domingo, 8 de agosto de 2010

O helicóptero alvejado entre Lucala e Salazar...

O itinerário da coluna militar que saiu de Carmona para Luanda, assinalado a vermelho. O percurso mais curto, a verde, estava «impedido» no Caxito e Cacuaco (clicar na imagem, para a ampliar)



Samba Cajú ficou para trás às 6,30 horas de 5 de Agosto mas logo depois, no controlo à saída da vila, na estrada para o  Luanda, «surgiram novas dificuldades, novamente torneadas», mas que levaram a um atraso de mais de duas horas.
A marcha foi retomada às 8,30 e chegou-se a Vila Flor às 11 da manhã, debaixo de um calor tórrido e a mesma ansiedade e nervosismo. O que vai acontecer?! As dificuldades logísticas aumentavam e cada quilómetro galgado na estrada era sempre um tempo expectável para qualquer escaramuça. Essencialmente porque as forças locais que se cruzavam com a coluna não queriam deixar passar os civis. E apareciam gente de todo o tipo, adultos e adolescentes, armados e ameaçadores.
Mais viaturas de civis se juntaram em Vila Flor, casando as suas esperanças de «fuga» na protecção militar. Entrou-se, logo depois, em «terra de ninguém», nem da FNLA, nem do MPLA, e ordenou-se uma paragem, para reagrupamento das largas centenas de viaturas - numa coluna que, em alguns momentos, terá atingido os 20 quilómetros, entre a frente e a rectaguarda.
Os helicópteros estacionados em Salazar (actual Dalatando) continuavam às ordens da coluna e foram «requisitados», para reconhecimento do itinerário. Um deles foi alvejado. Confirmava-se a pior suspeita: o MPLA estava disposto a tudo, para evitar a passagem da coluna. Mais negociações. Recordo-me de o comandante Almeida e Brito me contar, em Coimbra (nos anos 80, era ele 2º. comandante da Região Militar Centro) que o segundo dia foi decisivo e dramático. A designação «terra de ninguém», na prática,  significava que tudo podia acontecer. E o ataque ao helicóptero foi um mau sintoma. Valeu a acção negocial terrestre, num contacto directo com o MPLA, por volta das 13,30 horas.
Há distância de 35 anos, feitos há três dias, podem imaginar-se os constrangimentos, os medos, as dores que se sentiram na dramática coluna de 700 para 800 viaturas que ia de Carmona para Luanda, depois do ataque a um meio aéreo.
Em Lucala, por volta das 14 horas, abandonou-se outra viatura e seguiu-se Salazar. A cidade demorou quatro horas a atravessar, entre as 16 e as 20, «dado terem de se resolver inúmeras avarias». Abandonou-se mais uma viatura e a coluna retomou a marcha, «incorporando na testa uma companhia de pára-quedistas que se encontrava de reserva», no Comando Territorial de Salazar.
Chegou-se ao Dondo às 23 horas, com nova interrupção de marcha e descanso.

1 comentário:

António disse...

ENFIM... SAUDOSISTAS.