, no quartel-general da Região Militar Centro, em Coimbra, falou-me da decisão que na altura tinha interiorizado mas não contou: se não chegasse a acordo com o QG da Região Militar de Angola, para a evacuação, o BCAV. 8423 arrancaria de Carmona desse por onde desse.

1 comentário:

Santos disse...

O comandante era lixado mas realmente tinhamos grande respeito por ele, chamavam-lhe o cavaleiro branco, não era. Uma vez ameaçou-me com não sei quantos reforços mas lá me safei deles...